CAPÍTULO 14
Boa noite...
Boa leitura.
🙂
— Você sabe para onde ele foi? — pergunto a Núria sobre seu irmão.
— Não. — ela responde chorosa. — Desde o seu casamento ele está muito estranho. Mas hoje eu sinto que ele vai fazer algo. — a abraço, tentando dissipar sua angustia.
— Calma vai ficar tudo bem. — me afasto dela para pensar no que fazer. — Ele não saiu do palácio, se não algum guarda saberia. — ela concorda. — Ele deve estar escondido em algum lugar, nós vamos acha-lo.
— Aqui é tão grande, vamos levar o dia todo procurando. — se lamentou limpando o rosto.
— Vamos começar pelos lugares que ele costuma ir.
Seguimos para o segundo andar, no lado oeste, tem uma enorme biblioteca, apesar de não ser aberta a todos, era um dos lugares preferido de Burcu, sempre que um guarda dava bobeira era para lá que ele fugia. Procuramos por todos os lados, chamamos seu nome diversas vezes e nada.
— Quem sabe na oficina de móveis. — Núria comenta.
— Veja lá, eu vou olhar em outros lugares, quem achar ele primeiro liga para a outra. — ela concordou, e saiu em disparada.
Sai da biblioteca, e antes de procura-lo em outro lugar passaria em meu quarto para pegar meu tablet com todas as tarefas que seria necessário cumprir no dia de hoje. Assim eu não precisaria voltar aqui em cima.
Quando virei no corredor avistei Mustafá vindo em minha direção. Ele parecia estar furioso, pela forma como passava a mão nos cabelos, os deixando mais bagunçados do que já eram. Eu gostaria de saber o que o deixou assim, mas tinha coisas mais importantes a fazer.
Quando parei em frente ao meu quarto segurando na maçaneta para abrir a porta, ele me chamou.
— Ayra!
Eu não olhei em sua direção. Ouvir ele me chamar só me fez lembrar da forma que ele me tratou na outra noite. Não o esperei, somente entrei e bati a porta com força. Fui em direção a minha mesa de anotações. Ele entrou pela porta que ligava nossos quartos.
Que maravilha!
— Não fuja. — ele esbravejou.
— Não estou fugindo. — falei em um tom baixo, bem diferente do dele. — Só não quero falar com você. — comecei a pegar o que precisava.
— Eu preciso sair desse lugar. — parei o que estava fazendo e o encarei.
— E, por um acaso eu amarrei seu pé na cama? — ele travou a mandíbula, que parecia que eu tinha ouvido o osso trincar.
— Não se faça de sonsa, eu tentei sair, mas simplesmente não deixaram. — coloquei meu tablete e outras coisas dentro da minha bolsa, então meu celular tocou.
— Achou ele? — escutei os gritos de Núria misturados com o choro. — Eu estou indo aí, fica calma. — larguei o que estava fazendo e saí às pressas.
— Ayra, eu estou falando com você. — Mustafá estava vindo atrás de mim.
— E, eu tenho coisa mais importante para fazer do que ouvir suas reclamações.
Ignorado.
Eu acabei de ser ignorado. Eu nunca havia sido ignorado. Não que eu me lembre, claro tirando os dias que fiquei preso e o pai dela simplesmente esqueceu da minha existência. Mas ali eu até consegui compreender. Mas nunca fui ignorado por uma mulher.
Ainda mais a que se intitulava-se como minha esposa.
Então por alguns minutos, fiquei sem reação. Apenas segui Ayra para não perde-la de vista. Chegamos a um jardim onde estavam várias mulheres. Olhei para os lados, e não vi nenhum guarda. O que achei estranho. Inclusive o Montanha não estava atrás de mim.
Onde ele havia se enfiado?
Olhei a cena que se desenrolava mais à frente. Um rapaz que eu não conhecia estava com uma faca no pescoço ameaçando contra a própria vida. Imbecil. Ayra se aproximou dele, com cautela e ouvi que as mulheres que estavam ali começaram a murmurar alguma oração.
Olhei mais uma vez para todos os lados, e nada dos guardas aparecerem.
Mas que merda estava acontecendo?
Olhei no relógio vendo que as horas corriam, e eu tinha muito o que fazer. Me aproximei e perguntei a uma das mulheres.
— Quem é? — ela pareceu se dar conta da minha presença ao ouvir minha voz.
— É Burcu, protegido da Princesa. — ela voltou a fazer as orações, e eu sorri com a informação. Protegido de Ayra. Interessante.
— Burcu, larga essa faca, vamos conversar. — minha querida esposa falava em um tom suave, tão doce. Me aproximei de Ayra.
— Como ele entrou nesse jardim? — perguntei, mas ninguém respondeu. Ayra olhou para mim por alguns segundos.
— Você não tem nada mais interessante para fazer? — ela falou me dando as costas. — Burcu, largue essa faca e vamos conversar. — repetiu e o rapaz não respondeu.
— O engraçado é que eu tenho, mas eu não consigo sair da porra desse palácio. Você pode me ajudar com isso? — usei de toda minha calma para não soar irritado, algo do tipo.
— Se você não percebeu, eu estou meio ocupada com algo que considero realmente importante. — ela falou com um sorrisinho, antes de se virar novamente para o rapaz. — Você sabe que o suicídio é um pecado muito grande, não sabe Burcu?
Ignorado novamente.
