𝐋𝐈𝐈𝐈: 𝐏𝐫𝐢𝐦𝐞𝐢𝐫𝐚 𝐏𝐫𝐨𝐯𝐚. 𝐏𝐚𝐫𝐭𝐞 𝐔𝐦
nota: mano, lembrei agora o que ia contar nas notas do capítulo anterior. Esse lance de “Os líderes vão escolher; se dois líderes o escolher, vocês que decidiram”, era uma ideia de Black Clover, quando os carinhas vão se juntar aos carinhas lá, tipo o Alvorecer Dourado e os Touros Negros.
Nota: cap tá quase com 5k de palavra, eu dividi dnv pra n ficar uma bíblia. Se tudo der certo, posto ainda hoje o próximo capítulo
Nota: eu não postei esse capítulo ontem pq aqui tava uns 37/38 graus. Nem sei qual era a sensação térmica. PENSAR tava impossível. Então não consegui escrever esse capítulo, ficou pronto só na parte da noite msm.
Vocês já tiveram isso, de tipo, vc está escrevendo um capítulo planejado do início ao fim, mas quando vc começa a escrever uma força cósmica toma conta de você e adicionam mais coisas q n estavam planejada?! Então, o casal ali não estava planejado. KKKKKK
Enfim, Boa leitura❤️ esse capítulo tá leve até, mas é o próximo q desanda.
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Gally não dormiu a noite, nem sequer conseguiu fechar os olhos devido a ansiedade. Tentou se recordar de tudo o que Annie havia dito sobre a Seleção, mas não havia muito e como Félix havia dito ela não contou tudo. Uma característica um tanto quanto irritante da garota de sempre omitir pontos que poderiam ser importantes. Ele respirou fundo para se acalmar, secou o suor de seu rosto e então murmurou para si mesmo:
“Annie não me expulsaria mesmo se eu falhasse na Seleção… Mesmo sendo uma regra do pai dela…”
E com esses pensamentos, ele adormeceu.
Na verdade ele só fechou os olhos por cinco minutos, pois logo o despertador na escrivaninha ao lado da sua cama soou e preencheu todo o seu quarto com aquele som irritante. Um grunhido irritado saiu de seus lábios enquanto forçava o corpo cansado a se levantar, calçou os sapatos e lavou o rosto antes de sair do quarto. Após descobrir que não tinha absolutamente nada para comer no refeitório, ele então vagou pela base sem encontrar ninguém, nem mesmo Mattie estava ali. Quando deu a hora, todos os que foram chamados primeiro foram para o refeitório novamente, tinha vinte jovens ali contando com ele, mas não se dispôs a olhar em volta e ver se conhecia alguém. O estômago já estava revirando quando o mesmo homem de ontem entrou, mas dessa vez não subiu na mesa como no dia anterior.
Ele parou no centro do refeitório, todos poderiam ouvi-lo e vê-lo bem ali, então sem enrolação ele começou:
— Bom dia. Antes de começarmos, quero trazer algumas informações. Primeiro: os testes levarão três dias e terão diferentes provas das quais vocês terão que passar. O primeiro teste é de resistência, então é aconselhável que vocês escolham uma dupla. Pensem na compatibilidade e no que o próximo irá trazer a vocês, entenderam? Vocês terão dez minutos para decidirem seus parceiros, então serão levados para a garagem onde serão transportados para o local da prova. Escolham com sabedoria.
E com isso ele saiu deixando os vinte adolescentes em silêncio ali. Não demorou muito para eles se levantarem e começarem a buscar seus parceiros, alguns já tinham se formado sem mesmo precisar falar algo, outros saíam de um lado para o outro dizendo: “Faça comigo!”, “Vamos fazer?”, “Quer ser minha dupla?”. E aquilo mais parecia o inferno para Gally, primeiro porque ele não conhecia ninguém e nem queria, segundo porque não queria dupla com nenhum deles, então foi um pouco complicado andar de um lado para o outro se esquivando de garotos e garotas que vinham desesperados por parceria.
Os minutos foram se passando, o tempo estava se esgotando e mais e mais parcerias eram formadas. Gally não sabia o que fazer, se tinham dito que era para ter um parceiro significava que a prova ia ser complicada, mas ele não queria ninguém. Alguns vieram com interesse, pois sabiam que Annie estava de olho nele e que tinha sido treinado com integrantes do esquadrão dela. O que foi o caso de uma garota loira de olhos verdes, com quase 1.70cm de altura que veio pedir sua parceria:
— Faça comigo! – ela exclamou de maneira exaltada com os olhos arregalados – Por favor! Por favor, vamos! Você treinou com Annie, deve saber tudo o que vai acontecer e já deve ter treinado muito para isso.
