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𝐈𝐕: 𝐂𝐨𝐧𝐬𝐞𝐪𝐮𝐞̂𝐧𝐜𝐢𝐚𝐬 𝐝𝐨𝐬 𝐦𝐞𝐮𝐬 𝐚𝐭𝐨𝐬ʳ

      Após a avaliação médica de Ágata, Annie se trancou no quarto por dois dias sem vontade nenhuma de sair, ainda estava furiosa a respeito da ordem de Lawrence e o tempo de recuperação do garoto Gally. Duvidava de que salvá-lo tenha sido a coisa correta a se fazer, talvez sim ou talvez não, ela não sabia. Embora sua mente estivesse mais propensa a pensar que não deveria tê-lo salvo já que ainda estava com muita raiva por não poder sair.

      Não sabia o que faria se soubesse as consequências de sua escolha, não sabia se ainda o salvaria se soubesse que ficaria dez dias confinada naquela base esperando a melhora dele e ainda seria obrigada a cuidar dele, talvez o deixasse lá para morrer. 

      Ela virou-se para a parede, vendo sua sombra projetada na parede cinza enquanto ainda avaliava tudo, sobre como ele estava lá caído e a chance de ter matado o garoto gordinho. Qual deveria ser seu nome? - pensou. Se ele estava lá para morrer, então deveria ter tido uma razão, não é?

      Seus devaneios foram interrompidos por batidas fortes na porta que a pegaram de surpresa, após recompor-se do susto, ela se levantou andando até a porta e a abrindo dando de cara com um homem barbado.

 — Que quer, porra? – perguntou irritada.

 — Lawrence quer vê-la. – ele respondeu, tinha a voz rouca e um pouco irritante, mas seu jeito e personalidade salvava esse problema. Hélio, o homem barbado, era extremamente calado e só falava quando se dirigiam a ele, então não ouvia sua voz muitas vezes por dia.

 — O que é dessa vez? – ele apenas deu de ombros, a menina bufou e pegou sua jaqueta saindo dali. Claro que seu comportamento não passaria despercebido por Lawrence, afinal ele era seu pai.

*

 — Querida, por que essa cara? – ele perguntou enquanto fechava o livro vendo a garota descer as escadas. 

 — Eu quero sair. – resmungou com um enorme beiço formado em seus lábios e a testa levemente enrugada.

 — E por que não sai? – ele sorriu, esse movimento não era algo feito com muita frequência pelo homem, já que enrugava sua pele com algumas "raízes" do fulgor proeminentes em suas bochechas e retorcia a pele ao redor do buraco feito pela falta do nariz, sabia que sua aparência assustava as pessoas e podia ver a repulsa em seus olhos. Mas ali com Anastácia ele não ligava, pois sabia que a garota nunca se importou com o estado de sua aparência, então ele se sentia livre para sorrir enquanto seus olhos ternos a encaravam com calma. – Há muitos locais em nosso território que você pode ir, prédios altos em que pode ficar no terraço apenas observando o céu, então por que fica no seu quarto?

 — Pai, eu não quero sair assim. Eu quero sair, sair! Atirar em soldados da CRUEL, fugir dos infectados e percorrer buscando por pessoas úteis para nosso grupo. – seus olhos se encheram de lágrimas e então ela sussurrou – Eu não quero ficar presa.

— Você só ficará assim até o garoto melhorar, depois poderá ir a qualquer lugar. Só seja paciente.

 — Eu quero sair agora e sem ele na minha cola. – bufou jogando-se em uma poltrona ali perto.

 — Isso é só uma consequência por ter desobedecido e se posto em perigo.

 — Maravilha

     Annie não disse mais nada, apenas se acomodou na poltrona e puxou um livro que estava na mesa central. Não sabia sobre o que falava, as páginas incrivelmente amareladas dificultavam a leitura, mas eram ótimas para desenhar e rabiscar e foi o que ela fez. Passou os próximos dez minutos rabiscando, desenhou um gato em pé e uma pata apontando o dedo do meio. Em volta tinha várias ondas e estrelas que costumava desenhar.

     Passou para a página seguinte desenhando Lawrence, aproveitou que ele estava parado atento a sua leitura e tentou desenhar seus traços, mas foram interrompidos quando dois homens entraram no local.

 — Temos notícias urgentes. – um deles avisou, carregava uma arma grande em mãos e tinha o rosto e roupas encharcadas de suor.

 — Você não vai sair? – perguntou Lawrence a encarando.

     Ela o encarou, depois encarou o homem em pé e voltou para Lawrence, só para finalmente entender que estava falando com ela.

 — Ah, não. Não vou. – ela sorriu – Se eu estou presa aqui, vou garantir que enjoe da minha cara a ponto de me obrigar a sair em uma missão. 

 — Ah, essa criança… – Lawrence suspirou deixando o livro de lado e voltou a atenção para os homens – Podem falar.

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