•Capítulo Trinta e Um•
Antonella
A porta da cobertura se abriu e Simona entrou alarmado. Corri para ele, me jogando em seus braços, que me rodearam e me apertaram contra ele.
— Ela morreu! Simona, Maggie morreu! — exclamei desesperada me afastando para olhá-lo nos olhos.
Minhas mãos agarraram um punhado do seu paletó, ignorei o curativo na palma da mão direita, o balancei com toda a minha força, como se isso fosse me ajudar a esquecer essa dor horrível dentro de mim.
— Shh...shh... Meu bem, eu sei, eu sei. — ele disse, tentando me deixar calma.
Desatei a chorar e me apertei contra ele, esquecendo os soldados ali e Nicola, que permanecia calado na porta da cobertura.
— Ela morreu por minha causa, me protegendo! — falei entre soluços, enterrando o rosto em seu peito. — Maggie! — chamei, como se isso fosse ajudar a trazê-la de volta.
Era como se ela fosse entrar pela porta da cobertura a qualquer momento e zombar de mim. Queria tanto não ter saído da cobertura, talvez isso não tivesse acontecido se eu tivesse ficado quieta.
— Ma-Mag... — solucei seu nome, me apertando contra Simona como se ele fosse a minha tábua da salvação.
— Antonella, meu anjo... — Simona disse, acariciando os meus cabelos. Podia ouvir a tristeza na sua voz. — Você precisa descansar, passou por muito hoje.
Apenas concordei. Queria esquecer aquilo, esquecer que perdera a minha única amiga.
Simona me pegou em seus braços. Fechei os olhos, já sentindo a névoa do sono me tomar. O médico da famiglia me deu dois comprimidos, disse que eram calmantes e me ajudaria a dormir.
Simona me levou para o quarto, onde me deitou na cama e me encobriu, se deitando ao meu lado por cima das cobertas. Sabia que ele ainda tinha muito o que fazer.
Me virei para ele, o abraçando com força, inspirando o cheiro calmante.
— Eu sinto muito. — funguei, mais lágrimas deixando os meus olhos. — Eu fui fraca demais e não consegui ajudá-la.
Simona beijou os meus cabelos, cantarolando baixinho uma música de ninar.
Fechei os olhos e adormeci, caindo em um sono profundo e sem sonhos, “nem pesadelos”.
•••
Quando acordei no outro dia, estava sozinha na cama. Foi então que os acontecimentos da noite passada voltaram como uma avalanche na minha mente. O homem, Maggie, sangue.... Eu matei um homem! E Mag...
Engoli em seco, meus olhos enchendo de lágrimas ao me lembrar da minha amiga — morta.
Me sentei devagar, ignorando aquela sensação estranha dentro de mim. Era como se Mag estivesse viva e bem, mas eu a vi morrer, bem na minha frente. Maggie morreu para me salvar.
E onde estava Simona? Achei que ele ficaria comigo em um momento como esse, afinal, Maggie também era amiga dele, a mais tempo do que eu até.
Me levantei e fui escovar os dentes e tomar um banho. Assim que terminei, vesti uma das camisas de Simona e fui para fora do quarto, ouvindo o som de vozes no andar de baixo. Estava descendo a escada, a voz de Simona cada vez mais perto a cada passo enquanto eu me aproximava.
— Não, vamos esperar e ver o que vai acontecer. Eu não quero que ela sofra mais... — ouvi Simona dizer e logo depois a voz de Nicola.
— Você sabe que isso é errado, ela é am...
— Simona? — chamei assim que entrei na sala.
Nicola estava sentado no sofá um pouco mais afastado de Simona, que estava sentado na outra extremidade.
Os dois viraram para me olhar, Simona assustado por algum motivo — que eu não soube dizer porquê — e Nicola com um olhar de impaciência.
— Ei. — chamou, estendendo a mão para mim.
Fui até ele e me sentei no seu colo, me sentindo reconfortada, mesmo que a dor da perda batesse fundo dentro de mim.