Gally quis rir, em parte porque não fazia nenhuma ideia do que iria acontecer e por não se sentir totalmente preparado para o que iria acontecer. Então apenas negou com um movimento de cabeça e se afastou, mas foi inútil já que ela o segurou pelo braço e continuou implorando.
— Por favor! Estou te implorando, eu faço qualquer coisa que você quiser. – ela dizia.
— Não, eu não quero. – e então ele olhou por cima do ombro da garota e notou dois rapazes o encarando de uma forma estranha, deviam ter dezoito anos e eram tão altos quanto ele. O olhar fez o garoto estremecer totalmente. – Já disse que não quero.
E com isso ele se afastou deixando a garota para trás. Já tinham se passado oito minutos desde que os homens saíram e Gally permanecia sem parceiro. Ele andou lentamente pelo refeitório, mas curiosamente seus olhos pararam em uma garota com 1.50cm de altura, olhos assustados e solitários que olhava para todos com um olhar de cachorro abandonado. Isabella estava ali e, obviamente, não tinha parceiro algum, pois ninguém iria querer uma criança como dupla.
— Quer fazer parceria comigo? – Gally perguntou ao se aproximar.
Ele não o fez porque achava que conseguia cuidar dos dois sozinhos naquele teste, na verdade ele nem sabia se conseguia cuidar dele mesmo, nem sequer sabia das habilidades da garota e só a conhecia como “a garota do portão”. Mas se recordava das pouquíssimas conversas que teve com ela, então não seria legal vê-la ir embora da base por ser pequena e nova demais para a Seleção.
Quando ele sugeriu a parceria, os olhos dela se encheram d'água e um enorme bico se formou em seus lábios, igual a uma criança, embora ela fosse uma.
— Gally! – ela o chamou com a voz trêmula e então foi até ele abraçando sua cintura. – Obrigada!
— Okay, okay. – ele suspirou dando tapinhas amigáveis no ombro dela.
Gally olhou em volta notando novamente aquela dupla de garotos o encarando com seriedade, nunca os tinha visto antes, embora não reparasse de fato nas pessoas da base. Mas sentia que algo estava estranho naqueles dois. Quando o tempo acabou, o homem voltou com uma prancheta e mandou que as duplas fizessem fila para que ele anotasse seus nomes. Chegando a sua vez, o homem olhou Isabella e Gally de cima a baixo.
— Duplinha curiosa. – murmurou – Dupla Sete: Gally e Isabella. Podem ir para a garagem e escolham o carro que irão.
(…)
Durou cerca de duas horas para chegar ao destino, saíram no deserto, apenas alguns metros de distância das montanhas. Quando todos saíram, perceberam dois carros ali parados com alguns homens fortemente armados e com cara de poucos amigos. Gally sentiu que eles atirariam em cada um que fizesse gracinha, então ficou rígido no local em que estava, com Isabella passando o peso do corpo de uma perna para outra sem parar. Assim que todos os adolescentes estavam ali, não demorou muito para o homem descer de um carro e se aproximar dos outros armados.
— Seguinte garotos, vocês receberão uma mochila com água, comida e uma faca para que possam se proteger. Os suprimentos são poucos, então precisarão tomar cuidado e saber racionar com sabedoria. Vocês terão que seguir ao norte, nas montanhas, e encontrar os três líderes ao fim. Eles irão fazer uma série de avaliações em vocês, como a quantia de suprimentos restantes, ferimentos e o estado em que estarão. O teste é simples, mas não significa que seja seguro. Vocês terão que suportar o sol, caminhos perigosos e, o pior de todos, crancks. – aquilo fez alguns adolescentes se entreolhar assustados e darem um passo para trás – Uma vez inscrito, não pode recuar, todos aqui não podem desistir agora e não serão levados de volta a base se não chegarem até o fim do caminho.
Ele puxou um cantil da cintura e bebeu alguns goles de água de forma demorada, como se estivesse dando aos jovens ali um tempo para pensar, então pigarreou e voltou a falar:
— Há uma regra importante que precisam se recordar: é proibido matar outro adolescente, seja seu parceiro ou uma dupla adversária. Entenderam?
