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𝐯𝐢𝐢. POR NÁRNIA, E POR ASLAM

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POR NÁRNIA, E POR ASLAM

UNS POUCOS FIOS do cabelo dourado de Betty escapavam por debaixo de seu elmo prata, soprados pelo vento que atingia o topo de uma das montanhas narnianas onde a menina se encontrava, observando a movimentação que ocorria na planície. O exército narniano aguardava pelas ordens de Pedro, montado em um majestoso unicórnio branco, ao lado de Oreius na linha de frente da batalha que estava prestes a se iniciar.

─ Tem certeza que quer mesmo fazer isso, meu bem? ─ a Senhora Castor indagou, preocupada com a menina. Ao seu lado, o senhor Castor afagava um de seus ombros, tentando a acalmar.

─ Nárnia precisa de ajuda, Senhora Castor. Eu não poderia ignorar um pedido de ajuda. ─ respondeu, segurando a lança mais forte, e encarou a parte do exército que estava ali. ─ É melhor eu me juntar à eles, não é?

Sem aguardar uma resposta, a menina correu até alcançar sua posição, próxima ao pico da montanha, recebendo alguns olhares atentos.

É ela, castor. É sim. ─ murmurou para o marido, enquanto os dois viam Betty se distanciar.

Ali, no meio de todos aqueles narnianos, com suas armaduras de prata e a insígnia do leão se destacando em panos vermelhos, Betty estremeceu de medo. Mas então, lembrou-se de Aslam, e do senhor Tumnus, e dos animaizinhos que vira sendo transformados em pedra. Lembrou-se do próprio sofrimento, e de Edmundo.

E então, não restou medo algum. Elizabeth Birdwhistle estava pronta para enfrentar a batalha que viria.

─ A garotinha está pronta?

─ A garotinha nasceu pronta ─ respondeu ao grifo, tomando cuidado ao subir em suas costas. ─ Não vamos cair lá do alto, não é?

─ Não é fácil me derrubar. ─ Baguete confirmou. ─ E mesmo que eu caiamos, vou me assegurar de que você permaneça de pé.

De fato, não deveria ser fácil derrubar um grifo. Com seu corpo e garras de leão, bico, asas e sabedoria de uma águia, Betty duvidava que alguém pudesse se atrever a desafiar tal criatura.

─ Você é um bom amigo, Baguete. ─ a menina elogiou, passando a mão livre da lança no topo da cabeça do grifo, que limpou a garganta. ─ Certo, certo... você não é meu bichinho de estimação, já entendi!

A movimentação na planície aumentava. Jadis se aproximava com seu enorme exército, composto pelas mais diversas criaturas. Betty engoliu em seco ao ver os numerosos soldados ao lado da feiticeira, questionando-se como ela conseguira todo aquele apoio.

Buscando aprovação, Pedro olhou para trás, procurando por Edmundo, que já o olhava. Os dois pareciam se entender perfeitamente, mesmo sem a presença de palavras. Por fim, o mais velho voltou os olhos em direção à Feiticeira Branca e ergueu sua própria espada, ao mesmo tempo em que as cornetas soavam ao fundo, indicando o início da batalha.

Baguete e Betty já estavam no ar, e o grifo tinha nas patas dianteiras uma enorme pedra. Os dois sobrevoavam o exército da feiticeira, quando Pedro se voltou para Oreius:

Você está comigo?

Até a morte. ─ O centauro assegurou.

Baguete soltou a pedra, que atingiu a cabeça de um gigante, fazendo o mesmo cair no chão e atingir outros soldados do exército adversário. Betty sufocou um grito, se abaixando para desviar das flechas que eram atiradas próximo a si.

─ POR NÁRNIA ─ ela ouviu o brado do futuro rei Pedro, abafado pelos choques das espadas contra os escudos e gritos. Muitos gritos. ─ E POR ASLAM!

Um gigante atirou um machado na direção de Baguete, em uma tentativa de vingar seu companheiro, e quase conseguiu. Betty foi mais rápida, porém, e quando viu o machado se aproximando, usou a própria lança para o rebater. Ela preferiu não olhar aonde a arma caiu, emitindo um grito agudo ao sentir Baguete oscilando no ar.

Naquele momento, uma flecha passou de raspão, próxima à uma de suas costelas. Mais uma vez, Betty sentiu que fôsse cair a qualquer momento, e quis gritar ─ mais de susto do que de dor ─ quando aquilo realmente aconteceu. Seu fiel escudeiro havia sido atingido em uma das asas, e agora ia em direção ao chão.

