— Você viu a filha dos Tremblay? Ela engordou muito no outono.

— Deve estar grávida, o rosto rosado não engana ninguém.

— Sabia que o professor da universidade de Abigail foi expulso no bimestre passado por se relacionar com alunas?

— Meus vizinhos novos são tãooo estranhos, acredita que não saíram uma vez sequer para conhecer a vizinhança? Não trouxeram comida e muito menos um comprimento. Absolutamente terrível a falta de educação!

— Eu odeio brigas de herança, a casa de Isabela está caótica e o corpo da coitada da mãe dela mal esfriou.

A quantidade exorbitante de fofoca sendo bombardeada pelo canal auditivo de Leto o fez entrar num estado de transe alimentado por profunda agonia.

E por maior que a mesa fosse, ela estava lotada. Pessoas também se sentavam nas poltronas da sala, sofá e carpete — Leto pensou que se fosse um jantar da família dele, ele possivelmente estaria por ali também — assistindo televisão. Alicia, sua única conhecida, ficou muitas cadeiras longe para estar próxima ao pai.

Ele sentiu um cutucão nas costelas.

— Tio, você é o namorado da prima Ali?

De soslaio, viu rostos virando para observar a troca.

— Sim — Leto sorriu para o garotinho sentado ao lado dele.

A mesa explodiu numa conversação árdua sobre a vida amorosa de Alicia.

Honestamente? Leto mal conhecia, mas já não gostava de nenhuma daquelas pessoas. Ele queria levantar e ir embora, mas o dever o fez plantar os pés no chão com ainda mais firmeza.

— Vocês bruxas estão assustando os dois. — O pai de Alicia finalmente falou, ele estava calado na ponta da mesa desde o começo do jantar.

Alicia estava vermelha e vermelha, encolhida no lugar. Mikaela passava a mão na extensão do braço da mulher para acalmá-la.

— Como vocês se conheceram? — uma participante do grupo das bisbilhoteiras indagou.

— Na Galeria de Arte — Leto viu caretas sendo formadas. — Foi ótimo. Conversamos sobre uma peça e não paramos mais, Alicia se mostrou uma mulher encantadora e sua visão para arte é espetacular.

Elas pensaram por alguns momentos antes de seus rostos exibirem uma espécie de satisfação.

— Não sabia que Ali gostava de coisas artísticas. — uma senhora disse, pensativa.

Do outro lado da mesa, Mikaela gargalhou.

— Alicia pratica o esporte mais refinado de todos, como pode ela não gostar de arte? É a cara dela.

— Não estou falando com você, intrometida. — a senhora retorquiu. — Você nem mora aqui.

— Chega, se Ali está feliz, todos aqui estamos. — o pai de Alicia interviu — e não fale assim com Mikaela, Linda. Ela é de casa.

Linda bufou. Mikaela deu um sorriso ladino orgulhoso. Alicia enfiou a cara na mesa. Não que Leto já não tivesse notado, mas Alicia parecia ainda mais sensível perto da família.

O jantar correu sem maiores interferências. Após horas de programas televisivos natalinos e jogos de tabuleiro, a virada de noite chegou e uma grande celebração foi iniciada. Abraços, beijos e apertos de mãos por todos os lados. Gradativamente, as pessoas foram se aconchegando para iniciar uma troca animada de presentes. Mas Leto não estava interessado, sua mente voava longe para Mari, que estava sozinha em casa e muito possivelmente, assustada.

— Leto — Madelyn chamou — sinto muito por não ter uma específica para você, não sabia da sua vinda. Mas saiba que todas que faço são produzidas com bastante carinho.

Ele pegou o embrulho esverdeado com bolinhas brancas e abriu. Meias de lã avermelhadas com pequenos desenhos de árvores natalinas fizeram sua noite melhor.

— Fico muito agradecido, obrigado. São lindas. — Leto sorriu verdadeiramente pela primeira vez desde que pisou os pés na casa.

Por sorte, previu que algo do tipo aconteceria. Dessa forma, se viu preparado ao trazer uma pulseira de prata com um pingente de lua. Quando passou pelo pulso de Alicia, todos resfolegaram.

Mas ele não previu o que aconteceria a seguir.

Mikaela também tinha um presente especial para Alicia, uma corrente de prata com pingente de um sol de ouro. Leto sentiu sua pálpebra esquerda tremer quando Mikaela sorriu para ele ao prender a corrente no pescoço de Alicia.

— Para o nosso sol.

Foda-se.

Ele espetou a sobremesa com ódio crescente e esperava que isso não sugerisse qualquer chance de vitória para aquela mulher.

Mesmo que aqui, agora, qualquer que fosse essa "disputa", ela definitivamente alcançou um nível maior.