07 | minhas ruínas
Oi, oi, incomunzetes!!! Como vocês estão??? Felizes com o capítulo duplo dessa vez? Passou voando, né!
Aliás, vão pra Bienal SP esse ano! Eu vou estar lá dias 14 e 15! Se você for, passe no estande da Vilu pra me dar um abraço!! 💜 Posso até dar um spoilerzin de IA
Só lembrando que esse capítulo é narrado pelo Jungkook (o CD é o emoji dele!) Já notaram que em todo capítulo do Jungkook, ele acaba percebendo uma emoção, mesmo se achando sentimental? Qual emoção vocês chutam que é a desse capítulo?
Boa leitura e, se gostarem, comentem, porque amo saber o que vocês estão achando!!
»»💿««
primeiro, foi só um olhar
depois, foi tua forma de amar
agora, não consigo parar de notar
cada entalhe do teu rosto
cada detalhe da tua alma
vou me intoxicando com meu desgosto
me lembrando de que sou um monstro
meu amor, a cada sorriso que descortinas
vou aqui colecionando
minhas ruínas
💿
Não me estresso com roupas. Muito menos com as do Jungkook trademark. Jungkook artista, o que faz música. Uma marca, uma representação de mim com o mesmo nome. Um dia até achei que esse Jungkook™ era eu, mas agora não sei mais.
As roupas desse Jungkook são todas escolhidas por sua estilista (a famosa outra senhorita Ahn, Ahn Hyojin), uma pessoa que, mais que gostar de roupas, trabalha com elas. Nem minha opinião nem meu estresse têm lugar ali, por mais que Hyojin sempre peça que eu escolha uma entre as opções dadas.
Não me estresso com roupas e, mesmo assim, estou aqui: me encarando no espelho de corpo inteiro por uma penca de minutos, sentindo que tem algo fora do lugar. Em resumo, me estressando. Sei que não tem nada fora do lugar. "Fora do lugar" é uma opção que Hyojin nunca me daria. Como todas as roupas passaram pelo crivo impedoso nela, não tem como eu ter escolhido a errada. Mas sinto como se tivesse.
O terno em tons de cinza, cortado mais como se fosse um quimono, não tem nada de esquisito. É todo ajustado. Clássico, mas contemporâneo. O tecido da camisa por baixo cintila em contraste com o algodão cru das peças por cima.
Sabendo que a roupa não me estressa, e me convencendo de que eu não me estresso, respiro fundo e aguardo Heeyeon chegar com o chofer. Mesmo contemplando a bela vista do meu sofá, sou comido por esse estresse que não me pertence. Empilhados na mesa de centro da sala (a mesma que usei para comer sushi com Jimin aquela vez e não sei por que me veio essa memória) estão os enormes livros da trilogia de Jimin.
Tanta coisa aconteceu que nem li a dedicatória. Quando ergo minha mão para buscar o primeiro livro, paraliso. O estresse dá lugar à vergonha que eu vinha sentindo faz um tempinho (essa pelo menos já admiti que me pertence). Desisto de ler. Penso em desistir de lançar "parafraseei".
O toque do interfone me liberta. Não dá para contar nos dedos as vezes que Heeyeon já me salvou. No carro, eu a encontro animada (com um leve sorrisinho, no caso) com talvez a maior festa que já participei, mesmo que ela nem seja convidada.
O trajeto até lá fica longo. Estresse? Apreensão? Nem sei dizer o que sinto. Heeyeon ri por me ver "nervoso" pela primeira vez, nas palavras dela. Enfim, ela deve estar certa. Imagino, então, que o nervosismo deixa as coisas longas. Ao mesmo tempo, quando chego lá, sinto que tudo foi rápido demais. Queria a Heeyeon comigo.
Quando entro, sem saber se assustado ou impressionado com a quantidade de pessoas tirando fotos com câmeras profissionais na entrada do evento, encontro Jimin com uma facilidade ridícula. Mesmo no meio de todas as pessoas elegantes, fashionistas (ou qualquer que seja o nome das pessoas que precisam se vestir de um jeito esquisito), ele é quem chama atenção. E chama atenção de um jeito que sempre soa despropositado, casual. Talvez porque esse seja ele mesmo, não uma arrumação para um evento. Tenho certeza que ele se sente muito mais à vontade vestido assim que estou com meu terno-quimono discreto e caro.
Usa calças onduladas como uma água viva de várias camadas. O tecido é furta-cor, parece plástico. A camiseta tem mangas bufantes e é toda transparente. Nem sei descrever, só sei que é bonita. E que o sorriso que Jimin dá quando encontra o olhar no meu brilha mais que o reflexo das luzes na roupa espalhafatosa.
