CAPÍTULO 29
Boa noite... boa leitura!
Continuo olhando Lila terminar de arrumar minhas malas, eu gostaria de estar com a mesma empolgação que ela para essa viagem, mas estava longe disso. Ela termina de guardar meus sapatos e me olha sorrindo.
— Vamos melhore essa cara. — ela se aproxima de onde estou. — Vai ser bom ficar alguns dias longe de toda essa confusão. — sorri sem vontade.
— Do que adianta viajar se a confusão maior está aqui. — aponto para minha cabeça.
— Dê tempo ao tempo, você não precisa ficar pensando nisso, a mudança do seu pai deve ser o pressagio de algo bom que está para chegar. — ela sorri. — Mira foi presa, isso é algo bom.
Eu não estava preocupada com Mira, e sim com a mudança súbita do meu pai. Ontem quando ele se dirigiu a mim, me fez recordar de tempos antigos, de quando eu era criança, quando tinha sua atenção, carinho e amor.
Algo tinha acontecido, eu não conseguia acreditar que ele havia mudado da noite para o dia sem algum motivo. Porque se fosse assim eu jamais conseguiria perdoar sua distância e frieza durante todos esses anos.
— Foi muito carinhoso da parte dele, ter tirado você de lá, e não ter permitido que você chorasse na frente dos outros. — as palavras dela me fazem pensar no que Mustafá tinha feito.
Ele me permitiu chorar, sem que fizesse alguma pergunta ou me criticasse por ser fraca. Ele simplesmente só me deixou chorar. O que achei estranho. Talvez ele não fosse tão grosseiro como pensei, talvez.
— Minhas malas já estão prontas. — ouço a voz de Melissa e olho em sua direção. — Mal vejo a hora de chegar nessa cidade. — ela se aproxima e me olha incerta. — Você está bem?
— Estou. — ela concorda fazendo uma careta.
— Nem você acredita nisso. — ela me fez sorrir pela primeira vez desde ontem. — Agora sim, dá pra enganar.
— Vamos? — todas olhamos para Mustafá que entra no meu quarto pela porta conjugada.
— Vamos, vamos ,vamos... — Melissa sai em disparada pela porta, e encontra um dos guardas no corredor. — Montanha você já pegou minhas malas? — ele somente concorda com um menear de cabeça.
Lila sai levando minhas malas e entrega para o guarda. E não preciso olhar para sentir o olhar de Mustafá sobre mim. Me levanto devagar e caminho até ele.
— Obrigada. — sinto meu peito doer ao pronunciar essas palavras.
— Conseguiu descansar? — concordo, e ele balança a cabeça em negativa. — Não deveria mentir para mim, Ayra. Eu sei que não dormiu nada.
— Se sabe porque pergunta então? — ele expira profundamente e pega minha bolsa de mão que está na mesa.
— Estou te dando a oportunidade de ser sincera comigo, somente isso. — fico envergonhada por ouvir essas palavras, que para mim tem o mesmo efeito de levar um tapa. — Mas sou inteligente o suficiente para entender e compreender que todo e qualquer assunto relacionado ao seu passado e sua família, é um ponto delicado. — ele aponta para que eu saia a na sua frente.
— Eu só quero que entenda que não é você, e sim que eu tenho dificuldades de falar de mim. E muito mais de confiar nas pessoas.
Ele não fala nada, e seu silêncio evidencia minha mente que está repleta de raiva, confusão e medo por conta de tudo que vem acontecendo. Meu pai sendo o foco de tudo. Sua súbita mudança, e agora Mustafá está me tratando desse jeito. Mas o mais estranho é de que todos esses sentimentos confusos, eu não sinto medo quando estou com ele.
Por mais que ele esteja irado, e que sua ira esteja voltada para mim. Minha mente até tenta colocar o medo, mas meu corpo reage diferente, ele se aquece com sua presença. Não posso deixar de lembrar da conexão que tivemos, e da forma como seu corpo reagiu ao meu. Seja lá qual for o motivo de nossas vidas terem sido atreladas, ele não pode negar que reage a mim.
Quando chegamos a mesa do café, algo acontece.
— Você vai vir comigo nessa viagem. — meu pai falou se levantando da mesa.
