Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

4 | Cristais de Gelo

"Cada movimento que você fizer
Cada promessa que você quebrar
Cada sorriso que você fingir
Cada direito que você reivindicar
Eu estarei te observando."

Every Breath You Take – The Police

A festa havia terminado logo que amanheceu tendo durado tempo demais para o gosto de Elizabeth, que naquele momento via os últimos convidados partirem. Passou a noite esboçando seu melhor sorriso, a fim de agradar a todos os quais a mãe se referia como "ricos e estimados amigos", esses homens e mulheres de posse que a dama de maneira alguma poderia destratar.

O fato é que entre um suspiro e outro que dava ao passear pelo salão de festas ao lado do coronel sentia uma parte de si mesma se esvair. Elizabeth se achava transparente demais embora se esforçasse para manter uma máscara de quem – naquele momento – estava plenamente feliz e satisfeita com a união. No entanto, só de se lembrar do fugaz beijo que trocou com Custer no altar, seu estômago revirava e a face que estampava um belo sorriso vez ou outra assumia uma carranca irreprimível. É claro, o coronel não era burro o suficiente para não notar o desgosto que a dama sentia com aquele casamento, mas Elizabeth sabia que era orgulhoso demais para se importar com aquele detalhe.

O vento gelado da manhã a fez acordar de seus pensamentos, se dando conta então que Custer lhe perguntara alguma coisa a fazendo apenas concordar com a cabeça não se importando o suficiente com qualquer coisa. Precisava dormir e as doses de vinho tomadas durante a madrugada lhe davam sinais de que uma forte dor de cabeça a atormentaria durante o dia.

– Você me ouviu Elizabeth? – Ele perguntou outra vez e ela, por fim, teve que olhá-lo.

– Desculpe? Eu não entendi – Disfarçou ajeitando os cabelos que voavam rebeldes por conta do vento forte.

– Suas coisas estão prontas? – Perguntou sem paciência vendo ela manear a cabeça em afirmação. – Ótimo, vamos partir agora mesmo. – Disse se virando e seguindo para o automóvel.

Um profundo suspiro se soltou de sua boca fazendo com que quase pudesse ser tocado no ar, era inacreditável que aquela situação realmente ocorria. A família já havia se despedido horas antes restando para ela somente observar o vazio do salão, que não muito longe fazia os espelhos a refletirem. Deixou então que ele esperasse mais um pouco se dando tempo para observar-se, o traje de noiva dava lugar a outro muito mais confortável e elegante, um longo vestido de tom escuro e muito próximo da cor das uvas italianas caia como uma luva no corpo esguio e por cima de todo o cetim um casacão de pele negro lhe protegia do frio. Na cabeça um mínimo chapéu enfeitava os cabelos deixando cair no rosto a rendinha de tom também escuro contrastando com a porcelana da pele. Tudo isso para que o coronel a olhasse exatamente como fazia naquele instante. Luxuria, ela diria, embora nos olhos azuis de Custer um rastro de vitória podia ser contemplado.

Não sabia ao certo qual eram as verdadeiras intenções do coronel, muitos menos as pretensões que ele possuía ao desposá-la. Seria de muita bondade dar ao pai de Elizabeth uma patente mais alta apenas em troca de seu dote, que de modo algum era valioso. Não que a dama se considerasse alguém de valor baixo, no entanto sempre havia muito por de baixo dos panos. Esperava ao menos descobrir porque Custer a havia escolhido dentre tantas donzelas quando era visível que ela a olhava como uma mera mercadoria que agora estava em sua posse. Por fim, cansou de enrolar o então marido e subiu no veículo.

Seattle como em todos os dias logo cedo já estava acordada e as multidões de moças e rapazes tornavam a encher as ruas com toda a sutileza e constante alegria que costumava ser emanada dos jovens. Elizabeth observava tudo com maior indiferença, sentindo pena deles por se encantarem por tão pouco. O coronel não lhe tirava os olhos fazendo-a se remexer desconfortável ao seu lado, enquanto o vento preenchia suas narinas com o cheiro do perfume dele que lhe dava vontade de espirrar constantemente. Fechou os olhos, não queria estar ali.

