𝐋𝐈: 𝐍𝐨𝐢𝐭𝐞 𝐝𝐞 𝐉𝐨𝐠𝐨𝐬
Nota: quase 4.500 palavras KKKKK me empolguei um pouquinho.
Nota: a cena de jogo de uno foi inspirada nos vídeos de Uno do alanzoka. Eu amo aqueles vídeos, nmrl. E gente. Eu não faço ideia de como se joga trucoKsksksksksk
Tinha coisa a mais pra falar aqui, mas eu esqueci.. então é isso
Boa leitura e até quarta com mais capítulos! Amo vocês!
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Gally ficou boquiaberto olhando todo o local e as incontáveis coisas que tinham ali. Tanto ele quanto Darlan não conseguiam acreditar naquilo, nem sequer entender o porquê estarem ali naquele local. Vendo a confusão dos dois, Jade apenas se aproximou e colocou a mão em seus ombros:
- Vão lá se divertir, garotos. - sua voz doce e tranquila fez a dupla encará-la - Principalmente depois de terem salvo todos eles, é direito de vocês descansarem e terem uma diversão a mais. Vão.
Annie apenas sorriu, as mãos juntas em suas costas enquanto andava lentamente em direção a escada para encontrar os outros.
- Venham logo. - cantarolou a garota.
O local era recheado de coisas divertidas. Havia um bar com várias bebidas em que Jade, Eleazar, Mattie e Annie estavam bebendo. Priscila e Gabriel jogavam cartas. Félix e Tanya jogavam xadrez, o que era engraçado, tendo em vista que os dois eram iguais no comportamento. Os dois eram quietos, bem observadores, se mantinham em silêncio observando as peças e pensando na próxima jogada enquanto lançavam vez ou outra, olhares frios e observadores um para o outro. Gally não conseguia entender direito o que estava acontecendo, nem sabia exatamente o que faria ali, e ao seu lado estava Darlan na mesma situação. Jade observou aquela cena e sorriu, após engolir sua bebida, disse:
- Eles vão precisar de uma ajudinha caso queira que se divirtam. - ela olhou para Annie.
- Ah. - foi a única coisa que disse.
De repente, Tanya começou a rir alto em comemoração enquanto derrubava o rei de Félix, e o homem apenas coçava a nuca emburrado por perder. Mas, sem reclamar, ele apenas ofereceu um aperto de mão e murmurou:
- Boa partida.
- Vamos lá. - Annie murmurou enquanto se levantava e deixava o copo no balcão. - Gally, Darlan? - os chamou - Querem jogar?
- Ah, eu aceito. - Darlan sorriu e se levantou, enquanto Gally o seguia.
A garota parou ao lado de Priscila e Gabriel.
- Podemos nos unir a vocês?
- Claro! - Gabriel disse - Estamos jogando uno, mas juntamos três caixas e agora temos... Sei lá quantas cartas tem.
- Bom, venham. - e ela se sentou, sendo seguida por Gally e Darlan.
Gabriel embaralhou as cartas e distribuiu sete para eles. Gally estava um pouco confuso, então Darlan o explicou de maneira rápida como se jogava:
- Eu sei como joga. - o garoto murmurou - Só nunca joguei antes na clareira.
Darlan sorriu, então começou a partida por Priscila que, segundo ela, estava ganhando na partida anterior. O jogo seguiu normalmente, todos os cinco jogando suas cartas e comprando quando não tinham a cor ou a carta com mesmo número. A primeira partida terminou com Darlan sendo o vencedor, a segunda partida com Priscila e então, Gabriel. Esse que comemorou e apontou o dedo do meio para Priscila enquanto comemorava.
- Puta que pariu. - Annie murmurou - Sou muito azarada nesse jogo.
- Ai, posso entrar também? - Félix se aproximou.
- Entra aí, mano. - Gabriel se levantou e ofereceu seu lugar - Eu quero ver umas roupas ali, ver o que posso pegar. Vai indo no meu lugar, depois eu volto, afinal já venci daquela dali mesmo.
- Vai se fuder, Gabriel! - ela exclamou em resposta.