— Pronto para iniciar nossa operação criminosa, lindo? — pergunta ao me abraçar. O estresse vai embora, mas algo muito parecido toma lugar. É a mesma sensação de não conseguir respirar direito quando repito mais vezes do que deveria a macarronada da minha mãe. Sei lá. Tipo o tapete puxado quando já não há mais tapete para ser puxado. Bem complicada a situação.
— Acho que deixar pessoas bêbadas e pedir pra elas aceitarem uma música não tá no código penal, pelo menos — retruco. Aproveito do abraço para deslizar a mão até sua cintura o mais casualmente possível. Em minha defesa, é difícil resistir. Park Jimin é muito macio, muito palpável em corpo, intangível em ser. É como se o tocando, eu conseguisse experimentar um pouco da parte dele que é incompreensível. — Não tô pronto pra entrar na vida clandestina.
— Que pena, imagine se, além do tropo namorados de mentira, eu tivesse um gostinho de ser o amante de um mafioso, encrenqueiro, muito agressivo, violento e bruto, mas tudo bem, porque, no fundo, tem um coração de ouro! — Ele suspira, dramaticamente. — Seria incrível, de fato, eu viveria o sonho.
— Que sonhos são esses...
— Para melhorar, só se você fosse híbrido de vampiro com lobisomem, CEO e dono do morro.
Eu o encaro por um tempão, esperando uma risadinha ou uma explicação. Ele falou muito sério. Sério o suficiente para me deixar em dúvida. Caminhamos entre mesas redondas, cobertas com toalhas de mesa brancas e decoradas com flores luxuosas. Parece um mundo paralelo. Imagino que nosso destino seja uma mesa de drinques, já que os garçons estão ocupados servindo champagne aos convidados mais suntuosos.
— Acho que isso é uma piada, né? Mas não tenho referência o suficiente pra entender.
— Será que é?
— Você poderia dar alguma resposta direta pelo menos uma vez na vida, de verdade — reclamo. — Tenho uma sugestão: que tal pelo menos uma resposta direta por dia?
— Uma por semana, que tal?
— Duas por semana.
— Uma por mês, então — responde, em tom resoluto. Inclina o corpo em cima do meu e dedilha o meu peito com um sorriso ladino. — Lindo, não tente barganhar demais, entenda sua posição. Não possuo nenhum incentivo para aceitar sua proposta. Por mim, eu posso continuar nunca chegando ao cerne da questão. O que estou fazendo é a mais pura caridade, apenas porque me sinto especialmente bondoso hoje.
— O que seria um incentivo pra você? Eu posso te dar respostas diretas em troca também!
Jimin encara as opções de drinques na mesa de vidro e se demora em cada opção. Não parece impressionado com a oferta.
— Não tenho dificuldade em tirá-las de você sem um acordo, lindo. Mas agradeço, viu?
Quero retrucar algo, dar outra opção. Mas não posso discordar nem oferecer nada. Não faço a mínima ideia do que realmente interessa Jimin. Ou, ao menos, que ele já não consiga em um estalar de dedos.
— Posso usar minha pergunta da semana? — peço, e visto uma expressão patética para tirar dele um vestígio de pena.
Jimin escolhe uma taça e me olha de cima a baixo.
— Apenas se tirar essa expressão de quem cheirou peido do rosto, lindo. Sua expressão de sempre o favorece mais.
— Você é terrível, sabia? — bufo, revirando os olhos.
— Sim, claro. E você fica ainda mais lindo bufando, lindo. Sabia?
— Você só tá me provocando.
— Também. Mas você não deixa de ser bonito por isso. — Ele dá de ombros. — E então?
— Então o quê?
— Qual sua pergunta da semana?
— O que você quer, mas não consegue dos outros com sua lábia?
Jimin interrompe o deslizar preguiçoso de seu dedo no bocal da taça. Depois, dá um gole, pensativo.
— Boa pergunta, lindo; vou ter que pensar.
— Mas era para a resposta ser direta! — resmungo. Jimin dá tapinhas condescendentes em meu ombro.
— No nosso acordo, não dei nenhum prazo para formular a resposta.
— Você tá só fugindo do fato de que não tem resposta pra tudo na ponta da língua!
— Será que não tenho?
— Será então que você tem a resposta, mas não quer admitir ela? — acuso. Não é uma acusação real, é só meu mecanismo de defesa quando estou com Jimin: retrucar tudo. Quem sabe um dia funcione?
— É, talvez seja — admite, com uma voz mansa e aveludada. A macarronada imaginária da minha mãe parece pesar ainda mais no meu estômago. Jimin usa sua mão livre da taça para entrelaçar na minha e começa a me puxar para algumas das mesas distribuídas pelo recinto. — Vem, lindo, vamos procurar nossas vítimas da noite.
Aceno com a cabeça em concordância, mas não sei se fui convincente. Sinto, já no começo da noite, que a vítima ali sou eu.
