𝐋𝐗𝐗𝐈𝐕 - 𝐓𝐫𝐚𝐢𝐝𝐨𝐫
Bom, o capítulo revela quem é o traidor hehe
Particularmente eu não gostei muito desse capítulo, só que eu noa consegui deixá-lo melhor ou ver o que eu não gostava. Acredito que seja mais o fato que eu queria que acabasse logo, então foi um pouco corrido e não consegui me aprofundar em algumas partes. Meio que eu queria "correr" para o fim
Eu não sei se o próximo capítulo vai ser o último ou penúltimo, mas sei que será grande pq MUITA coisa acontece no primeiro capítulo e eu tô HÁ MESES com esse capítulo em mente pq já tinha definido a rota de uns personagens. Então... Se preparem para chorar comigo no próximo cap
Love u ❤️ boa leitura
(E eu tô perdendo a paciência de gente me plagiando na cara dura. Continua com essa porra que eu faço igual a outra, exponho tudo!!)
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Annie chutou a porta de seu escritório, as mãos carregavam duas pesadas bolsas que foram lançadas na mesa com um baque surdo, os papéis e lápis tremerem com a pancada. Félix estava sentado em uma das cadeiras, com os olhos e o nariz vermelhos por chorar, a pele pálida e as bochechas úmidas pelas lágrimas. Ele tinha um colar entre seus dedos movendo-o lentamente observando com pesar e dor.
— Tenho uma pista de onde os levaram. – revelou assim que colocou as mochilas na mesa.
— Onde? – o tom de Félix era furioso.
— Nas montanhas. Junto das loucas do deserto. – puxou o mapa e o jogou na mesa. – Vou para lá agora mesmo.
— Annie. – Tanya que estava na porta ouviu tudo e então se aproximou do mapa e o ponto riscado – Levará uns três dias para chegar lá. Tem certeza disso?
— Absoluta. – respondeu enquanto ia até um dos armários e puxava as gavetas encontrando munições, assim que as pegou voltou imediatamente para a bolsa e enfiou tudo lá – Vou agora mesmo.
— E se não tiver nada lá?
— As Loucas do Deserto estão lá. Vou encontrar e extrair cada informação que tiverem.
— Quem são… – Isa entrou lentamente – Elas?
— Inicialmente, era um grupo de mulheres que se mudaram para as montanhas e passaram a viver em cavernas. Hoje em dia não faço a menor ideia do que seja. Faz dois anos que não tenho contato com elas, mas se Emily disse que eles seriam levados aqui, isso me leva a crer que estão vivas e se aliaram àquele filho da puta! – explicou enquanto pegava mais coisas úteis nas gavetas e enfiava nas duas bolsas.
— Espera, Annie, você não pode ir lá agora e assim! – exclamou Tanya visivelmente preocupada – Precisamos planejar com calma, Paulo acabou de ser cremado e você nem estava lá. E agora já planeja sair assim sem um plano?
— Olha… – ela se apoiou na cadeira, as mãos apertando firme a madeira – Sinto muito não estar presente nesse momento, Félix, sinto muito não ter previsto isso e não ter colocado seu pai em um lugar mais seguro. Mas cada minuto que passo aqui é mais perigoso para vocês, Andrey passou do limite dessa vez e eu preciso parar ele antes que alguém mais se machuque. Eu amava o Paulo, amava aquele velho de verdade e eu sinto muito ele ter morrido de forma tão brutal, mas eu tenho que ir agora. Eu preciso deixar vocês seguros, eu preciso dar a vocês uma vida tranquila e deixar que Jade e Eleazar continuem a vida tranquila deles. Eu tenho que fazer isso!
— Okay, a gente vai, mas vamos esperar para fazer um plano. Vamos ver o que podemos fazer e quantas pessoas podemos levar, okay? Juntos!
