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04 | Curiosidade penada

Oi, oi, incomunzetes!!! Como vocês estão???

Mais uma vez, muito obrigada por todo o carinho com a bebê 🥺 esses dias acho que ando mais distante de redes sociais etc. e ver vocês interagindo aqui me deixa muito feliz 💜

Só lembrando que esse capítulo é narrado pelo Jimin (o livrinho é o emoji dele!). Acho que vocês vão passar mal com o final do capítulo, hihihi👀

Boa leitura e, se gostarem, comentem, porque amo saber o que vocês estão achando!!

»»📖««

Discreta como farfalhar de vento em folhas, a sensação causava calafrios tênues e uma ânsia confusa, um desespero que flertava com prazer. Não era fome nem cansaço. Discreto demais para se investigar e catalogar, presente o suficiente romper a confortável homeostase. Precisaria achar a razão para voltar ao normal, mas sentia que descobri-la levaria apenas à subserviência àquele anseio.

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Curiosidade rodeava minha rotina como uma alma penada — uma que, inclusive, eu esperara encontrar ao comprar minha gigantesca casa no subúrbio a preço de banana, mas nunca tivera a honra de sua presença — insistente. Esgueirava-se pelas quinas dos aposentos e dos minutos do meu dia. Arrepiava-me a espinha vez ou outra.

O acordo saía ainda melhor do que pedido. Jungkook se mostrava o total oposto dos outros com quem eu me envolvera: em vez de parecer interessante e, no fim, mostrar-se um lamentável poço do obviedades; estava mais para uma pedra bruta: quanto mais eu lapidava, mais interessante parecia.

Jungkook era inegavelmente simples, dos pés à cabeça. Eu me inclinara próximo o suficiente para sentir seu cheiro, e não havia nenhum a ser percebido. O apartamento era asseado, sem decorações. O xampu no banheiro, dois em um. O sabonete? Cheiroso e cremoso, tinha potencial, mas a marca ainda visível na barra dedurava ser um presente de algum parente revendedor, usado para receber visitas.

Sorvi meu café. Em vez de contemplar as notas de chocolate da bebida, contemplei meus pensamentos devido ao seu borbulhar incessante incitado pela curiosidade. "Lapidar" era um exagero: eu apenas apreciava por lampejos escapulidos de pequenas frestas aquele esplendor velado. Não carregava em mim nenhum desejo de ser eu a transformar em joia; seria apenas um expectador passivo que, de vez em quando, teria o vislumbre de um potencial deleite.

Quando Jungkook voltara do banho aquela noite, oferecera-me uma água — tão inodora quanto ele mesmo — após insistir que eu usasse sua cama. Eu me mantivera resoluto em ficar com o sofá e o assistira ir dormir. A curiosidade penada surgira ali, longe da minha potencial casa assombrada.

Na manhã seguinte, Jungkook servira um café muito caprichoso e comera-o devagar com uma conversa mansa e inabalada. Por estar mais manso e inabalado do que era de meu gosto, eu dedicara-me a provocá-lo. Não fora difícil fazer com que suas bochechas tivessem mais cor que o resto do apartamento inteiro. Meu desejo era que ele me desejasse, e sempre fui meu competente gênio da lâmpada pessoal: realizar qualquer coisa era questão de tempo.

Antes de sair para uma sessão de fotos, entregara-me um ingresso de cortesia. Sem explicações nem beijos de despedidas, apenas bochechas ainda um tanto rubras.

Encontrava-me eu encarando o ingresso como se ele fosse um portal para todas as sensações proporcionadas por Jungkook até então, e um convite para as futuras. Divertia-me o fato dele não ter explicado bem o que era: um detalhe bem pedra bruta da parte dele. O papel monocromático estava datado para aquele mesmo dia, a dois nasceres de Sol de distância do nosso último encontro. De noite, felizmente.

Em breve, sairia de casa para acompanhar as gravações finais da segunda temporada de O Cúmplice de Aldebaran. Ainda não havia nenhum episódio pronto, pois as gravações se organizavam por locação, mas os trechos concluídos que a editora me mostrara enchiam-me de expectativa. A segunda temporada tinha potencial para ser ainda melhor do que a primeira — certamente o segundo livro da trilogia era o meu favorito — e ver meus personagens em carne; meus cenários em relva fresca, era uma sensação insuperável. Só não perdia para o ato de escrever em si, para a possibilidade de desafogar minha alma do corpo e deixá-la viajar por cantos diferentes, mais espaçosos.

