Capítulo 1 - LOW
ANOS ANTES DE CONHECER LUÍZA...
Acabo de voltar de uma das negociações mais fodasticas que já tive.
Quem diria que ser segundo chefe daria tanto lucro assim!
Desde a noite trágica que meu pai morreu que não sinto essa adrenalina na veia. Tá certo que aquele dia quase morri de overdose, mas ainda assim foi a primeira vez que fiquei pilhado e hoje negociando o próximo carregamento de drogas com Douglas na base dele cercado de caras armados e explosivos, posso dizer que estou em êxtase.
Se tem uma coisa que aprendi trabalhando com Blackout, meu chefe e amigo, foi que estamos nessa para o que der e vier, e que precisamos mostrar que não temos nada a perder e que sabemos o que queremos.
Claro que, tanto Black quanto eu, temos muito a perder, ele tem uma esposa e eu minha irmã e mãe, porém, ele me ensinou como negociar sem mostrar medo e fazer o outro lado comer na sua mão. Foi exatamente assim que cheguei na base de Douglas, com dois dos meus caras, John e Brian, e apenas uma 38 na cintura que não pretendia usar. Como previsto fomos revistados e ficamos sem nossas armas durante a negociação. Somos fortes, porém estávamos em total desvantagem.
Mas é isso aí...
Negociei o melhor e maior dos carregamentos de drogas dos últimos tempos e de quebra conheci dois policiais que estão envolvidos... O carnaval é uma das épocas em que mais produzimos e nada pode dar errado. Os rapazes já foram se divertir com as garotas que escolheram no clube da Lua, mulher do Black, e eu estou indo passar o relatório do melhor trabalho já feito.
Estou tão distraído com meu ego que só percebo depois de ter batido, isso mesmo bati em algo, ou melhor, alguém. Uma alguém muito bonita por sinal.
Cabelos lisos e escuros, boca sexy pra caralho, um corpo pequeno, porém com as curvas mais deslumbrantes que já vi. Olho o corpo da garota e noto que não é da noite, está de calça jeans justa e uma regata que parece longa demais para ela, continuo observando e ela está mordendo os lábios deixando ainda mais rosados e seus olhos estão arregalados transmitindo o medo que está sentindo.
Só aí me toco o quanto idiota estou sendo de deixá-la jogada no chão e ficar só olhando. Estendo a mão para ajudá-la, ela se encolhe. Será que a machuquei? Ela é tão pequena posso tê-la machucado, coitada!
— Te machuquei moça?
— Não tenho nada para você, não me machuque. — É só o que ela repete, em pânico.
Não está machucada, só amedrontada. Olho novamente, e ela está apertando os olhos, como se eu pudesse sumir da sua frente assim. Poderia deixá-la em paz e ir fazer minhas coisas, mas considerando que são mais de 23h, e estamos em um lugar cheio de drogados e prostitutas, não seria nada bom para minha consciência deixar essa menina sozinha.
Respiro fundo. Estou vendo que meu humor vai mudar.
— Moça, não vou te machucar, só quero te ajudar, já que te derrubei sem querer.
Ela abre os olhos e estão cheios de lágrimas, isso corta meu coração ainda mais, lembro-me da minha irmã toda vez que aparece aqui para me convencer a sair.
— Moça, se te machuquei posso te pegar no colo, e te levo para um hospital aqui próximo.
Ela começa tremer e percebo que seu medo está piorando. Fico pensando em quais palavras usar para uma menina tão meiga como essa, mas acabo me perdendo em seus olhos azuis, são simples, sem maquiagem, porém me prendem, tem um brilho de inocência que me faz querer voltar a ser o jovem que fui antes da morte de meu pai, um jovem alegre e com coração de ouro.
Tem algo nessa menina que é muito errado e preciso ficar longe.
Como ela não se mexe, me aproximo para pegá-la no colo, então de algum modo ela se afasta e fica em pé... Nem pisco e ela já está na minha frente respirando com dificuldade e engolindo em seco... Dou um sorriso involuntário, mulheres normalmente correm para meus braços e essa simplesmente fugiu mais rápido que um foguete.
Garota esperta sabe que sou perigoso.
— Parece que está bem. — Cruzo os braços, ainda a avaliando.
— Desculpa ter esbarrado em você. — Sua voz sai trêmula e ela passa as mãos sobre os braços. — Só quero achar a estação de trem e ir embora, não quero incomodar e não tenho nada que você queira.
Ela está bem enganada quanto a isso, meu corpo bem que ficaria contente de estar nu com ela em outro lugar, e eu ficaria contente em escutá-la gemer meu nome, mas claro que não vou dizer isso a ela, e também sei que ela não é mulher para mim. É inocente demais, dá para ver!