Ninguém disse absolutamente nada e os homens passaram por dupla e dupla entregando as bolsas com os suprimentos de cada. Após ajeitarem as mochilas nas costas, os soldados entraram nos carros e o homem finalizou:
— O teste começa agora. – e então os carros dispararam deixando vinte adolescentes no meio do deserto.
(…)
Gally e Isabella tomaram a frente, não queriam participar do choro de algumas garotas nem das discussões que surgiram de maneira curiosa entre os meninos. Eles debatiam sobre aquele teste entre si, o que para Gally era uma grande perda de tempo. Seguiram por alguns minutos até pararem num caminho rochoso das montanhas, o rapaz se sentou ao lado de uma árvore seca e abriu a mochila. Tanto ele quanto a garota tinham uma corda, uma lanterna, três barrinhas de comida, uma garrafa de água, um mapa com dois locais marcados e uma faca. A faca de Isa era diferente, o cabo tinha buracos para colocar os dedos, mas o dele era diferente. A lâmina não era tão grande, o cabo não tinha aquela acomodação para os dedos e era feito de madeira. Na ponta da madeira tinha talhado duas letras mal feitas:
“R&B”
Ele não entendeu de primeira, mas ignorou e colocou de volta. Ao ajeitar a mochila nas costas, ele se levantou e encarou Isa que parecia confusa:
— O que foi? – perguntou ele.
— Você sabia de alguma coisa? Annie te deu alguma informação? – ela perguntou receosa.
— Na verdade, não. Ela não disse nada do que faríamos aqui. – um suspiro passou por seus lábios, então ele voltou a pegar o mapa de sua bolsa e viu o que estava marcado. Em um ponto havia escrito “você está aqui” e outro escrito ”Chegada”. Gally analisou um pouco, mas como tinham andado por alguns minutos então não sabia onde estava.
— Me dê isso aqui. – Isa puxou o papel de suas mãos e analisou as informações. – Já localizei onde estamos. Temos que seguir para lá, ao sul, e se formos em uma velocidade normal chegaremos quase de noite.
Gally se questionou se o conceito de “velocidade normal” dela seria o mesmo para ele, considerando a diferença de tamanho dos dois. Ele voltou a ajeitar a mochila em suas costas, deixando o papel com a garota, então perguntou curioso:
— Você sabe ler mapas?
— Meu irmão me ensinou um pouco. – comentou – Me ensinou algumas coisinhas.
— E onde ele está? Está na base também?
— Não. – murmurou enquanto observava o mapa – Morreu há dois meses. Era do esquadrão de Mattie, mas foram pegos por um grupo de infectados.
— Sinto muito. – murmurou um pouco culpado por trazer aquele assunto dessa forma.
— Tranquilo. Pessoas vêm e vão, é o ciclo da vida. – deu de ombros – Posso te fazer uma pergunta? – Gally assentiu – Por que me escolheu? Foi por pena? Ou é convencido o bastante para achar que consegue me ajudar só porque treinou com o grupo de Annie?
— Não. – ele suspirou e revelou – Na verdade, nem sei se consigo fazer alguma coisa aqui.
— Então por que me chamou? Tinha uma dezena de garotos e garotas mais fortes e úteis que eu. Então não entendo o motivo disso.
— Você é fácil de conversar e não é irritante. Por alguma razão, todos daquela base são um pouco irritantes e eu não quero me aproximar. – Isa fez menção de falar alguma coisa em resposta, mas foi cortada por Gally que prosseguiu – Vamos continuar! O Sol está chegando no ponto alto, falar só irá nos cansar e temos que começar a andar. Você nos guiará.
Isa espremeu os lábios até se transformarem em uma fina linha e assentiu com a cabeça. Ajeitou a mochila nas costas, observou o mapa e começou a andar por aquele caminho rochoso e quente.
(…)
Já tinham se passado três horas desde que começaram a andar, não tinham tido contato com nenhum dos outros garotos que tinham ficado discutindo ou chorando no começo. E eles percorreram um bom caminho por esse tempo, considerando que Isabella era terrivelmente lenta, o que não era surpresa para Gally. Após alguns minutos, encontraram abrigo em meio a um caminho fechado por enormes paredes de pedra que forneciam um espaço sem luz do sol e poderiam descansar e respirar. As pernas de Gally cederam com facilidade, apoiou as costas na parede desconfortável de pedra e fechou os olhos, tinha dificuldade para respirar. Estava tão quente que era como se o ar queimasse seus pulmões quando o puxava, a garota puxou a bolsa e então tirou a garrafa com água dela e bebeu alguns goles. Ele a seguiu.