As últimas cenas iam ser em estúdio, apesar da maioria ter sido gravada nos clássicos países de se gravar fantasia: Nova Zelândia e Irlanda. De fato, impressionava a quantidade de cenários diferentes em um único e pequeno país — apesar de ter aproveitado a viagem e gostado do resultado das gravações, era muito bom estar perto de casa. Significava não ter que limitar minha vestimenta às peças levadas na mala.

Quando fui atrás do meu armário, encontrei na primeira prateleira as roupas monocromáticas de Jungkook que eu usara para voltar para casa, lavadas e dobradas, espreitando com a malícia de quem não quer ser esquecido, aliadas da curiosidade penada. Um riso me escapou dos lábios.

Não pesquisaria nada sobre o evento de tal convite; horário e endereço era o suficiente. Jungkook me oferecera uma surpresa, e eu adorava surpresas.

-📖-

— Bom dia, Park — disse Taehyung ao se aproximar de mim, já caracterizado: armadura de couro escuro, lentes de contato vermelha e preta, alguns machucados e sujeiras pelo rosto. O cabelo milimetricamente desgrenhado era o toque final na composição de seu ar selvagem e charmoso.

— Ah, príncipe, somos da mesma idade. Me chame de Jimin apenas — respondi, como fazia todas as vezes. Não por me incomodar, só para nos aproximar. Eu achava até divertido conjecturar o que levava Taehyung a reforçar tanto uma diferença entre nós; meses corriam como as águas de um rio caudaloso sem eu ter uma pista sequer de tal mistério.

— Bom dia, Jimin — repetiu, com um belo sorriso. Agradava-me profundamente vê-lo vestido de Kainon Pragmi, um dos protagonistas de O Cúmplice de Aldebaran, mas agindo como Taehyung. Apesar das personalidades serem conflituosas, ornava: o rosto escupido, o nariz marcante, o cabelo escuro, a postura ereta. Kainon era um belo personagem; e Taehyung, um belo homem.

— Bom dia, Taehyung. Vejo que está animado para hoje.

— Sempre estou — respondeu, com a voz aveludada de sempre. — Aceita tomar um cafezinho comigo? Quero revisitar os capítulos do livro das cenas de hoje.

— Não seria melhor se ater ao script? — perguntei; mais uma vez, como todas as vezes. Entretanto, eu considerava um cafezinho irrecusável, e Taehyung sabia.

— Quero saber exatamente o que sentiu quando escreveu — explicou daquela vez, conectando o olhar ao meu com uma determinação grená; quente e elegante. — Isso me ajuda a encontrar o melhor sentimento possível pro Kainon.

— Arrisco dizer que você conhece o Kainon melhor que eu. — Ajeitei os óculos no meu nariz e tombei a cabeça, pensativo. Kainon sempre fora um personagem fácil de escrever para mim: melancólico e doce, suas reações frente a qualquer evento eram mais que claras para mim. Irônico, pois escrevê-lo me causava dor e solidão. Eu sentira muito ao escrevê-lo. Conhecia-o como a palma da minha mão, mas aquela sensação já tinha passado, como um relacionamento coberto pela serração das primeiras horas do dia. Taehyung o interpretava de uma forma diferente: triste, porém mais sagaz, mais determinado. Eu gostava do toque dele. — Eu nunca o vivi como você o faz.

— Acho que sabemos pedaços diferentes dele. Interpretando, tenho uma visão quase pessoal. Sabe quando todos reconhecem uma característica sua menos você? Vejo-o como a visão de fora suprema. E preciso dessas duas visões para construir a cena como preciso.