— Perdida, pelo jeito — digo relaxado para tentar deixá-la a vontade.
— Olha moço, não tenho nada para você...
— Porra, menina não quero nada seu! Se eu quisesse já tinha pego. — Sem perceber, acabo explodindo, e ela engole em seco desesperada olhando para os lados. Procurando uma fuga, com certeza.
Droga, não quis assustá-la ainda mais, não sei porque está aqui e menos ainda porque isso me interessa, mas não é justo.
— Desculpa... — digo respirando fundo tentando me acalmar, e passo a mão na barba que está maior que o normal.
— Só estou dizendo que não ten.. — Um passo a alcanço, e seguro pelo braço.
— Se quer que eu te ajude, para de falar "não tenho nada" — falo baixo e sei que ela está com mais medo. — Não quero nada seu, não te conheço, mas estou disposto a ajudar. — Sei que estou sendo intimidador, mas se ela continuar, vou esganá-la. — Estamos entendidos, moça?
— Si... Sim — gagueja, e solto seu braço.
— Ótimo, então vamos do começo. — Afasto um pouco. — Sou Low, e você princesa?
— Sou... Sou... Sou, Karen.
— Karen, bonito nome. — Sei que está mentindo, mas prossigo. — O que faz aqui essa hora da noite, e sozinha?
— Eu tinha que encontrar uma amiga, e acabei me perdendo — diz olhando para os lados. — E quando tentava voltar para a estação me roubaram o celular e a bolsa. — Aperto a mão ao lado do corpo, é típico isso aqui, os caras abastecem suas drogas trocando mercadorias roubadas.
Fico furioso, porém a culpa é minha por alimentar o vício desses trombadinhas.
— Olha garota, você é muito bebê para estar por aí so...
— Como se atreve me chamar de bebê? — me interrompe, perdendo o medo. — Tenho mais de 18 anos.
Fico perplexo com sua audácia, ninguém aqui se atreve a me desafiar ou mesmo me interromper.
— Certo, Karen — digo o nome ridículo que ela deu. — Você não é bebê, é uma mulher. — Olho-a descaradamente, e ela fica vermelha.
Droga, isso me deixa duro pra caralho, claro que não é por ela, sim por ainda não ter trepado hoje.
— Então está perdida, sem dinheiro ou comunicação — digo tentando parecer mau.
— Como você é um gênio — diz sendo sarcástica e revira os olhos, e ao invés de me deixar irritado, acabo gostando. Essa menina é mesmo atrevida.
— Muito bocuda para quem está à mercê de um estranho — digo em voz baixa, intimidando-a.
— Um estranho que disse que me ajudaria.
— Outra ingenuidade sua, acreditar em alguém desse lugar. — Ela volta engolir em seco e dou risada. Adoro estar por cima. — Vou te levar à estação. — Aponto para ela ir na frente, assim posso ver melhor sua bunda nessa calça, porém a idiota não se mexe. — O que foi agora? — pergunto impaciente, e olho novamente seus olhos hipnotizantes.
— Como sei que posso confiar em você? — Passa novamente as mãos sobre os braços, e percebo que não é só nervoso, está com frio.
A noite é bem fria aqui na região, porém com o efeito das drogas não sentimos nada. Olho para ela pensando que poderia ser minha irmã e me faço seu protetor.
— Você tem duas opções, confiar em mim e me seguir ou me deixar ir e tentar sozinha. — Ela faz menção de dizer algo, e como parece teimosa como AnJu, tento outra abordagem. — Porém, você está sem dinheiro, comunicação, documentos e sozinha num lugar como esse.... — Não finalizo de propósito. — Tem cinco segundos. — Cruzo os braços, e começo contar. — Cinco... Quatro... Três... Do...
— Táááá, vou com você — diz toda marrenta. — Mas que fique claro que não sou sua amiga. — Passa por mim.
Vejo sua bunda redonda e empinada e minha mão coça. Por pouco não lhe dou um aperto gostoso. Cara preciso mesmo de uma das meninas hoje!
— Longe de mim exigir algo assim de você, Karen. — Fico ao lado dela. — Está indo para o lado errado. — Ela para de vez.
— Você apontou para cá. — Vira ficando centímetros da minha boca.
— Sim. — Passo por ela e paro em uma das cabanas. — Marlon. — Ele ainda deve estar lúcido.
— Que é mano, eu... — Para de falar, está com o nariz cheio de pó. Me encara espantado. Olho para "Karen", ela está mais espantada. — Low? É você? O que precisa? — diz pronto para matar se eu pedir.
— Uma jaqueta para a moça, tamanho P, ela é pequena demais.
