Volendo Trovarti
Quase uma semana se passou. Pâmela finalmente oficializou sua rescisão na empresa de telemarketing. O dinheiro rapidamente entrou em sua conta, permitindo que ajudasse seus pais com uma parte e guardasse o restante.
Ela manteve contato com Elaine e Carolina apenas para sondá-las e descobrir quem era responsável pela última agressão que sofreu de Daniel. Notou que algumas peças de roupa haviam sido esquecidas por ele em seu guarda-roupa. Enviou uma mensagem perguntando se desejava recuperá-las, mas não obteve resposta. Decidiu que, caso não se manifestasse, queimaria as peças.
Na correria dos dias, Pâmela não havia encontrado Thiago. Embora quisesse evitar contato com ele por não se sentir confiante, recebeu algumas mensagens dele no início da semana, que ignorou para não alimentar falsas esperanças. No entanto, no terceiro dia sem resposta, não recebeu mais mensagens. Sentiu-se triste, apesar de saber que era sua culpa. Não conseguia parar de pensar no homem de cabelos compridos e olhar hipnotizante.
Thiago, por sua vez, continuava a trabalhar na polícia durante o dia e a atuar como justiceiro à noite. Notara que alguns crimes estavam ligados a drogas e tráfico. Após torturar alguns infratores, descobriu que havia um traficante comandando tudo. Pediu a Rodrigo que investigasse algo relacionado ao nome "Ave da Noite", mas não encontrou nada. O traficante aparentemente não deixava rastros. Thiago acreditava que, se não tivesse matado seus compradores, ele mesmo resolveria o caso.
Mesmo estando extremamente ocupado, sua mente insistia em pensar na vizinha da casa à frente. De vez em quando, se pegava olhando pela janela, tentando vê-la. Não sabia por que, mas continuava a rejeitá-lo. Assim, decidiu não insistir mais.
Daniel recebeu uma intimação para comparecer à justiça e ficou furioso. Amassou o papel e o rasgou, socando a parede. Não conseguia acreditar que a ex-namorada insistia em denunciá-lo. Queria seu amor, mas recebeu ingratidão. Elaine enviou mensagens tentando acalmá-lo, prometendo um plano maior para se vingar dela. Faria a sugestão assim que se vissem pessoalmente.
Enquanto isso, o homem misterioso continuava a observar a vida dos vizinhos. Notara que eles não se encontraram mais e informou seu chefe, que o orientou a se concentrar no ex-policial. Até o momento, não havia captado nada de interessante para relatar ao mandante.
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É uma sexta-feira à tarde. Pâmela foi chamada para comparecer à delegacia novamente, acompanhada de Rodrigo, para dar início ao processo. Nervosa, bate os dedos no braço da cadeira de madeira enquanto aguarda a chegada do advogado.
Ela o vê se aproximar com uma expressão preocupada, carregando uma pasta sob os braços. É a primeira vez que o vê usar terno, gravata e sapatos sociais.
- Está chique. Mas está atrasado - alfineta.
- Obrigado - ele joga um beijo no ar. - O Thiago já chegou?
- Ele virá? - seus olhos se arregalam e o coração dispara.
- Claro. Ele é uma testemunha e trabalha aqui - responde simplório. - Bom, vamos aguardar - senta-se e começa a organizar os papéis na pasta.
- Por que está com essa cara tão preocupada? - pergunta Pâmela.
- Desculpe - suspira pesadamente. - Acabei de sair do tribunal. Ganhei o caso daquela idosa que falei para vocês - sorri. - Mas agora estou investigando algo que tem tirado minhas horas de sono... - morde o lábio, revelando mais do que pretendia.
- Uau! Então você é tipo Sherlock Holmes também? - zomba. - Posso saber que caso é esse que está investigando?
- Bem... - ele hesita, precisando ser cauteloso para não revelar a identidade do justiceiro nem seu próprio envolvimento. - Existe um traficante em São Paulo que parece estar importando um novo tipo de droga e vendendo-a a um preço mais alto. Por isso a onda de roubos tem crescido. Os caras estão malucos para usar essa droga!
Pâmela absorve a informação.
- Por que não divulga isso no jornal?
- Porque ainda não temos provas concretas.
- Temos? - indaga ela.
Respira fundo e tenta encontrar uma forma de se corrigir.
- Estou investigando com a polícia - mente. - Estamos tentando seguir os passos do Ave da Noite, mas não há nada que nos leve a ele.
- Ave da Noite? - ri. - Que nome ridículo!
- Não é? - entra na brincadeira. - Como se isso colocasse medo em alguém!
- Boa tarde! - ouvem uma voz familiar. Viram-se na direção.
- Até que enfim, Thiago! - Pâmela se levanta para cumprimentar o amigo.
- Oi, Pâmela - ele acena de longe.
- Oi - ela retribui com um sorriso sem graça.
[x]
Após resolverem a burocracia e receberem a notícia de que o caso será levado aos tribunais, Thiago e Rodrigo conversam, enquanto Pâmela vai ao banheiro. Ela não se sente em paz estando perto do homem que tanto deseja, mas insiste em afastar-se dele.
