CAPÍTULO 11
Já é quase sexta... 🤭
Fui levado para o quarto que iria ocupar. Ao entrar reparei como era bem diferente dos moquifo que fui instalado no dia que cheguei aqui. Os soldados que fizeram questão de me acompanhar até aqui, deixaram algumas coisas em cima de uma mesa, e saíram.
- Eu deveria agradecer a eles pela privacidade? - comentei ironicamente ao me sentar em uma poltrona que ficava perto da janela. - Ou será que eles vão querer ver a consumação? - recebi um olhar de reprovação do meu querido e ilustre cunhado.
- Tem certeza que ficará bem? - ele pergunta, e eu não me dou o trabalho de responder. - Se quiser conversar. - ele oferece, e uma risada esganiçada escapa da minha garganta.
- Eu fiz um esforço tremendo durante os últimos três dias para que eu não descontasse em vocês dois toda minha frustração e resignação diante dos fatos, mas chega. - falei me levantando e indo em direção a porta. - Fora daqui os dois! - Almir e Zayn se entreolharam. - A, não ser que queiram acompanhar a noite, por mim não terá problema algum. - eles começaram a caminhar em direção a porta que eu segurava aberta.
Ao contrário de Almir que tinha um semblante preocupado, Zayn estava rindo quando passou por mim. Eu sabia que ele não perderia uma única oportunidade possível para jogar na minha cara que ele tinha razão sobre o destino.
Mas eu realmente estava de saco cheio de tudo isso. Só queria ficar sozinho. Somente isso. Não era pedir demais, era? Almir parou a minha frente.
- Vou passar a noite no palácio. Se precisar de algo, é só me ligar. - não falei nada, esperei que ele saísse, e fechei a porta, trancando.
Em fim sozinho.
Andei pelo quarto aproveitando para tirar algumas peças do traje de casamento, e joguei em cima da cama. Dei uma olhada no quarto e vi que tinham algumas garrafas de licor em um canto. Fui até lá e conferir se realmente era bebida.
Eu estava precisando de algo forte que me apagasse pelos próximos dias ou semanas se possível. Peguei uma garrafa e me sentei novamente na poltrona perto da janela. Alguém bateria na porta em breve, e eu esperava já estar apagado.
Enquanto bebia analisava as voltas que o mundo dava. Buscava na mente o erro que cometi. Sorri amargamente ao constatar que meu erro foi ter encontrado Ayra no deserto, qualquer outro poderia tê-la encontrado, afinal ela não tinha a mínima ciência que eu estaria naquela região.
O palhaço da vez seria outro. Fiquei um tempo relembrando aquele maldito dia, até que escutei barulho vindo da antessala. Algo como passos. Mas eu havia trancado a porra da porta, para não ser incomodado. Então Ayra surgiu.
Totalmente diferente da mulher que conheci, essa parecia incerta, e talvez até insegura. Ela estava com medo. Sorri ao constatar isso. Levei a garrafa novamente aos lábios, e bebi uma grande quantidade do liquido doce e enjoativo.
Se eu estivesse bebendo a tempo suficiente, eu poderia até ficar em dúvida, de se tratar dela, ou ser uma miragem, já que sua imagem parecia se dispersar pela leveza do tecido que a envolvia.
Seus olhos encontraram os meus, e nesse momento a raiva que senti por todos esses dias, estava pulsando dentro de mim. Eu tinha vontade de grudar em seu pescoço e torcer até cumprir o que falei quando estava preso. Somente pela raiva que sentia por ter me feito de palhaço na frente de todos dessa merda de palácio.
Imagino os cochichos que devem ter acontecido durante esses três dias de festa. Senti minha respiração falhar e quase engasguei com a raiva, o ódio que eu sentia de todos, principalmente dela. Minha falta de reação a sua chegada, a fez olhar para os pés e logo após dar dois passos em minha direção.
Toda aquela pouca coragem que reuni para chegar aqui, havia sumido assim que seus olhos encontraram os meus. Eu sentia fúria emanando deles. Eu estava ferrada. Eu não sabia o que fazer. Não sabia como começar uma conversa.
Será que eu deveria pedir desculpas?
Não sabia ao certo tudo o que aconteceu com ele, desde que pisou aqui, mas sabia que contra sua vontade, ele havia se casado comigo. E isso já era motivo suficiente para ele me odiar. Eu estava cansada do dia, e ficar parada aqui esperando com que ele falasse algo, estava me deixando agoniada.
Respirei fundo e dei dois passos em sua direção. Mustafá colocou a garrafa ao lado da poltrona e apoiou as mãos em cima das pernas. Então sorriu.