E com isso Darlan embaralhou as cartas, distribuiu as sete para cada e então o jogo deu início. Começava por Priscila, sendo seguida por Darlan, Gally, Félix e, ao fim, Annie. Tudo estava normal até Félix jogar um +4 para Annie.
- Aí, vai tomar no seu cu, mano. - ela sorriu de nervoso e comprou as cartas enquanto Félix ria debochado.
O jogo seguiu com eles jogando suas cartas, mas chegando a vez de Félix, ele novamente lançou outro +4 para Annie. Ao ver, a garota lançou-lhe um olhar mortal.
- Sei lá quantas partidas, e eu não peguei um único +4! - exclamou enquanto pegava.
- Chora não, gatinha. - Priscila comentou de maneira provocativa, fazendo Annie sorrir com raiva.
- Vai ter volta, seus cuzões. Vai ter volta.
Quando a eles viraram a rodada, sendo agora Priscila que lançava para Annie, a garota apenas murmurou:
- Quer ver uma coisa legal? - e então lançou um +2 verde.
Annie riu alto e então disse:
- Interessante! Quer ver uma coisa legal? - repetindo as palavras de Priscila, ela também jogou um +2.
- Ai, Gally! - Félix o chamou animado - Tó uma coisa legal! Compra seis ai, idiota!
Gally começou a rir, então lançou mais um +2 e disse entre os risos:
- Hoje não. Deixa pro Darlan comprar oito!
- Deixa pra Priscila comprar 10. - ele riu, as bochechas levemente avermelhadas e jogou mais um +2.
Priscila baixou as cartas e então colocou a mão nos lábios, provocando uma onda de risos em todos ali, incluindo Annie. Félix começou a rir mais e a exclamar:
- Se fudeu? Vai, compra aí, garota! - ele provocava.
- Cara, eu podia ser muito legal agora. - Priscila comentou enquanto ajeitava a postura - Mas eu sou uma filha da puta! Compra ai, Annie! Compra doze. - e lançou mais um +2.
Na mesma hora o riso de Annie parou e ela fuzilou Priscila com o mais puro ódio que conseguia sentir naquele momento, olhou rapidamente seu pequeno bolo de doze cartas, mas não tinha nenhum outro +2. E então respirou fundo, evitando rir, mas com uma expressão de raiva e começou a comprar as cartas fazendo todos ali, principalmente Félix e Priscila, rirem enquanto comemoravam e aplaudiam como forma de provocação. Tinha agora 24 cartas em mãos.
Algumas jogadas depois, com mais algumas cartas que comprou graças a Félix e Priscila, a garota agora tinha trinta e Félix e Gally disputavam o primeiro lugar, com duas cartas cada. Xingavam uns aos outros e riam de diversão, até que Gally jogou uma carta verde para Félix.
- Por que coloca verde? - ele perguntou com raiva e começou a comprar as cartas até vir uma com o número dois, ou na mesma cor. - Cara, eu não tenho verde! - comprou mais - Cara? Mê dê... - mais uma - uma carta... - mais uma - Verde! - gritava indignado, então finalmente conseguiu tirar um verde após comprar seis cartas e ajeitou a postura.
- Triste não ter carta, não é? - Annie o encarou sem sorrir - Toma um reverse aí, idiota!
- Vai tomar no cu, Annie! - ele exclamou enquanto Priscila explodiu em risos - Eu não tenho... - comprou mais duas cartas - Verde! - mais uma - Que merda de 'rabalho' é esse?
--- Rabalho. - Annie e Priscila repetiram em meio aos risos, pois sabiam que Félix ficava com a dicção ruim quando sentia raiva.
Após comprar tantas cartas, Félix que antes tinha duas cartas, agora tinha 14 cartas. Sendo o segundo com mais cartas na mesa, perdendo apenas para Annie. Quando a jogada voltou para Annie, a garota sorriu para Félix e jogou um +4.
- Ou, vai tomar no seu cu. - ele disse enquanto comprava.
Após algumas jogadas onde tinham lançado mais cartas, Annie novamente lançou um +4 para Félix que a xingou. Quando ele comprou, lançou um +2 para Gally que também o insultou:
- Seu trolho de mértila. - mas lançou outro +2 para Darlan que teve que comprar quatro cartas.
