13
Pela tarde visitaram locais históricos e variadas atrações. Foi divertido. Leto sentiu-se relaxado na companhia das duas, conhecer coisas novas e conversar sobre enquanto comia alguma bobagem era o melhor tipo de entretenimento.
Mas de noite, o sono não veio. Cada andar do hotel tinha sua própria varanda no final do corredor, Leto sentou-se numa poltrona de jardim muito confortável e tirou um cigarro. Fumou enquanto olhava os prédios e o céu escuro adornado por nuvens e a falta de estrelas.
Uma mesinha ficava entre ele e a outra poltrona, tinha flores e revistas. Se fosse durante o dia, não estranharia alguém sentar ali, mas naquela hora?
Leto olhou no relógio de pulso, 02h52.
— É educado apagar o cigarro quando alguém chega perto — Mikaela disse — ou pelo menos perguntar.
— Quer que eu apague?
— Não precisa.
Fora o gatinho que ele foi coagido a cuidar, essa era a primeira vez em que Mikaela fez, de fato, uma aproximação.
O silêncio perdurou por um longo tempo antes de Leto acender outro cigarro.
— Você não fumava.
— Como você sabe? Nunca fomos próximos.
Ela torceu o nariz e continuou olhando para um ponto distante.
— Agora você fede cigarro. — Leto queria conseguir se sentir ofendido, mas não via como isso podia ser uma mentira. — Meus colegas da banda fumam e eu ocasionalmente os acompanho, então reconheço o cheiro de um fumante.
— Vocês têm contrato assinado com alguma gravadora?
Mikaela freou, ligeiramente surpresa com a mudança repentina de assunto.
— Não, ter um seria complicado agora.
— Por que?
— Porque sim.
— É pela empresa?
Na conversa inteira eles não olharam para o rosto um do outro, então Leto apenas ouviu um suspiro.
— Se já sabia, não precisava perguntar. É difícil fazer um contrato agora e ter meu nome ligado à TSK, meu pai não iria achar bom.
A conversa que teve com Harold e Seiji davam indícios do motivo: o sr. Tsukumo queria Mikaela sendo a futura CEO.
— Ele tem outros planos para você, não é? — de soslaio, viu Mikaela acenando. — Mas ele parece te amar muito, se conversar com cuidado pode ir enfiando a ideia na cabeça dele.
— Meu pai me ama e me respeita como pessoa, não as minhas vontades que contradizem com o futuro planejado dele.
Sendo um mero telespectador, Leto achava curioso ouvir essas coisas. Famílias grandes tinham problemas, sim. Mas tudo parecia tão contornável... fácil. Dinheiro era um escape fácil.
— Você não pode, sei lá, fugir? Sair das custas dele?
— Posso, mas não quero decepcioná-lo.
Para Mikaela não querer decepcionar alguém na busca de seguir as próprias vontades, amava muito. Por mais maluca que fosse essa imposição, eles deviam ter um laço bizarramente bom.
Então a complicação vinha daí, ter um bom relacionamento com alguém te impede de querer a tristeza dela por seus atos; sejam eles egoístas ou não.
— Por pior que possa ser, é bom ter um pilar desses na vida.
— Alicia nunca falou dos seus pais, eles não moram em Vancouver?
Justo. A ideia de não ter os familiares mais próximos nas redondezas era facilmente levada para a questão de localização.
— Eu não os vejo desde os dezesseis. Foi quando saí de casa.
Pela primeira vez desde que se sentou, Mikaela o olhou. Ele sentiu. Leto não virou o rosto para olhá-la.
— Dezesseis... acabou indo morar com algum tio, primo?
Leto negou. Ele não queria remoer, não queria lembrar.
Mikaela se remexeu na poltrona.
— Então — a curiosidade formigava —, como você vivia?
Leto não queria responder. Não agora. Mas sua língua balançou antes que ele percebesse, compartilhando o passado feio.
— Eu morava com mulheres, não em uma igreja. Casas diferentes, dias diferentes.
Pouco a pouco, a realização aflorou nos olhos de Mikaela. O rosto contorcido em choque. Leto sabia, mas mesmo assim o fez. Da onde estava, podia ver o próprio reflexo nos olhos arregalados iluminados pela noite.
O mesmo tipo de noite que ele conhecia bem, tão cheia de mistérios, dores e assombros.
— Augusto — a voz saiu baixinha, lábios comprimidos. — Você se prostituía aos 16?
Leto não confirmou, mas foi o bastante para que ela entendesse e o não dito ficasse pelo dito. Mikaela afundou na poltrona.
Por anos Leto se sentiu sujo, indigno do amor. Uma forma de vida miserável que felizmente o levou para um futuro considerado decente. Leto não gostava da lembrança e nunca recordaria com felicidade tempos tão difíceis.
A bebida foi sua companheira mais fiel, diferente das mulheres que o levavam para a cama. Mergulhou e afogou-se no alcoolismo durante a juventude.
A memória de ir para a escola e ser buscado por diferentes carros todos os dias ou semanas às vezes ainda parecia fresca. Como se fosse um sonho recente.
Pelo menos ele era pago.
Leto não sentiu quando levantou, mas logo se viu diante da porta do quarto 411, onde estava hospedado.
Por que contou para Mikaela? Para que ela sentisse pena? Para que fosse tratado com esmero? Para se sentir um pouco como a vítima da história?
Ele não sabia.
Jogou-se na cama e afundou nas cobertas macias. Esse hotel era estranho... tudo que ele guardava queria submergir. Talvez fosse a solidão de não ter Marika e Surya nos arredores?
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