CAPÍTULO 39
Boa noite!
Após me garantir que Ayra comeu alguma coisa, fui convidado por meu excelentíssimo cunhado para uma reunião em seu escritório junto com os outros homens.
— Tinha que queimar o lugar? — sua pergunta não soa irritada, soa como um real questionamento.
— Agora as chances de não ser encarado como um assassinato são maiores, não havendo investigação, quem anda com ele, vai acreditar que foi uma infeliz fatalidade. — Todos me olham.
— Como o matou para não deixar vestígios? Porque tinha sangue em suas roupas quando chegou e não é de antes das mulheres chegarem. — o fiel escudeiro de Almir pergunta.
— Enfiei um punhal na jugular e o deixei morrer. Simples assim. — Abro os braços. — Não terá imagens que comprovem nossa entrada, mandei desligar todas as câmeras, e nosso amigo garantiu que o lugar fosse esvaziado. — Aponto para Zayn. — Se bem que isso pode ser suspeito.
— Queria que eu entrasse com as mulheres a vista de todos? — Zayn ri. — Se houver uma investigação e virem atrás de mim, eu me viro. Não tenho ligação com nada do que vocês estão fazendo. — Ele dá de ombro. — Apesar que eu duvide que isso aconteça. O problema é se Berat tinha alguém lá dentro, pode ter visto vocês entrarem.
— Não me preocupo com isso, porque se tiver alguém que tenha visto algo estará com medo, não vai abrir a boca tão já, e quando isso acontecer, pretendo ter dado fim no infeliz. — falo.
— Ele chegou. — Jamal se levanta saindo do escritório.
— Quem chegou? — pergunto.
— Haidar. — Reviro os olhos. — Eu tinha convidado ele antes de você chegar. — Jamal entra acompanhado de Haidar e mais dois homens, um deles eu reconheço.
— Não imaginei que teria uma comitiva me esperando.
— Sente-se por favor. — Almir fala, é o primo de Ayra me olha com um singelo sorriso antes de se sentar à minha frente.
— Acredito que tudo isso não seja para falar sobre a relação do meu tio com seu pai, não é mesmo? — Sorrio com a perspicácia de Haidar. — E sobre isso, eu não encontrei nada, acredito que será algo que você terá que perguntar diretamente a ele.
— Eu já imaginava. — Almir conclui.
— Já que estamos aqui, qual é o seu problema com o Berat? — Aproveito para ir direto ao ponto. — É porque ele está envolvido com o sumiço de mulheres pelas vilas de Omarak? — Haidar estreita os olhos. — Ou é algo mais particular? — Ele leva alguns segundos absorvendo minhas palavras, até que projeta seu corpo para frente, inclinando-se em minha direção, apoiando os cotovelos nas pernas.
— Como sabe sobre isso? — Sorrio.
— Como eu soube não vem ao caso, mas sim o fato de ele ser o responsável. — Ficamos em silêncio por alguns segundos.
— Nunca consegui algo que comprovasse o envolvimento dele. — diz, pensativo.
— Eu sei, as pessoas não falam, e as poucas que falam algo somem como num passe de mágica, não é mesmo? — Seu olhar continua sobre mim me analisando. — Sobre ter algo que comprove, eu não tenho nada ainda, mas sei que é ele.
— E, o que te faz ter essa certeza, já que não tem nada que comprove? — Haidar pergunta voltando a endireitar seu corpo.
— Visitei um amigo hoje que meio que confirmou. — penso na imagem de Hassan antes de morrer.
Almir conta a Haidar o envolvimento de Hassan desde o sequestro de Ayla, e o fato de Najla ter tentado vende-la a um tal de Nero. E claro que eu tenho provas que comprovam que Hassan que fez toda a transação e tal ligação que ele fez na minha frente para tentar alguma informação, na verdade era ele avisando o Nero para fugir, já que dificilmente conseguiriam tirar Ayla de Dubai sem serem pegos.
Filho da puta desgraçado, morreu tarde infeliz!
— Esse nome não deve ser levado em conta, já que deve ser algum pseudônimo. — falo. — Só que mesmo sendo um pseudônimo, deve ter alguma referência, com os atos de Nero, o imperador conhecido por colocar fogo em Roma.
— Ele costuma queimar as vítimas que deixa para trás. — Haidar comenta. — Talvez essa seja a relação. — Ficamos em silêncio por mais alguns segundos, pensando.