Assenti com a cabeça, como seria de se esperar. Um sorriso ainda maior se esboçou em meus lábios ao ouvi-lo com um linguajar bem mais rebuscado do que o antes de aceitar o papel. Taehyung me agradava profundamente, desde as chamadas para elenco. Tanto a produtora executiva quanto a diretora da série gostaram do teste dele, porém inclinadas a chamar um ator mais conhecido e com mais experiência (talvez eu tivera ameaçado a me jogar debaixo de um caminhão se Taehyung não fosse o escolhido para Kainon). O fato importante era que ele rapidamente provara que não haveria escolha melhor. Desde o lançamento do primeiro episódio, conseguira-se fazer o personagem mais amado pela audiência, mesmo o seu par, Anan Aghapi, tendo como principal traço de personalidade ser profundamente amável.

— Só vou cumprimentar o pessoal, e a gente já senta para repassar o capítulo, sim?

— Sim — repetiu, manso. Piscou os olhos devagar antes de dizer: — Sinto que hoje você gostaria de um espresso duplo. Sem açúcar, mas com um docinho acompanhando.

— Você sente muito bem, Taehyung.

— Sinto.

Ele me ofereceu um sorriso cheio de charme antes de se afastar pelo enorme galpão. Atravessei os cenários ainda sendo construídos por uma grande equipe uniformizada com camisas cinzas. Soava-me poético trabalhar construindo coisas que não existiam no mundo real; eu até o fazia, mas com palavras e imaginação, elementos um tanto intangíveis. Cenários, por sua vez, eram de uma tangibilidade hipnotizante.

— Espero que você não esteja acompanhado de uma mudança no script — disse Hyojin, a diretora, antes mesmo de eu ter a chance de cumprimentá-la. Ela sentava em uma cadeirinha de plástico como uma rainha o faria em um trono: vestido largo e colorido decorando a figura suntuosa; cabelos soltos emoldurando o rosto largo de pele dourada e o olhar feroz.

— Ainda não, mas Taehyung me chamou para um café.

— É claro que chamou. Típico da dupla non grata dos roteiristas.

— E da diretora?

— Melhor vocês conversando antes do que mudar tudo em cena. — Ela deu de ombros. — Sendo sincera, já passei as cenas de hoje, então seria bom se vocês não fizessem mudanças bruscas. A montagem do set atrasou, então a Yongsun fez a gente adiantar o que desse para cumprirmos o cronograma.

— Isso explica por que Taehyung já está maquiado. Quanto tempo eu tenho para meu café?

Hyojin observou a equipe de montagem, pensativa. Lá, Yongsun, a produtora executiva, emitia uma aura quase maligna. Até mesmo os produtores sob seu comando, tão preciosistas com o tempo quanto a própria, pareciam subjugados pela impiedade de seu estresse. O mais incrível era poder observar a potência de seu ódio sem que ela emitisse uma palavra sequer.

— Eu queria dizer que dez minutos — Hyojin respondeu. — Como os meninos ensaiaram sem o set, ainda vai ser necessário repassar uma última vez antes da gravação para ajustar luz e som. Provavelmente o enquadramento também, você sabe como a Byulyi é chata com essas coisas. Acho que você tem, no mínimo, meia hora.

— É, se nem com a Yongsun dessa forma ficou pronto, deve demorar um pouquinho ainda.

— Não bagunce minhas cenas, Park Jimin.

— Você vai ver, não vou mudar uma linha sequer. Acho que Taehyung só quer saber a entonação.

— Você sempre diz isso.

— Quase sempre cumpro.

— Seu charme irresistível pode funcionar com os outros, mas não comigo.

— Uma pena, pois assim perco o direito de chamar meu charme de irresistível. — Fiz uma mesura exagerada que arrancou um revirar de olhos dela. — Mas vou superar.

— Tenho certeza que sim.

O caminho até a área externa do galpão de gravações se mostrou mais rápido do que esperado considerando o tanto de vezes que pausei para conversar com alguém envolvido com a produção da série ou distrações fúteis, próprias de minha pessoa. As filmagens nunca deixavam de ter apelo comigo: as maletas gigantes de maquiagens e os cabides repletos de roupas no camarim; as caixas lotadas de eletrônicos e pedaços engraçados de cenários; a incessante correria. A escrita me presenteava tanto que uma parte de mim sentia-se mesquinha. Nunca lhe ofertei nada de volta.