- Se produziu toda assim para mim, princesa? - eu odiava quando ele me chamava de princesa. Soava como ofensa. Olhei para minhas roupas, e dei de ombros.
- Foi a roupa escolhida. - falei. Não queria dar importância a algo que ele estava fazendo pouco caso.
Ele colocou a cabeça de lado e me olhou de cima a baixo, por fim fez um barulho com a boca e se levantou. Meu coração batia a cada passo que ele se aproximava. Talvez eu nunca tenha reparado em como ele é alto. Sentia-me intimidada.
- Há algo de errado com seu traje. - ele falou dando a volta em mim, e tocando a fina renda do meu braço com as costas dos dedos. - Ele é branco. - falou perto do meu ouvido me fazendo engolir em seco. - Branco representa pureza. - fechei meus olhos já imaginando o que viria. - Coisa que você não é. - de olhos fechados, senti quando ele parou na minha frente.
Permaneci de olhos fechados pelo tempo que consegui, então abri. Ele sorriu.
- Sou um homem paciente, princesa. - tirei sua mão do meu queixo.
- Pare de me chamar assim. - ele franziu a testa.
- Mas você é a princesa, e pode ter certeza que entre as opções que tenho para lhe chamar, essa é a melhor. - expirei me sentindo cansada.
- Eu sei que você está com raiva por tudo que acontece... - me calei ao ouvir sua risada.
- Raiva? Você acha que eu estou com raiva? - ele começou a andar pelo quarto. - Eu tenho vontade de matar você e todos que estão nessa merda de palácio. - ele gritou. - Só não faço porque não sou burro. - ele fechou os olhos e riu. - Não tão burro, vamos colocar assim, porque fui burro o suficiente de cair no golpe mais antigo que já inventaram.
- Não foi um golpe.
Falei tentando conversar, ele veio na minha direção com tanto ímpeto em seus gestos que por um segundo achei que levantaria a mão para me bater. Fechei os olhos lembrando do tapa que recebi do meu pai, a dor que eu sentia era tanta, a mágoa é tão intensa que se Mustafá fizesse o mesmo agora, muito provavelmente eu não sentiria nada. Mas ele não fez nada. Sentia sua respiração ofegante, então abri os olhos. Ele me olhava de forma tão intensa, que poderia me cortar em pedaços somente com a fúria contida em seus olhos.
- Precisamos conversar. - falei. Ele pareceu surpreso.
- Depois de tudo o que aconteceu, você acha que aparecer aqui com esse trapo e meia dúzia de palavras, vai me fazer conversar com você? - eu não sabia o que fazer. Ele estava fora de si. - Eu tentei conversar com você, lembra? Quando eu implorei para que você falasse a verdade.
- Eu não podia. - ele bufou.
- Estou ciente disso princesa. - ele andava de um lado para o outro. Impaciente. - Eu deveria ter deixado você morrer. - ouvir essas palavras dele me machucava, mas eu entendia. Ele tinha que descontar a raiva, e, eu era seu alvo.
Passei anos sendo alvo da raiva gratuita da minha madrasta, já havia passado por tantas coisas que seria difícil conseguir numerar o que mais me machucou, mas afastar meu pai de mim, com certeza era um dos piores. Isso me quebrou por dentro. Não se pode quebrar algo que já está quebrado, não é mesmo?
O que me machucava era saber que Mustafá tinha salvo minha vida, e tinha sido bom comigo pelos dias que passei no acampamento com ele e todos os outros, foram apenas dois dias, mas posso dizer que foram os melhores em muito tempo. Ele não merecia estar passando por isso.
Acabei sorrindo com a lembrança do dia que passeamos a cavalo pelo deserto.
- Não sorria princesa, porque vou fazer dos seus dias os piores possíveis, pode ter certeza. - eu estava cansada das ameaças. Me, sentei na cama.
- Não vou levar em consideração nada que falar ou fizer hoje, porque eu entendendo perfeitamente como se sente. Já passei por isso. - comecei a desamarrar as fitas de seda que compunham a sandália que eu estava usando.
- Não será somente hoje. - sua voz estava baixa e extremamente controlada, diferente de segundos atrás. Olhei para Mustafá. Ele me encarava. - Me casei com você porque não tive opção, ou era isso, ou a morte. E olhe, eu optei por morrer e nem isso me deixaram fazer.
- Você preferiria morrer a se casar comigo? - eu sabia disso por que Haidar havia falado que ele estava irredutível, mas pensei ser um momento de raiva, mas pelo visto não era somente um momento.
- Isso aqui. - ele apontou entre nós. - Nunca vai acontecer, eu não vou encostar um dedo em você.
- Você já encostou. - ele torceu o pescoço, e ouvi o estalo. - Ficar discutindo não vai resolver nada.