-💿-
Acordo em casa. Estou um tanto confuso. Ao sentar no colchão, noto que estou nu também. Jimin está deitado do meu lado, sem um pedacinho de pele para fora do meu conjunto de moletom surrupiado por ele. Dorme feito um anjo, e não parece que vai acordar com dor de cabeça como a que sinto.
Tento lembrar do que aconteceu para eu estar ali: pelado e indigno. E, pior: se Jimin também estivesse pelado e indigno, seria mais fácil de entender. Não acho que transamos; a cama está arrumada demais, e eu, suado de menos.
Sou péssimo bebendo, muito ruim mesmo. Devia seguir os passos do meu irmão, que não bebe uma gota de álcool. Além de uma bela e garantida expectativa de vida, essa escolha faz com que ele se humilhe bem menos que eu. Sei muito bem que não vou lembrar de nada e que Jimin é minha única chance de reaver a noite passada. Como não vou acordá-lo, decido que tomar um banho é um ótimo passo para recuperar minha dignidade.
Tomo banho, passo um café, faço algumas flexões e, só quando começo a fazer um misto quente, Jimin aparece pela porta do meu quarto.
Esse seria o momento ideal para me salvar da indignidade do dia anterior e me fazer de elegante: um cavalheiro que prepara o café da manhã para seu parceiro sonolento (remelento, preferencialmente, para eu parecer mais digno). Com direito a um sorriso galante no rosto, feito um comercial de margarina.
Jimin está mesmo com uma cara de sono: olhos inchados, cabelo meio bagunçado, um vinco da fronha estampado na bochecha. Fofinho, nada próximo à minha situação deplorável uns quarenta minutos antes, mas o suficiente para eu recuperar uns pontinhos de solenidade.
Se eu conseguisse, claro. Sinto que sou incapaz de qualquer compostura perto do Jimin. Mesmo a disposição e a leveza típica de quando eu faço exercício se esvai quando o olho: de novo, a macarronada imaginária da minha mãe pesa meu estômago.
— Bom dia, lindo... — fala, todo preguiçoso, e me examina de cima a baixo. Depois de alguns segundos, abre um sorriso maior, mais relaxado. Senta de lado no sofá e apoia o braço no encosto para me observar na cozinha. — O que o chef fará para agradar meu paladar hoje?
— Misto quente.
— Hm... Delicioso — diz e não parece brincar. — Ao investigar sua geladeira, descobri que você possui geleia de pimenta. Permitir-me-ia usar um pouco no meu misto quente?
— Que educação toda é essa? — perguntei, apesar de uma pessoa de carne e osso usar, em uma conversa, aquele negócio em que a palavra fica dividida em três pedaços ser ainda mais chocante para mim. Lembro que o nome parecia a palavra "mesa", e só porque achei engraçado na escola. — Você nunca pede permissão pra essas coisas.
— Eu tenho princípios! — Parece ofendido. — Com comida não se brinca!
Dou de ombros porque ele brincou, sim, com minha comida no restaurante mexicano, e ele continua me olhando, sem falar nada. Depois de um suspiro, falo:
— Pode pegar a pimenta, sim.
Jimin pula do sofá e acha a geleia com a velocidade de quem fez seu dever de casa escaneando a geladeira. Depois, se põe ao meu lado para passar em seu misto.
— Jimin, preciso que você me ajude, mas tenho dúvidas se isso vai acontecer.
— Como assim, lindo? — Soa ofendido, mas também soa sacana. Tenho certeza de que ele já sabe o que vou pedir. — Tenho um coração de ouro!
— Claro. — Tento soar sincero, mas acho que sai sarcástico. Infelizmente, não tenho o mesmo dom da cara de pau que Jimin. — Então me diz, querido namorado de coração de ouro, por que eu acordei pelado e você completamente vestido?
— Ha! Essa é uma ótima história. — Ele dá uma risadinha satisfeita. — Amnésia alcoólica, é, lindo?
— É o que parece.
— É a sua primeira?
— Queria que fosse.
— Hm...
— Jimin! Eu te pedi uma resposta, por que você tá me respondendo com mais perguntas?
— É uma técnica de entrevista.
— Uhum, sei. Deve ser mesmo. Então, o que aconteceu ontem? A gente transou?
— Claro que não, lindo! — Jimin soa ofendido, de verdade dessa vez. Acho que encontrei uma técnica para fazê-lo responder as coisas. — Lembra que ontem nosso crime foi um sucesso?
— Lembro. A gente começou a beber em comemoração a isso.
— Exato. Perfeito. Sua demo fez sucesso entre o pessoal, e, só para garantir: você combinou de enviar a versão finalizada até amanhã. Eu combinei o prazo de uma semana com os produtores, mas você me interrompeu e falou que já "estava no papo".