O sorriso largo oferecido por Taehyung quando me acomodei em um banquinho frágil de metal ao seu lado também indicava não ter sido uma demora tão absurda. Talvez fosse mais mérito de Taehyung, ele já confessara que grande parte do trabalho (e da virtude) de um ator era esperar.

À nossa frente, descansava uma mesinha alta, com a aparência ainda mais bamba. O tampo circular e estreito quase não comportava as duas xícaras de café e o script do dia. Taehyung precisara apoiar o segundo volume de O Cúmplice de Aldebaran no colo.

— É minha capa favorita da trilogia — comentou enquanto pegava o livro. Dei um gole na bebida oferecida a mim, encorpada como a voz de Taehyung.

— Não sei se é de bom tom eu revelar meu filho favorito.

— Pensei que não teria filho favorito.

Uma das mãos de Taehyung — livres das luvas metálicas do figurino, claro — se revelou de baixo do livro com um bombom acomodado na palma. Eu o peguei.

— Imagino que todos tenham, só não o confessam. Qual é o papel que mais gostou de fazer até agora?

— Kainon.

— Agora, responda com sinceridade.

— É verdade! — A risada de Taehyung soava doce e, de algum modo, calma também. — Mas confesso que talvez seja só a perspectiva que eu tenha atualmente da minha carreira.

— Como?

— Como comecei no teatro, o auge era conseguir um papel bem complexo em algum espetáculo bem cult. Depois, quando eu fui entrar no mainstream, senti que precisava me desvincular dessas crenças, então fiquei muito feliz com meu primeiro papel em uma comédia romântica pastelona. Mas depois só me contratavam para comédias românticas e fiquei cansado. Então, sou muito feliz com o papel do Kainon, foi minha primeira oportunidade de quebrar o ciclo de comédias e de galã meio burro. — Com uma risadinha, acrescentou: — Kainon é um galã deprimido, uma boa quebra.

— E quebrou com maestria, eu não saberia dizer que sua especialidade é comédia.

— Fiz muitas comédias, mas dizer que é minha especialidade é uma palavra forte. Ainda estou procurando minha especialidade, se ela existir.

— Entendo.

— Não era um especialista em fantasia?

— Jamais. Apenas sou um homem escrevendo muitas fantasias no momento. — Dei de ombros. — São muito úteis, acho que consigo tratar de forma mais lúdica algumas coisas.

— Dizer que suas historias são lúdicas é falta de conhecimento ou falsa modéstia?

— Nunca usaria de falsa modéstia. — Dou um risada sincera. O bombom que me fora presenteado tinha uma deliciosa ardência de licor de cereja. — Não digo que são lúdicas... Só que para representar as mesmas coisas sem usar o elemento da fantasia, seria... um pouco demais, acho.

— De fato, acho que é por isso que gosto tanto dos seus livros. — Taehyung apoiou o volume na mesa e o abriu em um capítulo já marcado pela fitilha púrpura típica da edição de capa dura. — E é por isso que você vai reler o capítulo comigo.

Puxei meu banco para ficar ombro a ombro com Taehyung. O sorriso dele continuava manso, uma linha tênue entre educação e segundas intenções. Seus dedos deslizaram com delicadeza pelas páginas, todas submersas em Kainon. Eu mesmo teria de me recordar o sentimento exato ao escrevê-las, um desafio constantemente presenteado por Taehyung junto aos doces.

Antes das revisões insistentes dele, eu não enfrentara o fato de ser incapaz de sentir da mesma forma de quando escrevera. Nem quando revisara. Nem quando criara o script.

Talvez eu não fosse mais capaz nem de escrever O Cúmplice de Aldebaran como o fizera no passado. Nenhuma história, imaginava eu. Por mais que no espelho eu sempre enxergasse a mesma pessoa — quiçá algumas linhas de expressões mais marcadas —, a escrita era uma impiedosa e inegável passagem do tempo, recordando-me do que eu fora e felizmente não era mais. Agoniando-me sobre como eu enxergara as coisas, e infelizmente não enxergava mais.

Mesmo assim, não custava tentar lembrar como era. Sempre fui um adepto da nostalgia. Conectei meu olhar ao do ator, sorri um sorriso tão ambíguo quanto o dele e respondi:

— Claro.