Gostaria de poder dizer que o tempo pareceu parar, mas tudo aconteceu rápido demais. Antes que pudesse dizer ─ ou gritar ─ faca, Betty já estava esticada no chão, com sua lança largada ao seu lado e sem Baguete a vista. Um duende corria em sua direção, com uma espada, e Betty juntou toda a coragem que tinha para o perfurar com a lança, que agarrou rapidamente.

Batalhas eram lutas realmente feias, e ela desejava nunca mais ter que participar de uma.

─ RECOAR. ATRAIAM ELES PARA AS ROCHAS ─ Pedro mandou, enquanto Betty travava uma batalha com um minotauro, estando em clara desvantagem.

De repente, seu adversário caiu, e Baguete apareceu, fazendo um sorriso surgir no rosto da menina. Uma de suas asas estava ferida, ela pode perceber, enquanto os dois corriam para perto das pedras.

─ ARQUEIROS, PREPAREM-SE!

Quando uma boa parte do exército de Jadis estava próxima as pedras, iniciou-se uma chuva de flechas, vindas da montanha onde os arqueiros e Edmundo estavam posicionados.

Betty utilizou o cabo de sua lança para rebater e desviar as flechas que ameaçavam atingir a si e Baguete. Havia coisas demais acontecendo ao seu redor; o unicórnio de Pedro havia sido derrubado, Oreius corria em direção à feiticeira e Edmundo lutava contra vários soldados ao mesmo tempo.

─ BAGUETE! NÃO! ─ a menina gritou ao vê-lo correr até um grupo de guepardos.

Com sua lança, ela derrubou as espadas de dois duendes que tentavam a atacar enquanto estava distraída e golpeou a parte de trás de seus joelhos, os derrubando, e então se virou, procurando pelo grifo e encontrando Edmundo derrotando um urso polar. Ela decidiu ir até ele; seria melhor se os dois se ajudassem.

Sua hipótese foi confirmada quando, ao estar a alguns passos de distância do menino, ele levantou a espada e a empurrou por cima do ombro da garota, que só então notou que um minotauro estava atrás de si.

Ela agradeceu, abrindo os olhos em alerta. Não poderia mais cometer o erro de se distrair.

─ Edmundo, Elizabeth! São muitos, saiam daqui! Procurem as meninas e vão pra casa! ─ o Pevensie mais velho gritou. ─ Agora!

O senhor Castor se aproximou dos dois, usando uma pequena armadura, e Betty faria um comentário sobre o quão adorável ele estava, se não estivessem no meio de uma guerra.

─ Vamos, subam! ─ chamou, puxando os dois para cima das pedras, e Elizabeth relutou. ─ Rápido, Elizabeth, você já perdeu o elmo!

O quê?! ─ ela passou as mãos na cabeça, finalmente se dando conta de que estava com a cabeça desprotegida. Então, aceitou que era melhor obedecer o castor.

Quando já estavam distantes da luta, Edmundo parou e olhou para trás, vendo Pedro lutar contra diversos guepardos e anões. Não podia perder o irmão! Ainda sentia que tudo o que estava acontecendo era sua culpa, e mesmo que considerasse o mais velho um insuportável durante a maior parte do tempo, não o deixaria morrer. E, muito menos, por sua causa.

─ Você vai voltar, não é? ─ Betty perguntou, em um sussurro, e ele a olhou, com os olhos preocupados e brilhantes, e sacudiu a cabeça, confirmando. ─ Eu vou com você.

Edmundo empunhou a espada, e Betty ajeitou a lança em suas mãos.

─ Ficaram malucos?! Pedro mandou sair daqui! ─ o Castor disse, e Edmundo tirou seu elmo, o olhando decidido. De repente, seu natural ar de teimosia estava de volta.

─ Pedro ainda não é rei! ─ exclamou, e jogou o elmo para Elizabeth, antes de descer as pedras e voltar para a batalha.

Betty olhou para o elmo em suas mãos, surpresa pela atitude do amigo, e então o colocou na própria cabeça, fazendo o mesmo caminho que Edmundo fizera, ignorando as reclamações do castor.

Ela atingiu um gigante, fazendo o mesmo cair para trás ainda com a lança fincada em uma das coxas. Estava em seu caminho para a recuperar, quando ouviu um barulho curioso e uma luz atingiu seus olhos.