— Mais gente chamaria atenção, eu posso dar conta disso tudo sozinha. – passou o braço pelas alças e então sentiu o peso da mochila, mas se manteve em pé enquanto puxava a outra com a mão – Vocês ficam aqui de olho em tudo. Okay? Avisem Mattie e Lawrence.
— Espera, Annie… – chamou Félix e ela rapidamente se virou para ele – Mete uma bala na cabeça daquele desgraçado por mim, tá bom?
Annie balançou a cabeça e então saiu diretamente para a garagem. Jogou as bolsas no banco traseiro de seu carro, logo saiu indo para dentro e pegou algumas garrafas cheias de combustíveis para durar a viagem de ida e volta e colocou no porta-malas. Quando tinha tudo necessário para a viagem de dias, ela entrou no banco do motorista e respirou fundo antes de ligar o motor. Assim que o carro tremeu ao ser ligado, a porta se abriu e Mattie encontrou com sua bolsa ali.
— Achou que ia sem mim, não é? – um sorrisinho de lado estava em seu rosto e então ele jogou a mochila no banco de trás, Annie pode jurar ter escutado um gemidinho, mas ignorou e fuzilou Mattie com raiva – Eu não vou sair, se é o que estiver pensando. Sem chance, Annie, Priscila e meu filho estão em perigo e nós precisamos ir agora!
— E se for ela a traidora, hm? E se for ela que matou Paulo e sequestrou os outros?
— Eu pensei sobre isso, mas… uma parte de mim quer duvidar e mataria ela se fosse verdade, mas outra quer perdoar e seguir pelo nosso filho.
— Se não fosse o bebê então você não estaria dividido, certo?
— Eu não sei… Priscila sempre foi diferente, sabe? Divertida, engraçada e explosiva e eu comecei a amar ela tão facilmente.
— E espero que aprenda a desamar.
Murmurou enquanto dava partida no carro e saia da base. Não demorou muito para que saíssem da cidade e adentrassem o imenso deserto.
— E então, qual o plano? – perguntou Mattie.
— Vamos para as montanhas, encontramos as Loucas do Deserto e descobrimos onde estão todos eles. – respondeu sem olhá-lo.
— E se elas não souberem de nada?
— Jade e Eleazar encontraram Andrey no deserto há alguns meses, Emily contou que seriam levados para as montanhas e a gente não tem mais contato com elas há anos!
— É, você tem…
De repente um espirro atrás no banco traseiro fez Mattie ficar quieto, eles se entreolharam e ele se virou. As duas bolsas estavam um pouco diferentes de quando Annie as jogou e nem percebeu que a manta que havia jogado estava aberta no banco, foi então que o garoto puxou e eles viram o corpo encolhido de Isa no espaço entre os bancos. Ao ver a imagem da garota, Annie freou o veículo com força fazendo todos ali irem para frente e então ela se virou fuzilando a garota com o olhar.
— Que porra você tá fazendo aqui? – perguntou em tom furioso – Eu mandei ficar na base!
— Eu não queria ficar lá fazendo nada. – Isa murmurou baixinho enquanto se sentava no banco.
— Vou dar a volta, precisamos levar ela de volta.
— Espera, o que? – Isa se curvou e agarrou o banco de Mattie – Não! Já estamos muito longe, não é? Vai gastar combustível à toa.
— Pelo menos você não vai atrapalhar. – sussurrou entre os dentes enquanto ligava o carro
— E minha pontaria é boa, posso ficar só de longe atirando.
— Não me importa, você volta pra base agora.
— Dá uma chance, Annie. – murmurou Mattie olhando-a de lado – A garota teve todo o trabalho, além disso vamos gastar combustível à toa só voltando para deixá-la lá. Vamos dar uma chance pra tampinha aí se provar.
— É, dá uma chance pra tampinha. – sussurrou baixinho com olhos de cachorro pidão.
Annie encarou os dois por alguns longos segundos, então suspirou e voltou a dar partida com o carro enquanto a garota comemorava no banco de trás.
