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2 | Perdendo tempo


"Eu estou perdendo meu tempo

Vendo o sol se pôr

Eu caio no sono ao som

Das lágrimas de um palhaço."

Spending My Time – Roxette

O sono lhe parecia o melhor em anos, preguiçosamente presa no mais profundo de seu subconsciente se recusava a abrir os olhos naquele dia. Aquele fatídico dia. Nos sonhos mais sórdidos de sua soneca imaginou a cara irritadiça de Custer ao vê-la dançar com mais de uma dúzia de homens no baile que ocorrera na noite anterior. Conseguia ver claramente os músculos do lábio fino do coronel tremerem em profundo desgosto. Ela – por sua vez – tinha aproveitado cada momento do baile e não negaria a ninguém que estar em tantos braços em apenas uma noite tinha valido por todos os anos em que estivera solteira.

Acordou deixando que a visão desagradável do noivo permanecesse no fundo de sua mente. Da grande janela de seu quarto já conseguia ver o raiar de mais um dia. Ao longe ouvia a voz inconfundível da irmã reclamar de algo com os pais, enquanto o cheiro de café forte adentrava pelos cantos da porta. O rádio sintonizado no jornal, informava que em Montana a neve já dava sinais de que cairia naquele fim de semana, a lembrando de colocar mais casacões de pelo nas malas de viagem.

Se arrastou como quem não queria existir até o banheiro. A fraca luz amarelada iluminou seu reflexo cansado no espelho. As olheiras arroxeadas marcavam profundamente o rosto magro e desprovido de muitas doses de melanina. Às vezes não achava ser possível ter aquele tom de pele que se igualava a porcelana, e durante muito tempo desconfiou que se saísse em meio a uma nevasca jamais seria encontrada por se confundir com a cor do gelo. Respirou fundo e lavou o rosto, deixando que alguns fios dos cachos castanhos se molhassem no processo. Não ligava realmente se sua aparência estava péssima, mas a mãe com toda certeza lhe olharia feio. Então não lhe restava qualquer outra opção que não fosse tomar um bom banho e depois enfeitar o rosto com o rouge importado que estrategicamente ficava em cima da pia de mármore escuro.

— Senhorita? – Sua serviçal prontamente chegou para ajudá-la, como se estivesse ali o tempo todo apenas aguardando-a. – Seu banho quente está preparado. E suas roupas postas sobre a cama. – Disse com um sorriso de dever cumprido no rosto. A dama apenas lhe sorriu de volta concordando em silêncio, e adentrou a banheira deixando que a água quente aliviasse as dores de seu corpo cansado.

Já devidamente vestida com as meias de lã grossas e o sobretudo negro desceu as escadas da propriedade. Tudo começava a tornar-se nostálgico para ela, então olhando os vinte degraus que ainda precisava percorrer decidiu desacelerar os passos e observar os quadros e as inúmeras fotografias que decoravam a parede da escadaria. Em uma das fotos estavam – ela, os pais, a irmã e o irmão mais velho – em frente ao Parque Glacial –, todos igualmente vestidos do mesmo modelo de casaco azul-marinho. Ela se lembrava de estarem plenamente felizes aquele dia. E então mais ao lado da fotografia outra retratava anos depois no mesmo local e com o mesmo casaco, embora John – o irmão – não estivesse mais ali. Sentia falta dele.

Todas as outras fotografias mostravam a família Davis em seus momentos mais categóricos e estritamente planejados pela matriarca, para que, saíssem em perfeita harmonia nas fotos que seriam mostradas aos amigos. No entanto, a dama que fitava aquelas imagens com tanta emoção achava aquilo tudo uma grande bobagem, uma perda de tempo.

O tempo em questão realmente começava a lhe faltar, olhando o relógio posto ao fim do corredor viu que se passava das nove da manhã e a voz estridente da mãe ao perceber que a dama adentrava a cozinha lhe lembravam que estava atrasada.

– Eu lhe disse que era uma péssima ideia ir ao baile. Veja o horário, querida. – Falou sem ao menos se virar para vê-la. Não precisava de fato, pois o barulho do arrastar da cadeira lhe tremia os nervos. – Nunca aprende... – Resmungou sentindo a cabeça latejar com o ruído – O café está pronto, tem cinco minutos antes de partir para o salão de beleza. – Informou finalmente dando-a devida atenção.

A carranca formada em seu rosto ao vislumbrar a face branca e aparentemente sem vida da filha não poderia ter sido pior. A dama desviou o olhar sentindo as esferas castanhas da mãe lhe estudarem avidamente. Por fim, a mulher de meia idade se juntou a ela para o café, preferindo não comentar sobre o péssimo visual que via em sua frente. O silêncio lhes era bastante costumeiro, não sendo assim uma surpresa que a dama não tivesse destinado qualquer "bom dia" para a mãe.