Minhas bochechas queimam. Jimin viu todas minhas fases de bêbado patético, sendo que aquela era a parte da noite em que eu ainda nem tinha começado a beber para comemorar.
— Tá, acho que dá pra fazer — suspiro e faço as contas. Eu queria uma semana para fechar a versão final, mas pelo menos Hoseok se empolgou e adiantou algumas coisas da versão final. — Mas isso total foi promessa de bêbado... Amanhã é o lançamento daquele álbum lá, lembra? O do marketing. Vou deixar a Heeyeon cuidar dos trâmites e pedir pro pessoal que gerencia as redes sociais cuidarem de tudo. Já tem muita coisa pronta e faço uma live de lançamento atrasada.
— Bem, eu ofereceria minha ajuda, mas acho que não consigo te ajudar nem no estúdio, nem nas redes sociais. — Jimin, dessa vez, quase soa entristecido. Mas a tristeza desaparece quando ele abocanha o misto quente e se acomoda no sofá. Eu o sigo.
— Sim, tá tranquilo. Nada grave. E aí?
— E aí começamos a aproveitar a festa. Comemos e bebemos muito...
— O.k.. Até aí eu tava mais ou menos no plano terrestre. E aí?
— Achamos a pista de dança vazia e as outras pessoas da festa, chatas; então começamos a dançar.
— É, a partir daí eu tava fora de mim. — Suspiro e seguro a vontade de esconder meu rosto de constrangimento. Tinha a impressão de que só ia piorar, e eu rezava pela minha pobre alma.
— Tem vergonha de dançar, lindo?
— Nem gosto de dançar.
— Você pareceu se divertir muito comigo ontem.
— Se você diz. E aí? Dancei de um jeito muito ridículo ou fui contido?
— Digo que não foi contido.
— Ah, merda! Mas foi muito ridículo mesmo?
— Não achei.
— É claro que você não achou! Pensando no ponto de vista de pessoas normais: você teria achado ridículo?
— Sou incapaz em pensar no ponto de vista de pessoas normais, eu passei minha vida inteira sendo desse jeito! — Ele se aponta, de baixo a cima. Como sempre, está cheio de orgulho na voz. — De qualquer forma: do que te importa o ponto de vista das outras pessoas?
— É que eu não quero me misturar com elas.
— Então, por que a opinião delas te importa? — Jimin é ainda mais insistente. Olha-me como se eu estivesse sendo irracional, o que, parando para pensar, é verdade. Engulo essa vergonha que sinto.
— Pode prejudicar minha carreira — digo, o mais racionalmente que posso.
— Ah, meu lindo... — Jimin meneia a cabeça. — Não é uma dançada alegre numa festa que vai prejudicar sua carreira. O que prejudica é contar sobre sua sexualidade, coisa que já fez. É seguir seu coração e quebrar as expectativas que criaram sobre você e sobre sua própria arte. É ficar refém entre o que se quer fazer e manter o amor de quem já te ama...
— Jimin...
— Isso é, motivos válidos para prejudicar a carreira, claro. Não venha se envolver em "polêmica" que é crime. Esqueci de colocar isso no acordo, mas é uma cláusula importante.
— Eu...
— Enfim, lindo. Dançamos horrores ontem, até não nos aguentarmos mais. Combinamos de voltarmos para casa em separado, para deixar o pessoal pensando que paramos de namorar mesmo, mas acabei vindo para a sua porque fiquei preocupado com sua situação. Felizmente, te encontrei bem vivo da silva.
— Vestido?
— Vestido. Com seu belo terno-quimono. — Ele dá uma gargalhada gostosa. — Aí você ficou me obsediando com a resposta à sua pergunta. Continuei dizendo que não sabia responder. Aí, você propôs de me fazer um strip tease em troca da resposta. Não aceitei, como você deve imaginar.
— E eu fiz o strip tease mesmo assim?
— E você fez o strip tease mesmo assim. — Sua gargalhada fica cada vez mais doce e mais alegre, parece que minha desgraça realmente é um bálsamo para Jimin. Ele espana os farelos do pão dos cantos da boca.
— Fiquei pelado e não consegui a resposta... — bufo. — Incrível minha incompetência.
— Conseguiu a resposta, sim, lindo. Acabei dando para você, honra ao mérito.
— E qual é?
O olhar que Jimin me dá, um deboche misturado com júbilo, já me deixa bem ciente de qual vai ser sua resposta. Suspiro em desânimo antes mesmo dele falar:
— Aí é pedir um pouco demais de mim. Agora você já sabe por que acordou nu, e eu, todo vestido.
— Mas eu tenho direito de saber a resposta ainda, não? Pela primeira vez que eu perguntei.