— Aikan, eu preferiria ficar. Tenho algumas coisas agendadas para fazer. — eu paro e sinto Mustafá atrás de mim. Ele me empurra para que eu continue a andar.
— Aja naturalmente. — ele fala baixo.
— O que pode ser mais importante que acompanhar seu marido? — faço o que Mustafá falou e me sento na cadeira que ele puxou para mim. — Bom dia filha. — sorrio em sua direção.
— Bom dia. — falo no automático, e ele cumprimenta Mustafá. Sorri para Melissa que ainda ocupa a cadeira ao seu lado. Em outros tempos isso seria algo que me deixaria enciumada, hoje não.
— Passe para Ayra que quando voltar de viagem ela pode resolver para você, caso seja urgente. — minha madrasta faltou cuspir o que café que tomava. — Está na hora dela assumir algumas responsabilidades, afinal é o que aconteceria se a mãe dela ainda estivesse entre nós. — senti um tremor pelo corpo. Eu não sabia o motivo do porque meu pai estava agindo dessa forma, mas eu sabia que eu não queria nem em sonho me envolver em algo com Lâmia.
— Pai, eu...
— Desculpe por me intrometer, mas acredito que tenho esse direito. — Mustafá fala se sentando ao meu lado. — Pretendo esticar a viagem por mais alguns dias após a festa, vou acompanhar a última etapa da competição.
— Não é nada importante. — Lâmia começou a falar se recompondo do susto. — É que você nunca fez questão que eu o acompanhasse antes. Será um prazer lhe acompanhar. Irei remarcar tudo. —nunca pensei que fosse concordar com ela em algum momento. Meu pai ouviu e me olhou, como se esperasse uma resposta. Eu somente concordei, sem emitir um único som.
— Então está bem, quando voltar de viagem conversamos sobre isso. — ele se virou e começou a sair.
Eu olhei na direção de Lâmia e via que ela olhava para mim e Mustafá, que agia como se nada tivesse acontecido. Talvez para ele, realmente nada tinha acontecido. Pensei que ela fosse falar ou insinuar algo, mas não fez. Somente se levantou e saiu.
— Que clima hein? — Melissa comentou comendo um pedaço de bolo. — Agora entendo porque você fica muito tempo sem comer. — ela se serviu de mais um pedaço. — Mas eu nem quando estou ansiosa como agora consigo parar de comer. — sorri e quando olhei para Mustafá, ele somente me encarava.
— O que foi?
— Me sinto privilegiado. — franzi a testa sem entender. — Sua boca afiada só funciona comigo. — eu levaria isso como uma provocação, mas ele sorriu. O que me levou a crer que ele estava me provocando, mas de um jeito para descontrair.
Se estivéssemos a sós, eu poderia falar que poderia usar minha boca para mais coisas, além de responder suas provocações.
— Trate de comer algo, a viagem é longa pelo que soube. — ele falou colocando um pão e alguns queijos em meu prato.
— Você vai me acostumar mal sabia? Fez comida para mim, fica me mandando comer a todo momento. — sorri quando escutei a risadinha vindo de Melissa. — Vou começar a achar que você gosta de mim. — Mustafá se aproximou e sorriu.
— É que você de boca cheia não fala tanta bobagem. — meu sorriso foi sumindo. Ele pegou uma tâmara e mordeu sorrindo. — Não gosto de você, gosto de você com a boca fechada. Só isso. — revirei meus olhos e comecei a comer.
***
— Essa cidade é linda! — Melissa falou ao sair do carro. — Eu quero ir naquele oásis que vimos no caminho.
— Alguém está te segurando? — Mustafá falou ao se aproximar.
— Não adianta Mumu, nem seu humor azedo vai abalar minha euforia. — ela colocou os óculos escuros e se aproximou do guarda. — Montanha, vamos eu quero conhecer tudo. — ela foi se afastar, mas Mustafá a segurou pelo pescoço. — Aí...
— Desde quando tem intimidade com o Montanha?
— Desde que ele foi incumbido pelo sultão de me proteger. — ela fala se afastando dele, e batendo na sua mão. Mustafá olhou para o guarda e depois para Melissa. — Relaxa, ele vai cuidar de mim, e não se preocupa ele nem falou nada das suas noites de choro. — ela fala sorrindo e olha para Montanha. — Fala pra ele.
