•Capítulo Três•
Simona
Olhei de volta para a janela em busca da garota que vira a pouco me observando,e não a vi.
Me senti frustrado,mas não entendi o porquê.
— Acho melhor entrarmos. — Nicola disse ao meu lado. Desviei os olhos da janela e olhei para ele. — Mirko já vem.
Olhei para a porta da casa bem a tempo de ver Mirko a abrindo.
— Vamos.
Andei até lá com Nicola ao meu lado. Ao chegar na frente de Mirko,o olhei devagar. Por algum motivo,não gostava desse homem.
— Simona! Seja bem-vindo a minha casa. — disse se colocando de lado.
Passei por ele sem dizer nenhuma palavra e olhei ao meu redor. Era uma casa modesta,mas bem grande. Eu estava na sala,onde o chão era coberto por um tapete e a minha frente tinha dois sofás bem cuidados e uma poltrona preta.
— Mirko. — cumprimentei com um aceno de cabeça.
— Venha por favor,sente-se e descanse enquanto o jantar fica pronto. — Disse apontando a poltrona. Mas eu passei direto por ele e me sentei no sofá,não era igual a ele que gostava de mostrar superioridade aos "seres inferiores",e tinha certeza que ele pensava assim.
Nicola se sentou ao meu lado,o sorriso de deboche em seus lábios a todo momento.
Olhei ao meu redor mais uma vez. Eu não conseguia confiar em ninguém,nem mesmo em Nicola,e não ia começar por esse velho louco.
Mirko se sentou na poltrona e cruzou as pernas,seus olhos verdes me olhando com ansiedade.
— E então,como andam os negócios? — sua pergunta me irrita. Ele é a porra de um velho fodido,e caralho, só de estar na presença dele já me sentia mal.
A imagem da linda menina na janela voltou com tudo. Com certeza aquela era Antonella. Mesmo na escuridão e tão longe de mim,pude ver seus olhos brilhando com lágrimas e isso me pareceu errado,muito errado. Ela tinha um rosto de anjo,e anjos não choram.
— Bem. Chega de suas ladainhas. Onde está a garota? — ele percebeu o quão nervoso e impaciente eu estava e riu tentando desviar do meu olhar.
— Oh! Vamos devagar,chefe. Ela já descerá para que vocês possam se conhecer melhor.
Me recostei no sofá e olhei atrás de mim,vendo o início da escada. Só queria ver a garota e ir embora para a minha cobertura,tomar mais do meu uísque e relaxar. Essa casa carregava uma tensão negativa demais,até mesmo para mim.
Uma mulher, a esposa de Mirko,entrou na sala. Assim que ela me viu parou e abaixou a cabeça,juntando as mãos na frente do corpo. Me levantei e andei até ela,vendo como estava tensa. Com certeza Mirko não era um bom marido.
Segurei a mão dela e a levei até os meus lábios,deixando um beijo lá. Eu podia ser a porra do subchefe,mas isso não me impedia de tratar bem uma mulher, diferente de Mirko que era um mero capitão e se achava o dono da porra da máfia.
Ela levantou seus olhos para mim,pude ver o quão maravilhada estava com meu gesto. Sorri para ela,um sorriso que mostrava a poucos.
— Simona Carbone. É um prazer vir jantar em sua residência. — ela sorri para mim de volta,mas quando vai falar ela olha atrás de mim e fecha a boca,tirando a mão da minha e volta a baixar a cabeça.
É claro que Mirko estava atrás de mim.
— O jantar está pronto. — ela disse com a sua voz contida. — Eu vou chamar Antonella.
— Até que enfim! — Mirko exclama passando por mim. — Vamos,vamos nos sentar a mesa.
Olho para Nicola atrás de mim e ele compartilha o meu olhar. Ódio. Mirko é capaz de fazer qualquer um odiá-lo com apenas algumas palavras.
O seguimos até a mesa do jantar e nos sentamos,eu ao lado de Mirko e Nicola ao meu lado.
Todos estavam silenciosos,e era assim que eu preferia que fosse,silencioso,ainda mais com alguém como Mirko por perto.
Comecei a batucar meus dedos em cima da mesa,me sentia impaciente. Uma olhada em Mirko e vi que ele estava ficando nervoso com o barulho do tamborilar dos meus dedos na mesa. O encarei,estreitando meus olhos. Queria que ele dissesse qualquer coisa,por pequena que fosse. Mas é claro que ele não fez isso. Mirko era um velho metido a macho, mas não era burro.
Talvez ele mereça que eu mostre o quão superior a ele eu sou.
Passos na escada me chamaram a atenção. Virei para encarar a entrada da sala de jantar bem na hora que a mulher de Mirko entrou. Ela se colocou de lado,e meus olhos encontraram "ela",a menina da janela.
Minha boca secou e foi como se eu tivesse levado um soco no estômago. Não conseguia parar de olhá-la.
Uma menina,uma adolescente com certeza.