Logo o destino dos dois podia ser contemplado entre as montanhas que revelavam uma outra parte da cidade esmeralda. Seattle ali já parecia o pequeno vilarejo que fora um dia e as ruas movimentadas davam lugar a um silêncio confortável que era interrompido apenas pelo soar do trem. "King Station" brilhava no imenso letreiro recém-colocado na estação, fazendo a dama arregalar os olhos ao enxergar tanta riqueza posta na nova ferrovia.

Custer logo que o veículo estacionou pulou para fora estendendo a mão para que ela descesse, ele ainda a fitava atentamente enquanto Elizabeth só tinha olhos para a estação. Quando durante muitos anos só se era possível viajar por outros meios, com a ferrovia longas distâncias podiam ser percorridas em menos tempo evitando assim as interestaduais lotadas dos mais lentos automóveis. As pessoas percorriam o imenso corredor velozmente com suas inúmeras bagagens de mão fazendo a dama sorrir de maneira inesperada.

– É tão linda... – Observou outra vez dando uma volta de 360 graus para admirar todo o recinto.

– Espere só até ver o trem e o interior dele – O coronel comentou despreocupado e aquela foi a primeira vez em que disse qualquer coisa que não tenha feito Elizabeth revirar os olhos. – Vamos? – Ele perguntou estendeu o braço esperando que ela o acompanhasse.

O som dos saltos batendo no piso foram ofuscados pelo apito opulento do trem que chegava a toda popa na estação. Os mais de vinte vagões correram rapidamente não dando tempo para que Elizabeth os admirasse por inteiro. Então assim que foi estacionado e as portas foram abertas a multidão de passageiros logo se formou em uma grande fila, fazendo o coronel bufar incomodado com tanta gente ao seu redor. Ela por sua vez não se importava, deixando que por apenas alguns minutos se sentisse feliz.

– Algum problema, Custer? – Perguntou ao vê-lo já vermelho ajeitando repetitivamente o sobretudo que usava em um gesto nervoso.

– Esses pobres... – Olhou enojado para a multidão que aguardava a abertura dos últimos vagões destinados a classes C e posteriormente D. – Não podem ver uma novidade que vem como abutres em busca de carniça e trazem consigo toda a prole. – Respondeu não olhando diretamente pra ela, o coronel falava como se exprimisse seus melhores pensamentos. – Deveriam ser proibidos de andar no trem.

Elizabeth não teve tempo de responder e contestar aquela triste opinião do marido, pois o chefe da ferrovia se aproximava dos dois com um sorriso esperto, um que a dama reconhecia muito bem. Era o mesmo que Custer tinha e logo soube que o homem rechonchudo que os cumprimentava não passava de mais um dos muitos lordes e magnatas de Washington.

O homem os saudou pelo casamento e comentou algo sobre as grandes planícies, coisas essas que já não interessavam a dama que tornou a olhar a estação. Toda a construção era bem-feita, o lugar exalava muito luxo mesmo que fosse frequentado pelas classes sociais mais baixas. As vigas que mantinham a estação em pé eram adornadas com arabescos de ferro e as muitas paredes eram feitas de tijolinhos. A dama se sentia extasiada com aqueles detalhes, era de fato um grande avanço do estado.

A temperatura tornara a cair e o céu cinza dava indícios de que o tempo só pioraria nos próximos dias e assim já tremendo de frio segurando nas barras gélidas da pequena escadaria do trem deixou a visão sombria de Seattle para ser acolhida pelos tons terrosos do interior da comitiva. O coronel a seguia logo atrás, até chegarem ao primeiro vagão que havia sido reservado para os dois. Elizabeth achou um exagero pois claramente não usufruiria nem dá metade daquele espaço, a levando a pensar que Custer era um homem de demasiados excessos ou alguém que desejava mostrar a outras suas riquezas. Acreditava mais na segunda opção, embora desejasse que a primeira fosse a verdadeira.

O trem demorou mais alguns minutos antes de partir e nesse tempo entre o falatório incessante dos passageiros e a calmaria que o inverno trazia se pegou pensando porque havia aceitado passar a lua de mel em Montana. A mãe reclamou de início ao descobrir o destino, mas quando soube que a ideia havia sido do coronel logo disse que era a viagem dos sonhos. A dama por sua vez achou por bem omitir que conhecia cada parte de Montana e que de todas as companhias para visitar o Parque Glacial outra vez, com toda certeza o coronel era a pior delas.