— Hassan, sabia desde o sequestro de Ayla, quem ela era, e mesmo assim tentou vende-la. — comento.
— E resolveu só agora fazer algo? — Haidar diz, e sinto a ironia.
— Descobri recentemente uma ligação dele com Berat, e pedi para Abul aprofundar a investigação. Bom, ele mesmo havia ligado para o tal de Nero na época, por isso nunca consegui chegar até ele. Hassan o avisou.
— Ele fingiu ter ajudado na época do sequestro. — Almir conclui. — Se ele saísse vivo de lá hoje, avisaria quem quer que fosse. — Aponto o dedo para meu cunhado.
— Touché! Minha intenção era arrancar algumas informações antes de mata-lo, mas você chegou com a cavalaria. — Zayn começa a rir.
— Fiz um favor a vocês três, queriam o que? Que deixasse elas saírem sozinhas? — ele fala ainda rindo, e olha para Jamal. — Ayla e Ayra seria fácil de conter, mas Izabel. — Ele balança a cabeça e ri.
— Mas como elas descobriram onde estávamos? — pergunto, me atentando a isso somente agora.
— Izabel rastreou o marido depois que escutaram um gemido quando Ayra ligou para você. — Refaço todos os acontecimentos, lembro que mal falei com Ayra. — Eu só levei elas porque seria impossível segurá-las aqui, e celular de vocês só caia na caixa postal.
— Rastreados por Izabel? — Começo a rir. — Parece piada.
— Tenho que ir. — Haidar se levanta. — Terá uma reunião amanhã no palácio, seria bom vocês aparecerem. — ele comenta me olhando.
— Estarei lá, até porque preciso de algumas informações sobre o acordo de paz em Osassi. — ele estreita os olhos, mas não fala nada, se vira para Almir.
— Continuarei as investigações sobre o que me pediu, mas seria interessante procurar meu tio, ele quase não fala sobre o passado, mas acredito que seja mais porque não tem ninguém que se interesse.
— Farei uma visita em breve.
Vejo Haidar saindo do escritório de Almir acompanhado de Mustafá, e vou ao seu encontro.
— O que aconteceu? — pergunto, e ambos me olham incertos. — Não adianta dizer que só estavam falando do tempo! — ironizo.
— Quero saber mais sobre o acordo de paz de Osassi. — Mustafá fala sem rodeios. Haidar parece discordar da atitude do meu marido. — Quer manter sua prima no escuro? Sinta-se à vontade, não farei isso. — falando isso ele se afasta.
— Nos vemos amanhã. — Haidar começa ir em direção a porta, e eu vou atrás.
— Haidar... — Ele vira-se novamente me encarando.
— Ayra, amanhã conversamos. — Então ele beija minha cabeça e sai com os dois guardas.
— Tenho que concordar com minha irmã, ele tem presença. — ouço Izabel falar ao meu lado. Acabo rindo.
— Ainda faz parte do pacote de deixar seu marido furioso? — olho para ela, que morde o lábio inferior e sorri. — Izabel!
— Olhar não arranca pedaço. — diz com o ar zombeteiro.
— Concordo plenamente. — sinto os pelos do meu pescoço arrepiar ao ouvir a voz desconhecida. — Nos vemos em casa, Izabel!
O marido dela passa por nós pisando duro.
— Não pense você que só porque eu estava olhando alguém, vou aliviar sua barra, Tigrão! — ela fala alto, e começa a segui-lo, mas então volta. — Eu preciso ir, tenho que aproveitar a adrenalina. — Ela ri, e me beija rapidamente. — Tchau! Nos vemos depois. — Com isso ela sai.
— Vamos nos despedir de todos, temos horas de viagem até Omarak. — Viro-me encarando meu marido.
—Estou tão cansada para encarar horas de viagem em um carro. — Mustafá me encara, e um sorrisinho começa a se formar em seus lábios.
— Eu imaginei. Por isso voltaremos de helicóptero. — Sorrio, e me aproximo segurando em suas roupas e beijo a ponta do seu queixo.
— Obrigada!
— Isso vai lhe custar algo. — diz e já imagino o que seja. Me aproximo mais e cochicho em seu ouvido.
— Você sabe que não gosto de ficar devendo nada a ninguém. — sua mão aperta minha cintura.