- É TRUCO, SEU FILHA DA PUTA! - do outro lado, Mattie gritou para Eleazar enquanto se levantava e batia na mesa. Jade e Tanya só os observavam se xingarem enquanto lançavam as cartas.
Voltando para o grupo de Uno, vendo que não tinha vermelho quando chegou sua vez, Annie comprou outra carta e veio um +4 que ela lançou para Félix que gritou de raiva. Annie riu e disse entre as risadas:
- Esse é o troco, seu filho da puta! Chupa!
Quando voltou para Annie, ela precisou comprar outra carta:
- Nossa, vai vir outro +4! - e de fato veio.
- Vai 'motar' no cu, Annie! - Félix gritou, fazendo todos os quatro na mesa no caírem na risada.
- Ah, eu vou desmaiar. - Darlan exclamou entre as risadas, com a face totalmente vermelha.
Félix bloqueou Gally que o xingou por isso, Darlan apenas jogou uma carta e Priscila jogou um +2 para Annie. Quando ela comprou a segunda, veio outro +4 que a fez se remexer na cadeira para não rir. Quando ela lançou para Félix, os outros três na mesa começaram a rir, enquanto Félix disse:
- Ah, não... não... não quero mais... - ele murmurou em um choramingo enquanto comprava as cartas - É deficiência no cu do meu pai! - ele exclamou.
Annie e Priscila caíram mais ainda na gargalhada, as lágrimas escorrendo pelos olhos enquanto o rapaz xingava e choramingava. O jogo seguiu, risos e xingamentos eram ouvidos por todo o local, até que, no fim, Gally venceu.
- Graças a Deus! - Félix exclamou alto enquanto largava as cartas, o rosto vermelho de raiva. - Não estava mais aguentando!
- Quero mais não. - Priscila disse enquanto secava as lágrimas e soltava um riso ou outro enquanto lembrava de certos momentos. - A gente podia brincar de pega a pega.
- Pega a pega? - Darlan levantou uma sobrancelha enquanto juntava as cartas - Vocês brincam disso?
- Mais ou menos. - Félix respondeu - Tivemos algumas modificações, mas a essência continua a mesma. Querem ir?
- Não vou querer jogar, mas vou querer ver.
- Ai, Mattie! - Annie se levantou e chamou o amigo que conversava com Tanya, Jade e Eleazar após o fim da partida deles - Bora jogar pega a pega?
- Não, obrigado. - o rapaz respondeu bebendo sua bebida alcoólica.
- Tá com medo de perder? - o sorriso de Annie aumentou quando viu que estava feito, ele havia levado para o coração.
- Escuta aqui, garota! Eu venci a última partida.
- Não consigo me recordar disso, lembro de ter acabado com você no jogo.
- Acabar comigo? Eu que venci, garota!
- Dúvido que consiga vencer de novo.
E, minutos depois, eles estavam em outro salão enorme com vários objetos no centro que pareciam obstáculos. Tinha uma escada que dava a um corredor na parede, apenas para assistirem aquele local do alto e era onde todos os outros estavam reunidos. Gally ficou confuso, mas achou melhor não perguntar. Annie e Mattie estavam um em cada lado do salão, cada um esperando as ordens de Eleazar que seria o juíz.
- Escutem aqui, seus pirralhos! - ele exclamou do alto - Eu quero um jogo sujo, com sangue e muitos insultos. Entenderam?
- Assim não, querido. - Jade murmurou o repreendendo e ele limpou a garganta com o olhar sério da namorada.
- É... Eu... quero um jogo limpo, sem feridas e sem insultos. Entenderam? - e então Annie e Mattie começaram a vaiar o homem - Dez minutos a primeira rodada, começando com Mattie sendo o pegador e Annie a fugitiva... Comecem!