— Tenho boas notícias. — ele disse, lançando um olhar de reprimenda em Nicola quando ele bufou. — Sua mãe está com Paolo na antiga casa de vocês, ela poderá te visitar qualquer dia que você quiser, agora não temos mais Mirko no nosso caminho.
Sorri amarelo para ele. Eu queria muito ver a mamãe, mas não agora. Naquele momento queria apenas descansar e ficar com Simona.
— Tudo bem. — foi a única coisa que eu disse.
Simona fez um barulho com a garganta, seus braços firmes em volta de mim. Ele olhou para Nicola, parecia decidir se me contava alguma coisa ou não.
— Meu anjo. — começou, olhando para o meu colo. — Tenho que te contar uma coisa sobre Maggie.
Olhei em seu rosto, confusa com o que ele queria me contar.
Fiquei calada esperando, não o apressaria a me contar nada.
— Maggie trabalhava para mim.
Franzi o cenho perplexa. Trabalhava como?
Várias idéias nada boas começaram a passar pela minha cabeça, mas então me lembrei que Mag dera a vida para me salvar.
— Como assim? — perguntei confusa.
— Maggie era uma assassina de aluguel antes de vir trabalhar para a famiglia. — Nicola tomou a frente. Então tudo começou a fazer sentido, as insinuações de Maggie na academia, sua habilidade na luta que eu presenciei no banheiro. — Ela tem uma irmã, Julia Sanders de dezoito anos, que atualmente está morando em New York sob a proteção de Luke Booth, o subchefe de N.Y.
— Maggie se envolveu em sérios problemas com uma facção criminosa de lá, colocou Julia em perigo automaticamente e se setenciou a morte quando matou o cabeça da facção. Ela teve que deixar New York e veio procurar asilo aqui, foi quando nos conhecemos. — Simona disse.
Aquilo tudo fazia tanto sentido. A tristeza nos olhos de Maggie quando ela falou sobre a irmã, sobre não poder vê-la, isso tudo era tão surreal!
— Então nós fizemos um acordo, claro, com a permissão de Tommaso que era o Capo na época, e colocamos Julia sob a guarda de Luke lá em New York, em troca, Maggie trabalharia para a máfia. — eu já tinha entendido tudo, tudo, apenas pelo olhar que ele me deu. — Antes de nos casarmos eu já tinha conversado com Maggie para se aproximar de você e fazer amizade, sabia que uma amiga seria bom para você se adaptar, mas ela também era sua segurança particular, você estaria mais segura com alguém como Maggie ao seu lado enquanto eu estivesse fora.
— Então... Ela não era a minha amiga? — engoli o bolo que estava se formando na minha garganta. Não conseguia aceitar que aquilo fora tudo uma farsa, Maggie era a minha amiga, de verdade! Minha única amiga!
— Vocês criaram um laço muito forte nesse último mês pequena. — Simona tranquilizou-me, colocando uma mecha de cabelos atrás de minha orelha. — Ela é sua amiga, sim.
“Era”. Maggie não está viva mais e isso é culpa minha.
— Eu... — Suspirei pesadamente. — Eu matei o homem que me atacou.
Olhei para Simona, vendo quando ele franziu o cenho perplexo.
— Ele estava em cima de Maggie e a tinha esfaqueado. Eu achei que tinha alguma chance para ela sobreviver se eu o matasse... Eu não iria ficar vendo ele esfaqueando Mag e não fazer nada para ajudá-la! — minha voz estava trêmula, as palavras saindo emboladas, rápidas demais.
— Eu sei meu bem, eu sei. — Simona disse acariciando a minha bochecha. Ele beijou os meus lábios demoradamente, me fazendo esquecer um pouco do desastre que estava a minha vida. — Meu anjo. — disse quando se afastou. — Eu tenho que ir, resolver tudo isso. Vou deixar alguns homens tomando conta do prédio.
Saí do seu colo e engoli em seco, não querendo chorar como um bebê porquê ele ia sair.
Nicola também se levantou e foi para fora da cobertura, eu segui Simona até a porta, me encostando na mesma quando ele saiu.
Simona me lançou um sorriso enquanto entrava no elevador com Nicola e me deixava ali sozinha, cheia de dor e angústia.