— Fica quieta se não mudo de ideia. – ao dizer isso, Isa se encolheu e ficou quietinha – Pra começo de conversa eu queria vir sozinha.
— Pra começo de conversa ninguém aqui dá a mínima. – Mattie riu alto.
— Vai rindo, seu idiota, te chuto pra fora do meu carro se continuar. Vai voltar a pé pra base.
— Garota agressiva, nossos amores estão em perigo, eu sei, mas respira fundo. Vamos salvar eles.
— Ou vamos descobrir que são traidores.
— Você não confia nem no Gally? – ele pareceu surpreso.
— Confio, mas… uma coisa fica me incomodando. Tem algo nele, algo estranho, desde que o resgatamos. Eu não sei o que é, ignorei esse sentimento e parece piorar a cada dia. Não acho que ele seja o traidor, mas outra coisa.
— Outra coisa?
Annie suspirou e deu de ombros. Mattie a encarou por alguns segundos, mas logo voltou a ficar quieto. A tensão reinava naquele carro, os dois ansiosos para chegarem logo enquanto a preocupação corroía seus corações e mentes. Foi nesse silêncio desesperador que Mattie novamente quebrou o silêncio:
— E aí, tampinha, me fala sobre você.
— O que quer saber? – Isa abriu um largo sorriso.
— Sei lá. Fala qualquer coisa aí. Como entrou na base?
— Annie salvou meu irmão e eu, ele entrou em um dos esquadrões e ficamos na base até ele morrer.
— E como ele morreu?
— Grupo de infectados, ele era do seu esquadrão.
— Ah, sério? Qual o nome?
— Gustavo.
— Era um de olhos verdes e pele morena?
— Era esse mesmo! – um largo sorriso se abriu em seus lábios. – Vocês eram muito próximos?
— Não muito, ele era de um grupo mais inferior, mas era um cara confiável. Ele sempre falava sobre a irmãzinha dele, mas ele te chamava de Bel. Então não percebi que ele era seu irmão. A propósito, ele tinha muito orgulho de você, tampinha. – os olhos de Isa se encheram de lágrimas com um largo sorriso em lábios enquanto lembrava de seu irmão – Mas, e aí, quais armas sabe usar?
— Bom… Não muitas, não consigo usar aquelas grandonas por terem um coice forte. Agora as pistolas eu consigo.
— E quanto a um arco e flecha?
— Nunca vi um.
— Annie vai arrumar um para você. Não é, Annie?
— Vou? – ela encarou Mattie com uma sobrancelha arqueada.
— Vai. Arcos são melhores que armas em alguns quesitos, por exemplo, são silenciosos.
— E são mais difíceis de manejar. – Annie relembrou.
— Um pouco de treino e a garota consegue. Não é, tampinha?
— É isso aí. Seria legal ter um arco e flecha! – ela respondeu – Você já usou? Quantos cranks já matou com ela? E como se tornaram líderes? Tem arcos na base? Se essas mulheres ficam somente no deserto, o que vestem? Elas saem pra saquear? Quando você disse que eram loucas, imaginei um monte de mulher pelada correndo igual doida.
Annie revirou os olhos com a enxurrada de perguntas e comentários incessantes de Isa, Mattie sorria e caia na risada com todas elas enquanto olhava com certo deboche para a irmã, ele sabia que tinha dado a liberdade certa para a jovem e estava mais que feliz em responder suas perguntas e contar todas as histórias de suas missões. Principalmente aquelas onde ele salvava Annie.
A jovem se manteve quieta no volante, ela conseguiu encontrar uma cidade destruída antes de escurecer totalmente e escondeu o carro para poder estacionar. Isa observava tudo pela janela, os olhos preocupados e o medo visível de algum cranck aparecer.
— Vamos passar a noite aqui? – ela perguntou trêmula.