O sinal estava dado, o jogo tinha começado e na mesma velocidade a dupla começou a correr. Mattie era extremamente veloz em meio aos objetos, mas também conseguia pular e passa por eles com extrema facilidade. Alguns seriam difíceis para Gally que se recordava dos treinos de Jade. Todos ali gritavam para animar a dupla, não tinham um lado, todos eles torciam para os dois. "Vamos, Mattie!", "Corre, Annie!" e outros preenchiam o espaço. Embora Annie não fosse tão rápida na corrida como Mattie, era mais ágil em se esgueirar nos locais e escalar os obstáculos, o que a dava uma boa vantagem. O fato de ser menor que Mattie também dava vantagens, o que a fazia conseguir entrar nos locais e se rastejar nos pequenos espaços entre os obstáculos. Mattia seguia Annie como um leão seguia sua presa, com sangue nos olhos, e a garota sorria e proferia provocações e insultos contra ele. Vez ou outra jogava alguns objetos na frente dele para que ele caísse e o atrapalhasse, como foi o caso de uma porção de caixas de papelão.
Ao fim do primeiro tempo, a dupla estava empatada e ambos ofegavam de cansaço.
- Como funciona esse pega a pega entre vocês? - Gally perguntou para Tanya.
- Cada rodada tem dez minutos, se você conseguir tocar no seu adversário, então ganha um ponto. Ao ganhar três, a rodada acaba e você vence. Perde a rodada se não tiver tocado ele. - ela explicou após um breve bocejo - São três rodadas, cada uma com um nível diferente, e se nessas três rodadas Mattie não ganhar nem um ponto e Annie quiser, eles irão inverter as posições e Mattie terá que fugir. Se Annie não quiser trocar, então ela será a vencedora.
- E se ela quiser?
- Ela começa com dois pontos, então. Só precisará tocar em Mattie uma vez para ganhar a primeira rodada.
- E o que vocês ganham quando vencem? - Darlan perguntou.
- Ah, a capacidade de humilhar o próximo? - deu de ombros. - Como eles subiram para o próximo nível, então vão colocar dois infectados para ficar mais difícil.
- Vão colocar infectados? - Gally exclamou pasmo, a cor sumindo de seu rosto em incredulidade e pavor.
- Não se preocupe, Jade e Félix foram ver se estão lá. Eles são enrolados em panos e fitas para não termos contato com o corpo nem o sangue. As mãos são acorrentadas para que eles não possam tocar a gente.
- Mas... Não é perigoso?
- Lógico que é, mas aumenta a adrenalina. Embora não tenha risco de contaminação. - ela deu de ombros - Já tem anos que fazemos isso e nunca aconteceu nada de errado. Vai elevar o nível para Mattie, ele não pode ser tocado pelos infectados e ao mesmo tempo que precisa pegar Annie, enquanto ela só precisa correr e fugir.
Gally respirou fundo, totalmente preocupado e tenso, mas não disse mais nada. Os minutos se passaram, Jade e Félix voltaram com dois infectados e os jogaram na arena. Mattie e Annie voltaram para a disputa, um correndo e o outro fugindo, os dois fugindo dos infectados que grunhiam, mas seus sons eram abafados pelos tecidos e sacos em sua face. Os dois correram com cuidado e extrema habilidade, passando e escalando os objetos e obstáculos com facilidade. Em oito minutos do segundo tempo, Annie vacilou na escalada e escorregou, caindo ao chão com tudo e perdendo o ar. Mattie não teve dó e foi até ela, puxando-a e a prendendo em seus braços.
- Mattie a segurou com força. - Tanya explicou - Se você pegar seu adversário e não deixá-lo fugir, então você vence. Annie precisa fugir em um minuto, se não Mattie vence.
- E se ela fugir? - Darlan perguntou.
- Daí Mattie ganha dois pontos.
Mesmo se debatendo muito, Annie não conseguiu fugir. Mattie venceu aquela jogada e começou a rir na cara de Annie.
- Vai querer revanche pra ter certeza, bolinho? - ele perguntou de maneira provocativa - Sabe que vai perder de qualquer jeito, não é?
Annie apenas levantou as mãos, ofegante, e se rendeu:
- É, você venceu. E vai vencer a revanche.
- Foi mal, eu não ouvi. Pode repetir? - ele sorriu.
- Você venceu e vai vencer se tiver revanche! - ela quase gritou com raiva.
- O que foi? Não ouvi direito! Repete aí!
- Eu vou repetir meu pé na sua cara. - e Mattie começou a rir.
