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Lascia Masterizzare


Na manhã seguinte, Pâmela se levanta ainda vestindo seu baby doll cor-de-rosa e vai à cozinha preparar um café. Ao passar pela sala, avista Daniel ainda adormecido no sofá, de barriga para cima. A discussão que tiveram na noite anterior surge em sua mente como um flashback doloroso.
Sua carência por atenção era compreensível; nunca teve os pais por perto. Depois de uma vida de dificuldades e trabalho duro desde jovem, conseguiu entrar na faculdade de arquitetura e conquistar uma posição de destaque como gerente de vendas em uma multinacional. Saber disso ajudava Pâmela a entender o motivo de seu ciúme, e acreditava que esse sentimento era uma forma de demonstrar amor. Apesar de estar cansada da rotina e do desgaste emocional, vê-lo ali, dormindo de forma tão vulnerável, a fazia lembrar o motivo pelo qual se apaixonou por ele.
Entretanto, a lembrança do escândalo que ele fez na noite anterior só alimentava suas dúvidas sobre a solidez do relacionamento deles.
O som da campainha a tira de seus pensamentos. Pâmela supõe que seja sua mãe voltando do mercado, talvez sem a chave, algo que tem acontecido com frequência recentemente.
- Qualquer dia vai esquecer o caminho de volta para casa. É assim que começa o Alzheimer, dona Maria... - murmura sozinha enquanto abre a porta. Ela fica surpresa ao ver quem está do outro lado.
- Bom dia... Pâmela! - O homem fala pausadamente, como se tentasse recordar o nome dela.
É impossível não notar a cor avermelhada que toma conta de seu rosto enquanto cruza os braços, vestida com aquela roupa sexy. Riria da situação se não estivesse tão constrangedora. O silêncio se instala até que Pâmela o quebre.
- Diga logo o que quer, Thiago! - insiste.
- Preciso de alguém para montar meu armário de cozinha. Mas parece que todos os vizinhos saem aos domingos de manhã. - Ri pelo nariz. - Vi você por aqui e pensei que talvez seu pai pudesse me ajudar...
- Bom dia, estão falando de mim? - Fábio surge atrás da filha, que abre caminho para ele e vai ao seu quarto se trocar.
Mais tarde, quando Daniel já está acordado, eles combinam assistir filmes o dia todo para amenizar o mal-entendido do dia anterior. Optam por uma comédia romântica.
Pâmela se deita na cama, e Daniel se acomoda ao seu lado. Ele a olha nos olhos, percebendo que ela está concentrada na TV. Então, ele se inclina sobre ela, beijando-a com intensidade. Prende seus cabelos com uma mão, enquanto com a outra explora por baixo da camiseta, na região das costas. Desce um pouco mais, tentando tocar no meio de suas pernas, mas Pâmela se afasta e o encara com seriedade.
- Já disse: não estou pronta!
- Você diz isso há dois anos. Qual é o seu medo? - questiona ele.
- Só não quero fazer isso... Não agora... - suplica ela.
Ele respira fundo, tentando esconder a frustração ao colocar um travesseiro sobre suas pernas e voltar à posição inicial, afundando a cabeça na cama para continuar assistindo ao filme.
Maria chama a filha e o futuro genro para o almoço. Animados e famintos, eles chegam rapidamente à cozinha, mas ficam surpresos ao encontrar um homem desconhecido sentado à mesa.
- Pessoal, esse é o Thiago. O chamei para almoçar conosco porque ele ainda não conseguiu gás e não há entregas disponíveis. Essa é minha filha, Pâmela, e esse é meu genro, Daniel.
- Prazer em conhecê-los! - Thiago sorri de maneira debochada, fixando os olhos em Daniel.
- O prazer é meu. - Daniel retribui com um sorriso igualmente irônico.
Cada um toma seu lugar e Maria serve o almoço. Fábio lê as notícias no celular e vê mais uma vez a história do "Justiceiro de São Paulo".
- Vocês viram essa história do justiceiro? Estou impressionado com as mortes que ele está causando, matando a sangue frio... - comenta ele.
- Misericórdia, que Deus tenha piedade dessa alma. - Maria faz o sinal da cruz.
- Não vejo nada de mal. Ele está apenas eliminando vermes da sociedade. - Thiago argumenta.
- Se pensarmos assim, então todos deveríamos morrer, afinal, somos todos falíveis. - Pâmela rebate.
- O problema é cometer assassinatos e sair impune! Não vejo punição mais adequada do que pagar com a própria vida. - Thiago a encara com determinação.
- Para isso existem leis, justiça e polícia. São eles que devem lidar com isso!
- Justiça? Isso não existe. A polícia não pode agir porque, para os defensores dos "direitos humanos", eles são "vítimas da sociedade".
- Se cada um decidir se vingar por conta própria, o mundo se tornará uma anarquia. A legislação foi criada para evitar isso...
- A LEGISLAÇÃO É FALHA! - Thiago levanta a voz, assustando a todos. - Desculpem. Eu trabalho na polícia. Acreditem, eu entendo que a lei muitas vezes não funciona.
O almoço segue sombrio por um longo período. Thiago não desvia o olhar de Daniel, como se quisesse eliminá-lo apenas com o olhar.