Respirei fundo analisando a situação, eu poderia ir embora e esperar ela resolver isso aqui, e sabe Deus quando isso seria. Ou eu poderia resolver tudo de uma só vez. Assim ela teria tempo para conversar comigo.
— Todo mundo sabe disso, Ayra. — falei dando dois passos em sua direção, mas ela não voltou a me olhar.
Olhei em volta mais uma vez vendo que até o momento nenhum guarda veio resolver a situação. Como essa área está tão desprotegida a ponto de um homem entrar armado e ninguém notar?
— Burcu por favor largue essa faca. — pelo tom na voz de Ayra, ela realmente estava preocupada.
Coloquei as mãos nos bolsos e por alguns segundos enquanto observava a cena, permiti que minha mente vagasse pelo meu subconsciente e imaginasse algo um tanto bizarro. Se fosse eu em uma situação de perigo, ela se preocuparia comigo dessa forma?
Sorri.
Não, claro que não.
Eu não conseguia imaginar algo assim. É muito mais fácil imaginar ela segurando a faca em minha direção. Ah isso sim, isso Ayra seria capaz de fazer. O sorriso sumiu do meu rosto e aquela dorzinha tão conhecida voltou a apertar meu coração, correr e pulsar em minhas veias.
Raiva.
Eu estava com raiva.
Esse sentimento eu sabia muito bem como lidar com ele.
Espera, eu já estava com raiva quando estava no quarto, porque mudei ao chegar aqui?
Voltei a olhar a cena patética, agora analisando a situação melhor. As servas continuavam em suas preces, nenhum guarda ou algo parecido havia aparecido, e o infeliz estava com toda a tenção de Ayra. Não somente atenção, mas existia algo mais forte ali, porque ela estava prestes a chorar. Ela choraria somente por um servo?
Pouco me importava o que ela faria. Eu já estava e saco cheio de tudo isso.
Olhei para as minhas possibilidades ao redor. Eu não poderia somente mata-lo aqui, isso resolveria meu problema facilmente, mas era provável eu ser o próximo, não sabia o quanto ele era importante para minha querida esposa, eu não podia arriscar.
Olhei para a piscina e tive uma ideia.
Ao menos isso serviria no momento.
— Você sabe nadar Burcu? — perguntei.
— E, que diferença isso faz? — Ayra perguntou angustiada. Eu sabia que ela temia pela vida do rapaz. — Se não percebeu ele está tentando se matar. — Olhei para minha querida esposa e sorri.
— Para mim faz toda a diferença, amor. — lhe respondi e voltei a olhar para o tal rapaz. — Burcu, se tem uma coisa que odeio é ter que falar duas vezes a mesma coisa. — ele arregalou os olhos.
— Não sei nadar senhor. — ele foi rápido em responder. — Porque? —Sorri.
— Ótimo, vamos resolver nossos problemas então. — tirei minha kandoora, e não me importei de ficar somente de calças. Ouvi alguns murmúrios das servas, mas ignorei, minha atenção estava no rapaz com a faca.
— O que você está fazendo? — ele perguntou apontando a faca para mim.
— Mustafá? — Ayra me chamou.
Ignorei.
O mundo dá voltas querida, minha vez de te ignorar.
Torci o tecido em minhas mãos e fui em direção ao rapaz, e de forma rápida e ágil enlacei o braço do rapaz, torcendo. O que fez ele gritar, mas consegui tirar dele a faca. Quando consegui ter domínio o encarei.
— Nunca mais aponte uma faca em minha direção! — falei baixo, mas sei que todos que estavam a nossa volta, ouviram.
Antes que ele pudesse responder, o arrastei em direção a piscina.
— Não. Eu não sei nadar. — ele começou a implorar.
— Eu sei imbecil, te perguntei. Lembra? — falei antes de o arremessar na agua. Ele mal afundou já começou a se debater desesperado.
Para quem estava querendo morrer ele estava bem ágil tentando se salvar.
— Por Allah! Ele vai morrer. — Ayra falou ao meu lado.
— Não era o que ele queria? — ela se virou para mim incrédula. — Mas não se preocupe querida esposa, não é suicídio. A alma dele será recebida de braços abertos por Allah. — Ayra, esqueceu completamente dele e começou a me socar.
Sorri.
— Você só pode ser louco. Olha o que você fez. — segurei seus pulsos para que parasse de me bater e a imobilizei grudando seu corpo ao meu, e passando um dos meus braços por sua cintura. Antes de falar o que eu queria, eu observei seus traços e feições.
Pele límpida, os olhos agora vistos de perto não eram totalmente verdes, tinham mesclas da cor mel. Seus olhos eram âmbar. Lábios carnudos e eram naturalmente vermelhos. Ayra é uma linda mulher. Sua respiração estava irregular e eu sentia como seu coração batia forte contra meu peito.
Por um momento minha raiva foi substituída por algo mais íntimo, mais carnal. Baixei o tom de voz, para que somente ela escutasse.
— Vou considerar isso que acabou de fazer como uma demonstração de carinho. — ela estava vermelha, e eu tinha plena consciência que era de raiva. Sorri. — Mas nunca mais me ignore como você fez, ou alguem que você se importa, irá sentir. — soltei seus pulsos, arrumei uma mecha de cabelo atrás de sua orelha. — Estarei te esperando no quarto para terminarmos nossa conversa.
Sem mais virei as costas e sai dali.
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