O restante saiu do corredor para ajudar na limpeza e levar os infectados para longe. Apenas Tanya, Gally e Darlan ficaram ali os observando irem de um lado para o outro.
- Gabriel disse que Annie o salvou. - Darlan murmurou enquanto observava a líder conversar animada com Jade - É verdade?
- Ela salvou muitas pessoas, claro que não todas, mas salvou a maioria. - Tanya explicou.
- Eu sei que ela salvou Jade, Eleazar e você. - Gally comentou - E também Gabriel? E quanto a Priscila e Félix?
- Priscila é um caso especial. - Tanya deu de ombros.
- O que quer dizer? - Darlan perguntou a encarando.
- Priscila e Gabriel são meio-irmãos por parte de pai, ela estava buscando ele por quase um ano até descobrir que ele tinha caído em uma armadilha para capturar Annie. O cara tinha se contaminado, não estava no juízo perfeito, nunca teria feito algo assim sabendo do risco mesmo que odiasse Annie com todas as forças. - Tanya cruzou os braços, incomodada com as lembranças - O cara viu que tinham duas pessoas procurando por ele.
- Priscila e Annie. - Darlan sussurrou.
- E decidiu colocar as duas para lutar entre si. - Tanya suspirou - Annie não lutou, nem sequer se defendeu, quando viu que não lutaria, então ficou mais louco e disse que soltaria o irmão dela se Annie fosse machucada. Um machucado grande e mortal. Priscila não queria aquilo, só queria o irmão, mas Annie disse que estava tudo bem.
- Onde ela fez com Annie? - Gally perguntou.
- Cortou as costas dela. Um grande corte com uma faca. Ela chorou de dor, mas não gritou e Gabriel foi libertado. No dia seguinte Mattie soube da história e teve um acesso de fúria, matando o homem no mesmo dia. Priscila implorou perdão e disse que seguiria e faria tudo o que Annie queria. Annie apenas disse que não seria legal matar a irmã do "garoto estiloso", que teria feito o mesmo pela irmã e que ela tinha sorte de ter Gabriel, que não precisava de mais um seguidor e que Priscila podia fazer o que quisesse, os dois escolheram segui-la. Priscila é a única que ela não treinou ou salvou. Hoje em dia Gabriel e Priscila são igual gato e rato, sempre discutindo.
Eles olharam para a dupla sentada, Gabriel comentou algo e deu uma leve cotovelada em Priscila que riu do que ele havia dito e também desferiu um tapa sem querer machucar. Entretanto, Gabriel foi para frente com a força do tapa e retribuiu na garota com a mesma força. Eles se encararam com raiva, sem rir mais e então começaram uma luta.
- Luta natural. - Tanya apontou - Acontece sempre.
- Entendi. - Darlan murmurou - Se eu pedir pra Annie... Me ensina? Sinto que não sou bom em nada.
- Claro que ela ensina. Só pedir. Mas eu duvido que você não seja bom nada, eu, por exemplo, sou ótima cozinhando. Quando fui sequestrada de minha casa que morava com minha avó, pensei que perderia a razão para viver e nem tinha mais um sonho. Graças a Annie sou a chefe da cozinha na base, já que eu queria ser cozinheira quando mais nova.
- Mas eu não sou como vocês! Não sei matar, não sei lutar, não sei fazer nada!
- Matar não é uma habilidade para se orgulhar ou querer. Todos aqui não sabiam lutar, nem mesmo Annie, ela aprendeu e nos ensinou. Mas há coisas que só alguns de nós sabem fazer. Eu sou boa na cozinha, Gabriel na moda, e por assim vai. Você é bom em alguma coisa, sim, só não quer admitir.
- Tem uma coisa que sou bom. - admitiu envergonhado.
(...)
Tanya juntou todos em um pequeno canto do salão, era confortável e bem iluminado. Todos se sentaram em seus lugares, poltronas ou nos sofás, até mesmo ao chão. E Tanya apareceu puxando Darlan com força que se debatia para sair, vermelho como um pimentão.
- Para, eu não posso... Eles vão odiar... Por favor. - ele implorava enquanto era arrastado.
- Qual o sentido disso, Tanya? - Annie perguntou curiosa.
- Darlan sabe cantar e tocar música! - revelou a mulher.