— Vamos. – estacionou o carro e apagou os faróis – Ninguém sai do carro.
— E se eu quiser fazer xixi?
— Se quiser mijar, então avisa e um de nós vai contigo.
— Eu não vou, não. – Mattie murmurou enquanto cruzava os braços e se acomodava no banco pronto para dormir. Annie apenas estalou a língua.
— Vão dormir.
As horas passaram como lesmas, Annie encostou a testa no volante enquanto permanecia acordada, as lembranças vinham com força para sua mente e a impedia de dormir. A imagem de Paulo caído ensanguentado era demais para ela, se não fosse a crise de pânico, então teria tido forças o suficiente para ir ao local onde foi cremado e se despedir dele. Disse que tudo ficaria bem, que ele continuaria vivo, mas ele morreu e nada estava bem.
Como ela pode deixar aquilo acontecer?
Como pode se deixar amolecer nesses últimos anos?
Como pode não prestar atenção?
Como pode deixar Paulo morrer e Gally e os outros serem sequestrados?
Por que ela não conseguia agir como antes?
A culpa lhe corroía intensamente, sentia-se responsável pela morte de seu amigo Paulo já que o assassino era o traidor e ela era o alvo que deveria ter morrido. Algumas lágrimas rolavam por seu rosto, fungou baixinho enquanto a dor se instalava novamente em seu ser e limpou o rosto. Ela não dormiu naquela noite.
Quando Mattie e Isa acordaram o carro já estava em movimento, Annie estava quieta e observava as montanhas com o mapa em uma de suas mãos. Mattie bocejou olhando tudo em volta, então pegou uma garrafa de água e bebeu alguns poucos goles.
— Tá com sede, tampinha? – Mattie perguntou virando e oferecendo sua água.
— Não. – Annie interveio – Tem água na minha mochila. Isa, pega essa bolsa verde musgo aí, tem uma garrafa. Pode pegar.
— Oh, obrigada. – a garota murmurou enquanto abria a bolsa.
— Peguei bastante suprimento. – explicou voltando a olhar o caminho sentindo o olhar de seu irmão em seu rosto – Então não se preocupe.
A estrada seguiu normalmente, Mattie e Isa conversando mais que Annie pensou que poderiam, a jovem perguntava todos os tipos de coisas e, principalmente, sobre o passado dos dois.
— E seus pais, Mattie? Quem eram?
— Bom, meu pai morreu quando minha mãe estava grávida e minha mãe morreu quando eu tinha cinco. – ele respondeu calmamente – Vivíamos numa fazenda, daí quando ela morreu fiquei com meu avô até os dez quando ele também morreu.
— E você era filho único?
— Não, eu tinha um irmão mais velho. Uns quatro anos de diferença. – Annie olhou Mattie pelo canto da visão e apertou sutilmente o volante, mas o garoto prosseguiu: – Quando nosso avô faleceu, nós fomos embora e tentamos encontrar outro lugar para ficar. Acabamos indo para uma cidade, mas era muito perigoso e fomos atacados por um grupo de infectados. Meu irmão morreu na minha frente e eu não pude fazer nada.
Uma das razões para que Mattie e Annie tivessem uma amizade foi aquele fato em comum: tinham perdido tudo e visto seus irmãos morrerem diante deles. Bom, depois de meses de insistência por parte dele até ela ceder e conversar com ele. A dor da perda os uniu de uma maneira única, viram o apoio necessário um no outro e depois de uns anos começaram a se ver como irmãos e a se tratarem como se fossem.
Mattie contou mais algumas informações para Isa, como quando ele corria atrás dela pelas florestas mortas ou pela cidade gritando seu nome várias e várias vezes. As horas passaram lentamente para Annie, mas para Isa e Mattie tudo foi muito rápido. Tiveram algumas pausas para esvaziar a bexiga, mas logo Annie estacionou quando estava começando a anoitecer.
— Certo. – Annie disse ao desligar os faróis – Vamos dormir.