Antonella vestia um vestido vermelho e curto,agarrado a cintura fina e as coxas magras,seus seios eram pequenos,talvez os menores que já vi em toda a minha erma existência. Sua pele pálida,seus braços finos e delicados. Porra,tudo nela é delicado. Mas apesar de tudo,esse vestido não combina com ela, simplesmente não é como se ela gostasse desse tipo de roupa. Olhei para o seu rosto e prendi o fôlego.
Nicola estava certo quando disse do quão bela ela era. Apesar de toda a maquiagem que cobria seu rosto,ela era linda,delicada,como uma flor. Seus olhos de um verde escuro,aquele verde que de longe,podemos confundir com castanho quase preto.
Estreitei os olhos quando percebi uma coisa diferente. Seu lábio. Seu lábio inferior, tão lindo e delicado como ela,estava cortado.
Soltei a respiração como um búfalo enraivecido,a tensão borbulhando debaixo dos meus músculos instantâneamente.
Por que caralho,o lábio dela estava cortado e inchado?
Olhei para Mirko, sério. O homem sorria,cheio de si,mas quando percebeu a minha expressão ficou quieto. E porra,eu queria arrancar a mão dele fora. Como ele tinha coragem de bater em uma menina,tão delicada como Antonella? Como ele tinha coragem de bater em uma mulher?
Quando voltei a olhar para Antonella,pude ver que ela segurava as lágrimas. Tomado por um sentimento que até então desconhecia,me levantei. Antonella juntou as mãos na frente do corpo e abaixou a cabeça. Um gesto de submissão.
Franzi o cenho. Meu estômago revirou.
O que Mirko fizera para essa garota agir assim?
Andei até ela e segurei a mão delicada,vendo o contraste diferente da sua pele tão pálida e macia,com a minha ele bronzeada. Meus dedos roçaram a palma de sua mão e percebi os pequenos relevos incomuns. Ainda de cenho franzido,levantei sua mão para a minha boca e deixei um beijo ali. Mas diferente da mãe dela,ela não olhou para mim quando o fiz.
Respirei fundo com a sua reação. Com certeza,ela fora muito maltratada.
— Antonella. — experimentei seu nome na minha boca,e me assustei ao perceber que gostei do som.
Ela finalmente levantou seus olhos para mim,brilhantes e verdes,como duas esmeraldas escuras.
Seus cabelos fartos e escuros chacoalhando ao redor do seu rosto,me fazia querer enfiar a minha mão entre eles e puxá-los. Antonella, tão delicada,estava despertando esse estranho sentimento em mim,esse desejo de tocá-la,beijar seus lábios..
Balancei a cabeça ao me lembrar de que estava machucada. Ela soltou um suspiro trêmulo,e esse som pareceu percorrer todo o meu corpo direto para o meu pau. Era um pervertido,idiota. A menina com medo de mim,tremendo de medo na verdade,e eu com a porra de uma ereção.
Fechei os olhos e os abri novamente. Então me afastei. Esse era o único modo de manter a mente limpa. Preferia pensar no lábio machucado da adolescente do que na boca dela em volta..
— Senhor Carbone. — olhei para ela surpreso ao ouvir a sua voz. Baixa e doce,tão doce,como ela. Um anjo doce.
Cerrei o maxilar e recuperei a minha compostura. Dei uma olhada para a mãe dela e a mesma me olhava com os olhos brilhantes.
Com um aceno,me virei e voltei a me sentar no lugar que tinha ocupado. Nicola ao meu lado permanecia estóico,com certeza ele percebera também,na verdade,acho que até Mirko percebeu,mas como ele é um velho idiota,deve ter achado que fora satisfação sexual. E em parte fora. Mas também não era só isso,tinha mais,muito mais. Tinha Antonella.
Antonella
A comida desceu pela minha garganta como pregos,vários pregos embolados um no outro rasgando a minha carne. Peguei a minha taça e tomei um pouco de água para aliviar um pouco. A atenção "dele" estava completamente focada em mim. Simona não parava de me encarar enquanto jantavámos. Eu podia sentir seu olhar focado em mim. Mamãe ao meu lado também tinha percebido,e diferente do que eu achei que ela estaria,mamãe está muito animada.
Quando ela fora me buscar no quarto ela disse que ele era lindo. Isso eu sabia,o tinha visto da janela. Mas eu não esperava o soco no estômago quando o vi de perto. Era tão alto e forte,seu rosto esculpido em traços fortes e seus olhos tão azuis,os olhos mais lindos que eu já vira até agora.
Mas eu também percebera a expressão que cruzou seu rosto quando ele viu que meu lábio estava cortado. Ódio. Eu conhecia bem o sentimento,pois eu o sinto presente desde que posso diferenciar o branco do preto.
Aquilo me fez tême-lo. Afinal,papai vivia me olhando daquele jeito. Mas quando ele beijou a minha mão e sorriu,foi como uma flor no meio do caos. Me senti amada e importante,pela primeira vez na minha vida eu me senti assim,com Simona.
— Então..— papai começou. Não levantei meu olhar para ele,mas vi de relance Simona o olhando quando ele falou. —..para quando quer o casamento?
Continuei comendo,afinal,eu não era bem-vinda na conversa,mesmo sendo a noiva.
— Quanto tempo leva para preparar tudo..— molhei o lábio ao ouvir a voz de Simona.
