“Eu não entendo porque você tem celular se nunca atende essa merda. Te liguei oito vezes.”   

“Vinny, pelo amor de qualquer coisa, dá para deixar seu mau humor de fora disso? Pelo menos hoje? Hã? Que saco! Eu estava com o Dante. Eu não podia atender uma ligação sua na frente dele!”

“E então? Como anda o nosso plano?”

“Nos trilhos por enquanto, mas ainda não posso garantir que vou conseguir limpar a nossa barra.”

“Nem por brincadeira fale isso, tá me escutando? Estou depositando todas as nossas fichas nesse seu plano. Se isso não funcionar será o nosso fim. Todos os noticiários estão falando da morte da garota. Temos que agir depressa. Não quero passar o resto da vida com a minha imagem associada a um assassinato.”

“Rá, rá, rá, isso não teria acontecido se você não tivesse arrastado asa pra aquela vadia da Dandara.”

“Foi você quem a esfaqueou, não se esqueça.”

“O que você queria que eu fizesse quando flagrei o meu namorado trepando com outra atrás do prédio da minha faculdade?”

“Tá, tá, tá, vamos tentar esquecer a Dandara, okay? Precisamos manter o nosso sangue frio e manter o foco no nosso plano. Conversou o Dante? O que ele disse?”

“Ele disse que não se lembra de nada do que aconteceu ontem. Se ele viu alguma movimentação atípica na festa, se esqueceu completamente.”

“Ele perguntou de mim?”

“Sim. Eu disse que você não estava na cidade, que precisou se ausentar com urgente para resolver conflitos familiares”.

“E ele caiu nessa?”

“Aparentemente sim. Não é difícil entrar na mente do Dante, você sabe disso. Aquelas histórias de onze personalidades, da amnésia, todas as esquisitices que eu prontamente finjo acreditar, enfim, tudo isso ajuda a persuadi-lo mais facilmente. Ele é perturbado. Totalmente perturbado.”  

“Você acha que pode convencê-lo de que foi ele quem assassinou Dandara?”  

“Talvez. Estou tentando, usando todo o meu poder persuasão.”

“Temos pouco tempo.”

“Eu sei disso.”

“Mas não parece!”

“Vinny dá para deixar de ser estúpido?”

“Certo! Onde você está agora?”

“Estou numa cafeteria. Dante acabou de sair daqui. Disse que ia buscar a ajuda de um psiquiátrico chamado Doutor Saint, um médico biruta sem credibilidade alguma. Acredito que o Dante gosta de se consultar com esse velho, pois é o único médico que dá ouvidos para as lorotas dele sobre personalidades múltiplas.”

“Você sabe onde fica o consultório desse velho?”

“Uhum, sei. Dei carona para o Dante até lá uma vez.”

“Me passa o endereço da cafeteria. Vou passar aí para te pegar. Precisamos ficar na cola desse maluco. Afinal, não podemos perder o nosso ilustre assassino de vista!”