— Eu to com fome. – Isa murmurou.
— É, eu também. – Mattie murmurou – Podíamos esquentar umas latas de comida, não é?
— Vamos fazer uma fogueira?
— Bora! – e com isso Mattie pulou para fora do carro antes mesmo que Annie pudesse protestar.
— Aqui! – Isa saiu com três latas – Vamos comer esse hoje.
— Perfeito, tampinha! – Mattie acendeu sua lanterna vasculhando os destroços ao redor do carro e conseguiu encontrar vários pedaços de madeira. Rapidamente juntou tudo com mais alguns entulhos montando a pequena fogueira e uma base que poderiam colocar as latas. Ele embolou alguns papéis que trouxe em sua mochila e os acendeu com um isqueiro e então tudo estava pronto.. – Beleza, me dá aqui.
Isa sorriu observando tudo o que ele fazia, cada movimento não passava despercebido e ela aprendia muito com aquilo. Quando ele finalizou, ela se aproximou para entregar as latas para que colocassem no suporte.
— Põe duas. – Annie murmurou sentada no banco do motorista, a porta aberta e as pernas para fora.
— Mas estamos em três. – murmurou Isa.
— Eu não vou comer, garota. Coloquem duas.
Mattie lançou um longo olhar sério para a irmã, ela não olhava para ele, então após um suspiro ele retirou e viu as latas aquecerem. Ele percebeu que Isa olhava com tanta expectativa para aquela comida, definitivamente estava faminta e sorriu de lado.
— Quer ouvir uma história de como conseguimos derrubar um grupo inimigo?
— Quero! – Isa cruzou as pernas com um largo sorriso observando Mattie enquanto a comida fervia.
Annie olhou de relance para os dois, observou Mattie contar a história com muito entusiasmo e detalhes enquanto movimentava bastante as mãos. Isa estava extremamente absorta naquela história e soltava várias risadas em certas partes, aquilo durou por mais meia hora até que finalmente comeram e se deitaram para dormir.
Devia passar da meia noite, ou talvez fosse duas da manhã, o fogo estava diminuindo mais e mais e a escuridão voltava a tomar conta. A única coisa que continuava brilhando sem parar eram as estrelas no céu.
— O que está pensando? – o sussurro de Mattie não a surpreendeu nem a assustou, mesmo que não tivesse prestado atenção quando ele se levantou nem quando aproximou.
— Em nada. – murmurou, a garganta seca.
— E o que está sentindo?
— Eu não sei.
— Mana. – ele se aproximou, as mãos apoiadas no teto do carro e seus olhos brilhando em preocupação – Sabe que pode contar comigo.
— Eu não… É só que… – ela suspirou balançando a cabeça e piscando várias vezes para as lágrimas que ameaçavam cair desaparecerem – Não paro de pensar no que pode acontecer. E se Priscila for a traidora? E se Darlan for? E se for o Gally? E se nenhum deles for o traidor, mas morreram por causa da vingança de Andrey? Se ele quer tanto a mim, porque não me pega logo?
— Olha, é muita coisa, eu sei. Queria ter a resposta para todas elas, mas infelizmente não tenho. E, bom, quem quer que seja o traidor nós mataremos e voltaremos para a base. Tudo voltará a seguir seu curso.
— E se a traidora for a Priscila?
Houve uma visível hesitação por parte de Mattie, ele não queria pensar na ideia de matar a mulher nem o filho que ela estava gerando, mas disse com toda a firmeza que precisava naquela hora:
— Eu mato ela.
Annie balançou a cabeça, respirando fundo enquanto algumas poucas lágrimas escorriam por seu rosto, elas brilharam mesmo com a pouca luz da fogueira e então Mattie as secou com o polegar.
— Dorme um pouco. Amanhã eu dirijo. – ele sussurrou e então se afastou voltando para seu lugar.