Edmundo havia quebrado a vara mágica de Jadis. Aquela que transformava as coisas em pedra. E então, mais uma vez as coisas pareceram se acelerar. Tão rápido quanto sua vara foi partida, a feiticeira utilizou sua espada para atingir o menino, que caiu no chão.

Pedro soltou um grito ensurdecedor, enquanto Betty correu até o menino estirado no chão sem se preocupar se tinha a lança para se proteger ou não.

─ Edmundo! Edmundo, idiota, não morra agora... ─ ela murmurou, se abaixando ao lado do menino e o sacudindo. Ele gemeu de dor, ainda acordado, e ela suspirou aliviada.

Elizabeth! ─ o castor gritou, ainda no alto das pedras, e a menina levou um susto, se levantando. ─ Atrás de você!

Um rinoceronte corria em sua direção, derrubando tudo e todos em seu caminho. Agora, sim, o tempo pareceu parar. Betty não tinha sua lança, um escudo, uma espada ou qualquer outra coisa. Ela fechou os olhos, sem ver qualquer saída, e esperou pelo pior.

Então, sentiu um ar quente ser soprado contra seu rosto, e abriu um só olho, para encontrar o grande animal parado a centímetros de si. Ela soltou uma lufada de ar, e deu um passo para trás, com medo. O rinoceronte não se moveu.

─ Não vai me matar? ─ sussurrou, mais para si mesma do que para o animal, que abaixou a cabeça levemente. Tomando coragem, a menina tocou em seu chifre, e depois, no vão entre seus olhos, ainda temerosa. ─ Você não vai me matar!

Após a conclusão da sentença, o rinoceronte levantou a cabeça novamente, rondando o espaço em que Betty e Edmundo estavam, e a menina ajoelhou-se novamente ao lado do rapaz, colocando a cabeça do mesmo em seu colo e implorando para que não fechasse os olhos.

Então, ouviu um rugido, e quando encontrou sua origem seus olhos se arregalaram. Aslam estava ali, com Jadis prensada sob suas patas. Susana e Lúcia também haviam chegado, e abraçavam Pedro fortemente.

Ei! Venham aqui, rápido! ─ os três irmãos ouviram a voz de Elizabeth, e correram ao seu encontro.

─ Se abaixe! ─ Susana mandou ao os encontrar, e atirou uma flecha em Ginarrbrik, que corria até as duas crianças com um machado. Lúcia foi a primeira a alcançá-los, já abrindo o recipiente com o suco da flor de fogo.

Todos se ajoelharam ao redor do menino, e a menor deixou uma gota do antídoto pingar em seus lábios entreabertos. Nada aconteceu. Pedro e Susana já choravam, enquanto Lúcia observava o irmão esperançosa, assim como Betty.

Edmundo abriu os olhos, e Pedro o puxou para um abraço desesperado.

─ Quando vai aprender a fazer o que mandam?! ─ indagou, e o mais novo sorriu.

Betty soltou uma risada e se levantou, aliviada, observando feliz enquanto os quatro se abraçavam fortemente.

─ Betty, estou ficando cansada de ter de te puxar para todos os abraços! ─ Susana repreendeu, esticando uma das mãos, e a loira abriu um grande sorriso, antes de se jogar sobre os quatro com os braços abertos, os derrubando no chão.

Quando se separaram, em meio a risadas e gemidos de dor, Lúcia viu de longe Aslam andando e soprando os que haviam sido transformados em pedra, trazendo-os de volta. Sentindo-se inspirada, ela pegou seu frasco e correu por todos os lados o ajudando a curar os feridos.

─ Que susto você nos deu, Edmundo! Não consigo encontrar uma palavra para descrever o susto! ─ Betty exclamou, com a voz levemente mais aguda, e o menino levantou uma das sobrancelhas, com um pequeno sorriso.

Inefável não serve dessa vez?

─ Eu aposto que você só pescou essa parte da minha conversa com Aslam e nem ao menos sabe o que significa!

─ Você acertou ─ ele revirou os olhos, sentindo as bochechas ficando vermelhas, e Betty sorriu triunfal.

Edmundo odiava estar errado, e Betty amava estar certa.

Em silêncio, Betty apoiou a cabeça em um dos ombros de Susana, cansada, e os quatro observaram com sorrisos serenos enquanto Lúcia e Aslam faziam o necessário para ajudar os feridos.

Enfim, Nárnia estava livre.

Escrever esse capítulo acabou comigo, sou péssima escrevendo cenas de luta e coisa parecida, misericórdia. Mas enfim, espero que tenham gostado ♡

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