- Você nunca me disse isso! - Gabriel exclamou.
- Já sim, duas vezes. - Darlan murmurou baixinho.
- Por favor, então cante para nós. Não ouvimos alguém tocar e cantar pessoalmente há... Anos! - Jade exclamou com um caloroso sorriso.
Todos eles começaram a bater palma e pedir para que ele cantasse. Ficaram assim por vários segundos e após a insistência de todos ali, Darlan finalmente aceitou tocar por livre e espontânea pressão. Ele pegou o violão que Tanya tinha trazido, o apoiando em sua coxa e dedilhando as cordas para ajustar aquelas desafinadas. E então após alguns breves minutos, ele pigarreou enquanto evitava olhar para eles, afinal toda a atenção estava voltada para ele e seu coração palpitava em ansiedade.
Ele começou a tocar, os dedos passando timidamente pelas cordas enquanto iniciava lentamente uma música. Todos ali focados nele, ouvindo as notas que passaram a acelerar vagarosamente em um ritmo melódico e bonito. Mas a surpresa não estava no fato de que ele conseguia tocar, mas sim quando começou a cantar com uma voz suave, calma e afinada:
"I feel so extraordinary
Something's got a hold on me
I get this feeling I'm in motion
A sudden sense of liberty
I don't care 'cause I'm not there
And I don't care if I'm here tomorrow
Again and again I've taken too much
Of the things that cost you too much
I used to think that the day would never come
I'd see delight in the shade of the morning Sun
My morning Sun is the drug that brings me near
To the childhood I lost, replaced by fear
I used to think that the day would never come
That my life would depend on the morning Sun..."
Aos poucos a voz de Darlan foi ficando distante para Annie, assim como seu sorriso que começava a sumir, um aperto em seu coração a fez prender a respiração enquanto sentia uma dolorosa sensação de nostalgia. Algo distante em um passado do qual ela lutava para esquecer, mas era impossível. E nessa impossibilidade, ela ouviu no fundo de sua mente, duas vozes infantis conversando:
" 'mada', que é isso?" A primeira voz perguntou, tão infantil que mal conseguia pronunciar as letras corretamente.
" Uma música que nossa mãe cantava. Papai me ensinou. " a outra mais velha, mas ainda jovem, respondeu "Quando você for maior, eu irei te ensinar!"
" 'Mada', como era a 'dossa' mamãe?"
" Nossa mamãe? Era uma mulher incrível! Extremamente inteligente e linda!"
Quando Priscila recuou, encostando as costas no encosto ao lado de Annie, seus ombros se chocaram e aquilo trouxe ela de volta à realidade. E pode ouvir Darlan finalizar a música, com sua bela e afinada voz:
"I feel so extraordinary
Something's got a hold on me
I get this feeling I'm in motion
A sudden sense of liberty
The chances are we've gone too far
You took my time and you took my money
Now I fear you've left me standing
In a world that's so demanding
I used to think that the day would never come
I'd see delight in the shade of the morning Sun
My morning Sun is the drug that brings me near
To the childhood I lost, replaced by fear
I used to think that the day would never come
That my life would depend on the morning Sun"
Ao finalizar, todos ali, incluindo Annie que ainda tinha um brilho entristecido em seus olhos, aplaudiram e elogiaram. Darlan ficou surpreso por todos ali gostarem de sua voz e sua música, após mais alguns elogios e minutos, Jade se levantou vendo a hora e bateu palma para chamar a atenção.
- Muito bem, crianças. - ela dizia de maneira autoritária, como uma mãe - Hora de dormir. Vamos.
- Hora de dormir? - perguntou Priscila - Ainda é meia noite!
- Hora de dormir. - repetiu, o que fez Annie rir.
- Ela está certa, o dia foi cansativo e temos que dormir. - a líder disse - Vam'bora.
E ela se levantou e todos foram até o local onde dormiam. Gally os seguiu, os viu pegando sacos de dormir e se encaminhando para um lugar juntos. Jade entregou um para ele e para Darlan, então foi até Annie, que pegava o dela em silêncio.
- Você está bem? - perguntou sussurrando.
- Estou sim. - Annie sorriu. - E você?
