𝐱. ALGUM DIA
༉.ೃ࿔₊˚‧❁ཻུ۪۪‧彡
𝐈𝐍𝐄𝐅𝐅𝐀𝐁𝐋𝐄
[ CAPÍTULO DEZ ]
‖ ALGUM DIA
BETTY ACORDOU FELIZ. A rainha nunca estava triste, para falar a verdade, mas naquele dia, sentia uma felicidade diferente. Uma mistura de nostalgia e curiosidade, causada muito provavelmente pelo canto de uma gralha azul que voava em frente à janela de seu quarto, que tinha as cortinas semi-abertas. Gostava muito daqueles pássaros, mas já não sabia bem o motivo.
Faziam já seis anos desde que os quatro reis haviam desaparecido, e consequentemente, da coroação de Elizabeth, a genuína. O fato é que ninguém sabia o que acontecera aos Pevensie naquela tarde, enquanto caçavam pelo veado branco. Mas Betty não se preocupava; sabia que estavam bem e seguros, em algum lugar, e ansiava pelo dia que poderia os encontraria novamente.
Eizabeth reinou sozinha. Embora os mais diversos reinos enviassem seus principes, a mulher nunca tirou do dedo sua aliança de noivado. E, em seus seis anos de reinado, fez um ótimo trabalho em manter a Era de Ouro; Betty e sua lança continuavam a defender o reino, e embora não fosse tão experiente, a mulher logo pegou o jeito para as diplomacias. Lutara em guerras, sempre ao lado de Oreius, e fechara bons negócios com reinos próximos. As árvores dançaram mais do que nunca naquele período, e os espíritos da natureza também estavam sempre em festa, contentes por sua rainha e tudo o que a mesma vinha conquistando para Nárnia.
─ Olá, pássaro bonito ─ ela cumprimentou, se aproximando da janela. As palavras pareciam familiares em sua voz. ─ Não está cedo demais para vir cantar à minha janela?
A gralha chilreou novamente, e a mulher levantou as sobrancelhas.
─ Talvez esteja mais tarde do que imagino ─ soltou uma risada. ─ Bom, já perdi o sono, mesmo.
E então, após se aprontar, saiu de seu quarto. No início de seu reinado, Betty começou a usar sapatos, pois agora era uma rainha e já precisava de certas formalidades; naquela ocasião, no entanto, deixou o castelo com seus pés descalços.
Por alguma razão, sentia que gostaria de sentir a grama, a areia e até as pedras sob seus pés. Sentia também que deveria seguir a gralha.
─ Onde é que você está, pássaro bonito?
Ouviu o canto da gralha alguns metros a sua frente, e segurando a barra do vestido, correu até lá sob os olhares curiosos de algumas naiádes, que acenavam ao receber o olhar da rainha, que sorria e acenava de volta. Nem se lembrou de sua coroa, ou de sua lança!
─ Não me leve para longe, hein?! ─ avisou, e o pássaro piou mais uma vez. ─ Está rindo de mim, dona gralha?
Betty gostava de falar com os animais, mesmo que esses não fossem falantes. Ainda assim, acreditava fielmente que era capaz de os entender e se comunicar com eles, e ninguém duvidava. O incidente do rinoceronte ainda lhes era fresco na memória.
A gralha aguardou a mulher mais um pouco, até ser alcançada na base de uma colina.
─ Que bom que vim sem meus sapatos! Eu sempre digo, eles mais atrapalham do que tudo! ─ comentou divertidamente, enquanto subia a colina perguntando-se se já havia estado ali antes. Provavelmente sim, afinal, seu dever era defender os bosques.
Mas aquela colina em especial parecia parecia familiar de um jeito diferente, jeito esse que Elizabeth não sabia como explicar.
─ Obrigado, dona gralha ─ ouviu uma voz grave no topo da montanha, que a fez sorrir instantaneamente.
─ Aslam! ─ exclamou, correndo até o Leão. Era a primeira vez que se encontravam desde sua coroação, e a mulher não conseguia e nem queria esconder a felicidade.
Sabia que Aslam não era Leão de ser contido.
─ Olá, Elizabeth ─ cumprimentou, convidando-a para sentar-se próxima a ele em frente à uma árvore que havia ali. ─ Espero que dona gralha não tenha te acordado com bicadas.
