CAPÍTULO 41
Boa noite!
Docinho, feliz aniversário!!
— Esse acordo foi firmado há anos, antes mesmo de meus pais morrerem e Lâmia entrar na vida de meu tio. — Haidar comenta olhando o mapa que está sobre a mesa.
— Isso são apenas detalhes, você tem contato mais próximo com os sheiks das cidades vizinhas a Omarak? — ele meneia a cabeça.
— Depende, com alguns, sim, outros não. Nem todos são amigáveis, e eu não sou a simpatia em pessoa. — Ele dá de ombros. Meu celular vibra com uma mensagem na tela e ambos lemos.
"A princesa está saindo do palácio acompanhada de sua serva, e está indo até um consultório médico"
Aperto o ícone de chamada, e assim que meu segurança atende falo:
— Não a perca de vistas, se não será um homem morto quando chegar. — Desligo sem ouvir sua resposta.
— Acho que ela não vai gostar de saber que é vigiada dessa forma.
— Quando ela descobrir o que carrega, vai entender meus cuidados. — falo, e viro o mapa de lado.
Minha conversa com Haidar durou mais tempo que imaginei, entre teorias e fatos, ficamos mais de três horas em seu escritório. Eu precisava analisar alguns pontos. Durante nossas viagens eu fiz algumas anotações em um caderninho sobre possíveis rotas que descobri ser usadas por mercadores.
E todas elas passavam por aquela região. Minha intuição gritava que era ali que tudo acontecia, eu só precisava descobrir como e quando.
Entro no quarto meu quarto e não acho o bendito caderno em lugar algum. Ayra pode ter guardado em suas coisas. Vou até seu quarto e não o encontro em meio as coisas, se bem que boa parte das malas já havia sido guardadas.
Procuro por algumas gavetas, e é na gaveta do móvel ao lado da cama que acho e fico aliviado por ter encontrado. Quando pego o caderno um envelope chama minha atenção. Tiro da gaveta e quando o abro o que vejo faz meu coração parar algumas batidas.
São fotos de mulheres espancadas, torturadas, mutiladas e algumas das fotos elas estão com algumas marcas pelo corpo que chama minha atenção. Todas têm uma cicatriz no alto da coxa, perto da virilha. Igual a marca de Ayra.
Fico por alguns segundos olhando aquelas fotos e algumas coisas vão se construindo em minha cabeça.
"Ayra, eu só preciso que fale a verdade. Fale para seu pai que nada aconteceu entre a gente, que tudo não passou de alguma brincadeira de mau gosto, mas eu não toquei em você"
"Eu não posso"
"Eu sinto muito"
"Você acha que eu sou tão otário assim? Eu já entendi tudo, você não pode falar a verdade para seu pai de que nada aconteceu, porque não é mais virgem, e acha que eu sou a sua saída de não ser humilhada por todos"
"Eu serei eternamente grata pelo que fez"
— Não poder ser. — peguei as fotos, colocando elas novamente no envelope e sai sentindo a raiva crescer dentro de mim de forma violenta.
Pela primeira vez na vida eu queria estar errado.
"Eu consegui fugir algumas vezes desse colégio, aproveitava para passear e conhecer o lugar até que..."
"Até que entendi, que ali dentro por pior que fosse eu estava segura"
Segura.
"Ela sempre teve esses desmaios?"
"Desde que ela voltou do colégio interno"
Eu não enxergava nada na minha frente, sentia meu corpo tremer somente em imaginar que o que eu estava pensando fosse verdade. Procurei por Haidar por todo o palácio e me disseram que o mesmo estava no estábulo.
Foi para lá que segui.
Ele estava conversando com dois guardas, mas quando me viu indo em sua direção, dispensou ambos e aguardou pacientemente que eu chegasse até ele. Empurrei o envelope com as fotos em seu peito, e falei em voz baixa.
— Como ela perdeu a virgindade? — Haidar não ficou surpreso com minha pergunta. — Não venha dizer que não sabe, porque foi você que armou tudo. Você me deve a verdade.
— Essa seria uma conversa entre você e ela. — ele disse abrindo o envelope e olhando as fotos.
— Acredite em mim quando digo que não é uma boa ideia, porque se eu estiver certo, e Allah sabe como eu quero estar errado, sua prima é a última pessoa que eu quero ver no momento. — ele expira profundamente. — Haidar!
— Ela foi violentada. — disse me encarando. — Pedi que ela contasse a verdade a você.