- Tem razão. - ele falou se virando indo em direção a porta. - Mas isso não vai voltar a acontecer!
- Aonde vai?
- Atrás de alguma mulher que esteja disposta a... - ele parou de falar quando segurou a maçaneta e me olhou sorrindo. - Você sabe. - então abriu a porta e saiu fechando com força.
Fechei os olhos com o barulho, e deixei com que o ar saísse dos meus pulmões aos poucos. Procurei não pensar no que ele faria. Sua intenção era me atingir e me fazer sofrer, e por mais que eu estivesse sofrendo com tudo, ele não saberia o quanto isso me atingiu.
Enxuguei a lágrima que escapou sem que eu percebesse, e deitei na cama me sentindo extremamente cansada. Tudo isso iria passar, como tudo que já passou.
Sai batendo a porta e um soldado que estava no corredor me olhou incerto do que fazer. O encarei por mais alguns segundos para ver qual seria sua atitude, antes de virar e sair andando pelos corredores, que eu não fazia ideia de onde dariam. Eu ainda escutava a música vinda do salão.
Disse a Ayra que procuraria uma mulher, mas isso era a última coisa que passava em minha cabeça, eu poderia facilmente matar qualquer um hoje com a raiva que sentia. O soldado que estava na porta, agora estava me seguindo e eu não sabia o que fazer.
- Mas que merda, você vai ficar me seguindo? - ele apenas concordou. - Que maravilha. - virei voltando a andar. Então pensei em algo. - Então me leva para a ala dos quartos dos visitantes. - ele demorou a se mover. - Deixa que eu acho sozinho.
- Por aqui. - ele apontou a lança que segurava na direção oposta. Depois de andar por quase quinze minutos, e descer dois andares, chegamos a ala dos hospedes.
- Sabe qual o quarto do meu cunhado? - ele começou a andar sem responder. Ele parou em frente a uma porta. - Obrigado. - falei batendo. Nada. Bati novamente. Quando a porta foi aberta, entrei sem esperar ser convidado.
- Mustafá? - Ayla parecia surpresa. Ela estava com uma camisola curta. Desviei os olhos. - O que faz aqui?
- Não deveria atender a porta vestindo isso. - falei apontando para sua roupa. - Onde está Almir? - perguntei.
- Está tomando banho, porque o que aconteceu? - me sentei numa poltrona.
- Não aconteceu nada. Ainda. - ela se aproximou. - Dá pra vestir algo mais apropriado? - ela olhou para a camisola e riu.
- Isso aqui estava muito apropriado até você chegar. - ela saiu em direção ao que imaginei ser o banheiro. Quando voltou estava vestindo um roupão. - Melhor? - ela perguntou. Bufei. - Almir já vem. - concordei. - Quer conversar?
- Tem alguma coisa para beber? Algo forte. - ela me olhou estranhando meu pedido, mas foi pegar o que pedi. Quando voltou e me entregou o copo com o que eu não fazia ideia do que era, mas queimou ao descer pela garganta.
- Quer conversar? - ela insistiu.
- Não quero conversar, só não quero ficar sozinho, pode ser? - ela fez um gesto que me lembrou Izabel. Minha irmã estava me mostrando o dedo do meio. - Muito maduro da sua parte. - falei me levantando e indo até onde ela pegou a bebida e voltei com a garrafa.
- Seria maduro da sua parte, estar com sua noiva e não aqui, atrapalhando minha noite, não acha? - a encarei.
- Você já tem três filhos. Pode ficar uma noite sem... - não completei a frase, não queria pensar no que ela e Almir fariam caso eu não tivesse chegado. Bebi direto da garrafa. Almir saiu do banheiro e me olhou.
- Vou aproveitar e ligar para saber das crianças. - minha irmã pegou o telefone e saiu para a sacada.
- Se continuar bebendo assim, não vai conseguir sair daqui. - ele falou se aproximando.
- Essa é a ideia. - ele riu.
- Pretende passar a noite aqui? - concordei enquanto bebia.
- Estou com medo de fazer uma merda maior do que ter me casado, como ficar viúvo na noite de núpcias, acho que isso não pegaria bem. - Almir olhou para trás, mas Ayla não estava por perto. - Eu não posso ficar sozinho, não hoje. - admiti.
- E, o que pretende fazer amanhã? - dei de ombros.
- Beber mais um pouco talvez. - ele balançou a cabeça em negativa.
- Beber não vai resolver seus problemas.
- Não quero resolver, quero esquecer. - bebi mais. - Não terei como lembrar quando eu estiver apagado.
Algumas pessoas estavam esperando uma noite de núpcias, bom digamos que ela foi adiada, mas eu garanto que lavará a pena, ou uma galinha inteira...
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