─ De jeito nenhum! Acordei com seu canto suave e a luz do sol batendo em meu rosto ─ explicou, se sentando e tomando cuidado com a saia. ─ Foi bastante agradável, até. Perdoe-me pela curiosidade, senhor, mas qual foi o motivo de ter me chamado? Tenho sentido algo diferente desde o momento que acordei, e apenas me sinto assim quando está envolvido...
O Leão sorriu, e a mulher sorriu junto. Já não o achava assustador; imponente e poderoso, com certeza, mas Aslam não a fazia sentir medo. No lugar, dava-lhe uma sensação de segurança.
─ Bom, acho que está na hora de esclarecer algumas coisas ─ Aslam respondeu. ─ Coisas como a profecia sobre você, e sobre o porquê de não a termos contado antes...
"Em Cair Paravel os quatro tronos
hão de se ocupar, e ao seu lado
A próxima deve permanecer
em rainha será tornada se a coroa merecer
E quando Nárnia mais precisar
A filha de Eva há de mantê-la segura"
Conversaram por muito tempo, e Aslam contou que, sempre que a pequenina palavra "se" aparecia em uma profecia, era perigoso demais contá-las para as pessoas no qual se referiam, pois eram incertas demais e, portanto, perigosas.
─ Quando sabemos de nosso destino, fazemos de tudo para mudá-lo ou seguí-lo a risca. ─ Ele falou, e Betty arregalou os olhos. Estava certo; e se Betty tentasse fazer algumas daquelas coisas, e acabasse estragando tudo, tornando-se não merecedora da coroa? Como Nárnia estaria? ─ Tudo aconteceu de forma tão natural e genuína quanto deveria ser.
Acresentou ainda que não sabiam ao certo se a profecia era realmente sobre Betty. Sobre os irmãos Pevensie, era tudo bastante claro; quatro tronos, e quatro irmãos. Mas quanto a outra profecia, falava apenas sobre uma filha de Eva. Era rasa demais, e novamente, incerta demais. E se aparecessem outras, além de Betty?! Mas, ainda antes da coroação dos reis e rainhas, já estava claro para todos que, após aqueles quatro, não poderiam ser governados por mais ninguém além da menina genuína do coração de ouro.
─ Sei o que está pensando, Betty. ─ Aslam vocalizou, e a menina o olhou confusa, distraída por seus próprios pensamentos. ─ Está se perguntando o motivo de lhe contar tudo isso agora.
─ Como sempre, o senhor está certo. ─ sorriu, admitindo.
─ Estou lhe contando tudo isso pois chegou a hora de ir para casa.
Elizabeth franziu o cenho.
─ O que quer dizer? Já estou em casa.
Aslam a olhou, e então tudo se tornou claro. Tinha de ir para casa. Betty então se levantou, e tocou o topo da cabeça do Leão, acariciando sua juba.
─ Iremos nos ver novamente?
─ Estarei sempre te vigiando, mesmo em seu mundo. ─ assegurou, e a mulher não duvidou, sentiu-se muito tranquila.
Sorrindo, Betty deixou uma lágrima escorreu por seu rosto. Abraçou Aslam, e por mais que não quisesse o soltar, acabou o fazendo após algum tempo.
─ Espero conseguir voltar.
─ Será sempre muito bem-vinda.
─ Sempre encontramos o caminho para casa, não é?
─ E está na hora de encontrar o caminho para a sua. Afinal, há uma família te esperando. Conte tudo a sua tia Polly, e diga que mandei lembranças. ─ Aslam pediu, e a menina assentiu com um sorriso. ─ Agora, sem mais lágrimas, sim? Está tudo bem, criança.
─ Eu sei que está. Nárnia também se tornou minha casa, senhor. Sei que ainda vou voltar. ─ ela falou, começando a se distanciar. Sabia exatamente para onde deveria ir. ─ Algum dia.
─ Algum dia. ─ o Leão concordou, e a menina o abraçou uma última vez.
Betty sumiu por entre as árvores, e já no meio da floresta, coçou a cabeça. Não tinha mais tanta certeza de como encontrar seu caminho, e começou a rodar pelo local, tentando pensar em algo, até que tropeçou, caindo na frente de uma árvore que tinha um buraco, como uma espécie de porta. Levantando uma sobrancelha, a mulher entrou ali, com alguma dificuldade.
E tudo ficou escuro. Betty estava deitada uma superfície dura e pequena, e sentia-se confusa. Esticando os braços, empurrou o que quer que estivesse acima de si, finalmente encontrando a luz.