O assunto morreu quando ele confirmou tudo o que passava por minha cabeça, e por mais que eu queria gritar, eu não conseguia. Me sentia anestesiado, porque jamais imaginei que isso pudesse ter acontecido.
— Quando isso aconteceu? — eu já imaginava, mas queria ter a confirmação.
— Em uma das vezes em que ela fugiu do colégio interno. — passei a mão na cabeça enquanto lembrava das nossas conversas, discussões e da forma que a tratei desde o início.
Chutei uma lata que estava na minha frente. Eu queria poder matar alguém nesse momento, talvez assim a raiva que sentia diminuísse um pouco. Quando consegui formular algumas palavras, perguntei:
— Quem são essas mulheres?
— Mulheres que se envolveram com Berat. — respondeu tranquilamente. — Esse é um dos motivos que fiz o que fiz, para que ela não se casasse com ele. — ele me devolveu o envelope. — Mas não foi com ele. — ficamos nos encarando e o assunto gritava no silêncio.
— Como tem tanta certeza?
— Porque eu matei quem fez isso. — fiquei esperando que ele falasse quem era. — Baki. O irmão mais novo de Berat.
Eu estava com muitas dúvidas, mas o que mais me angustiava era ter sido engando pela mulher que me permiti amar. Devolvi as fotos a Haidar e entrei no estábulo. Peguei o primeiro cavalo que estava pronto para montaria e montei.
Eu precisava sair daqui.
Eu estava me sentindo a maior irresponsável da face da terra.
Como isso não havia passado pela minha cabeça?
Você está grávida
Ouvir isso da médica que costumava me atender, abriu dois buracos dentro de mim. O primeiro era que eu não sabia se estava pronta para ser mãe. E o segundo, era como Mustafá iria reagir a essa notícia.
— Não fique assim, afinal ele já desconfiava se até falou para você marcar um médico. — as palavras de Lila não abrandava a angustia que sentia dentro de mim.
— Tudo na minha vida é tão incerto. Estou cansada disso.
Eu tinha sido pega de surpresa com essa notícia. Estava feliz, e com medo. Medo sempre foi algo que rondou minha mente e vida por anos a fio. Sempre tive medo do que poderia acontecer.
— Eu preciso falar com ele. — falei saindo do carro assim que chegamos ao palácio. Peguei meu celular, e liguei, mas tive a chamada recusada. Se tratando de Mustafá, não era estranho.
Fui informada por um dos guardas, que ele estava nos estábulos com Haidar. Lembrei da forma como ele sorriu e olhou para meu corpo quando sugeriu que eu fosse ao médico. Será que ele realmente já desconfiava?
Minhas dúvidas foram sanadas quando meu olhar encontrou com o dele. Mustafá estava montado em um cavalo, e meu primo falava algo com ele, mas o mesmo parecia não ouvir. Ou ignorava de propósito.
Quando seus olhos desviaram dos meus, e seguiu cavalgando para os portões me ignorando, era o mesmo que ele tivesse levado minha alma junto. Me aproximei de Haidar, e o pesar que vi passar nos olhos do meu primo fez uma náusea surgir.
— O que aconteceu? — perguntei e vi as fotos espalhadas pelo chão.
— Ele descobriu a verdade.
— Que verdade? — meu corpo começou a tremer.
— Toda a verdade.
Haidar falava alguma coisa, mas eu não ouvia. Somente comecei a caminhar de costas, e tropecei em algo que quase me fez cair no chão. Olhei para o lado vendo o carro do meu primo.
Eu sabia que ele costumava a deixar a chave em baixo do banco. Fui em direção ao carro.
— Ayra! — só escutei seu grito quando liguei o carro e sai derrubando algumas cercas, até firmar a direção e seguir por onde Mustafá tinha saído.
Eu tinha que falar com ele.
Quando sai das imediações da cidade, eu via rastro de areia subindo ao longe, sabia que era ele. Então segui de longe, até porque não era uma tarefa muito fácil dirigir um carro pelas dunas de areia. Não sei porque quanto tempo o segui, mas estava começando a ficar preocupada, porque a noite começava a surgir.
Me aproximei e logo ele notou minha presença olhando para o lado, e puxou as rédeas, mudando a direção que o cavalo seguia. Virei o volante e o carro deu um solavanco. Me assustei.
