𝐯. INEFÁVEL
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𝐈𝐍𝐄𝐅𝐅𝐀𝐁𝐋𝐄
[ CAPÍTULO CINCO ]
‖ INEFÁVEL
APÓS TER SUA ASMA TRATADA por plantas medicinais que nunca vira antes, Betty tinha os cabelos sendo penteados por uma simpática náiade, que havia levado a garota para se lavar em um rio e a concedido uma troca de roupas. Agora, não mais faminta e com os machucados que adquirira durante seu tempo com Jadis limpos, a menina ansiava por encontrar Aslam, que caminhava com Edmundo já há algum tempo sobre a relva úmida. Gostaria de poder dizer sobre o que falaram, mas o fato é que ninguém ouviu a tal conversa, que Edmundo jamais esqueceu.
─ Elizabeth, filha de Eva. ─ Aslam saldou a menina, que se aproximava lentamente após ser chamada. A menina arregalou os olhos, e o leão sorriu. ─ Não tenha medo, aproxime-se.
─ Obrigada, senhor Aslam... pelas roupas e pela comida ─ agradeceu, sem jeito agora lado a lado com o leão. ─ E por nos enviar ajuda, mesmo que tenhamos feito umas besteiras...
─ Isso agora é passado, e não vale a pena falar sobre o passado. ─ Aslam respondeu, e Edmundo, que estava do seu outro lado, olhou pro chão. ─ Estão perdoados, por tudo. Mas ainda há muito a ser feito.
─ Não foi culpa de Betty, Aslam, como eu disse...
─ Edmundo, o que passou, passou. ─ o Leão falou, calmo. ─ Já pode ir, seus irmãos estão ansiosos para te encontrar.
Quando finalmente pôde estar na presença de Aslam, e apenas Aslam, Elizabeth sentiu a mesma coisa que sentiu quando ouviu seu nome pela primeira vez; curiosidade, alegria e segurança. Algo vibrava em seu interior e aquecia seu coração.
─ O que está achando de Nárnia, Elizabeth?
Por um segundo, ela não soube o que dizer; repassou todos os adjetivos que conhecia, mas nenhum parecia bom o suficiente para caracterizar Nárnia.
Aos olhos de Betty, o lugar era simplesmente belíssimo. Não, belíssimo não era o suficiente para descrevê-lo. A menina, com os olhos arregalados e brilhantes, encarava as árvores, as flores e as criaturas que haviam ali na clareira, enquanto tentava se lembrar de uma palavra muito chique que tia Polly usou uma vez.
Inefável. Queria dizer que faltavam adjetivos para descrever alguma coisa, como o lugar em que estava. De beleza divina, tão superior à todos os outros lugares que já estivera, que não existia uma palavra humana que pudesse expressar toda sua grandeza.
─ É um lugar inefável, senhor.
─ Inefável... é uma palavra difícil, não é? ─ Aslam riu, com o vento batendo em seu rosto e balançando sua juba. ─ Você é sobrinha de Polly, sem dúvidas.
Betty não soube o que responder, imaginando sobre as aventuras de sua tia em Nárnia.
─ Elizabeth, ouvi todas as histórias dos quatro irmãos sobre a trajetória deles em Narnia. Gostaria de ouvir também de você. ─ então, ela contou tudo o que aconteceu desde que entrou no baú, e ficou horas naquilo, tão tagarela era.
─ Resumidamente, é isso o que aconteceu até eu chegar aqui, Aslam. ─ finalizou, sabendo que sua história não havia sido nem um pouquinho resumida. ─ Sei que parece estranho, mas não senti medo. Quero dizer, claro que tive medo de ser morta pela feiticeira para alimentar seus ursos, mas lá no fundo, eu sabia que ia ficar bem.
Aslam assentiu com um olhar solene, entendendo o que a garota dizia.
─ Sabe, Elizabeth, o país de Nárnia foi criado para ser assim, bom e livre do mal. ─ Ele contou com a voz grave, conforme observavam o horizonte. ─ Mas o mal tem estado presente em Nárnia desde sua criação.
─ Mas há como o deter, não é? ─ a menina indagou, preocupada, e o Leão assentiu.
─ A batalha que se aproxima decidirá o futuro de Nárnia.
─ Nós vamos vencer, Aslam. Nárnia será exatamente como descreveu. ─ Betty garantiu, mesmo que não tivesse certeza do que faria para cumprir a promessa. ─ Não há uma profecia sobre isso? Algo sobre a carne de Adão, não a ouvi por inteiro...
Aslam a observou, indecifrável, antes de recitar a profecia.
"Quando a carne de Adão,
Quando o osso de Adão,
Em Cair Paravel,
No trono sentar,
Então há de chegar
Ao fim a aflição."
