Petrificado diante de uma porta de madeira envernizada com a maior guirlanda de natal que já viu em toda sua vida, Leto sabia bem que aquele era o momento em que pagaria por todos seus pecados, ou melhor, a hora do karma. Ao seu lado, Alicia o encarava em expectativa, o corpo levemente curvado com as duas mãos sinalizando para a maçaneta.

Assim como nos momentos finais de um antagonista de filme, Leto viu as cenas que antecederam sua atual situação passando rapidamente pela mente. É claro que tudo veio de um efeito cascata com Pam o inscrevendo num site de namoro.

— Ai meu Deus, você não quer entrar, não é? Forcei muito a barra — Alicia ofegou em desespero, abanando freneticamente as mãos. — Sinto muito, não precisa entrar se não quiser. É que você tinha falado que estava tudo bem então não pensei direito porque estava super feliz então eu-

Leto pousou as mãos nos ombros de Alicia e tentou transmitir o olhar mais tranquilizador que conseguiu.

Ele estava nervoso pra caralho.

— Está tudo bem! Estou um pouco ansioso porque nunca fui em algo assim fora da família, mas eu quero mesmo estar aqui com você. — O olhar emocionado e agradecido que Alicia o direcionou recompensou qualquer outra coisa.

— Você é realmente um anjo — ela entrelaçou sua mão com a de Leto e sorriu. — Eu deveria ter avisado antes, não veio a família toda porque alguns estão viajando mas Mikaela já deve estar aqui, então não a irrite se quiser passar o resto da noite sã.

— Mikaela? Como ela é?

— Você vai acabar percebendo.

Como se a casa com uma altura maior que cinco metros e jardim com a grama milimetricamente aparada sobreposta por um caminho de pedras até a porta e variados enfeites de natal não fossem um prenúncio do que viria, Leto não esperava encontrar logo de cara no mínimo quinze pessoas espalhadas pela sala incrivelmente grande.

Poucos se importaram o suficiente para virar a cabeça e os que fizeram comprimiram os olhos numa tentativa de enxergar quem seria o indivíduo; e logo voltaram a cuidar de suas próprias vidas. Ele sentiu a pressão do aperto de Alicia intensificar à medida que ela o puxava pelo corredor, passos firmes e decididos que o deixavam numa posição precária de algo entre andar e correr.

Assim que chegaram no destino, uma cozinha, a loira o encarou, seu olhar transmitindo nada além de por-favor-não-fale-nada-de-errado e quando teve certeza que a mensagem havia sido transmitida, adentrou de vez no recinto.

A risada divertida de uma mulher preenchia cada canto, era contagiante, caso não estivesse a ponto de ter um aneurisma teria vontade de rir junto. Tudo que pôde ver dela era uma cascata dourada caindo pelas costas.

Seguia conversa com uma outra mulher sentada numa das banquetas que ficava diante de uma ilha. Leto voltou os olhos para a segunda figura, de uma beleza única. Tinha por volta da idade dele, cabelos longos e escuros, olhos angulados e profundos num belo tom de amendoado; utilizava um vestido de seda vermelho segurado por duas alcinhas.

Alicia pigarreou.

A mulher que estava de costas se virou e lançou um olhar carinhoso para o que Leto pressupôs ser sua filha, Alicia era tão parecida que chegava a doer. A segunda sorriu para Alicia e fechou a cara assim que pôs os olhos em Leto, um vinco entre suas sobrancelhas se tornou presente junto dos lábios apertados numa linha fina.

— Quem diabos é voc-

— Querida! — A mais velha abraçou Alicia — como você está?

— Mãe — ela sorriu largamente — esse é Leto.

— Madelyn LeBlanc. — Leto apertou a mão que lhe foi oferecida.

Madelyn cutucou a de cabelos escuros. A cara fechada só podia significar que essa era a garota que Alicia avisou. Se fosse o caso, ele já não estava em bons lençois.

— Leto, essa é Mikaela. Mikaela, esse é Leto, meu namorado.

O momento chegou com um calafrio percorrendo sua espinha. A palavra namorado parecia mais assustadora quando dita diante de outras pessoas.

Os olhos de Madelyn brilharam em algo que Leto não conhecia e, se possível, o vinco entre as sobrancelhas de Mikaela ficou ainda mais profundo, a desconfiança emanando de cada poro da mulher.

— Ele parece uma boa pessoa. — Madelyn o avaliou. — Bem-vindo à família.