Ela assentiu e então saiu do carro se juntando ao trio, quando finalmente adormeceu teve um pesadelo e nele pode ouvir o grito de desespero de Gally. Annie acordou em um salto, o fogo já havia se apagado e o céu tinha leves tons mais claros do amanhecer que estava próximo. Olhando em volta, pode ver com dificuldade as silhuetas de Mattie e Isa e os acordou mandando entrar. Assim que eles entraram no carro, ela deu partida e começou a dirigir novamente.
Na tarde do terceiro dia eles saíram do carro, chegaram nas montanhas e Annie decidiu seguir a pé. Eles andavam pelas passagens estreitas e traiçoeiras tentando a todo custo não cair. Annie olhava o mapa e então continuava seguindo em seu próprio ritmo, Mattie iria estar ao seu lado acompanhando seu ritmo, mas ele tinha que ajudar Isa a não cair e não escorregar em pontos perigosos. Foi então que perderam a garota de vista.
— Droga! Onde ela tá? – perguntou Isa completamente ofegante.
— Eu não sei. – Mattie murmurou olhando em volta.
Enquanto isso, Annie andava apressada conseguindo passar pelos caminhos sem se preocupar, até que viu uma caverna mais a frente e seguiu até lá. No meio do caminho um vulto saiu de trás de uma grande pedra e pulou nas costas de Annie, aquilo levou as duas para o chão e a garota sentiu quando seu corpo caiu em cima de inúmeras pedras pontiagudas. Tentou puxar o ar, mas era difícil e sem esperar um par de mãos agarrou seu braço e a puxou virando-a completamente. No mesmo segundo sentiu um objeto metálico pressionar seu pescoço e o rosto de uma mulher encara-la.
— O que está fazendo aqui? – ela perguntou.
A mulher fedia, tinha um cheiro forte de areia e suor, seus cabelos estavam ensebados e a maior parte de seus dentes era podre. Quando ela perguntou aquilo com o rosto tão próximo de Annie, a jovem quase regurgitou com o hálito podre, mas se manteve firme mesmo com os olhos ardendo.
— Vim atrás de uma pessoa. – respondeu com dificuldade – Ela veio para as montanhas.
— Você está sozinha? – o hálito fez o estômago vazio de retorcer, porém como não comia nada há dois dias então apenas ardeu.
— Estou. Só eu.
Ao dizer isso, o som de uma pedra caindo fez a doida se virar, foi naquele momento que Annie aproveitou a distração e agiu rapidamente. Em questão de segundos agarrou o punho dela, afastando a faca de seu pescoço, com a outra desferiu um soco na face da mulher que virou de volta e então conseguiu ter força suficiente para levantar, desarmar e imobilizá-la. Quando a louca estava debaixo dela, se debatendo para sair, Annie apenas a encarou com repulsa e pegou a faca pressionando a lâmina no pescoço dela.
— Onde tá sua chefe? – perguntou, mas a louca não respondeu – ONDE ESTÁ?
— Eu não vou contar. – ela rosnou enquanto Annie se segurava para não perder a paciência, a jovem lentamente passou a lâmina pelo pescoço da mulher e um fio fino de sangue começou a escorrer.
— Eu não tô brincando. Onde ela tá? – silêncio. A raiva começou a preencher Annie e ela cortou o rosto da mulher.
— Eu não sei! – gritou.
— Onde ela tá?
— Eu juro que não sei! Ela conversou há dois dias com um homem e então desapareceu ontem.
— E onde está o pessoal do meu esquadrão?
— Ela não falou nada. Apenas disse para ficarmos aqui, ela resolveria um problema com Andrey e então voltaria.
— Vocês tinham ligações com o Andrey ou só ela?
— Andrey era um cara esquisito, sempre planejando com a líder e se dava bem com todos. Só que pedia coisas estranhas, tipo ir atrás de um rapaz chamado Gally. – a menção ao nome do homem despertou toda a fúria de Annie – Mas não sei onde estão.
