Orizzonti
No meio da semana atribulada, Thiago se dá ao luxo de beber uma cerveja. Abre a garrafa pequena e se estende no sofá. Liga a TV, parando no canal que transmite o futebol. Lembra-se de que, desde que entrou para a polícia, não teve mais tempo para acompanhar nada, nem mesmo o seu time do coração.
Tudo está em paz até que o incômodo toque da campainha o interrompe. Ele respira fundo, hesita em abrir a porta e, desejando apenas descansar, solta uma série de palavrões.
A campainha toca novamente.
- Puta que pariu... É nessas horas que tenho vontade de usar minha legalização de porte de arma para atirar em alguém... - reclama, levantando-se e abrindo a porta.
Vê uma garota de pele morena, cabelos curtos e negros, lábios marcados. Estranha. Antes que possa perguntar algo, ela começa a falar:
- Com licença, senhor Thiago... Meu nome é Carolina. Sou amiga da Pâmela e vim te convidar para uma festa na minha casa no sábado...
- Festa? Garota, você nem me conhece! - ri pelo nariz.
- Estou convidando todos os vizinhos porque vamos fazer muito barulho. Não quero incomodar ninguém, então acho melhor que vocês venham. - explica.
- Ok... Obrigado pelo convite, mas eu não vou. Fique tranquila. Avisarei aos meus colegas de trabalho para não atrapalharem sua festinha... - comenta, sarcástico.
- O-O senhor é policial? - gagueja ao ouvir a informação.
- Sim. E um policial muito bravo. Passe bem, senhorita! - fecha a porta, deixando-a pasma.
Ainda boquiaberta com a frieza do homem, Carolina decide ir para a casa da amiga para ver se ela já estava recuperada do choque.
[X]
- Oi, Carol, tudo bem? Entre! - Maria abre a porta para a morena.
Assim que vê Pâmela sentada no sofá, Carolina corre para abraçá-la.
- Amiga... Como você está?
- Você não deveria estar na faculdade? - a ruiva pergunta, franzindo a testa.
- Hoje não teve aula. O professor enviou um e-mail avisando que está doente. E você, como está se recuperando do baque?
- Estou melhorando aos poucos... Desde ontem consegui voltar a falar. Os calmantes estão ajudando a dormir. - responde sinceramente.
- Podemos ir ao seu quarto conversar? - Carolina pergunta, olhando para as escadas que levam aos quartos.
Pâmela assente e ambas se levantam.
[X]
- Por que me trouxe aqui? O que quer me contar? - Pâmela está intrigada. Carolina só age assim quando tem alguma novidade.
- Fui à casa do vizinho bonitão... - Pâmela tenta falar algo, mas é interrompida. - Ele foi bem grosseiro comigo. Disse que não vai à festa e bateu a porta na minha cara!
Ambas riem.
- Minha mãe me disse que ele foi muito gentil no dia do... "Ocorrido". - Pâmela tenta evitar falar sobre aquilo, mas a lembrança vem à tona. - Ele é um cara meio ranzinza, porém, tem um excelente coração. E ainda é lindo!
- Pâmela... Você não está a fim dele, está? - Carolina pergunta, notando o brilho no olhar da amiga ao falar do homem.
A ruiva se ajeita na cama e suspira.
- Não, eu não estou apaixonada.
- Ah, bom, porque o Daniel...
- Eu não estou mais com o Daniel! - interrompe-a abruptamente.
- C-Como? Mas você ainda está usando a aliança... - aponta para o dedo anelar da mão direita.
- Ele tem agido de forma possessiva. Na semana passada, fez um escândalo comigo no shopping e chegou a puxar meu braço. Por sorte, Thiago apareceu na hora e o parou.
- Meu Deus! Por que você não nos contou isso?
- Sabe o olho roxo que eu estava na faculdade na segunda-feira? - Pâmela confirma com a cabeça. - Ele me bateu! Por sorte, já está melhorando.
- Amiga, você tem que denunciá-lo! Agressão é crime! - Carolina se levanta e começa a andar de um lado para o outro, passando as mãos pelos cabelos repetidamente.
- Denunciar? Para quem? Não tenho testemunhas. Além disso, me chamariam de vagabunda, submissa ou até diriam que gosto de apanhar. - explica Pâmela.
- Pam... Esse cara não te merece. Onde ele está agora?
- Viajou a trabalho e ficará fora por quinze dias. Prometeu que, assim que voltar, conversaremos.
- Vocês não têm o que conversar. Se ele te bateu uma vez, fará isso novamente! Considere-se solteira, porque você não merece um homem desses... - Carolina a abraça.
Pâmela se sente finalmente confortável com alguém depois de tanto tempo. Nunca teve uma amizade duradoura e foi trocada por pessoas mais "cool", namorados ou pela distância. Todos os amigos que teve a abandonaram.