No fim, Betty sentiu alguns arrepios, mesmo que não soubesse exatamente como interpretar a profecia. Estava cada vez mais curiosa.
─ Aslam, posso fazer uma pergunta?
─ Você acabou de fazer. ─ Ele respondeu, e a menina engoliu em seco. Aslam riu, antes de continuar ─ Um leão não pode ter senso de humor? Vá em frente, querida, faça sua pergunta.
Betty pensou um pouco antes de continuar, incerta quanto suas palavras.
─ Bom, eu já ouvi cochichos sobre outra profecia. Ninguém nunca me conta o que essa diz, e sempre mudam de assunto quando me vêem por perto! Sei que os outros tem um propósito para estar aqui, mas qual é o meu?
O Leão fixou seus olhos na menina, que tinha a testa enrugada em dúvidas e preocupação.
─ Você tem um destino incerto, Elizabeth. É melhor que não saiba sobre o que tanto murmuram; apenas siga seu coração, e tudo há de se ajeitar. ─ foi a resposta de Aslam, e pelo seu tom, Betty soube que não deveria fazer mais perguntas.
Por mais algum tempo, os dois observaram o horizonte enquanto conversavam calmamente, até Aslam dispensar a menina com um último ensinamento:
─ Tenha coragem para enfrentar o que precisar, mas não vontade de lutar. Batalhas são brigas feias, mas, por vezes, necessárias.
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Torradas, bolos, frutas e jarras de suco jaziam na pequenina mesa redonda posicionada na grama, em que as cinco crianças lanchavam após algum tempo de treinos de espada, pontaria e equitação.
─ Nárnia não vai ficar sem torradas, Ed! ─ Lúcia brincou, vendo Edmundo as devorar com pressa.
O pão seco realmente havia deixado sua marca!, pensou Betty, bebendo seu suco, mas resolveu não falar nada. O que passou, passou, e nem ela e nem Edmundo mereciam ficar remoendo as memórias que criaram com a Feiticeira Branca.
─ É melhor que preparem alguma coisa pra viagem de volta. ─ Pedro sugeriu de repente, fazendo os outros se virarem para ele.
─ Vamos pra casa? ─ Susana perguntou, confusa. Betty deu uma grande mordida na maçã que segurava, preferindo não se meter entre os irmãos.
─ Vocês vão. Prometi a mamãe que ficariam seguros. Não quer dizer que eu não possa ficar para dar apoio. ─ ele respondeu, sério. ─ Levem Betty e a ajudem a chegar em casa.
Finalmente, ela engoliu a maçã, franzindo o cenho.
─ Mas precisam de nós! De todos nós! ─ Lúcia protestou, fazendo o irmão suspirar.
Elizabeth não queria deixar Nárnia. Queria ficar e proteger todo o território que se estendia do lampião ao castelo de Cair Paravel ─ queria ver o inverno chegando ao seu fim definitivo, e queria ver como Nárnia se parecia em seu mais natural estado, longe da maldade de Jadis. Queria ver o Natal chegando, e encontrar o Papai Noel como os outros haviam feito. Queria viver como uma narniana.
─ Eu não vou embora. ─ Betty anunciou, chacoalhando a cabeça para os lados em negação. ─ Aslam nos disse para ter coragem, e é o que devemos fazer! Não vou me meter entre vocês, não sou da família. Mas eu vou ficar, e vou lutar!
Pedro se levantou, frustrado, e olhou para a menina e os irmãos.
─ É perigoso demais. Lúcia quase se afogou, e você e Edmundo quase foram mortos pela Feiticeira!
Betty não respondeu, sentindo algumas lágrimas se formarem nos cantos dos olhinhos brilhantes. Ela sabia que Pedro estava certo, que não era nenhuma guerreira, e achava que, em batalha, seria a primeira a cair. Mas não queria ir embora.
─ É por isso que temos que ficar ─ Edmundo iniciou, com a voz baixa e triste. ─ Vi o que a feiticeira pode fazer fazer, e ajudei a fazer. Não posso deixar que mais pessoas sofram por isso!
Um pequeno sorriso de orgulho dançou no rosto de Pedro, e Lúcia segurou a mão de Edmundo enquanto Susana sorriu em sua direção. Estavam todos felizes pela evolução do menino; você deve se lembrar do quão mesquinho ele era há alguns capítulos atrás. Era uma criança arrependida de seus erros, e que agora aprendia com eles.
─ Então, está decidido. ─ Susana avisou, se levantando e indo até sua aljava.
─ Aonde você vai?
─ Treinar um pouco!