— Vamos!
(***)
Caminhar pelos corredores do palácio me trás tantos sentimentos controversos e angustiantes, que por um momento imaginei ser meses que estou fora, mas são somente três semanas.
Ainda é madrugada quando entro em meu quarto, e a primeira coisa que faço é ir tomar um banho. Quando saio, me dou conta de que não sei como será nossa dinâmica aqui. Mustafá ficou resolvendo algumas coisas com um dos guardas, e parada no meio do meu quarto olhando para a porta que liga nossos aposentos, me pergunto:
Onde ele irá dormir?
Será que devo ir ao quarto dele?
Mas já deu tempo suficiente para ele resolver o que precisava. Talvez aqui ele queira sua privacidade de volta. Decido verificar se ele ainda está fora, mas assim que abro a porta, escuto o barulho de água corrente.
O chuveiro está ligado.
Sentindo uma dorzinha no peito, fecho a porta e vou deitar em minha cama. Mesmo com o banho, o cansaço ainda é persistente. Então entre um pensamento sobre Mustafá ter preferido ficar sozinho e bocejadas, eu pego non sono sem perceber.
Escuto passos pelo quarto e a melodia baixa de uma das músicas que Lila costuma cantarolar quando está por aqui. Então a claridade dos raios solares invade meu campo de visão.
— Bom dia. — ela puxa as cortinas, e quando se vira estaca no lugar, colocando uma das mãos na boca. — Me desculpe eu não sabia. — olho para o lado, e então eu o vejo.
Mustafá está deitado de bruços ao meu lado, o lençol está cobrindo somente sua bunda e parte de suas pernas. Eu estou surpresa por ele estar aqui, e principalmente por não ter notado quando ele veio para cá.
Sorrio para Lila e puxo o lençol cobrindo melhor seu corpo.
— Esperarei a princesa no salão principal. — falando isso ela sai de fininho, fechando a porta com cuidado.
Eu ainda estou sorrindo quando olho para ele.
Aproveito a claridade que entra pela janela, me viro de lado para ficar de frente para Mustafá. Fico alguns segundos admirando sua beleza. Seus cabelos estão bagunçados, e posso dizer que amo quando eles estão assim, porque gosto de passar meus dedos pelos fios, e arrumá-los. Só não faço isso agora porque não quero acordá-lo.
— Ninguém costuma bater na porta antes, não? — ele pergunta ainda de olhos fechados, movendo os braços para esconder o rosto debaixo do travesseiro. — Isso tem que mudar.
— Eu ainda não oficializei essa transferência, além de nós três, ninguém sabe. — falo, enquanto levo minha mão até suas costas e começo acaricia-lo. — Porque não me acordou quando veio dormir?
— Você estava roncando tão lindamente, não quis atrapalhar. — belisco suas costelas, ele ri se movendo para deitar de lado, me encarando.
Ah esses olhos... fazendo uma retrospectiva de toda minha vida e de como nosso relacionamento começou eu chego à conclusão que não o mereço. Chegar à essa conclusão, é o mesmo que fincar um punhal em meu peito.
— Não deveria pensar nisso. — ele fala se levantando.
— Você nem sabe o que eu estava pensando. — me levanto indo atrás dele no banheiro.
— Seja lá o que for, tirou o brilho dos seus olhos. — ele liga o chuveiro e tira a cueca que está vestindo e entra em baixo do jato de água.
Começo a pensar no que ele disse. Claro que tira o brilho dos meus olhos, chegar a conclusão que não o mereço, dói.
— Ayra? — me aproximo para olhar para ele.
— Oi?
— Vem aqui ocupar sua mente com algo mais interessante. — não consigo conter o sorriso.
— Você só pensa nisso? — pergunto colocando as mãos na cintura, e fingindo não estar interessada em sua proposta.
— Tenho certeza que é bem mais interessante do que estava pensando antes. — olho para a agua correndo por seu corpo. Deslizando por cada canto, como se acariciasse sua pele com delicadeza.
— Ah! — sou tomada pelo susto de ser arrastada para debaixo do chuveiro com tudo. — Eu ainda estou vestida. — reclamo.
Sua boca cobre a minha, e tudo é apagado da minha mente, sobrando somente ele, e mais nada. Ele se afasta, e me olha com o sorrisinho.
— Quem liga?
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