— Claro. Mas a mesma pergunta pode ter várias respostas. Para o seu eu sóbrio, ainda estou pensando.
Eu o encaro. Não há um pingo de honestidade em Jimin. Isso não deveria nem tirar um suspiro de mim, assim como as roupas do Jeon Jungkook™ não deveriam me estressar.
Mas eu suspiro.
-💿-
Passei a madrugada inteira no estúdio e, mesmo assim, a versão que é para ser a final de "ruínas minhas", música tema da segunda temporada de O Cúmplice de Aldeberan, continua com algo faltando. Hoseok está exausto de tanto ficar à frente da mesa de som, e é ele quem nos força a fazer uma pausa.
Enquanto meu produtor vai à loja de conveniências comprar um café e provavelmente um miojo, dou uma olhada no meu celular. É para a internet estar falando do meu álbum novo e por isso mesmo não abro nenhuma rede social. Não quero saber. Quero fingir que nunca foi lançado.
Mesmo assim verifico o celular, caso Heeyeon precise de algo, apesar dela ser mais da ligação. O que encontro é:
Namorado <3 [21:15]
Girafa.
Jungkook [05:45]
q isso?
Namorado <3 [05:47]
O que eu quero, mas não consigo dos outros com minha lábia. Uma girafa.
Jungkook [05:47]
vc quer >uma girafa<?
Namorado <3 [05:48]
Quero.
Jungkook [05:48]
e vc quer que eu acredite nisso?
Namorado <3 [05:49]
Também hehe.
Jungkook [05:49]
vc sabe q tá trapaceando, né?
Namorado <3 [05:50]
Eu te dei duas respostas à mesma pergunta, lindo. Joguei limpo demais. Você só deveria evitar amnésias alcoólicas da próxima vez.
Bem, preciso trabalhar agora. Boa sorte aí no estúdio.
Jogo-me no sofá apertado e desconfortável do estúdio. O teto está cheio de teias de aranha. A resposta sobre o que vai fazer a música ficar boa não quer aparecer. Só consigo pensar no álbum lançado. Consigo entender que o que sinto é vergonha. E, quanto mais tempo se passa desde o comentário do Hoseok e do Jimin sobre o álbum, mais vergonha eu sinto.
— É hora de recuperar a dignidade, bebê! — Hoseok quase grita, irrompendo a sala na maldade de me dar um susto. Joga um sanduíche natural no meu colo. — Vamos, vamos. Vamos comer e finalizar essa música. Mesmo se não estiver exatamente como você imaginou, achei que já tá ótima, de verdade. Perfeito é inimigo do feito, não?
Ele me entrega com cuidado um grande copo de café. Eu o sinto aquecer minha mão e a sensação me traz algum conforto.
— Você precisa se decidir, Hobi... Melhor feito do que bem feito, ou preciso ser um bom artista?
Ele suspira, bagunçando os cabelos já bagunçados pela noite em claro. As olheiras só pioram.
— Tamo com sono, Kook. Que tal tomar um café e comer?
Comemos em silêncio. Nada parece estar no lugar. Minha cabeça lateja.
Dez minutos depois, voltamos a trabalhar. Finalizamos a música depois de mais duas horas, mesmo que não exista mais diversão no processo. Fiz meu trabalho, e Hoseok, o dele.
Ao finalizar o arquivo, recebo um parabéns que não me desperta nada positivo. Acho que resmungo algo muito negativo, inclusive, mas nem presto mais atenção nas minhas palavras. Hoseok suspira e mexe no celular. Poucos segundos depois, ele pula da cadeira, feliz.
— Kook, saiu a crítica do Min Yoongi sobre seu álbum!
— Vai ser mais do mesmo. Ele me odeia blá blá blá. Sou ruim blá blá blá.
— Não, não! Ele quer ver sua evolução, olha!
Hoseok sabe que não leio as críticas de Min Yoongi. Mesmo assim, ele o empurra na minha cara:
Crítica: Jeon Jungkook se supera! Parafraseei consegue ser ainda pior do que todo resto.
Não é novidade que a discografia de Jeon Jungkook, o artista indie que tem a maturidade musical de uma pessoa presa à adolescência, não é das minhas favoritas. Entretanto, como sou obrigado a acompanhar seus lançamentos (é meu trabalho...), fico sempre na esperança de vê-lo evoluir porque vejo uma pequena fagulha de potencial ali. Infelizmente, seu novo álbum "parafraseei", lançado nessa segunda (17/08) tem um gosto amargo de segunda-feira mesmo. É a regressão de uma melancolia de domingo para o desgostoso primeiro dia útil.
Harmonias desconexas. Letras robóticas. Não sei nem o que dizer, nenhuma música faz sentido, muito menos há coesão no álbum.
Cada vez tenho mais certeza: Jeon Jungkook pode até ser músico, compositor e cantor. Mas não é artista.