Mas percebi que ele diminuiu a velocidade até parar perto de algumas ruinas. Mustafá desceu do cavalo, e eu parei o carro perto.
— Mustafá. — o chamei.
— Vá embora Ayra. — ele gritou andando em direção oposta a minha.
— Eu não vou, não antes de conversarmos. — ele riu colocando as mãos no quadril e olhando para o céu.
— Ah! Agora você quer conversar? — ele ri, e fica sério logo em seguida. — Acredite, não é um bom momento. — ele falava alto, e eu não liguei e me aproximei. — Vá embora! — falou me dando as costas.
— Não adianta me mandar embora, EU NÃO VOU! — gritei. O que fez ele me olhar. — Eu não tenho medo de você. — um sorriso surgiu em seus lábios.
— Pois deveria, por muito menos eu matei uma mulher. — suas palavras eram frias, mas eu não sairia daqui.
— Eu sei o que você fez com Najla.
— Não, você não sabe, você não estava lá. — ele queria me afastar, mas eu não sairia daqui.
— Se fez algo assim, ela mereceu. — ele estava magoado e eu já tinha notado que quando isso acontecia, a intenção dele era de fazer o mesmo. Mustafá queria me magoar.
— Não deveria ter tanta fé assim em mim. — falou se aproximando, a forma como seus olhos se fixaram em mim, eu sairia correndo tempos atrás. — Nunca fui o mocinho da história Ayra, e ter medo mostraria que você ainda tem algum senso de autopreservação ai dentro. — ele tocou minha cabeça com a ponta do dedo.
— Estou sendo movida por algo que eu sinto aqui. — apontei para meu coração. Ele riu.
— Agora vai dizer que me ama e morre de amores por mim? — sua ironia me machucava, mas eu merecia. Tinha que aguentar.
— Se me perguntasse isso algumas semanas atrás eu negaria, mas não vou mais fugir do que sinto, então sim, eu te amo. — falei abrindo os braços. Mustafá me encarou pior alguns segundos, mas então vi seu olhar endurecer novamente.
— Vá embora, quero ficar sozinho. — admitir que o amava, tinha mexido com suas emoções.
— Não adianta me mandar embora, eu não vou. Não adianta tentar colocar medo em mim, sei que você é incapaz de fazer mal a mim, mesmo que não seja por mim, mas não fará por seu filho. — ele virou me dando as costas.
— Usar isso nesse momento é baixo até para você princesa. — senti tanta verdade naquelas palavras, que se fosse me outro momento eu iria embora, mas não agora.
— Pode me xingar, falar o que quiser, eu sei que mereço, mas você queria que eu fizesse o que? — ele se vira com tudo e me encara.
— Me falasse a verdade, porra! — me assustei com seu grito.
— Em que momento? Quando me deixou sozinha na nossa noite de núpcias? Ou todas as vezes em que jogava na minha cara que não sentia nada por mim? — ele ficou em silêncio. — Porque claro, esse assunto é algo tão banal que eu falo para qualquer pessoa em qualquer lugar. — viro de lado imaginando que estivesse alguém perto de mim. — Oi como vai, você sabia que eu fui violentada? Nossa foi horrível, fui perseguida, jogada em meio a um matagal qualquer, tive minhas mãos amarradas e eu sentia tanto medo que acabei desmaiando e quando eu acordei, eu estava sozinha, toda ensanguentada, com meu corpo mutilado sentindo uma dor horrível e um vazio tão grande, vazio esse que me consumiu por anos, e até tentei tirar minha vida para tentar acabar com isso, mas até para isso eu fui uma inútil, você acredita? — eu rio sentindo as lágrimas escorrerem por meu rosto.
— Ayra... — eu levanto minha mão cortando sua fala.
— Não, eu não terminei. — aponto para ele. — Eu forcei nosso casamento, sei que o que fiz foi errado, mas como eu contaria algo assim para você, se tudo o que você gritava aos quatro ventos era que iria me fazer pagar?
— Eu jamais imaginei algo assim. — ele diz com a voz firme.
— Pois é, ninguém imaginaria que uma princesa tivesse passado por isso, ou que ela vive uma vida como a minha, tendo uma madrasta que ama fazer da sua vida um inferno. — respiro fundo, limpando as lágrimas. — Eu nunca senti confiança em você para contar a verdade. — ele se aproxima e eu dou dois passos para trás. — Se eu fosse seguir por aqui. — aponto para minha cabeça. — Não falaria nada.
— Porquê?