– Como está Custer? – Perguntou tentando estabelecer um mínimo diálogo com a filha.

– Vivo – A outra respondeu, sentindo o amargo do café puro passar quente e quase insuportável por sua garganta.

– Até quando continuará falando assim? – Perguntou arqueando as sobrancelhas – Não lhe dei educação para isso... – Bufou inconformada.

– Parece que precisará ouvir meus insultos ao coronel apenas até este instante, afinal quando o sol se pôr não morarei mais aqui. – Respondeu tomando um último gole do líquido marrom e tornou a arrastar a cadeira propositalmente e saiu. Não gostava de ser grossa daquela maneira, mas já não se importava de fato.

– Volte aqui! Estou falando com você! – Ainda conseguia ouvir a mãe a chamando da cozinha, mas não daria meia volta, não havia mais motivos para discussões.

O ar gélido de Washington logo lhe beijou assim que a porta da casa foi aberta e como sempre o bom e velho James Milk a aguardava em frente ao automóvel – se é que podia chamar aquela engenhoca movida a um motor de quatro tempos de veículo – mas, embora achasse as modernidades um tanto estranhas não se opôs a subir quando o motorista deu-lhe a mão em ajuda.

– Bom dia, senhorita. – Ele a cumprimentou se ajeitando no lugar do motorista para seguirem viagem.

– Bom dia, Sir. James – A dama devolveu o cumprimento, não se importando de chamá-lo pelo primeiro nome.

– Sua mãe me deu ordens de que a levasse até a 5ª Avenida, está correto? – Perguntou apenas pelo costume, sorrindo brevemente ao ver a dama revirar os olhos.

– Por mim iriamos até Oregon, talvez até Michigan – Exclamou fazendo o motorista rir por tal possibilidade passar na cabeça dela. – Mas sim, James... me leve até lá. – Suspirou sentindo o automóvel se movimentar em direção ao seu destino.

Qualquer lugar longe o suficiente de Washington lhe faria bem naquele dia. Qualquer um, até mesmo Minessota lhe ocorreu como opção, onde não havia rastros de muita civilização e onde a neve cobria a cidade inteira. No entanto, respirou profundamente desgostosa ao ver que Sir. James não poderia lhe salvar daquele infortúnio.

As ruas de Seattle – como era conhecida a mais bela cidade do estado – não lhe pareciam mais convidativas e as damas que percorriam as calçadas de pedras cinzentas lhe causavam náuseas.

– Abutres – Ela resmungou baixinho, ouvindo ainda a uma certa distância as risadas histéricas e vendo os pulinhos de alegria que davam as donzelas em frente as inúmeras lojas de vestidos.

A verdade era que para a dama em questão elas não passavam de caças maridos. Todas acompanhadas de suas mães de onde herdaram famigerada vontade de se casarem e constituir família, as quais na maioria das vezes eram por questões financeiras. Estava irritada pois embora odiasse tudo aquilo, a própria não passava de mais uma delas. Detestou estar naquela mesma condição.

Seu único alívio em meio aquela vida regada a pompa, laços, fitas e bailes era Olívia a irmã mais nova, a qual se lembrou de ter escutado a voz logo que acordou. A jovenzinha era três anos mais nova, tendo então pelo menos alguns anos de vantagem sobre ela no quesito casamento, teria tempo de escolher um marido decente quando chegasse a hora de debutar.

Seus devaneios foram interrompidos pelo frear brusco do automóvel e ao olhar para os lados entendeu que havia chegado ao destino. O estabelecimento mais parecia um grande casarão de festas, o que em sua opinião era um exagero para um mero salão de beleza. No entanto, quem era ela quando o dinheiro era algo que quanto mais se tinha mais se gastava? Além disso, de acordo com as palavras de sua mãe todas as damas adoravam estar naquele lugar luxuoso.

A recepcionista logo veio recebê-la segurando o sobretudo nas mãos e a acompanhando até o segundo andar. Por dentro era mais do mesmo, plumas enfeitavam o ambiente assim como grandes jarros de flores em tom púrpura jaziam pelos corredores em preto e branco. Estava lotado, fazendo a dama se perguntar porque havia aceitado a sugestão da mãe.

A mulher que veio lhe atender sorriu abertamente indicando onde ela devia se sentar, a enchendo de perguntas que terminaram – a maioria – sem respostas. Não tinha de fato pensado no que queria para aquele dia, dando de ombros quando foi questionada sobre o penteado. A cabeleireira não escondeu a surpresa ao ver uma noiva tão despreocupada com o dia do casamento e, por fim, acabou fazendo o seu melhor.