-📖-

Ver-me correndo havia o mesmo grau de raridade que descobrir um diamante azul — decerto com menos impacto ambiental e social. Não por sedentarismo ou algum tipo de aversão ao ato em si; simplesmente porque a pressa agia como neblina para a coletânea de banalidades tão intrínseca à beleza da vida.

Entretanto, encontrava-me eu, correndo. Se parado, conferindo o horário. No transporte público não pelas histórias disponíveis ali, mas pelo trânsito caótico demais para zapear pelas avenidas ser uma boa opção. Espremi-me em um canto do vagão lotado, com um frouxo domínio do ritmo das coisas, incapaz de controlar tal aceleração. Era um sentimento esquisito; adestrar o caos e a velocidade já fora uma habilidade minha, e não sabia que era possível perdê-la.

Consultei o horário em meu celular mais uma vez. A cada minuto, ainda mais atrasado — como esperado da linearidade do tempo, mas ainda esquisito. Com a grande quantidade de passageiros, o metrô parecia se demorar mais do que o normal em cada estação.


Jungkook [19:03]

do jeito q é adiantado, era p vc já ter chegado

devo entender que meu ingresso de cortesia foi rejeitado?

Namorado <3 [19:03]

Jamais recusaria um convite tão amoroso do meu tão amado namorado.

As gravações de CDA atrasaram um pouco. E esse pouco acabou virando um muito fora de controle. Já estou no metrô a caminho, mas faltam umas sete estações, então não devo chegar a tempo. Tem problema?

Jungkook [19:04]

não, posso atrasar algumas coisas por aqui tbm

Namorado <3 [19:05]

Não. Se você atrasar algo do seu trabalho por minha causa, a gente termina.

Só dê um jeito que alguém possa me deixar entrar mesmo atrasado.


Ele reagiu com uma mão levantando o polegar. Típico. Ao menos não me daria motivos para terminar.

Os minutos correram como se competissem comigo, que não queria briga nem apertar o passo como apertei. Eu imaginei o destino final de várias formas, mas quando o vi de fato, com a fachada rústica de chapisco coroada por uma pesada placa de ferro iluminada em roxo e com o nome "Naya" recortado, não fiquei exatamente decepcionado. Não era chamativo como algo escolhido por mim — poucas coisas eram —, mas interessante e bonito.

Uma segurança tomava conta da entrada, um vazio no meio de todo o cinza que permitia rastros de luz e de som escaparem. Ofereci meu ingresso a ela, que chamou alguém pelo walkie talkie.

Fui guiado por outra segurança por um corredor longo, apertado e inclinado, descendo até uma espécie de boate. Na parede em frente, havia um pequeno palco. E, nesse pequeno palco, estava Jungkook. Um outro Jungkook. Um grande Jungkook.

Vestia roupas que pareciam de brechó, mas certamente uma enganação premeditada por marcas caríssimas: calça jeans clara personalizada com retalhos de tecidos estampados e coloridos, uma blusa de seda de losangos amarelos e azuis claros debaixo de um sobretudo rosa bebê de pelinhos com um dos bolsos faltando. Senti-me apropriado.

Interagia com a plateia carregando sorriso no rosto e sem deixar, em momento algum, a voz desafinar. Poderia ser playback, mas eu já me arriscara a ouvir algumas músicas dele, e Jungkook não soava daquela forma em estúdio. A intensidade era outra. Ele deixava uma rouquidão gostosa aparecer em algumas notas, fugia da letra para improvisar novas harmonias, despia-se da perfeição. Era terrivelmente brincalhão, inebriantemente sincero.

A talvez infinita análise foi interrompida por um toque em meu ombro. Era a segurança, que me ofereceu um sorriso antes de voltar a me conduzir pelo salão. Do lado oposto ao palco, havia um barzinho arrumado e colorido, com um sofisticado balcão de madeira escura acompanhado de banquinhos altos e acolchoados e uma bela estante exibindo um oceano de garrafas caras retroiluminadas de roxo.