— Não sou pequena, e uso M para seu governo. — Protesta, e começo me acostumar com isso.
— Vai deixar essa va... — Seguro seu pescoço, fazendo-o calar a boca.
Marlon é um dos poucos usuários que eu gosto, já tentei recruta-lo, mas o cara não consegue manter a linha. É normal usarmos palavras baixas para se referir as mulheres aqui, porém, quando se refere a mulheres dos chefes, como eu, o respeito é total, mesmo se for uma vagabunda qualquer.
— Não te pedi opinião, tem ou não o que eu quero?
— Sim — diz baixo por eu estar apertado seu pescoço. — Vou descolar. — Solto-o, ele se ajeita e entra na cabana. — Essa acabei de descolar. — Mostra uma jaqueta na embalagem e com etiqueta, ergo a sobrancelha e ele dá de ombros. — Um amigo descolou do shopping.
— Deve servir. Veste. — Dou a ela. Olho Marlon. — O que quer em troca?
— Isso vale muito. — Aponta a jaqueta que ela ainda não colocou. — Pelo menos uma semana e duas noites na Lua.
— Te dou três dias, e uma noite. — Ele aceita. — Ahhh, vê se toma banho as garotas não gostam de mau cheiro, sabe disso, descola um perfume, sei lá — digo saindo, a moça me encara. — O que foi? Não gostou da cor? É um pink ridículo, eu sei, mas está com frio... Até a estação vai congelar — digo passando por ela.
— Não posso pagar.
— Já está paga — digo, ela me segue. — Só veste, foi caro, Princesa.
— Não me chama assim — diz irritada. — Já disse meu nome.
— Claro, Karen, não é!
— Sim. — Coloca a blusa e fica ao meu lado. — Não sei como, mas vou te pagar. — Abaixa o olhar, sem graça. — Obrigada, por enquanto.
Sinto uma tentação corroer minha veia. Ela simplesmente é muito bonita e isso me deixa mal.
— Eu me sentiria pago se me dissesse seu verdadeiro nome. — Ela me encara, muito vermelha. — Mentir para o diabo é difícil, querida. — Dou meu melhor sorriso.
— Você não é isso. — Seguimos em silêncio pelo meio dos viciados.
Chegamos à estação de trem, onde vou deixá-la ir para nunca mais vê-la. O que é muito bom, não é para mim essa meiguice toda, mas eu queria pelo menos saber seu verdadeiro nome. Será que é Larissa? Isabelly? Beatriz? Sei lá, ela tem cara de Isabelly. Meiga como uma Isabelly...
— Seguinte, não te conheço e não sei nem mesmo seu nome, mas para seu bem, acho bom não sair desprevenida da próxima vez... Pode não encontrar alguém como eu no meio dessa multidão de perdidos. — Aponto a rua, onde saímos.
Ela olha, engole em seco e aperta a jaqueta no corpo, sei que ainda está com medo.
— Obrigada, Low — diz o nome que uso aqui. — Vou me lembrar de você e como disse vou te pagar de algum jeito.
— Não pode nem mesmo voltar para casa sem dinheiro. — Coloco a mão no bolso e lhe dou cinquenta reais para a passagem. — Volta para casa, garota.
— Não posso aceitar. — Nega com a cabeça. — Explico para o guarda, e ele libera a passagem.
Conheço os caras dessa estação de trem, eles não liberam porque aqui só tem drogado.
— Faz o seguinte — digo sem paciência. — Leva por prevenção, se liberarem, você volta aqui e devolve outro dia — falo por falar, sei que vai usar e que não vou vê-la de novo.
Ela assente devagar, e pega a nota da minha mão. Faço questão que nossos dedos se toquem apenas para provocá-la, porém logo me arrependo. Sinto algo estranho passando por meu corpo indo direto para meu pau. Definitivamente, preciso dessa mulher longe.
— Até mais, Low — diz afastando.
— Até nunca. — Não completo por não saber seu nome de verdade.
Saio da estação me sentindo estranho, estou bem por ter ajudado uma moça tão inocente a sair desse lixo, mas ao mesmo tempo estou com a sensação de perca. Sei lá.
Quando desço o último degrau para voltar ao trabalho, escuto a voz dela me chamando, olho para trás imaginando que me enganei, e que ela realmente conseguiu passe livre, mas então ela sorri e diz:
— Jheniffer! — grita um nome, e fico sem entender. — Mas pode chamar de Jenny! — Com isso volta para dentro, e fico parado um instante antes de compreender.
Jheniffer! Caralho, ela realmente combina muito mais com esse nome, linda, meiga, inocente, porém determinada. Jheniffer!!! Perfeito.
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