— Porque eu escutei sua conversa com Lâmia. — ele franze a testa. — Me tratar bem não fazia parte do acordo de vocês, não é mesmo?
— Não é o que você está pensando. — rio sem vontade.
— Nunca é, não é mesmo? Todos à minha volta sempre caem em seus encantos. Meu pai, agora você...
— Não tenho um acordo com ela. — ele se aproxima. — Tenho um acordo com seu pai.
— O que meu pai tem a ver com isso? — eu sentia minhas mãos tremerem e minhas pernas ficaram levemente fracas.
— Lâmia me ofereceu dinheiro para que eu não consumasse o casamento, assim ela pediria anulação e você estaria livre para se casar com o sobrinho dela.
— E você aceitou? — ele ri sem vontade.
— Tanto que você está carregando um filho meu. — ele passa a mão nos cabelos. Fecho os olhos ao me sentir tonta.
— Mas então porque ela estava te cobrando de estarmos nos dando bem? — começo a lembrar dos comentários que ela fez na hora do café.
— Porque ela acredita que eu aceitei. — fico confusa. — Fiz isso somente para que ela acreditasse que tínhamos um acordo, e deixasse você em paz. — coloquei a mão na boca sem acreditar no que ouvia. — Eu precisava que ela acreditasse que poderia confiar em mim, com isso ela acabou confessando que tentou te matar no deserto, e que eu não tinha feito nada com você além de ter salvo sua vida.
— Você teve que ouvir da boca dela, não acreditou em mim? — as lágrimas voltaram com tudo. — Você melhor do que ninguém sabe que é verdade, se não fosse por você eu teria morrido.
— Eu sei Ayra. — ele tenta segurar minha mão, mas eu a puxo. — Mas seu pai não sabia.
— Meu pai sabe que ela tentou me matar? — minha voz é um mero sussurro. Mustafá concorda. — E, não fez nada?
— Ele queria matá-la no mesmo dia. Mas eu o convenci a não fazer isso. — me afastei e comecei andar em direção as ruinas.
— Eu não estou bem. — falei me curvando e acabei vomitando.
Não adiantaria que eu pedisse para ele se afastar, porque sabia que não faria isso. Depois que passou me sentei em uma pedra, enquanto ele foi até o carro ver se tinha agua, e algum pano. Haidar sempre mantinha um kit com vários itens, inclusive remédios.
Estávamos sentados encostados no carro, um ao lado do outro, em silêncio. Cada um sendo consumido por seus próprios pensamentos. Mustafá havia feito uma pequena fogueira, para não ficarmos no escuro. Só se ouvia o barulho da madeira sendo queimada.
— Está se sentindo melhor? — perguntou sem me olhar.
— O que quer ouvir? — Mustafá me encarou.
— A verdade de preferência.
— Estou péssima. — ele deu um leve sorriso. — Como sabia que eu estava grávida?
— Não sabia, desconfiava. Estamos transando feito coelhos, não precisa ser um gênio da lâmpada. — mais uma vez me senti estupida por não ter pensado nisso e ter notado os sinais. Me levantei. — Onde vai?
— Andar. Estou me sentindo ansiosa, e isso não deve fazer bem ao bebê.
Comecei a caminhar sem direção, e senti que ele vinha logo atrás. A claridade da fogueira foi ficando longe.
— Não deveria se afastar tanto, o fogo espanta animais peçonhentos. — o que ele falou me fez travar no lugar. — E, Abul não está aqui com seu kit ervas milagrosas. — ouvir ele falando desse jeito me lembrou de uma vez que ele acusou o pobre do Abul ser o culpado dele ter se casado comigo. Se ele não tivesse me salvado eu teria morrido e ele não teria se casado comigo.
Sorri.
— Talvez agora seja sua chance de se livrar de mim. — falei e quando fui me virar, ele me pegou no colo. — Que susto!
— Nunca mais fale uma besteira dessa. — quando estávamos próximos a fogueira ele me colocou no chão e me olhou. — Já quis me livrar de você. — ele confessa.
— Não quer mais?
— Não. — falou me olhando nos olhos. — Mas não força, ou ainda posso voltar atrás. — acabei rindo e socando ele no estomago.
— Besta. — falei me afastando.
—Sou o besta que você confessou amar.
— Não deveria acreditar em tudo que eu falo. — sorri. — Grávidas tem alucinações as vezes.
Próximos capítulos prometem... 🤭
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