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Nemico Del Tempo

Descerrar os olhos é um trabalho árduo para Pâmela. Pisca várias vezes, tentando se ajustar à luz intensa. Ao olhar ao redor, vê uma sala branca e um rosto familiar se aproximando.
- Daniel, o que você está fazendo aqui? - pergunta, tentando se levantar, mas é impedida por ele.
- Shhh... - Daniel coloca o dedo indicador sobre os lábios. - Você precisa relaxar... - acaricia os cabelos dela com ternura.
Sua primeira lembrança é de Thiago. Recorda-se de tê-lo beijado na festa de Carol, mas logo passou mal em seguida.
- Onde está Thiago? - ousa questionar.
O loiro a observa com um olhar irado, cerra o punho e respira fundo.
- Desde quando vocês são tão próximos?
- Você não respondeu minha pergunta! - Pâmela ergue uma sobrancelha.
- Ele está na sala de espera, com seus pais.
- E o que você faz aqui?
- Sou seu namorado, não lembra?
Antes que pudesse retrucar, um médico entra na sala, visivelmente aliviado ao vê-la acordada.
- Pâmela! Como você está? Já faz algum tempo que acordou?
- Não tanto tempo e não muito bem! - responde, sentindo uma leve dor de cabeça e um desconforto com a presença de Daniel. - O que eu tenho, afinal?
O médico fecha o sorriso, e seu olhar torna-se sério.
- Vou chamar sua família. É importante que todos saibam o seu estado.
Seu coração acelera. A expressão do médico sugere que algo ruim está por vir. Daniel tenta segurar sua mão e garantir que tudo ficará bem, mas ela opta por não responder. O nervosismo a domina, e a falta de ar parece voltar.
- Filha! Que bom que você acordou! Ficamos tão preocupados! - Maria entra na sala, abraçando-a, enquanto Fábio beija sua testa repetidamente.
Ela está com o uniforme branco de recepcionista, molhado por lágrimas, e ele veste um terno de segurança um pouco amarrotado. Ambos trabalham no hospital onde a jovem está internada.
- Vou direto ao ponto - diz o médico, sentando-se ao lado dela. - Você está sofrendo de estenose valvular grave. A abertura da válvula do seu coração está estreita, o que faz com que seu coração tenha que se esforçar ao máximo para bombear o sangue, danificando o órgão. - Ao ouvir essas palavras, a mãe começa a chorar, amparada pelo pai, enquanto a ruiva aperta a mão de Daniel, analisando a todos com desespero.
- Tem cura? - é a única coisa que consegue perguntar.
- Você precisará de um transplante. Se tiver convênio, será mais rápido consegui-lo. E quanto mais cedo for feita a cirurgia, maiores são suas chances de sobrevivência. - O médico responde com franqueza.
- Nós não temos convênio, dependemos do SUS. O que fazemos? - pergunta o pai, aflito.
- Sinto muito, mas a fila do SUS costuma demorar cerca de dois anos. Não sei se Pâmela tem todo esse tempo...
Maria chora ainda mais ao ouvir isso. A própria Pâmela também não consegue se conter e desaba em lágrimas.
- Além disso, há o tempo de espera para encontrar um doador compatível, o que pode demorar também. - O doutor observa a família devastada. - Melhor deixá-los a sós por um momento. - Ele se retira do quarto.
Passando pela recepção, Thiago se aproxima para obter informações sobre a condição de Pâmela. Ao ouvir a notícia, sente como se um soco tivesse atingido seu estômago.
Caminha rapidamente pelos corredores e entra no quarto onde Pâmela está, sem permissão.
- Ei, cara, o que você está fazendo aqui? - Daniel o encara com seriedade, braços cruzados.
Thiago ignora Daniel e abraça a jovem, que chora em seu ombro.
O namorado tenta afastá-lo, mas ambos só se soltam depois de um tempo.
- Sei que não é o melhor momento, mas... - Daniel se manifesta, tirando uma pequena caixa vermelha aveludada do bolso da calça. - Tenho planejado isso há um tempo e acho que chegou a hora. - Ajoelha-se e segura a mão direita dela. - Pam, aceita casar comigo?
Ela mal tem tempo de responder. A família comemora em meio às lágrimas. Thiago os observa com raiva.