Lava o rosto, retoca o batom e decide: é hora de se desculpar e se entregar de vez a esse sentimento. Não se pode resistir a uma paixão ardente.
- Meninos... - chama a atenção dos dois. - Desculpem interromper, mas preciso conversar com o Thiago - encara-o.
- Ok. Recado entendido - o advogado expressa, retirando-se e deixando-os a sós.
- Quero te pedir desculpas. Fui uma idiota, insensível. Você é um cara maravilhoso! Eu só não me sinto pronta, nem o suficiente para você. Por isso tentei te afastar, mas a verdade é que estou muito interessada em você.
Boquiaberto, Thiago reflete antes de tentar respondê-la.
- Fiquei preocupado, sabia? Você não me respondeu e achei que tivesse feito algo errado! Tentei te deixar em paz, pois pensei que não sentisse nada por mim...
- Mas eu sinto!
- Eu também sinto! Toda vez que te vejo, me sinto como um adolescente bobo vendo a garota dos seus sonhos. Você me traz energia e vitalidade. Te beijaria agora se não houvesse tanta gente olhando...
- E qual o problema?
Nas pontas dos pés, Pâmela puxa-o para baixo e o beija com desejo. Não permanecem muito tempo juntos.
- Ok, você me beijou na frente do meu trabalho... Isso está ficando um pouco sério.
- Por que não me chama para jantar hoje?
- Porque você tem aula, não?
- Não estava a fim de ir mesmo!
Thiago coloca as mãos na cintura, preparado para dar-lhe uma bronca, mas um riso leve lhe escapa.
- Passo na sua casa às 20 horas. Coloque algo bonito, pois iremos a um lugar chique.
- Nossa! Que clichê! - põe a mão no peito. - Adoro! - dá as costas e vai em direção ao ponto de ônibus.
Rodrigo se aproxima com um semblante orgulhoso.
- Vejo que se acertaram! - comenta. - Quer ajuda para escolher a roupa do encontro?
- Acho que seria bom!
[x]
Chegam ao restaurante de braços cruzados. Estão esplêndidos como nunca. Ela usa um vestido preto brilhante, com uma sapatilha preta de salto baixo. Ele veste um colete da mesma cor do vestido sobre uma camisa branca, com uma gravata cinza e calças sociais.
Uma recepcionista os guia até a mesa. Pâmela pede licença para ir ao toalete retocar a maquiagem. A funcionária se retira, dando espaço para um garçom.
- Boa noite, senhor! O que deseja como entrada?
- Por enquanto, traga só vinhos.
- Sua filha é maior de idade para consumir?
- Filha? - faz uma expressão confusa. - Refere-se à moça de preto que foi ao banheiro? - o garçom assente. - Ela é minha... - dá uma pausa. - namorada - revela com um sorriso.
- Oh, desculpe! Perdão pela minha gafe!
- Relaxa! Mas só para confirmar, apesar de ela ter idade para ser minha filha, é maior de idade, sim! - graceja.
O garçom anota o pedido e se afasta, um pouco envergonhado. Thiago continua sorridente. Pâmela se aproxima.
- O que foi? - pergunta.
- Acham que você é minha filha!
- E o que você disse? - franze o cenho.
- Que você é minha namorada.
Seu estômago dá um nó e seu rosto fica vermelho. Não pensava que receberia esse título tão cedo.
- Por que essa cara? - indaga Thiago. - Os jovens de hoje em dia não namoram mais? Ou ainda se fazem pedidos de namoro?
- Na verdade, as pessoas costumam ficar antes de namorar. Mas eu gosto das coisas à moda antiga! - sorri e se senta.
[x]
Após o jantar, passeiam pelo centro de São Paulo. A cidade brasileira que nunca dorme revela suas belezas noturnas. Eles assistem ao famoso "Elvis Presley da Paulista", dançam ao som
de suas músicas.
Depois, sentam-se no Vão do MASP, onde ocorre uma apresentação de capoeira. Comem pipoca e tomam sorvete durante a exibição.
Divertem-se imensamente. No entanto, já é tarde e Thiago decide levá-la para casa para não preocupar Maria e Fábio. Ele a deixa na porta, dando-lhe um longo beijo.
- Até amanhã, linda!
- Até amanhã!
É difícil para ambos soltarem as mãos. Quando finalmente o fazem, não conseguem tirar os sorrisos persistentes dos rostos. Pâmela, ao se dirigir para sua moradia, sente uma sensação estranha, mas a suprime e prossegue.
O homem de preto os observa novamente:
- Chefe... Eles se beijaram. Aparentemente estão juntos. Executar o alvo?
- Não. Ainda está muito cedo. Quero massacrá-los primeiro
* Avenida Paulista é a Avenida principal da capital de São Paulo, onde corriqueiramente artistas (como o famoso cover de Elvis Presley citado no capítulo) se apresentam. A avenida também é conhecida como o coração da cidade. *
** O Vão Livre do MASP (Museu de Arte de São Paulo) é palco para diversas manifestações, feiras livres, exibições de filmes, flashmobs e apresentações de artistas de rua. **
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