Sua garganta implorou por mais, queria beber até a última gota, mas era como o homem tinha dito: precisam racionar. O estômago dele queimava de fome tendo em vista que não tinha comido nada desde que acordou e, por um segundo, se perguntou se aquilo era parte do teste.
— Não nos deixaram comer para ver como iríamos nos virar com as barrinhas. – Isa murmurou enquanto pegava a primeira barrinha dela, era como se tivesse acabado de ler a mente dele – Coma a sua, dará força por mais algumas horas.
— Você já passou por algo assim? – perguntou, a garganta voltando a ficar seca. Isa balançou a cabeça confirmando. – Como foi? – perguntou enquanto puxava a barrinha de sua bolsa.
— Como isso aqui, – comentou com a boca cheia enquanto balançava a barrinha em círculos indicando o local. Após engolir, ela prosseguiu: – mas não tínhamos a esperança de que encontraríamos algo ao fim. Foi quando Mattie e Annie apareceram com um grupo, tinham ido saquear algo. Foi Annie quem me viu quase desmaiando, então os homens vieram e nos levaram até a base. Meu irmão se voluntariou para entrar no esquadrão e agora é minha vez. E você, Gally? Não sei absolutamente nada sobre você.
— Ah. – ele balançou a cabeça com as sobrancelhas erguidas. Até pensar cansava, mas por alguma razão se sentiu confortável para partilhar seu passado, ou o que conseguia recordar, com ela. – Eu era um dos garotos do CRUEL, vivíamos em uma espécie de clareira cercada por labirintos.
— Eles faziam isso? – ela pareceu surpresa.
— Você não tem ideia do que eles eram capazes de fazer. – suspirou tentando tirar as lembranças de sua mente.
E então fechou os olhos enquanto mastigava lentamente a barrinha de comida, tinha um gosto estranho, mas não quis reclamar. Após quinze minutos de descanso, ele se levantou, sendo seguido pela garota que também permaneceu em silêncio. Quando iam começar a andar, um grito feminino ecoou pelo local e fez os pelos de sua nuca ficarem eriçados. As enormes paredes de pedra impedia uma visão muito distante e, por alguma razão, os corredores sinuosos e um tanto estreitos pareciam ser capazes de confundir a origem do som. Como se viajassem pelos corredores.
— Alguém deve ter se machucado. – e de novo aquela garota parecia ter lido seus pensamentos, seu olhar distante para o caminho que tinham seguido como se sugerisse que tivesse vindo por lá, o que Gally parecia ser contra e acreditar que tinha vindo da direção que iriam seguir. – Esses caminhos rochosos têm aberturas no chão, quedas altas e, se não prestar muita atenção, então pode se ferir gravemente. Seria ruim para nós termos um tornozelo torcido, não é?
Gally deu de ombros. Sentiu o suor escorrer por suas costas, deixando seu corpo pegajoso e nojento, mas aquele grito não pareceu que tinha sido causado por um tornozelo torcido. De repente se recordou do olhar frio daqueles dois garotos e sentiu novamente um arrepio percorrer sua coluna. Em silêncio, eles continuaram. O sol ainda brilhava forte, mas por sorte aquele caminho dispunha de muitas sombras onde eles poderiam aproveitar. Por um breve instante, Gally se questionou como Isabella estava tão tranquila, ou aparentava estar, e secretamente agradeceu tê-la escolhido como companheira. Não fazia perguntas invasivas toda hora, não falava demais, não invadia seu espaço pessoal e parecia ser bem séria, mesmo para uma criança de treze anos.
— Você acha mesmo que vão nos expulsar se falharmos? – a pergunta saiu de seus lábios sem pensar, mas não se arrependeu de tê-la feito.
— Acho. – ela respondeu atenta ao mapa – A ordem foi estritamente feita por Lawrence. E seja como for, Mattie e Annie o obedecem em qualquer situação.
— Entendi. – murmurou pensativo.
— Em poucas horas iremos entrar em uma área com construções. – ela mostrou o mapa para ele e bateu com o dedo indicador. – Acho que os infectados podem estar lá, não é?