•••
Estava olhando para o teto naquela tarde, me lembrando de toda a merda que acontecera em menos de vinte e quatro horas.
Era tão irreal como as coisas mudaram tão rapidamente. Ontem, nesse mesmo horário eu estava com Mag no shopping, rindo e fazendo compras, e agora estou aqui, isolada dentro dessa cobertura imensa pensando no funeral da minha amiga.
Tinha que conversar sobre isso com Simona. Maggie tinha comentado que se por via das dúvidas ela morresse, iria querer ser enterrada em um caixão roxo.
Franzi o cenho pensando mais sobre aquilo. Talvez Maggie soubesse disso e aceitasse isso, ela falava da morte como se fosse algo natural, normal. Morrer não é normal para mim, porquê a gente só morre uma vez e não tem mais nenhuma chance de voltar a vida e tentar tudo de novo.
Sorri ao me lembrar de uma conversa com Maggie em um dia que saímos para correr, tínhamos aproveitado que ainda era cedo e tínhamos acabado de sair da academia....
“— Correr é bom para o cárdio. — Maggie comentou enquanto corríamos a beira da praia mais movimentada de Palermo.
Nossas respirações saíam em bufos e estávamos mais do que suadas, parecia que rios e mais rios de suor desciam pelos nossos corpos e abdômens nus.
— Você já me disse isso umas cinco vezes. — respondi com um sorriso.
— É sempre bom lembrar, boa saúde em primeiro lugar! — Maggie deu um gritinho animado, pulando enquanto corríamos. — Rimou!
— Oh! — exclamei zombeteira. — Eu não percebi isso, Mag!
Maggie revirou os olhos, fazendo sinal para pararmos.
Ofegantes, fomos nos sentar em um dos bancos de concreto de frente para a praia.
— Olha, não é por nada não, mas eu acho que se eu morresse e esse negócio de reencarnação fosse verdade, eu voltaria como uma linda cadela corredora.
Olhei para ela de sombrancelhas erguidas.
— Uma cadela? — balancei a cabeça negativamente. — Eu acho que eu voltaria como um esquilo.
Maggie gargalhou, suas mãos repousando nas coxas fortes.
— Um esquilo? — Mag revirou os olhos com um bufo. — Fala sério irmãzinha, você está mais para aqueles gatos sem pêlos, como se chamam mesmo?
Acertei um tapa no seu braço, rindo.
— Mag! Que horror! Eles são feios, muito feios!
— Não, minha querida. São elegantes e cheios de charme, eles também tem esse olhar hipnotizante que você tem. — ela piscou para mim, um sorrisinho sacana nos seus lábios.
Revirei os olhos, a abraçando quando aquele sentimento familiar de amor fraternal me brotou dentro de mim. Maggie retribuiu o meu abraço por um momento e depois se afastou, se levantando no banco.
Ela se alongou, um sorriso largo em seus lábios quando ela me desafiou: — Vamos ver quem chega primeiro no prédio? Pago uma pizza!
Me levantei rindo e nós duas saímos correndo, apostando uma corrida acirrada e espantando as pessoas que passavam na rua com a nossa gritaria — pouco feminina”.
Enxuguei uma lágrima teimosa que correu pela minha bochecha. Com Mag eu tinha apenas boas lembranças. Esse mês que passara com ela fora o mais feliz de toda a minha vida. Maggie me ensinou a ser uma mulher forte, me deu broncas, me divertiu e também enfiou a cara em coisas gordurosas comigo. Não importa o quanto eu esteja sofrendo, eu sei que ela está feliz por tudo o que fez, e não acho que está brava comigo.
A campainha tocou e eu me sentei assustada no sofá.
De cenho franzido, fui atender a porta.
Assim que a abri meu coração saltou forte, estava surpresa com aquela visita.
Olhei para Marta perplexa, a mulher de olhos castanhos claros me olhava com um sorriso estranho. Engoli em seco ao ouvir a sua voz, segurando o arrepio que subiu pela minha coluna quando ela disse:
— Olá, querida nora.
Até mais meninas!
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