E aí, todos foram buscar se ocupar com o treinamento. Lúcia e Susana treinavam a mira, lançando flechas e adagas em alvos redondos e coloridos. Pedro e Edmundo cavalgavam e treinavam duelo de espadas, em cima de seus unicórnio e cavalos falantes.
Betty observava os quatro, próxima a um arsenal. Ela já havia tentado usar o arco e flecha, mas foi desastrosa. As espadas que haviam sobrado eram sempre grandes demais, e ela havia caído algumas vezes tentando as levantar; o que, para deixar claro, ela considerava um absurdo, já que era uma das meninas mais altas e fortes de sua sala!
─ Acho que encontrei algo que pode lhe servir. ─ Oreius, o centauro, falou, saindo do arsenal. Em seu rosto, uma expressão de surpresa. ─ É uma lança. É maior do que uma espada, porém mais leve. Caso precise usá-la, ficará mais segura por estar mais distante do inimigo.
Ele estendeu a arma para a menina, que a agarrou com facilidade. Era como se a lança tivesse sido feita para ela.
─ Ela é bonita. ─ ela admirou o objeto em suas mãos.
A lança tinha cerca de dois metros de comprimento, e era dourada. Sua lâmina pontuda reluzia, e haviam pequeninas pedras de esmeralda espalhadas pela haste.
─ Ela é letal. ─ Oreius lembrou, e a menina arregalou os olhos, a soltando rapidamente. ─ Não pode fazer isso no campo de batalha.
Ela se abaixou e pegou a lança do chão, decidida, e olhou para o centauro tentando passar confiança e coragem. Foi uma tarefa difícil, visto que suas pernas agora tremiam como vara verde.
─ Essa lança foi forjada há séculos atrás. ─ o centauro contou, e Betty o olhou interessada na história. ─ Antes do inverno começar, houveram muitos reis e rainhas em Nárnia, e uma dessas rainhas foi a dona da lança que segura. Os anões a forjaram especialmente para Luthien, a ardilosa.
─ Eu não posso usar a arma de uma rainha. ─ Betty riu, fazendo a menção de a apoiar em uma árvore. ─ Não posso manchar seu legado!
Oreius se virou, olhando para o céu, e pareceu pensativo.
─ As histórias dizem que Luthien era tão valente quanto uma guerreira, muito astuta, e também ambiciosa. Ela ganhou essa lança para que pudesse proteger as florestas narnianas. ─ continuou, e a cada palavra Elizabeth sentia mais vontade de largar a lança e sair correndo assustada. ─ Após a morte de Luthien, a arma desapareceu. Sabe quando a encontraram de novo?
─ Não, senhor.
─ Há alguns minutos atrás. Apenas Aslam poderia saber onde a rainha escondeu Viridi Hastam, a lança dos bosques. E, se decidiu que finalmente encontrou alguém que a possa usar, acredito que você, Elizabeth, não manchará legado algum. ─ finalizou a história, e agora Betty, embora ainda incerta, parecia mais confiante. ─ É melhor começar a treinar.
Por mais algumas horas, Elizabeth foi treinada por Oreius sobre como usar uma lança. Ela a arremessou em alvos, defendeu-se de ataques de espadas e no final da tarde já se encontrava cansada e suada, mas não sentia necessidade de parar. Viridi Hastam parecia perfeita em suas mãos.
─ Muito bem, Elizabeth! Agora tente... ─ Oreius começou a instruir, trotando ao seu redor com uma espada, mas foi interrompido por gritos vindos do outro lado da clareira.
A menina e o centauro se entreolharam antes de correrem até lá. Vendo o motivo de toda a gritaria, Betty arregalou os olhos, dando alguns passos para trás.
─ Não pode ser! ─ exclamou, atraindo os olhares assustados de Lúcia e Susana. ─ O que ela faz aqui?
─ Não fique com medo, Betty ─ Lúcia segurou uma de suas mãos suavemente, recebendo um pequeno sorriso em resposta.
Entre a multidão, Jadis vinha sendo carregada por minotauros em uma espécie de trono, em direção à Aslam, que a observava com uma expressão rígida no rosto. A feiticeira já não usava sua capa de pelos, e não parecia tão poderosa agora que não estava cercada pela neve; ainda assim, Betty e Edmundo tremiam por vê-la ali.
─ Abram caminho para a rainha de Nárnia! ─ Ginarrbrik gritou, mas foi abafado por vaias. ─ Insolentes!
Finalmente, Jadis desceu de seu "trono", caminhando com um olhar arrogante até estar a alguns metros de distância de Aslam, que permanecia impassível.
─ Você tem um traidor aqui.
Oioi, espero que tenham gostado do capítulo de hoje ♡ Ineffable já está toda escrita nos meus rascunhos, então não demoro a postar o resto.
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