— Não se preocupe, eu cuidarei dela. — falando isso eles saem e começam a conversar.
— Não sei porque ainda me preocupo com ela. — ele resmunga. Me aproximo.
— Porque você a ama, simples assim. — o que eu falo faz com que ele me encare. — Não precisa admitir, está estampado na sua cara.
— Princesa. — uma mulher se aproxima de nós. — Estávamos tão ansiosos com sua chegada. — a reconheço e a abraço. — Minha menina está tão empolgada por ter sua presença sem eu casamento.
— Nada me faria mais feliz do que participar do casamento dela. — ela olha para trás de mim, e sei que está olhando para Mustafá. Um silêncio se faz presente, e o quebro fazendo as devidas apresentações. — Zoaz, esse é Mustafá meu marido. — ela sorri e o cumprimenta fazendo uma reverencia.
— É uma honra termos sua presença em nossa cidade. — olho para ele que está sério, mas concorda. — Se me permitir atualizarei a princesa com tudo que tenho feito. — começamos a andar e sei que ela vai falar tudo o que gostaria que meu pai soubesse.
Observo Ayra se afastando com a tal mulher. Tenho que concordar que não é de um todo ruim ser da família real, isso me traz alguns privilégios. Melissa volta toda saltitante com um ramo de flores nas mãos.
— Olha o que acabei de ganhar. — ela sorri. — Não são lindas?
— Já vi mais bonitas. — ela faz menção de me bater, mas desvio.
— Senhor, terei que levar suas coisas para o mesmo quarto, mas se quiser providenciarei outro. — Lila fala ao meu lado. Quando penso em responder meu celular vibra e o nome de Abul aparece na tela.
— Faça como achar melhor. — me afasto para atender a ligação, e quando vejo um dos guardas me seguindo, me viro. — Vá ajudar as moças, eu sei me virar. — ele ficou incerto, mas antes que eu precisasse repetir ele foi ajudar Lila. — Alô?
— Tenho novidades, e preciso falar com o senhor pessoalmente. Mas soube que viajou.
— Sim, estou na cidade de Ras-Akin. Venha para cá, eu não posso me ausentar.
— Farei isso. — desligo.
Quando olho para trás não tem mais ninguém perto do carro. Olho para os lados, vendo somente o guarda que está incumbido de fazer minha segurança. Sorrio. Como se eu precisasse.
Dou mais uma olhada na casa que ficaremos pelos próximos dias.
Não é algo requintado e luxuoso como no palácio, mas tem seu charme. Na verdade eu gosto dessas casas simples. Não tem o mesmo conforto, por serem rústicas, mas me identifico com elas.
Sigo para dentro da casa, e assim que entro Melissa vem ao meu encontro.
— Onde você vai? — ela pergunta curiosa.
— Me acomodar. — ela olha para trás e quando volta a me olhar vejo que seu semblante está duvidoso. — Porque? — ela segura no meu braço.
— Nada, mas não queria ir até a cozinha sozinha. Vem comigo. — ela começou a me arrastar.
— O que você está aprontando?
— Porque você acha que sempre estou aprontando algo? — sorrio.
— Porque você sempre está. — ela bufa.
— Escutei a moça que nos levou até os quartos comentar sobre algo, e quero dar uma olhada. — estranho a mudança de rumo.
— Não ia para cozinha?
— Não seja chato, só vem comigo. — passamos por alguns corredores e assim que chegamos ao grande jardim interno vi toda a movimentação, e claro que Ayra estava ali. — Não gosto desse assédio em cima dela. Eu sei que ela é a princesa, mas tudo tem limite.
Observei a cena em silêncio, e havia inúmeras pessoas ao redor de Ayra. Inclusive a mulher que nos recebeu. Ayra está alheia a tudo, porque estava olhando algo em um tablet, mas eu vi a forma como alguns homens que ali a olhavam.
Olhei para os lados procurando o guarda que tinha ficado responsável por sua segurança e não o achei. Isso estava me irritando. Olhei para trás procurando o guarda que me seguia. Fiz um sinal, e ele se aproximou.
— Onde estás o guarda que deveria estar aqui?