─ Que susto, Betty! ─ ouviu uma voz infantil. ─ O que é que está fazendo no baú, sua maluca?!
Ela não respondeu. Fôra tudo um sonho? Não, ela sabia que não. Olhou para suas mãos, vendo que eram pequenininhas, e notou que tinha também pernas curtas. Era uma criança novamente!
─ Eu... Eu estava querendo te assustar, oras! ─ explicou, saindo do baú e indo até o irmão, que a olhava estranho, enquanto colocava dois copos de leite morno no chão. ─ Você demorou, hein!
─ Só uns minutinhos, para aquecer o leite ─ o mais novo explicou, confuso.
─ Ah, mas eu senti tantas saudades!
─ Fiquei cinco minutos lá embaixo! Betty, eu não quero abraçar, me largue! Mamãe!
Meredith logo apareceu na porta, já pronta para separar uma nova briga, e encontrou os filhos abraçados.
─ Gostaria de ter uma câmera! ─ ela exclamou, se ajoelhando próxima as crianças, e Sebastian fez uma careta. ─ Continuem assim, meus amores.
Após soltar o irmão, Betty entrou na pequena cabana de almofadas e cobertores, sendo seguida pelo mesmo. Compartilharam histórias por horas, e nem perceberam quando a chuva acabou, tanto estavam se divertindo.
Algum tempo depois, tia Polly entrou no forte de almofadas, e Betty sorriu grande. Tinha que contar que havia visto sua árvore de alcaçuz em Nárnia!
─ Temos visita, queridos. Vamos descer!
Sebastian disparou escadaria abaixo, sendo seguido pela tia, e Betty logo depois. Distraída, não percebeu até chegar na sala de estar que tinham muitas vozes conversando ali. Ficou curiosa ao ver um homem da idade de sua tia andando até a mesma, a segurando pelos ombros.
─ Polly, Polly! Não vai acreditar no que essas crianças acabam de me contar!
Oba, crianças!, Betty pensou, saltitando até a sala. Então, arregalou os olhos bem grandes ao ver as quatro silhuetas sentadas no sofá, que pareceram tão surpresas quanto ela ao notar sua presença.
─ Vocês! Vocês estavam lá!
─ E você também!
Estavam todos eufóricos. Ao fim da tarde, subiram para a cabana de cobertores e Betty os atualizou sobre os acontecimentos de Nárnia, e todos ficaram bem felizes por saber que a menina fôra também uma rainha. Se divertiram por horas, relembrando de suas aventuras, e pareciam velhos amigos. Até porquê, era isso que eram.
Quando Lúcia lembrou do romance de Edmundo e Elizabeth, os dois coraram como tomates, e se olharam com nojo. Oras, não tinham mais do que onze anos, o que esperavam?!
Quando foram embora, trocaram seus endereços para que pudessem escrever cartas uns para os outros mesmo quando voltassem para suas casas de verdade. Sebastian também os adorou; ouvindo as aventuras de Nárnia, achou que os Pevensie eram simplesmente os melhores contadores de histórias do universo, e queria os encontrar novamente para brincar mais.
─ Que família mais criativa! ─ comentou com a mãe, quando eles já tinham ido embora. Meredith sorriu, acariciando a cabeça do filho, e Betty riu sozinha. Criativos!
Então, se lembrou do pedido de Aslam e disparou como um foguete para o quarto da tia Polly, fechando a porta atrás de si e pulando na cama ao lado da mulher, a assustando.
─ Tia Polly, não vai acreditar no que me aconteceu!
E contou tudo. E sua tia não duvidou por um só minuto.
Durante o resto de sua temporada no campo, Betty passou mais tempo no baú do que gostaria de admitir. Por fim, desistiu, se lembrando de uma ocasião em que o Leão mais sábio que já vira na vida disse que nada acontece duas vezes da mesma maneira.
Aquilo significava que tinha que tentar por outros móveis? Ela riu com o próprio pensamento. Não, deveria ter paciência.
Afinal, se pudesse ir para lá sempre que quisesse, nunca mais iria querer parar. Mas, às vezes, existem razões muito especiais para se parar.
E ela sabia que voltaria. Algum dia.
FIM.
Acabou! Espero que tenham gostado de Ineffable, ela é muito importante pra mim, e a Betty é meu bebê precioso. Como ela disse, ela vai voltar! Em uma nova fanfic, que se passará durante os acontecimentos de príncipe caspian. Logo, logo, voltaremos para os agradecimentos finais da primeira parte ♡
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