Na lateral do palco, repousava uma estrutura metálica que se assemelhava a um camarote improvisado. Seu acesso era por uma escada e, no topo, alguns banquinhos e mesas combinando com a do bar aguardavam seus convidados. Lâmpadas neon roxas decoravam a parede de cimento queimado e formavam o nome do bar. A segurança me orientou a subir e assumiu seu posto no pé da escada.

Eu não poderia dizer que foi uma subida fácil, mas os percalços e o desconfortável estampido metálico sob meus sapatos se distanciaram assim que me sentei e notei a visão privilegiada do palco. A música que Jungkook cantava parecia ter chegado ao fim, apesar da banda atrás dele ainda continuar tocando um som ambiente.

A grande atração daquela noite, também conhecida como meu namorado de mentira, trocava uma conversa mansa com o público enquanto atravessava o palco em busca de uma garrafinha de água. Já suava em bicas, mas impressionantemente, não atrapalhava em nada seu visual; arriscaria dizer que até o valorizava.

E ele — suado, maquiado, perfeitamente caracterizado para as músicas. Lá, iluminado por canhões de luzes de cores quentes, pelo luar que esgueirava por uma claraboia charmosa e por mais algo que eu interpretava como charme — levantou o rosto e conectou seu olhar ao meu. Eu não esperava, não por modéstia, mas porque iluminação e um grande público distraíam a visão — toda vez que eu subira em um palco, fora uma experiência bem desconfortável —, então fui pego com a guarda baixa.

Era intenso e indomável. O sorriso que me ofereceu logo em seguida, ainda mais. Lindo.

— Bem, parece que esse meu mini álbum não é lá o mais romântico de todos, já que tomei um pé na bunda da minha inspiração... — Jungkook disse ao microfone depois de desviar o olhar de mim, e a plateia riu. — Mas vou tentar encantar um certo alguém com a próxima música, será que consigo?

Observei o nascimento de um rebuliço na plateia, mas como Jungkook não me olhava mais, não fui percebido. Ri, e ele notou ao dar mais uma olhadela rápida. Jungkook apoiou a garrafa de água no chão e virou de costas. O baterista chocou as baquetas ritmadamente, marcando o início da próxima música.

Jungkook jogou os cabelos ensopados para trás e voltou a encarar a plateia. A encarar a mim. Os olhos tinham um resplandecer inédito; e o sorriso atrás do microfone roxo incrustado de pedrinhas brilhantes, uma largura soberba.

Abriu a boca apenas para deixar a voz doce e melódica provocar:

É curioso.

Sim. Jungkook, naquele instante, era deveras curioso. Eu não conseguia desprender meu olhar do seu.

Não sei dizer o quê, nem por quê.

Seu rosto assumiu um tom confuso. Um tanto dissimulado: um sorriso sapeca fugia dos lábios.

Esse jeito que sinto no peito é novo, apesar de vários outros parecer. Me explica: o que tá acontecendo?

Soltei uma risada eu mesmo, porque aquela era uma ótima questão. Também me perguntava: o que estava acontecendo? Apesar de reconhecer que havia, sim, uma diferença entre apenas Jimin e o Jimin escritor, ela não era tão drástica quanto entre o Jungkook que me acompanhara à cafeteria e o Jungkook ali no palco.

Tô no espaço, ancorado, ou só vivendo uma paixão de momento?

Jungkook desviou o olhar de mim para encarar uma enorme câmera no meio plateia; agachou-se, todo chamativo, e jogou para trás o cabelo que nem havia terminado de voltar à testa, como se cada detalhe de ser um artista lhe fosse instintivo.

Primeiro, deixei um suspiro aliviado escapar dos lábios. Depois, choquei-me de não ter notado as câmeras gigantescas antes. Não tão grandes quanto às da série, claro, mas bastante chamativas.

Respirei fundo e me pus a notar: o retorno nos ouvidos de Jungkook também eram roxos, mas sem pedrinhas. Numa noite tão pincelada de roxos — na entrada, no letreiro, no microfone —, só pude me questionar: seria uma predileção perdida no seu preto e branco costumeiro?