- Por favor, me dêem um tempo sozinha com o Thiago - pede, com a voz baixa. Recebe olhares confusos dos pais, enquanto Daniel a fulmina com o olhar. Daniel acompanha-os até a sala de espera.
- Vem cá, você pode me explicar que porra é essa? - Thiago pergunta, diretamente.
- Ele está manipulando a situação. Não tenho nada a ver com isso!
- Você disse que estava solteira, e ele voltou da viagem correndo quando soube do que aconteceu.
- Nós não estamos mais juntos! - Pâmela defende-se.
- Ah, não? E essa aliança aí? - Ele aponta para a caixinha que estava no criado-mudo ao lado da cama.
- E-Eu não sei... - Pâmela chora ainda mais. - O que aconteceu entre nós foi...
- Um erro! - Thiago completa. - Sou vinte e poucos anos mais velho que você. Estava carente, aquilo acabou acontecendo. Você é só uma pirralha que mal saiu das fraldas!
Pâmela sente uma dor aguda no coração, não pela doença, mas por saber o que ele pensa dela.
- Quer saber!? Seja feliz com o playboy perfeitinho! Só não venha chorar para a polícia quando sofrer violência doméstica sob o mesmo teto. Porque aí vou ter orgulho em dizer "eu te avisei!" e rir da sua cara... - Passa as mãos pelos cabelos com força. - Disse aos seus pais que nos encontramos na festa de Carolina e ficamos amigos. Relaxa, ninguém vai saber que você beijou um homem que tem idade para ser seu pai! - Ri em deboche, enquanto ela continua chorando em silêncio. - Até nunca mais, vizinha! - Sai do quarto batendo a porta atrás de si.
Maria entra no quarto com o rosto vermelho.
- Filha... O que você falou para o Thiago? Ele saiu muito bravo daqui, sem falar com ninguém!
- Ele se ofereceu para pagar um convênio e eu não aceitei. - Mente, enquanto seca as lágrimas.
- Thiago é um bom homem. Até demais! - Maria sorri. - Mas por que você não aceitou? O que faremos agora?
- Vou continuar trabalhando e vou tentar pagar um convênio eu mesma. Não quero que mais ninguém sofra por minha causa. Essa dor é minha e só minha! - afirma.
- Meu amor, não é necessário pensar assim. Você tem a mim! Ao seu pai! E ao Daniel, que te ama muito e...
- Mãe, não sei se ainda gosto do Daniel! - comenta sinceramente.
- Você está louca?! Ele é um príncipe encantado! Você é uma garota de sorte por tê-lo em sua vida... Deveria ser mais grata! - Pensa em contar à mãe sobre o que o namorado fez, mas nenhuma palavra sai de sua boca. - Além disso, ele te ama. Olha a linda surpresa que te deu! - Pega a caixa com a aliança na mão. - Nós também te amamos, meu amor! - Deposita um beijo no topo de sua cabeça e se retira, deixando-a com o objeto nas mãos.
Pouco depois, Daniel entra no quarto.
- Oi... - avança até mais perto. - Gostou do presente? - Sorri forçadamente, sem obter resposta. - Vamos esquecer o passado, ok? Eu te amo, você me ama. Por que não podemos ser felizes juntos?
- Porque vou morrer - responde quase em um sussurro.
- Não, você não vai! Se for uma boa menina, aceitar meu pedido e omitir o que aconteceu, eu vou pagar seu convênio e todo o tratamento necessário. Mas você tem que prometer que vai se manter longe do Thiago!
- Ele é meu vizinho. Como vou me manter longe? - retruca, sarcástica.
- Você entendeu o que eu disse... - dá uma piscadela. - Minha única exigência é essa: Seja minha e eu vou te salvar. Muito simples, não acha? - Sorri com malícia.
- Será que você pode me fazer um favor? - pergunta.
- Claro - ele assente.
- Vai tomar no cu!
Daniel coloca a mão no peito, como se estivesse sentindo. Em seguida, ri.
- Se continuar agindo desse jeito, você vai morrer mesmo! - Beija sua testa e sai do quarto, deixando-a furiosa e tremendo.
Pâmela encara a aliança em suas mãos, ponderando sobre seu futuro.
"Ó Deus, me ajude! Talvez essa seja a única saída!" - coloca a aliança no dedo anelar da mão direita e se ajeita na cama, tentando descansar um pouco.

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