O melhor dela fora vislumbrado horas mais tarde pela dama que já vestia um longo vestido branco. Pouco volume, ela lembrava de ter feito aquele único pedido e que ao observar o bolo o qual vestia tinha certeza que fora ignorado. As mangas bufantes estavam na moda foi o que o estilista dissera e a renda que cobria o cetim ia das mangas até o pescoço fazendo-a se sentir sufocada.

Sufocante era exatamente a palavra que procurava para descrever aquele dia. O cabelo era o que a seu ver havia ficado mais bonito no conjunto inteiro, as ondas do castanho-escuro foram presas em uma espécie de coque lateral enquanto os fios mais rebeldes insistiam em cair sob sua testa. Uma presilha brilhante prendia as melenas e abaixo dela estava o véu que acompanhava o tamanho do vestido.

– Está radiante – A moça que a ajudava a se vestir comentou ao finalizar as amarras do corselete do vestido.

Ignorou o comentário tentando afastar a dor que sentia do aperto que o vestido lhe causava. O busto que não era de maneira algum vantajoso parecia ter o dobro do tamanho com tanto pano posto sobre ele. Os pés davam sinais de que não aguentariam outra noite de danças a fazendo quase se xingar mentalmente por ter ido ao baile na noite anterior, embora não estivesse arrependida de nenhuma maneira.

– Enviaram um bilhete de sua casa, senhorita – A ajudante tornou a falar – Já estão a caminho da igreja. Aguardam apenas a sua chegada.

Concordou com a cabeça não conseguindo falar mais nada dali adiante. Seu corpo parecia ter entrado em automático, e sua mente dava indícios de que precisaria de muitas taças de champanhe para suportar aquela noite. Caminhou para a sacada aproveitando a vista privilegiada do local. O sol já despontava se despedindo e deixando que as luzes da esmeralda de Washington iluminassem todo o recinto. Fechou os olhos por instantes criando coragem para fazer o que tinha que ser feito.

Sir. James já a aguardava novamente e seu coração tremeu ao lembrar que aquela seria a última vez.

— Senhorita... está magnífica – Ele disse com visível lágrimas em seus olhos e ela não deixou de lhe sorrir, embora o sorriso não tenha alcançado verdadeiramente os olhos castanhos da dama.

O casacão de pele branco lhe aquecia do clima gélido. A temperatura havia despencado e o céu se tornara um misto de uma opaca escuridão e nuvens cinzas. Tudo lhe parecia conspirar de maneira fúnebre, sem cor, desprovido de sinais de felicidade.

A distância do salão até a igreja não era extensa não lhe dando tempo de pensar em alguma saída, haveria de aceitar aquela sina. Embora tenha nutrido certas esperanças de início, o coronel não lhe era de fato a melhor das escolhas, mas não havia de fato escolhido ele. Seu coração apertava ao lembrar-se do pai oferecendo seu dote ao coronel Custer em troca de um posto melhor na cavalaria dos militares. A família fez o possível para que o noivado dos dois não parecesse uma mera troca de interesses financeiros postergando por longos meses os bailes e passeios para que todos pensassem que estavam de fato apaixonados. Não conseguia evitar sentir o desgosto de se casar daquela maneira, era exatamente tudo que sempre havia odiado na burguesia.

Lhe causava aversão profunda do noivo ao lembrar-se também das palavras que ele dissera depois da tal proposta do pai, "Ela será o enfeite perfeito". No fim, ela sabia que a maioria – se não todas as mulheres – não passavam disso nas mãos asquerosas daqueles homens de poder. Eram elas quem lhes concediam status e inúmeras posses, no entanto, apesar de desfilarem com as belíssimas esposas nos eventos importantes não era com elas que passavam o fim de suas noites.

Outra vez foi tirada a forças de seus pensamentos ao avistar as luzes da igreja. Uma pequena multidão estava em frente aos portões e logo que avistaram o pontinho branco que era feita a dama, trataram de correr para dentro do lugar sagrado. O único que restou foi o pai, este que a aguardava com um singelo sorriso no rosto. Ele de fato exalava felicidade, e ela embora não sentisse nenhum resquício daquele sentimento lhe sorriu e aceitou o abraço que ele lhe dava.

– Está pronta? – Ele perguntou lhe estendendo o braço.

Ela não estava, nunca estaria. Uma lágrima escapou pelo rosto claro deixando marcado o rouge que dava cor a pele pálida. Estava destroçada por dentro, e sentia falta do irmão naquele momento, ele com toda certeza não teria permitido que chegasse àquele ponto. No entanto, não era mais hora de murmurar ou pensar no que poderia ter sido feito de diferente, então concordou afirmativa sentindo um nó se formar em sua garganta ao ouvir o som da marcha nupcial tocar. E logo as portas se abriram.

Seu nome era Elizabeth Davis, e naquela noite sentiu que não era mais a mesma. 



+ 1 capítulo pra deixar vocês felizes. Me contem o que estão achando, estou bem animada com essa nova história <3

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