— Acha que conseguiremos lidar com todos usando facas?
— Se formos espertos, sim. Eles querem testar nossas capacidades de sobrevivência.
Gally ponderou sobre aquilo por alguns minutos e voltou a ficar quieto. Meia hora depois toparam com um casal, uma garota com quase sua altura e um cara baixinho, robusto e com um pescoço bem grosso, o que o fazia parecer um dedão. Eles se encararam, mas não se atacaram nem sequer se insultaram.
— E ai. – o Cara de Dedão murmurou.
— Vocês são a terceira dupla que encontramos. – a garota comentou de um jeito suspeitosamente amistoso.
— E vocês são os primeiros. – Gally respondeu.
Uma lembrança distante brotou na mente de Gally. A garota então se virou para o Cara de Dedão e apontou para um ponto com bastante sombra, então se virou para ele e disse:
— Podemos descansar lá, que tal?
— É uma boa. – e então ele se virou para os dois e disse – Bom ver vocês. Nos vemos quando voltarmos.
E então saíram. Isa teve que bater no cotovelo de Gally para ele segui-la, mas quando perderam o casal de vista foi que ele agiu. Segurou com firmeza o braço dela, a guiou por outro caminho enquanto virava-se para ver se estavam sendo seguidos. A garota quis protestar, dizendo que aquele desvio só iria atrasá-los, mas ele a mandou ficar quieta e assim o fez. Quando estavam em uma distância que julgou minimamente segura, o rapaz tirou a mochila e puxou a faca, deixando-a escondida na cintura e por baixo da blusa.
— Pode me dizer que merda foi aquela? – Isa perguntou visivelmente brava.
— Eu… – ele engoliu em seco e então umedeceu os lábios secos – Senti algo estranho neles. Como uma intenção.
— Agora você é sensitivo? – questionou com raiva.
Ele não podia simplesmente dizer para ela do dia em que saiu com Annie, como ela pressentiu uma intenção assassina em um trio enquanto ele tentava escalar uma parede. Então apenas ignorou o que ela disse e perguntou:
— Falta muito? – apontou para o mapa – Até chegarmos nos infectados?
— É… Não! – ela analisou o mapa – Só tenho que me localizar aqui, posso?
— Tente se localizar em cinco minutos e então temos que ir. O mais rápido.
O informante. O grito. O olhar. O jeito como eles pareciam perturbadoramente suspeitos mesmo com os sorrisos e vozes gentis. Tudo aquilo preenchia a mente de Gally e ele sentiu que aquele teste deixou de ser um teste simples, mas uma real necessidade de sobrevivência. Não tinha a experiência de ler as pessoas como Annie tinha, mas ele sentia que algo estava errado e iria apostar naquilo fosse real ou só paranóia de sua mente.
Isa conseguiu traçar o caminho que tinham feito no mapa e conseguiu encontrar onde estavam. Ela o guiou por entre os caminhos perigosos e estreitos, a todo instante cuidando para não caírem e se machucarem. A dupla seguiu por alguns minutos até próximo uma queda de pouco mais de cinco metros, Isa que estava mais a frente gritou e caiu para trás, afastando-se dali com os olhos arregalados. Sem tempo para perguntas, Gally foi até a beirada e viu que lá embaixo, com uma pose nada normal, estava uma garota loira que tinha implorado por sua ajuda. E, por alguma razão, sua mochila estava aberta.
--- Ela… Ela caiu? – Isa perguntou assustada.
A perna estava virada de uma forma anormal e o sangue pintava não só seu rosto, mas seu cabelo loiro. Gally respirou fundo e então se virou para Isa.
(…)
— Eu odeio você. – a garota resmungava de olhos fechados, a corda estava amarrada em sua cintura e Gally a descia lentamente – Eu odeio você. De verdade. Odeio, odeio, odeio…
— Só veja a bolsa dela. – murmurou o garoto enquanto cuidava para não cair lá do alto também.
— Por que você não veio?
— Você aguentaria meu peso? – rebateu.
— Odeio você. Odeio que esteja certo!
— Tá! – ele deixou ela em segurança no chão – Agora veja.
Isa murmurou mais um insulto, mas se aproximou hesitante do corpo da garota. Evitava olhar para o rosto, principalmente para as manchas de sangue, e com cuidado se aproximou e puxou a bolsa. Com ela em mãos, a menina virou de costas e abriu para vasculhar. Mexeu, remexeu e mexeu de novo com uma expressão confusa.
— Ué? – foi a única coisa que disse.
— O que foi? – ele perguntou curioso e preocupado.
— Tem coisa faltando. – revelou olhando para cima – As barras, a água e a faca.
Gally a olhou confuso, então girou nos calcanhares observando tudo ao redor e buscando alguma coisa minimamente suspeita. Então se virou para ela e sugeriu:
— Veja se tem algum jeito de sair daí.
Isa novamente insultou o garoto e se virou indo pisando firme no chão. O buraco era estreito, se estendia em curvas irregulares e a ela logo sumiu da vista de Gally. A ansiedade e preocupação queimavam a mente dele, deixando-o desconfiado de que ela havia sido morta propositalmente e não acidentalmente. Não demorou muito e Isa surgiu, olhar confuso e preocupado:
— Não tem saída. – revelou.
— Okay. Pegue a corda e suba. – ordenou.
Sem muito o que fazer, a garota obedeceu e foi puxada com facilidade por ele. Começaram a voltar pelo caminho que tinham vindo, totalmente em silêncio, mas ela não esperou muito e o perguntou:
— Acha que foi o casal?
E então a lembrança dos dois garotos brotaram em sua mente. Algo estava errado e ele sabia.
— Não sei. – foi a única coisa que respondeu.
Eles seguiram em silêncio, Isa alguns passos atrás com o olhar perdido, mas não demorou muito para um vulto o surpreendê-lo e então atingi-lo no rosto. O impacto doeu, mas doeu mais quando seu corpo caiu ao chão e colidiu com vários pedregulhos pontiagudos. Quando se levantou, sem tanta dificuldade, percebeu que o Cara de Dedão apontava uma faca para ele enquanto a garota loira segurava Isa com a faca na garganta dela. A menina estava apavorada, nem sequer se moveu ou emitiu um som com aquilo, Gally também não se moveu com medo de alguma coisa acontecer com ela.
— Passa sua bolsa ou ela corta a garganta da criança. – o Cara de Dedão sussurrou de modo ameaçador.
— Não passa… – Isa tentou continuar, mas só ganhou uma lâmina mais pressionada em seu pescoço.
— Quietinha. – disse a garota em um sussurro.
Sem muitas opções, Gally puxou a bolsa e jogou nos pés do homem que recuou um passo e a pegou. A garota arrancou a bolsa de Isa e então os dois se afastaram lentamente, as lâminas apontadas contra eles. Quando estavam em uma distância segura, eles se viraram e correram.
— Mértila. – foi a única coisa que Gally sussurrou enquanto os via correr com seus suprimentos.
(…)
— Não vai falar nada? – Isabella perguntou visivelmente alterada.
Já tinham se passado dez minutos desde que a dupla fugiu com suas coisas. Isa alternava entre chorar em desespero e xingar com raiva enquanto andava sem parar de um lado para o outro. As mãos pressionavam suas têmporas enquanto tremia de raiva ou medo, ele não sabia qual era exatamente, já que ela parecia ser uma garota de extremos. Enquanto isso, Gally apenas a encarava com os braços cruzados sem dizer uma única palavra em todo aquele tempo.
— Se alterar por conta disso não vai ajudar em nada. – comentou com uma voz estranhamente neutra diante daquela situação. Ele estava com medo, desesperado e extremamente irritado, mas por alguma razão não conseguiu esboçar nenhum daqueles sentimentos.
— E o que sugere que eu faça? Sem aquelas coisas nós iremos morrer! – ela suspirou e colocou as mãos na cintura – Acho que seria uma boa me jogar naquele buraco.
— Sem pensamentos desse tipo, okay? – ele suspirou – Precisamos ir atrás deles, recuperar nossas coisas e continuamos.
— A gente perdeu eles de vista. Como iremos encontrá-los? Além do mais, eles estão com minha faca e eu não sei lutar.
— Não precisamos lutar, é só… – ele suspirou novamente – Deixe-me pensar, okay? Você se lembra do mapa? Conseguiu memorizar?
— Não sei, quer dizer… – ela mordeu o lábio inferior – Um pouco, eu acho.
— Consegue nos levar de volta ao caminho?
— Olha, Gally, eu… Acho que não. – murmurou com a voz trêmula.
— Mas você memorizou um pouco, não é? Isso já conta! Se conseguir que a gente siga um pouco, então já ajudará e muito! E daí posso comentar sobre isso para Annie quando voltarmos e tenho certeza que ela te colocaria no esquadrão dela.
Os olhos de Isa brilharam com aquilo e suas bochechas coraram, mas logo voltou ao pânico anterior:
— E de que adiantará? Não iremos conseguir voltar e podemos morrer aqui sem água e comida!
— Bom… – ele deu de ombros – Então é só a gente não morrer.
— Nossa, que ideia brilhante a sua! – exclamou em tom sarcástico com a expressão irritada.
— Vamos? – ele sorriu confiante – Sei que você vai conseguir, e Annie saberá também.
Isa não queria admitir e andou alguns passos à frente de Gally para esconder suas bochechas coradas. Só a menção da possibilidade de entrar no grupo de Annie a deixava ansiosa, se ele fosse realmente falar para ela, então poderia se esforçar mais para tirarem eles daquela situação sem deixar que o pânico a dominasse. Eles andaram lentamente por quase duas horas seguidas, a boca do garoto estava totalmente seca, os lábios ressecados e nem tinha saliva para umedecê-los. O corpo estava grudando, a sensação de areia pinicando toda sua pele era desesperadora. Todo seu corpo doía de cansaço, seu estômago doía em fome por ele só ter comido metade de uma barra e alguns goles de água o dia todo. Por alguma razão, sentiu que seu treino árduo colaborava para suas pernas não cederem e ele cair ao chão. O que foi diferente para Isa, que ofegou e então despencou ao chão, totalmente exausta.
— Não dá. – ela murmurou, a voz rouca e fraca – Não vamos conseguir. Não sem nossas coisas.
— A gente vai sim. – sussurrou. Ele não queria admitir que estava sem esperança, mas vendo aquela garota de somente treze anos ali com medo e sem esperança era difícil admitir. Ela precisaria de um apoio, um incentivo, qualquer coisa para que conseguisse forças para continuar seguindo.
Ela não o respondeu. Estava cansada o suficiente para aquilo. Apenas pegou uma pedra que estava ali e jogou contra uma árvore seca ao longe, a pedra atingiu de maneira certeira uma folha totalmente seca que se mantinha presa ao galho por alguma força cósmica. Gally franziu o cenho, observou aquilo e se recordou que a garota sempre estava com uma grande arma nas costas.
— Você é boa de pontaria, não é? – ele perguntou e ela deu de ombros. Sem respostas, apenas pegou uma pedra do chão e atirou para ela – Aqui. Jogue no galho que estava a folha que você acertou.
— Pra quê? – ela perguntou pegando a pedra.
— Só faça!
O tom urgente de Gally deixou a garota incomodada, mas sem muito o que fazer apenas o obedeceu e atirou a pedra acertando de maneira certeira o galho que ele tinha citado. Ele jogou outra pedra, indicou outro galho e ela o acertou. Mais uma pedra, mais um galho indicado e mais um acerto. De novo. De novo. E de novo.
— Tá, que merda é isso? – ela perguntou cansada – Meu braço tá doendo, sabia? Jogue uma também. – e com isso atirou a pedra para ele. Sem muito a dizer, Gally pegou a pedra e atirou. Ela desapareceu sem sinal de passar perto do galho alvo. Isa assobiou com as sobrancelhas levantadas. – Foi longe.
— Eu não sou tão bom de mira assim, okay? – revelou. – Mas eu tô com uma ideia.
— Você e suas ideias geniais. – ela bufou e deitou ao chão – Tô cansada.
Gally suspirou e se levantou. Bateu a mão em suas roupas para tirar a sujeira e então colocou a mão na cintura.
— Vamos. – ele ofereceu ajuda para Isa.
— Já disse que te odeio? – perguntou enquanto aceitava a ajuda e se levantava.
— Acho que umas duas vezes.
E com isso os dois voltaram a andar. O sol naquele horário não estava mais tão forte, o vento não era tão quente quanto naquela manhã, mas a fome, o cansaço e a sede pioravam a cada segundo e a cada passo. Isa parecia que iria desmaiar, mas se mantinha firme. Até que, de repente, Gally parou e olhou ao redor. A garota trombou com ele por não estar olhando para onde ia, quando abriu os olhos preparada porpara xingá-lo, viu que ele fazia sinal para que ficassem em silêncio. Ao longe, bem distante dali, escutaram o som inconfundível de uma risada feminina.
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