Música
Min Yoongi,
colunista principal de cultura da Revista Saidaí e professor titular de Harmonia, Sonologia e Apreciação Musical na Uni7
— O que você quer de mim? Quer mostrar que você tava certo o tempo todo? Porque eu também já sabia disso! — Minha voz se ergue. — A gente já sabia que seria assim! E mais: Min Yoongi é uma exceção. Aposto que todo o resto da crítica está satisfeito com o álbum, como sempre! — Abro meu celular para ver minhas redes sociais e quantidade de streams. — Os números estão gigantes, olha! A estratégia de marketing deu certo!
— Não quero estar certo, Jungkook... Só ia te mostrar que até Min Yoongi acredita no seu potencial, mas... — Hoseok me olha de baixo a cima. Dá um suspiro e coça a sobrancelha. — A sua reação... Agora eu tô me perguntando se é artista ou publicitário...
— Bem, de acordo com Min Yoongi, sou músico, compositor e cantor. Artista eu não sou.
— E tudo bem por você?
— É só uma opinião. De só uma pessoa. Minha mãe sempre diz que nem Jesus agradou todo mundo! Por que você dá tanta bola para Min Yoongi?
— Tipo... O trabalho dele é muito sério. Ele é muito criterioso e cobra bastante dos artistas, mas o posicionamento dele é honesto. Talvez seja o único crítico de música no qual confio e eu acho que...
— Se você concorda tanto com ele, então eu devo fazer você viver um pesadelo, né? — interrompo-o. Não sei se Hoseok parece surpreso ou assustado. Ele abana as mãos ao ar, como se tentasse me conter. — Tendo que trabalhar com um músico de merda como eu!
— Não, Jungkook! Não é isso que eu queria falar com você... — A voz dele vai ficando mais alta e esganiçada enquanto me aproximo da porta. — Eu boto fé demais no seu som! Pera aí, me esc...
Bato a porta atrás de mim.
Acho que isso que sinto agora é raiva. É poderosa e me consome. A vergonha até dá trégua.
Talvez eu seja, sim, emocional, e não sei se gosto disso.
-💿-
Estou começando a pensar que os efeitos da raiva são infinitos. Não sabia que era uma emoção tão insistente. Não é só a raiva típica que rumino e se torna um rancor grudento. É acesa, continua pulsando em mim.
Tudo me faz ferver. Jimin ainda não chegou na própria première (deve querer uma entrada triunfal), os fotógrafos são muito insistentes, os drinks são ruins e tem um cara alto e bonito me encarando por mais tempo que é respeitável. E não parece que é para me beijar ou algo assim. Não que eu, pseudo-comprometido, vá beijar uma pessoa que não é o meu namorado de mentira, mente de titânio por trás da série dessa première. Seria uma blasfêmia.
Passar da tortura que é o corredor de fotógrafos foi a melhor parte da minha noite. Um garçom com um champagne burbulhante me encontrou do outro lado. Peguei a bebida. Acho que já foi para os ares todo o meu papo de "ai, networking não, bebida em festas sérias, não". Cada gole parece mais intragável e mesmo assim eu tomo. Talvez seja a raiva.
Olho ao redor. Não conheço uma única alma. Não vejo nem ao menos os produtores que aceitaram, bêbados, "minhas ruínas" como música tema. Só tem o cara alto e bonito, ainda me encarando, apesar de estar no meio de um grupinho. Como não tenho nenhuma outra ideia de como me ocupar, eu o encaro de volta.
E o reconheço.
Olho para ele e para o enorme banner com o poster da segunda temporada pendurado em todos os cantos. Uma segunda vez. Uma terceira vez.
Apesar de, no banner, o personagem ter um olho vermelho e outro preto, ambos são iguais. Até no jeito cortante de olhar. Ele é o ator de um dos personagens do casal principal: Kim Taehyung. Aquele com quem Jimin foi à orquestra. Aquele que Jimin se ofereceu de me apresentar.
A taça fica bamba na minha mão. Ainda mais quando ele interpreta a troca de olhares como motivo para se aproximar. Não parece nada querer me beijar. Parece querer me dar um soco mesmo.
— Jeon Jungkook — diz.
— Só minha mãe me chama assim, e quando quer brigar comigo — brinco. Ou tento. Taehyung não parece querer brincar comigo. E parece querer brigar comigo, então talvez eu não devesse tê-lo corrigido. — Pode me chamar de Jungkook!
— Certo, pode me chamar de Taehyung também.
— Muito bonito o poster — emendo. Então, aponto um deles como se não tivesse uns vinte com a cara dele estampada para todo mundo ver. Tenho vergonha de confessar que não assisti a primeira temporada (queria para escrever a música, mas não dava tempo, pelo menos li uns capítulos aquele dia na livraria). — Tô ansioso para ver o primeiro episódio!