No momento íntimo com Carolina, sentindo-se importada, Pâmela libera as emoções e permite-se chorar para se esvaziar de tudo o que sentiu nos últimos dias.
As lágrimas demoram a cessar, mas, quando finalmente param, a amiga a atinge com um travesseiro e faz cócegas.
Carolina só deseja ver Pâmela sorrir novamente e se sente mal ao ver as pessoas que gosta tristes.
[X]
A noite passa rapidamente. Já está tarde quando Carolina vai embora. Felizmente, são vizinhas. Ela se despede com um abraço e se oferece para ouvi-la sempre que precisar.
Desce as escadas, cumprimenta os pais e se vai.
A ruiva tem uma noite de sono maravilhosa e tranquila. Promete a si mesma que usaria os dias restantes de atestado para distrair a mente e não se martirizar pelos últimos acontecimentos.
[X]
No sábado de manhã:
Pâmela espreguiça-se na cama, levanta-se e vai à cozinha para tomar café. Ao chegar lá, é surpreendida por uma loira.
- Bom dia, flor do dia! - a pessoa se vira. Ao ver aqueles olhos verdes, Pâmela reconhece Elaine, que corre para abraçá-la. - Sentimos muita saudade na faculdade, viu... Não consegui vir antes por causa do meu trabalho. Está meio corrido por lá. - justifica.
- Como você entrou aqui? - cruza os braços, curiosa.
- Dei sorte. Cheguei e seus pais estavam saindo. Então, eles me deixaram entrar e me mandaram te acordar. Mas você parecia um bebezinho fofo, então preferi esperar... - aperta as bochechas da amiga, que lhe dá um leve tapa.
- Sua trouxa! - xinga, mostrando a língua.
- Sua otária! - retribui da mesma forma. - Já que você teve uma semana difícil, vim te convidar para tomarmos um sorvete e fazer umas comprinhas no shopping. O que acha?
- Ótima ideia! Mas primeiro, preciso tomar café... - aponta para a garrafa térmica na mesa.
- E precisa lavar essa sua cara de zumbi do The Walking Dead porque está foda, viu...
- Ah, vai se ferrar, cara de bolacha! - responde brincalhona.
[X]
Em seu quarto, já trocada, Pâmela prende o cabelo em um rabo-de-cavalo alto e decide sair sem maquiagem, já que o roxo de seu olho praticamente sumiu. Deixaria a maquiagem para a noite.
Coloca uma legging preta, uma regata pink e um tênis.
Desce e encontra Elaine esperando sentada no sofá. Ao vê-la, assovia como os homens fazem ao avistar uma mulher bonita.
Riem e, finalmente, saem.
Quando estão do lado de fora, param para Elaine procurar seu Bilhete Único* na bolsa.
Seus olhos se perdem na cena do outro lado da rua: Thiago está sem camisa, exibindo seu porte forte, uma tatuagem de um capacete medieval nas costas, lavando o carro de maneira sensual.
Os cabelos longos se movem levemente, acompanhando os movimentos de seu corpo que respinga água. A manhã estava quente, então não se importava em se molhar.
A bermuda preta que usa está colada ao corpo devido à água, destacando sua parte inferior.
Pâmela observa boquiaberta, como se estivesse em câmera lenta. Elaine morde o lábio e não hesita em gritar:
- Que delícia, hein, bebê... Êh lá em casa! - Thiago as olha com seriedade. A ruiva dá um leve empurrão na amiga e cora, envergonhada. - É com você mesmo que estou falando... Gostoso! - Elaine repete.
- Cala a boca! - a amiga sussurra entre dentes e a puxa pelo braço. Contudo, continua olhando para o homem, que sorri sem graça.
Para a tristeza de Elaine e alívio de Pâmela, o ônibus para o shopping chega e faz a parada para que entrem.
- Porra, Pam, você tinha razão. Seu vizinho novo é um pedaço de mau-caminho!
- Você não precisava falar aquilo. - comenta, ainda envergonhada.
- Qual o problema? Você já tem seu loiro bombadinho, agora é minha vez.
A garota fica constrangida ao lembrar do companheiro. Ele certamente não ficaria contente ao saber que ela estava tão fascinada ao ver o vizinho lavando o carro. No entanto, a conversa que tivera com Carolina durante a semana também lhe vem à mente. Ela não deveria se prender a Daniel, especialmente se o amor entre eles parecia ter se esgotado.
Esse dilema atormenta seus pensamentos ao longo do trajeto, enquanto tenta acompanhar a conversa de Elaine, embora sua mente esteja distraída.
Quando passam em frente à casa de Daniel, Elaine pergunta:
- Não é aqui que seu boy mora?
Pâmela apenas acena com a cabeça, mantendo o foco em ouvir a amiga falar.
A dúvida persiste: poderia considerar-se solteira mesmo sem ter formalizado o término com Daniel?
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