— A princesa o dispensou. — levantei as sobrancelhas incrédulo ao que acabei de ouvir.
— Ele não trabalha mais na guarda pessoal. — falei e ele somente meneou a cabeça em concordância. — O encontre e pode o enviar ao palácio. Agora faça a guarda dela, e não permita que nada aconteça, caso contrário é atrás de você que vou.
— O que está acontecendo? — escuto a voz de Ayra ao meu lado.
— Demitindo o guarda que você dispensou. — ela foi querer questionar algo, mas levantei o dedo. — Não faça mais isso, ou será eles que irão ser responsabilizados.
— Mas aqui não tem problema, todos gostam de mim. — comecei a caminhar em direção aos quartos. — Dá para você parar e me ouvir? — virei e a encarei.
— Pessoas más existem em todos os lugares, não se iluda em achar que é somente no palácio que você tem que tomar cuidado. — lembrei dos homens que ali estavam. — Os homens estavam te encarando. — ela sorriu.
— Se for os que estavam ali no jardim, não se preocupe, bem dizer crescemos juntos. — eu estava prestes a questionar, mas seus olhos se arregalaram e ela sorriu. — Karin! — então minha amada e desaforada esposa saiu correndo e abraçou um rapaz que havia acabado de entrar.
— Aqui está você! — ele a pegou e a rodopiou no ar algumas vezes. — Deixa-me ver como você está? — ele a soltou e então eu pude o reconhecer, seu irmão.
— Quem é? —Melissa perguntou ao meu lado.
— O meio irmão dela.
— Ah! Que família de genética boa hein? — olhei para ela, para ter certeza que tinha escutado certo. — Mumu, não adianta negar o que está na cara. — revirei meus olhos.
— Quanto tempo, eu não sabia que você vinha. — Ayra falou olhando pelos lados. — Onde está Charis?
— Ela vai chegar mais tarde. — então ele me olhou, e pude ver todas as dúvidas possíveis ali. — Como está a vida de casada?
— Estaria melhor se ela não fosse tão cabeça dura. — falei me aproximando, e olhei para Ayra. — Não dispense esse guarda, ou ele também irá perder o emprego por sua causa. — seu irmão olhava entre mim e ela, e eu não ficaria para dar explicações. — Se me derem licença. — me virei para Melissa. — Onde está o Montanha?
— Ele estava no portão fazendo algo. — me despedi e sai dali.
Me encontrar com Karin, foi uma surpresa, na verdade uma maravilhosa surpresa. Eu estava tão radiante por poder partilhar um tempo com minha cunhada Charis. Ela é um doce de pessoa, tão meiga e carinhosa, mas não se engane, ela de boba não tinha nada. Trazia meu irmão em rédea curta.
Estava no quarto terminando de me arrumar para a festa, quando Mustafá entrou no quarto, e olhou tudo em volta. Ainda estava irritada com a forma como ele tinha tratado o guarda, que não tinha culpa, porque eu o havia dispensado.
— Onde passou a tarde? — perguntei enquanto procurava meus brincos.
— Andando por aí. — respondeu se sentando em uma poltrona. Me levantei e fui até ele.
— Desculpe pela forma que agi em dispensar o guarda, mas não deveria ter o enviado embora ele poderá ser punido por isso. — ele bufou dando de ombros.
— Ele e qualquer outro que esteja fazendo sua guarda tem que entender uma única coisa, você não decide nada. — ele estava irritado com algo e estava descontado em mim a raiva ou frustração. Sorri. — Porque está rindo? — dei meia volta e voltei pra a frente do espelho para terminar de me arrumar.
— Porque é nítido que está descontado em mim algo que não tenho nada a ver com o que fiz, mesmo sabendo que errei. — ele estreita os olhos e meneia a cabeça. — Não sou tão estupida Mustafá. Estou errada? — ele expira profundamente.
— Não faça mais isso. — falou se levantando e indo em direção ao banheiro. Voltei a me olhar no espelho e sorri.
Homens.
Eu já tinha passado por isso inúmeras vezes com Haidar. Eu estava eufórica, eu estava feliz, e nada e ninguém iria estragar minha noite.
Eu sentia que hoje algo iria acontecer, e meu coração estava eufórico.
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