— É mesmo namorado do Jimin? — corta. A macarronada da minha mãe reaparece de repente na minha barriga. Uma pena, porque achei que a raiva pelo menos me deixasse imune a isso.
— Uhum.
— Ah.
Ele me olha de baixo a cima e não parece gostar do que vê. Acho que nem se Jimin me apresentasse a ele havia alguma chance de paz.
— Prazer — conclui, contido. Suspira em um tom de decepção e volta ao seu grupo.
Tudo me confunde. Em toda minha carreira, nunca recebi uma reação dessas. No começo, era ignorado, como se não valesse nem uma levantada de olhar. Quando fui ficando meio conhecido, sempre fui tratado com falsa gentileza e sempre odiei. Agora, que realmente alguém está incomodado comigo e não faz questão de esconder, é bem mais desconfortável do que pensei, e me arrependo de todas as vezes que reclamei de falsidade. Falsidade é melhor mesmo. Ando contidamente ao banheiro, determinado em passar o mínimo de tempo no salão sem Jimin ao meu lado, mas ele demora. Demora pelo menos mais meia hora.
Quando chega, é difícil se aproximar dele. Usando um colete de couro que parecia saído de seus mundos de fantasia por cima de um conjunto xadrez em vários tons de rosa, lembrava uma celebridade. Bem, ele é uma celebridade. Sem ele, nada disso ao redor existiria.
A cada passo no salão, ele é abordado por mais e mais pessoas. Recebe abraços, parabéns. Taehyung oferece a ele um sorriso lindo e sincero. Depois, o beija no rosto, e a macarronada da minha mãe está aqui, de novo. E, dessa vez, entendo por quê.
A caminhada de Jimin até chegar a mim continua extremamente lenta. Como se não bastasse, interrompe o caminho algumas vezes para olhar o celular. Jimin está simpático e sorridente, como sempre. Chamativo e esnobe, como se todo o mundo fosse feito sob medida para si. Mesmo assim, sinto algo estranho.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunto quando ele está próximo o suficiente.
— Por que teria? — Olha-me com um misto de confusão e diversão. Segura meu braço e me puxa para perto. Deposita um selinho leve nos meus lábios. Como está longe dos paparazzis, imagino que seja para mostrar aos outros que pertenço ao ambiente.
— Chegou atrasado, você não é disso.
— Só queria fazer uma bela entrada triunfal — diz, displicente. — A exibição especial do primeiro episódio só vai começar daqui a vinte minutos, de qualquer forma.
Ele me convence. E, então, arrasta-me pelo saguão principal do teatro. Agora, todos os grupinhos de pessoas me cumprimenta e puxa conversa comigo. Até Taehyung força um sorriso, apesar de não esconder o quanto se esforça para isso.
Não gosto dali, apesar de notar que Jimin genuinamente gosta das pessoas. Que pergunta com interesse, trata com carinho. Bem, talvez fosse só ele aproveitando para coletar material para as histórias dele, como sempre. Mas depois de alguns minutos o observando ali, tão sincero, feliz e sob controle, me deixa admirado. E tranquilo. Estar deslocado já não me incomoda mais, a raiva de antes desaparece em um sopro; esse é o lugar do Jimin, e minha presença aqui é por estar ao lado dele, apenas. Não preciso transformar em algo meu. Eu tenho meu palco e minha banda.
A noite segue o mesmo ritmo durante os vinte minutos até a exibição. Quando dá o horário, somos conduzidos para um enorme teatro. É a primeira vez que vou ver um filme em um teatro, então o palco me causa estranheza. O lugar é bem bonito. Eu gostaria de me apresentar ali, talvez um acústico.
Há lugares reservados com fitas. O elenco principal senta ali. Jimin também. Consequentemente, eu também. Em um lugar que parece grande demais para mim, e que faz a raiva minguar mais ainda, talvez porque o nervosismo crescesse mais.
As luzes apagam e a projeção acende. A acústica é sensacional, a trilha sonora também. "minhas ruínas", apesar de uma boa música, soa juvenil do lado dos belos instrumentais no plano de fundo. Logo após as aberturas de estúdio, a cara bonita do Taehyung aparece. Claro que a primeira cena seria dele. Mas, ao contrário do esperado, ele não está composto e imponente. Está sujo, frágil, machucado. Está prestes a ter sua cabeça cortada. Não parece desesperado. Parece implorar. Tudo que Taehyung transmite em uma única expressão me faz encolher no assento.