— O Andrey falou mais alguma coisa?
— Só que ia trazer um pessoal para cá, entre eles os seus filhos.
— Filhos? – repetiu confusa. – Quem são?
— Não sei. Ele não contou.
— Quando ele disse isso? Quando ele disse que ia chegar?
— Não disse. Só disse que traria, mas não falou quando.
Um grunhido saiu de sua garganta enquanto pressionava ainda a lâmina no pescoço dela.
— Essas pessoas são meus amigos, minha família! – ela quase gritou – E ele os sequestrou. Vocês, loucas do Deserto, se uniram a Andrey. Antigamente vocês nem sequer deixavam homens se aproximarem e agora isso? Estou totalmente decepcionada com isso.
Quando terminou de falar, a paciência que tentava manter desapareceu, ela passou rapidamente a lâmina na garganta da louça e a assistiu se engasgar com o próprio sangue até a morte. De repente, sons de passos firmes atrás dela a fizeram se virar, mas tudo o que viu foi uma pessoa encapuzada se aproximar bem rápido e atingir sua têmpora em um golpe. Annie não conseguiu reagir, foi tudo muito rápido, e então apagou completamente ao ser atingida.
Annie mergulhou em uma escuridão sufocante, não sonhou com nada e nem sentiu absolutamente nada, pareciam ter passado longas horas quando começou a despertar. Seu corpo todo doía, principalmente seus pulsos, parecia que algo os envolvia com força quase cortando a circulação sanguínea, mas não chegava perto da dor latejante em sua têmpora.
Tudo estava borrado e duplicado quando ela abriu os olhos, as vozes pareciam distantes demais para entender uma palavra sequer, estava sentada em uma cadeira e aquilo era a única coisa que conseguia assimilar. Nem mesmo quando uma das formas duplicadas e borradas se aproximou e lhe desferiu um tapa forte na nuca foi capaz de despertá-la completamente. Piscou forte uma, duas, várias vezes e nada. Sacudiu a cabeça ouvindo os murmúrios distantes enquanto parecia que o som de sua respiração estivesse dentro de sua cabeça. Ofegou várias vezes. Não sabe quanto tempo demorou, mas sua consciência finalmente voltou completa e sua visão e audição estabilizaram, quando o fez pôde perceber onde estava.
Sentada com as mãos bem amarradas atrás da cadeira, uma mesa estava diante dela com vários pratos, talheres, taças e garrafas vazias completamente imundos, onde a poeira de décadas estava acumulada em cima que nem lavando poderia tirar. Dois homens desconhecidos estavam ali em pé, um com cabeça raspada e, provavelmente, beirando aos trinta anos e outro com metade de sua idade. Os dois a olhavam com pura raiva. Ela não temeu aqueles olhares, tampouco a situação em que se encontrava, só quando olhou para o lado que finalmente sentiu alguma coisa.
Ali estavam eles, Darlan e Gally, sentados e inconscientes. Gally não estava amarrado, mas estava completamente inconsciente e não conseguia ver feridas ou hematomas em seu corpo. Darlan era o oposto, estava levemente acordado, mas fortemente amarrado e amordaçado.
— Darlan! Gally! – ela exclamou seus nomes, embora sua voz estivesse falhada e sua garganta seca e dolorida.
— Aí, chefe! – o velho gritou – A vadia acordou!
Segundos depois as portas ao fundo se abriram e uma forma se aproximou, a pouca iluminação e a visão um pouco embaçada de Annie dificultou que visse quem estava ali, mas quando parou embaixo de uma lâmpada pode finalmente ver quem era. Seu coração falhou a batida, seu corpo tremeu e sua pele empalideceu. Quando disse seu nome, sua voz saiu fraca e trêmula, ainda sem acreditar naquilo.
— Priscila?
— E aí, chefinha. – ela disse com um sorrisinho de lado.
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