— Elena. — mamãe completou animada.
— Bom Elena. Quanto tempo leva para preparar tudo? — perguntou Simona a mamãe.
— Alguns meses.
— Você terá tudo pronto em três meses?
Tomei o resto da minha água e engoli,sentindo meu coração bater forte.
— Sim. Será trabalhoso,mas terei tudo arranjado.
— Então está tudo bem. Daqui a três meses. — todos ficam calados e eu acho que o assunto acabou,quando ele fala de novo. — Que dia você prefere, Antonella?
Levanto meu olhar para ele perplexa. Ele pediu para mim escolher o dia do nosso casamento? É isso mesmo?
Olhei para mamãe e ela sorriu para mim.
Molhei o lábio inferior,bem em cima do corte e estremeci.
— Eu..— pensei em alguma data. — Dia 26,de..setembro. São três meses e mais alguns dias..e..eu..
— Está perfeito,menina. — ele piscou um sorriso rápido para mim.
Suspirei aliviada. Podia acabar falando um monte de coisas sem sentido se ele não tivesse me interrompido.
— Ótimo! — o pai exclamou da cabeceira da mesa. — Estamos muito ansiosos.
Mantive meu olhar no prato a minha frente. Seria punida mais tarde pelo pai por ter falado demais?
•
— Eu gostaria de ter uma conversa com a minha noiva em particular,e entregar o anel de noivado também. — Simona disse quando todos acabaram de comer.
Não levantei meus olhos para ele. Não. Papai me chamaria de vagabunda e tantas outras coisas se eu fizesse isso. E ainda mais,se eu fosse com Simona para um lugar, só nós dois..
— Claro. Vocês podem ir para a sala de visitas. Você tem alguns minutos, Carbone. — Simona nem se preocupou em retrucar.
Ele se levantou,colocando o guardanapo que estava em seu colo na mesa e deu a volta, parando na entrada da sala de jantar.
Me levantei devagar,descendo o vestido muito curto e indiscreto que vestia e o segui,as mãos na frente do corpo e a cabeça baixa.
O segui em silêncio até a sala de visitas,estava escura,iluminada apenas pela luz da lua que entrava pela grande janela. Simona andou até lá,suas mãos nos bolsos da calça,e parou,olhando para fora.
Fiquei parada na porta esperando.
— Venha cá. — sua voz era autoritária,mas não como a de papai. O pai cospia maldades,e já em Simona parecia..natural.
Andei até ele devagar,parando ao seu lado e olhei para fora também.
— Olhe para mim. — suguei o ar com força e levantei meu olhar para ele.
Era tão alto,minha cabeça batia em seu peito assim,um do lado do outro.
Seus olhos azuis estavam brilhantes na luz da lua,como um deus.
— Por que não fala comigo? — sua pergunta me deixa um pouco confusa.
Pisco várias vezes tentando achar alguma resposta para isso.
— Eu falarei quando for necessário..senhor. — meneei a cabeça e a abaixei de novo.
Por que estava tão confusa? Poderia acabar fazendo ele desistir de mim com a minha lerdeza.
— Simona. Por favor,apenas Simona. — concordei,minha cabeça ainda baixa. — Me diga uma coisa. O que causou esse corte no seu lábio?
Olhei para ele,meus olhos arregalados de medo quando ouvi a sua pergunta. Oh não. O que eu diria? E se ele fizesse alguma coisa e papai me punisse?
— E-eu caí. — me xinguei internamente depois do que falei. Isso era um tanto estranho e idiota de se dizer,a pior desculpa que alguém pode dar.
Simona continuou sério,seus olhos avaliando-me.
— Não,você não caiu. — ele se virou completamente para mim. Sua mão segurou meu queixo,me surpreendendo com a delicadeza que ele me tocou. — Seu pai te bateu,não é mesmo?
Olhei para o lado,já que era impossível abaixar a cabeça quando tinha ele segurando meu queixo.
Senti seu dedão no meu lábio inferior e meus olhos saltaram para ele. Estava surpresa. Por que ele estava sendo tão gentil comigo? Pena?
— Sim. Foi ele. — ele disse,respondendo a própria pergunta. Prendi o fôlego quando um sorriso rápido cruzou os seus lábios. Não era um simpático como ele me dera mais cedo,era cruel e sombrio.
Sem dizer mais nada,ele largou meu queixo e puxou a outra mão do bolso,a estendendo na minha frente. Uma caixinha preta de veludo bem no meio da sua palma calejada.
— Seu anel.
Peguei a caixinha da palma da sua mão e a abri,lá estava um anel fino folheado a ouro,um simples e único pequeno diamante no meio. Sorri,o mais breve sorriso e o peguei.
O estendi para ele,que me olhou confuso.
— Você pode..colocá-lo em mim,por favor?
As sombrancelhas de Simona se ergueram,mas ele pegou o anel da minha mão e segurou a mesma na sua.
Suspirei quando ele deslizou o anel em meu dedo,que coube direitinho,e se abaixou,deixando um beijo em cima dele.
Por que eu sentia que Simona não era o monstro que todos falavam?
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Até amanhã amores!
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