Outro suspiro escapou de seus lábios assim que sentiu o trem andar e então a presença de Custer esquentou o banco ao seu lado fazendo-a a contragosto se virar para olhá-lo.

– Está muito bonita, Elizabeth. Ainda mais bela do que na noite anterior. – Ele comentou, certamente esperando um elogio de volta ou no mínimo um agradecimento. Nenhum dos dois o coronel teve o prazer de escutar da dama que acabou por sorrir falsamente para ele.

– Porque Montana? – Ela resolveu perguntar, e esperava que diferente dela o coronel resolvesse se comunicar.

– Achei que era uma boa oportunidade de conhecermos a nova ferrovia...-- Respondeu despreocupado. – Além disso... tenho certeza que vai adorar conhecer o parque gelado.

Elizabeth queria rir, no fundo tinha esperanças de que em algum momento do breve noivado Custer tivesse se interessado em conhecê-la melhor ou que ao menos tivesse se dado o trabalho de olhar as fotos de sua família estampadas para todos verem na escadaria de sua casa. No entanto, ele não havia se esforçado, é claro.

– Imagino que deve ser magnífico – Respondeu apenas pela boa educação – Ficaremos por quanto tempo? A neve deve cair durante o fim de semana – Disse observando a janelinha ao seu lado vendo que de fato nevaria em breve.

– Ainda não sei... – Ele sibilou – Tenho alguns assuntos a resolver por lá. – E ali estava o que deixou a dama certamente curiosa.

– Algo que eu deva saber? É sobre a cavalaria? – Perguntou não escondendo sua curiosidade.

– Não querida – Ele respondeu logo a cortando – Não se preocupe... são assuntos meus. – Disse com um sorriso nervoso – Aproveite a viagem, irei me reunir com alguns amigos no restaurante do trem. – Avisou, vendo a dama concordar com a cabeça.

"Que assuntos teria ele que resolver em plena lua de mel?" – Pensou não deixando transparecer suas desconfianças. Elizabeth não se importaria se ele se encontrasse com outra mulher, mas tinha quase certeza que não se tratava de um par de saias. Os pensamentos sobre as intenções do coronel rodopiavam sua cabeça até que acabou adormecendo e entrando num mar profundo de sonhos.

*

As patas brancas corriam velozmente se manchando do vermelho da terra. Corria e corria nunca olhando para trás. Não sabia ao certo quem estava a caçando, mas sentia o cheiro de sangue entrar feroz em suas narinas. O corpo do felino de quase dois metros de comprimento passava com facilidade por entre as árvores baixas e rasteiras da floresta, pulando como se fosse um primata pelos galhos mais altos. A adrenalina era sentida em seu corpo quadrúpede a fazendo correr ainda mais rápido. Entre os verdes das gramíneas só se via o vulto branco que passava em flashes não sendo possível acompanhá-lo.

Olhando rapidamente para o lado pôde observar o que vinha a acompanhando, o trem parecia planar pelos trilhos, deslizando em tamanha velocidade que sequer podiam imaginar. O felino não se abateu e prosseguiu fugindo de seu caçador. As cordilheiras geladas podiam ser avistadas já muito próximas sendo enfeitadas pelos cristais de gelo que pendiam pelas precipitações da montanha. E então o túnel chegou e com ele um animal tão grande quanto ela jazia nos trilhos como se paralisado estivesse.

O felino então se desesperou, pulando por cima do trem prendendo as garras afiadas no metal frio. Seu corpo era forçado para trás a todo instante pelo vento forte que vinha arrebatador pela velocidade da locomotiva. Seu único desejo era tirar o animal dos trilhos, percorrendo então vagão por vagão até chegar ao início. Um segundo foi o que restou antes do túnel acolher o trem e ela pular. O animal não estava mais nos trilhos, assim como ela via a locomotiva passar por cima de si não sentindo absolutamente nada, até que o túnel se tornou desabitado outra vez tendo o felino jazendo seu corpo ali. Tudo o que sobrou foram os cristais de gelo no alto do túnel que tremiam pelo impacto forte, estes que se soltaram e então a atingiram perfurando seu corpo branco.

*

Elizabeth então acordou, e tudo o que seus olhos contemplaram ao se abrirem foi uma imensidão branca. Estava nevando.

Confesso que amo essa mistura de ficção histórica e fantasia <3

Espero que vocês estejam gostando, deixem seus comentários!

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro