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𝐢𝐯. O INÍCIO DA PRIMAVERA

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𝐈𝐍𝐄𝐅𝐅𝐀𝐁𝐋𝐄
[ CAPÍTULO QUATRO ]

‖ O INÍCIO DA PRIMAVERA

O SENHOR TUMNUS comia lentamente o que sobrara do pão seco de Edmundo, enquanto as crianças o observavam, enroladas no casaco de Betty; apesar de ainda sentirem muito frio, o gelo das canecas parecia começar a derreter. Já estavam ali há algumas horas, sem saber o que esperar.

Enquanto isso, a uns dez quilômetros dali, os Castores e Susana, Pedro e Lúcia caminhavam em busca de Aslam, enfrentando algumas dificuldades pelo caminho, como Maugrim e sua matilha.

─ Ah, vejo que encontraram o fauno! ─ Jadis exclamou, dando um chute nós pés das crianças. ─ Minha polícia acabou de estraçalhar o dique. Sua familiazinha não foi encontrada.

Ela se abaixou, agarrando Edmundo pela blusa e o tirando do chão.

─ Para onde eles foram?

─ Eu... eu não sei...

─ Então você não me serve para mais nada ─ decidiu, e levantou sua vara que transformava em pedra seus adversários. Betty se engasgou e tentou se levantar, gritando:

─ Não faça isso!

─ Quer ir primeiro?

Betty reuniu toda a coragem que não sabia ter para a responder.

─ Pois me transforme! Vai ficar tudo bem, Aslam está vindo e vai te derrotar! ─ apesar de tremer as pernas e as mãos, a voz da menina soou tão firme quanto poderia.

Jadis baixou a mão com o cetro, hesitando.

─ Onde ele está?

─ E-eles não sabem nada sobre Nárnia, majestade... ─ Tumnus começou, mas foi atingido na cabeça por Ginarrbrik.

Eu perguntei onde ele está. ─ a feiticeira falou pausadamente, e elevou o cetro mais uma vez, e Betty deu um passo para trás.

─ Saímos antes que dissessem. ─ Edmundo respondeu, hesitando. ─ Eu... eu queria muito ver você!

Então, Jadis mandou um de seus guardas libertar o fauno. Ela perguntou se ele sabia o motivo de estar ali, ao que Tumnus respondeu: ─ Porquê acredito em uma Nárnia livre.

─ Está aqui porque Edmundo te entregou por docinhos! ─ contou, e Betty olhou duramente para o menino, que desviou o olhar. ─ Preparem minhas renas, vamos encontrar a família desse inútil.

A bruxa se retirou, abandonando as duas crianças sozinhas.

─ A vida de todos nós está em perigo porquê você quis comer manjar turco?!

Betty já imaginava aquela altura que havia algo nos docinhos; algum feitiço ou magia do mal, com certeza, mas estava tão chateada que precisava reclamar. Edmundo, que também não era uma pessoa fácil, se virou para ela com raiva.

─ Eu, pelo menos, fui enfeitiçado! Você quis me seguir, e não tem desculpas para fazer besteira!

─ Tem razão! Eu só sou muito boba, mesmo, porquê acreditei em você e queria te ajudar a salvar Tumnus! ─ ela exclamou, agora mais brava.

Era uma discussão engraçada; estavam as duas crianças encolhidas e cobertas pelo grande casaco de Betty, e mesmo que profundamente nervosos um com o outro, nenhum planejava ir para longe, temendo que o frio os encontrasse. A menina ainda poderia puxar o casaco e deixar Edmundo sofrer sozinho, mas era boazinha demais.

Alguns minutos depois, Ginarrbrik retornou com um chicote e obrigou os dois a irem para o lado de fora do castelo, onde encontraram o senhor Tumnus junto as outras estátuas. Os dois soltaram exclamações de surpresa, vendo sua expressão de horror, e foram obrigados a subir no trenó da rainha.

Em silêncio, os dois observavam toda a paisagem, notando que a neve parecia começar a derreter alguns pontos, enquanto ouviam os ensurdecedores gritos de Jadis, apressando as renas e estalando os chicotes, que por vezes atingiam as crianças.

Enquanto Elizabeth e Edmundo sofriam nas mãos de vossa majestade, as outras crianças e os castores eram presenteados pelo Papai Noel, que agradecia por terem trazido a esperança que começava a enfraquecer a feiticeira. Que belo contraste estava sendo!

─ Pare, pare o trenó! ─ A feiticeira gritou de repente, assustando todos. Ali perto havia um grupo de animaizinhos pequeninos, que tomavam chá e comiam um bonito pudim, sentados em cadeiras novinhas em folha enquanto observavam a cachoeira, que já não estava mais congelada. ─ Onde é que conseguiram isso?! Falem, seus vermes, ou só vão abrir o bico no chicote? Onde arranjaram esses enfeites e o pudim de passas?

─ Perdão, majestade! ─ pediu um coelhinho. ─ S-são presentes... do... do Pa-papai Noel.

A feiticeira pulou do trenó, com ódio, e transformou todo o pequeno grupo em pedra antes que pudesse dizer "faca". Pode-se dizer que essa foi a primeira vez que Edmundo sentiu verdadeira pena de alguém além de si mesmo desde o início da estória; As crianças se entreolharam assustadas, descendo do trenó sob ameaças, e Betty tirou o casaco. Já sentia calor, agora que não havia neve.

─ Isso não é degelo. É a primavera chegando! ─ Ginarrbrik disse. ─ Deve ser coisa de Aslam...

─ O próximo que disser esse nome morre! ─ Jadis gritou. Betty fez um careta, incomodada com o quão barulhenta a mulher era.

Então, Maugrim apareceu junto à outros lobos, trazendo uma raposa que mais cedo havia ajudado os castores e os outros Pevensie a escapar, e a jogaram no chão, aos pés de Jadis.

─ Encontramos o traidor.

─ Ah, que bom que apareceu! ─ a feiticeira exclamou, irônica, olhando para a raposa ferida no chão. ─ Talvez possa me ajudar agora, já que foi tão útil ontem a noite!

─ Peço perdão à grande excelência de Nárnia... ─ pediu, com a voz baixa.

─ Não me venha com bajulação.

─ Sem querer ser rude, mas não me referi a senhora. ─ a raposa respondeu, e Jadis se virou para Elizabeth e Edmundo, que não entendiam do que os outros falavam.

Betty começava a ficar incomodada com aquilo; desde o início, as pessoas pareciam esconder as coisas dela, como se ela pudesse estragar tudo caso soubesse a verdade. Para todo caso, Jadis não gostou do que a raposa disse, e levantou o cetro pronta para transformar o animal em pedra, mas Edmundo entrou em sua frente.

─ Espere! O castor falou sobre a mesa de pedra, que Aslam tinha um exército lá. ─ a raposa abaixou a cabeça, decepcionada. Edmundo deveria ter se mantido calado.

─ Obrigada, Edmundo. Essa criatura precisava ver um pouco de honestidade... antes de morrer! ─ ela transformou o animal em pedra do mesmo jeito, e então se virou rapidamente, dando um tapa na cara de Edmundo. ─ Tem que decidir de que lado está! E você também, garotinha insolente. Está calada demais para o meu gosto.

─ Imaginei que já soubesse de que lado eu estou. ─ Betty respondeu, se ajoelhando ao lado de Edmundo, que amaciava a bochecha que fôra esbofetada.

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Os Pevensie chegaram em uma linda clareira, onde o acampamento de Aslam e seu exército estava montado. Ao conhecerem o leão, sentiram uma estranha mistura de medo e paz; Ele era tão grande e nobre, e não duvidaram por um só momento de seu poder, mesmo que não tivesse feito nada. Bastava o olhar para saber que era o verdadeiro rei.

─ Sejam bem-vindos, Pedro, filho de Adão, e Susana e Lúcia, filhas de Eva. Obrigado, senhores Castores, por trazê-los em segurança. Mas estão faltando dois, onde estão? ─ Aslam perguntou, após todos se ajoelharem diante de si.

─ Edmundo escolheu os trair, senhor. ─ o Castor contou, ajoelhado, e a expressão de Aslam mudou ligeiramente. ─ E a menina o seguiu, não se sabe o motivo.

─ Sei que existe uma explicação. ─ Ele disse, e então se virou para as crianças, que aguardavam aflitas.

─ Foi culpa minha. Fui severo com ele. ─ Pedro disse.

─ Todos nós. ─ Susana concordou.

─ Senhor, precisamos os salvar. Ele é nosso irmão, e Betty é nossa amiga... ─ Lúcia pediu, triste. Embora mal conhecesse Elizabeth, nutria já um grande carinho pela menina.

Aslam a olhou ternamente antes de responder:

─ Eu sei, querida, mas Edmundo ser seu irmão torna a traição ainda pior. Será mais difícil do que pensam.

Naquele mesmo dia, Aslam mostrou a Pedro o castelo de Cair Paravel, e o rapaz lutou sua primeira batalha, defendendo as irmãs de um ataque dos lobos da Polícia Secreta. Embora não se sentisse pronto, uma súbita coragem o atingiu ao ver Susana e Lúcia em perigo; após ver que as duas estavam em segurança, a primeira coisa que os três fizeram foram correr para se abraçar, e não vou negar a presença de lágrimas.

─ Sempre limpe sua espada, Pedro. ─ Aslam lembrou, e o menino imediatamente limpou a lâmina na relva. ─ Uma morte nunca é motivo de orgulho, seja de quem fôr. Oreius, siga os lobos, eles os levarão até Elizabeth e Edmundo.

A noite já caia quando, amarrados a duas árvores, Elizabeth e Edmundo tentavam pensar em um plano para escapar, embora soubessem que seus corpos pequenos e fracos não poderiam lutar contra minotauros e gigantes.

─ Edmundo ─ a menina chamou, baixinho, e tossiu. ─ Estou achando que vamos ser a janta...

Jadis também reunia um exército, que contava com minotauros, anões e várias espécies de animais, uns falantes e outros não. Todos encaravam as crianças com raiva, o que não ajudava a manter a calma.

─ Não comece com essas ideias... ─ Edmundo pediu e franziu o cenho, estranhando seu tom rouco e chiado, seguido por uma tosse incansável. ─ A sua voz não está estridente, o que aconteceu? Elizabeth, você está ficando meio roxa...

─ Eu... acho que estou tendo uma crise asmática... ─ explicou com dificuldade, enquanto parecia perder a cor. Além da temperatura que havia mudado drasticamente ao anoitecer, o nervosismo e as cordas que a apertavam apenas pioravam toda sua situação, provocando sua crise.

Estava surpresa com o quanto aquilo havia demorado a acontecer.

Edmundo, que àquele ponto já se arrependia de todas suas ações desde que havia chegado em Nárnia, entrou em desespero. Talvez, se não tivesse manipulado a menina à seguí-lo, aquilo não estivesse acontecendo.

─ VOSSA MAJESTADE! ELA ESTÁ MORRENDO! ─ Edmundo gritou, sem saber o que fazer, e a feiticeira o olhou com desprezo.

Que morra!

─ Você vai ter uma refém a menos! ─ o menino insistiu, enquanto observava a colega tentando respirar com dificuldade. ─ Precisa a soltar, eu fico preso como garantia de que não vamos fugir!

A feiticeira, que não estava acostumada com Edmundo pensando em outras pessoas ou coisas além de si mesmo ou manjar turco, levantou as sobrancelhas.

─ Ginarrbrik! ─ ela chamou, e estalou um chicote. ─ Afrouxe as cordas da menina, está morrendo. Mas não saia de perto dos dois.

O anão se aproximou, murmurando reclamações enquanto afrouxava as cordas que prendiam Betty. A menina, que já estava azul, inclinou o corpo para a frente, encostando os cotovelos no chão e tentando se acalmar.

Ah, como sentia falta de sua mãe! Mesmo sendo um pouco rígida, Meredith sempre sabia o que fazer, e era tão carinhosa...

─ Você está melhor? ─ o Pevensie perguntou após um tempo, e ela fez que sim.

─ Ginarrbrik, eu estou com frio... posso ter meu casaco de volta?

─ Não.

─ Oh, por favor! Você está vendo minha situação, não poderia fazer nada de tão fraca! ─ implorou, e após muita insistência o anão se levantou para ir buscar o casaco da menina.

Aproveitando que ninguém os observava mais, ela correu até a árvore de Edmundo com dificuldades, ainda regulando a respiração, e desfez os nós que o prendiam. Tinha sorte de saber como fazer e desfazer muitos nós de pescador devido aos ensinamentos do avô.

O dia de Betty e Edmundo começou terrível, mas acabou de um jeito bom; assim que os dois estavam soltos das cordas, alguns centauros, cavalos e leopardos apareceram repentinamente, enviados por Aslam, e os resgataram, levando-os para a clareira onde todos os aguardavam esperançosos.

Ginarrbrik! Seu imprestável! ─ foi a última coisa que as crianças ouviram, antes de caírem no sono, cansados e com fome, nas costas dos cavalos.

Venho por meio deste falar que a Betty é minha patroa. Espero que tenham gostado do capítulo de hoje, até mais!

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