- Estou ótima. Todos nós estamos aqui e o garoto cantou uma linda música. Meu dia está maravilhoso, mesmo com todos os problemas.
- É verdade. - Annie a abraçou apertado de repente, o que fez Jade sorrir em surpresa e retribuir com força. Assim que se separaram, Annie se virou e disse antes de seguir para dormir - Boa noite, mãe.
A palavra "mãe" saiu com tanta naturalidade que Annie nem sequer percebeu, mas quase fez Jade desmoronar em lágrimas de tanta emoção e felicidade. Todos se despediram, desejaram boa noite e começaram a dormir, aquele lugar não tinha tantas luzes, mas o pouco deixava o ambiente bem aconchegante e não tão sufocante. Após um dia exaustivo, eles dormiram. Jade os observou para ver se todos estavam confortáveis, então foi até Eleazar e os dois dormiram.
Annie teve um pesadelo, acordou ofegante e não conseguiu se lembrar do sonho assim que abriu os olhos. O relógio marcava duas e meia da manhã, e sem muito o que fazer, ela se levantou e foi até Gally. O balançou suavemente, o chamando sussurrado, então ele acordou assustado e a encarou.
- O que foi? - perguntou preocupado.
Annie apenas sinalizou para ele ficar em silêncio e segui-la. O rapaz se levantou no mesmo instante, com cuidado para não acordar ninguém ali, então a seguiu. Os dois saíram dali, subiram várias escadas e saíram no terraço do shopping. O vento forte e frio os atingiram fazendo Gally estremecer, era madrugada e não tinha luz ali exceto a que Annie carregava, tudo ao redor era mergulhado em escuridão. Ele não quetionou a garota do motivo de estarem ali, então ela apenas parou no meio e se virou para ele.
- Gosto de vir aqui para pensar. - revelou, mas então se aproximou - E eu... Foi mal acordar você assim, eu só... Queria um tempo a sós com você.
- Tudo bem. - Gally respondeu - Nem estou com tanto sono assim. - dito isso e ele acabou bocejando, fazendo Annie rir. - Só um pouquinho.
- Eu quase morri hoje e quase levei meus amigos para a morte. - ela disse com remorso e culpa na voz.
- Não foi sua culpa. Não sabia que as passagens estavam seladas.
- Mas eu sou líder, devia pensar em tudo, não é?
- Mas você não pode pensar em tudo. Tem coisas que saem do controle.
- E hoje saiu e muito, mas... você me salvou.
- Porque você me salvou primeiro. - ele sussurrou.
- Eu te chamei aqui porque eu... Eu só queria testar uma coisa. - ela revelou e se aproximou dele, o abraçando com força. De começo Gally não entendeu, ficou surpreso, mas então retribuiu o abraço, percebendo naquele momento o quanto desejava. Desde o dia em que se beijaram, o toque da garota era a única coisa que ele desejava com mais intensidade. Annie então se afastou e suspirou - Eu estava certa.
- Em que? - perguntou curioso.
- Há um informante na base passando nossas informações para o CRUEL, estamos buscando o antigo líder do esquadrão cobra e temo que ele tenha sido o responsável por desviar a horda. - a garota revelou tudo rapidamente - Eu não devia dizer nada disso para você, em vista que não é do meu esquadrão ainda, mas eu... eu não... meio que eu... - ela começou a gesticular e buscar as palavras certas, o que parecia difícil - Sinto que tem um oceano dentro de mim que esteve em uma constante e violenta tempestade toda minha vida. - ela colocou a mão no coração - Só que... Isso parece se acalmar quando estou com você. Eu sinceramente não entendo isso ou o motivo de ficar assim. Mas fica!
Frias gotas de chuva começaram a cair e a molhar os dois que não pareceram tão incomodados com aquilo, Gally pegou a mão de Annie e a levou para seu próprio peito para que ela sentisse seu coração, então respondeu:
- Sinto o mesmo quando estou com você.
Os olhos de Annie brilharam com aquilo, mas ela não sorriu. Ela apenas o encarava fixamente, seus olhos caindo nos lábios do garoto e, como se seus corpos fossem revestidos por imãs puxando um em direção ao outro, eles se beijaram na chuva.
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