- Vamos à missa hoje à noite, filha. - A mãe quebra o silêncio. - Quer ir?
Ela olha para o namorado.
- Não, vou aproveitar o restante do domingo com o Dani. - Sorri.
Thiago vai embora após o almoço. À medida que a noite se aproxima e o sol dá lugar à lua, os pais de Pâmela se preparam para sair. Maria deixa algumas instruções para a filha e sai acompanhada pelo marido, deixando o casal a sós no sofá.
- Você percebeu como o Thiago te olhou? - Daniel adverte.
- Não. Mas fiquei com medo de ele mencionar algo sobre ontem na frente dos meus pais.
- Se ele fizesse isso, apanharia. - Daniel cerra os punhos e estala os dedos. - Que bom que não percebeu, porque por um momento pensei que você estava interessada nele...
- Ah não... Vai começar tudo de novo, Daniel?
A discussão do dia anterior havia sido causada pela intromissão do novo vizinho em uma briga no shopping. Daniel continuou a falar insensatezas, aumentando o tom de voz, enquanto Pâmela tentava se explicar. No calor do momento, ele a agrediu com um tapa forte, deixando uma marca vermelha em seu rosto que provavelmente se tornaria um roxo.
- Desculpe... Eu sinto muito...
- SAI DAQUI, DANIEL!!! - Gritou ela, empurrando-o para fora e trancando a porta.
Ouviu-o do lado de fora, choramingando e pedindo desculpas, mas nada apagava a marca que ele deixou em seu rosto. Sentou-se no chão da sala e chorou, abaixando a cabeça nos braços apoiados sobre as pernas. Ficou ali por horas, lamentando-se.
Ergueu a cabeça, enxugou as lágrimas e olhou-se no espelho, analisando o roxo em seu olho esquerdo. Teria que inventar uma desculpa para o hematoma. Pensou em várias justificativas, nenhuma completamente convincente, mas precisava tentar.
Decidiu que, se perguntassem, diria que havia tropeçado e batido o olho na quina da mesa. Soava melhor do que admitir que seu namorado a agrediu. Caso contrário, sempre seria vista como a submissa, indefesa, a mulher que deu motivos para ser maltratada. Talvez até a acusassem de gostar de apanhar.
No dia seguinte, foi ao trabalho e à faculdade normalmente, repetindo a mesma desculpa para todos sobre o olho roxo. Parecia que todos acreditaram. Não teve coragem de contar a Elaine ou Carolina, mas elas perceberam que algo estava errado.
- Você está tão aérea hoje! - comentou Elaine, sentada em frente à ruiva.
- Estava pensando no meu novo vizinho! - brinca Pâmela.
- Uau, já está pensando em trair o Daniel? - Carolina dá uma leve cotovelada.
Ao ouvir o nome de Daniel, um tremor percorre seu corpo, causando-lhe um arrepio. A relação ainda não estava resolvida e ela sabia que precisava enfrentar isso.
- Não é porque namoro que não posso achar outros homens atraentes. - responde, tentando manter a pose.
Elas riem.
- Seu loiro é tão gato que só o trocaria se estivesse louca. - Elaine fala sobre o namorado, pressionando Pâmela sobre a situação.
- Vou dar uma festa em minha casa no sábado. Você e seu boy estão mais que convidados! Vou convidar esse "novo vizinho" também... - Camila comenta, piscando.
- Não sei se o Daniel poderá ir. - Pâmela responde, tentando desviar do assunto. - Mas qual é a razão da festa? - pergunta, tentando mudar de assunto.
- Ah, meus pais vão viajar... Quero aproveitar que vou ficar sozinha... - Camila dá um sorriso malicioso.
- Posso passar na sua casa para me arrumar, Pam? - pergunta a outra.
- Acho uma ótima ideia.
O dia seguinte promete ser longo. Pâmela sente um pressentimento crescente sobre o que está por vir.
Após a aula, ela vê dezessete chamadas perdidas de Daniel em seu celular. Era hora de
tomar uma decisão. Precisava terminar o relacionamento.
Ela retorna a ligação, que demora a ser atendida:
- O que você quer comigo? - pergunta direta.
- Vou viajar a trabalho. Ficarei quinze dias fora. Aproveite esse tempo longe de mim e pense sobre nós. Desculpe-me...
- Tchau, Daniel. Vá com Deus! - Desliga o telefone, sem despedidas ou cerimônias.
Iria sozinha para casa. A amiga ficaria na casa da tia, que morava em outro bairro, e teria que cuidar do primo no dia seguinte.
O caminho para o ponto de ônibus parecia mais longo sem companhia. Pâmela andava depressa, carregando um pressentimento inquietante.
E não era infundado.
Dois homens a cercam, um por trás e outro na frente.
- E aí, gatinha, passa a bolsa e a gente tenta não te machucar! - um deles avisa.
- Ela é bem bonitinha. Não merece ser machucada. Mas a gente podia brincar um pouco com ela, o que acha? - o homem atrás aperta sua nádega com força, fazendo-a gemer de dor.
- Ótima ideia. - O outro sorri maliciosamente, aproximando-se.

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