Encaro Jimin, esperando uma explicação de como que Storge foi parar em tal situação, porque cheguei só até o sétimo capítulo, mas ele parece distraído. Seu olhar está na tela, mas é como se não a enxergasse de fato. Acabo sem perguntar nada. Tenho medo de incomodar. E sei que Jimin não se importa, mas é meio vergonhoso não saber o que aconteceu na primeira temporada da série que fui chamado para fazer a música tema. Ainda que seja marketing, sinto como se tivesse feito um trabalho meia boca.
Quando a exibição termina, rola uma rodada de aplausos. Acho meio esquisito, quem aplaude série? Mas também é minha primeira vez participando de uma première, então provavelmente o problema é comigo. Aplaudo também, o episódio realmente é muito bom; mesmo sem entender direito a história, fiquei envolvido.
Um milésimo de segundo antes de eu perguntar de novo a Jimin se está tudo certo — até seus aplausos soam distantes —, ele se levanta e vai parabenizar todo o elenco, efusivo. Ouço as parabenizações de volta. Fico sentado, aguardando. Ninguém puxa conversa comigo, apesar de sentir alguns olhares; os de Taehyung, especialmente.
Após terminar todos seus deveres morais e sociais como criador da obra, Jimin volta até mim e segura meu braço, com um sorriso que não é nem um décimo cativante quanto costuma ser. Agora não é a macarronada da minha mãe no meu estômago, é um aperto no peito muito esquisito. Parece o aperto que dá quando ouço falar no nome de Min Yoongi, mas não é o mesmo.
— Tá tudo bem mesmo? — pergunto enquanto ele desliza a mão até a minha e entrelaça nossos dedos.
— Por que eu não estaria? Não sei se você percebeu, mas a segunda temporada de CDA está lindíssima. Irretocável.
— Você não parece muito bem hoje... — digo, mas não sei justificar. Dou de ombros e abaixo olhar quando Jimin me lança um olhar inquisidor.
— Besteira!
Ao atravessar a porta do teatro, tudo fica branco e sinto como se tivesse sido transportado para o além. Eu nem acredito no além. E certamente não acho que vou para o céu, com aquela representação branca e hiper higienizada que mais parece um hospital.
São flashes. Insistentes e intrusos. Como se fotografassem até minhas tripas, feito um raio X.
Ainda perdido, sinto Jimin me puxar para mais perto dele. Sinto Jimin agarrar meus braços. Sinto Jimin se inclinar em mim. Já estou todo virado do avesso, e o jeito que ele me segura mexe ainda mais comigo, todo à flor da pele. Eu sei o que é. Combinamos. Até ensaiamos, na verdade.
Quando sinto seus lábios nos meus, correspondo. Mais pelo costume do que por qualquer outra coisa. E após o choque, correspondo mais; dessa vez consigo convencer meu cérebro a fazer de forma performática, a fazer ser proposital.
É tudo parte do nosso acordo. E esse é o momento de sermos, oficialmente, namorados.
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❧luzinha é sua barda☙
@jungkookamoreterno
ISSO NÃO É UM TREINAMENTO!!! REPITO, ISSO NÃO É UM TREINAMENTO!!!! JIKOOK É REAL!!!
gigi parafraseou
@gigiliteraldemais
em resposta a @jungkookamoreterno
mds, vc não cansa de passar vergonha, né? Vai dar stream em parafraseei que ganha mais! Peso do fandom zzzzzz
ethan MDS EU AMO OS JIKOOK
@ethanluvsjk
em resposta a @gigiliteraldemais e @jungkookamoreterno
mn, qual seu problema??? a mina literalmente tá subindo # o dia inteiro??? e n sei se vc esqueceu, mas parafraseei é sobre o jimin, tá??? n era dos jikook q vc passou os últimos meses reclamando? se perdeu no personagem, mlhr fazer um fake e começar de novo
❧luzinha é sua barda☙
@jungkookamoreterno
em resposta a @jungkookamoreterno
amg, vc viu q saiu uma foto c um novo angulo do bj dos jikook?????? eles são tão lindossss TT
ethan MDS EU AMO OS JIKOOK
@ethanluvsjk
em resposta a @jungkookamoreterno
AI MDS NÃO VIIIII ME MANDA NA DM PFVRRRRRR
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Depois de sete capítulo, os jikook são não-oficialmente oficialmente namorados! Hshauhasuhsau o que acharammmm?
Ah, não esquece de deixar seu votinho! 💜
Qual foi sua parte favorita? Acho que é esquisito, mas gosto muito de escrever as críticas do Yoongi (?). Basicamente todas as críticas importantes dele para o enredo já estão escritas, meio que me ajuda a nortear..
Ah, adivinharam a emoção principal do Jungkook nesse cap?
Ahhhh! Lembrando que a rede social na qual sou mais ativa é o instagram (sou a callmeikus lá também) e posto o dia a dia escrevendo fanfics!
Beijinhos de luz, amo vocês, e até sexta dia 06/09 às 19:00!
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