Parte do público havia reparado em mim, o pseudo-camarote não era discreto, e muito menos era o olhar de Jungkook. Algumas pessoas apontavam a câmera para mim; outras, só o indicador. A maioria parecia alegre — dificilmente por mim, mas sim pelo saboroso gosto da fofoca, os boatos entre mim e Jungkook cresceram rápido como um filhote de dragão —, algumas pareciam enciumadas — inclusive algumas garotas, o que soava engraçado, porque eu estava certo de que, diferente de mim, Jungkook era gay. Talvez não fosse nem por terem perdido uma suposta chance com ele, mas por não o aprovarem comigo. Qualquer fosse a opção, divertia-me.

A Lua exibia-se pela claraboia. Lua Nova. Nas minhas narinas, fumaça de efeito e suor. Algumas pessoas assistiam ao show do balcão do bar, com drinks bonitos em mãos. As luzes pintavam todo o local com tons de roxo, laranja e dourado. Tudo cintilava, como se seguissem o exemplo do homem no palco.

Feliz ou infelizmente, meu olhar foi usurpado por ele. Mais uma vez. O sobretudo de pelos havia escorregado de seus ombros, acumulando-se nos antebraços. A camisa de seda pouco abotoada dava visão ao peitoral reluzindo de suor. Enfim entendi por que a plateia começara a gritar tanto.

Assim, fui interrompido em definitivo da minha tarefa de notar qualquer outra coisa. Como um professor severo, Jungkook exigia a atenção total e completa para si. Sempre improvisando e brincando com a voz, nenhuma nota limpa de estúdio. Uma bela voz. Um belo namorado.

O show terminou com fumaça de efeito subindo, confete voando e instrumentos gemendo. Aplausos, muitos aplausos, inclusive meus. Fiquei com a impressão de que eram poucas as músicas, talvez por ser um mini álbum. Quem sabe?

Jungkook agradeceu à plateia antes de apresentar a banda. Cada um fez um breve solo: a baterista de cabelo colorido; o homenzarrão baixista; a saxofonista miúda, quase engolida pelas próprias roupas; e o guitarrista que parecia fazer questão de gabaritar todos os clichês de roqueiro com seu cabelo longo e desgrenhado, suas roupas de couro justas e sua confiança formidável. Eu teria achado cada um deles incrivelmente interessante, entretanto, Jungkook ainda se impunha como principal peça naquele palco; cabelo ensopado grudando-lhe o rosto, peito totalmente desnudo e reluzente sob a luz — ele fora largando e desabotoando peças de roupas a cada música, flertando em transformar o show em um strip tease —, olhos expressivos e alegres, como eu nunca vira. Senti como se não conhecesse aquela pessoa.

Jungkook e a banda sumiram por trás de uma cortina. Percebi que aquela parte do salão estava interditada, quase como um camarim improvisado. Observei a plateia se mobilizar: a maioria ia embora, algumas se demoravam no bar, outras achavam um outro canto com um DJ para dançar. Houve poucas trocas de olhares comigo, todas acusatórias. Sorri. Parte de mim se divertia irritando os fãs de outrem, só costumava ter a chance de fazê-lo com os meus.

Deixei meu olhar se perder, forçando curiosidade. Frustrava-me não me demorar em nada, mesmo com tantas pessoas ao redor. Meu olhar sempre voltava ao camarim. E de novo, e de novo.

Não do camarim, mas das escadas; Jungkook apareceu segurando com uma habilidade impressionante dois drink em uma das mãos. Era uma ideia terrível me embebedar em um local com o acesso tão precário, mas quando Jungkook sorriu em cumprimento, o pensamento me escapuliu.

— Espero que goste de gin — comentou ao apoiar as taças na mesa e ao puxar uma cadeira sobressalente. Quando acomodou-se ao meu lado, seu cheiro de suor e de confiança invadiu minhas narinas, delicioso.

— Não vou fazer desfeita em um lugar tão bonito. — Deixei meus dedos enlaçarem a haste da taça. Continuei encarando-o enquanto dava um gole. Ele me direcionava um sorriso bastante lascivo, um que me fazia entender como tantos homens caíram em suas garras e viraram músicas.

— Gostou? — perguntou com falsa inocência e uma mordida inescrupulosa no lábio inferior. Não perguntava da boate.

— Sim, essa é a boate mais agradável que já fui. Costumo achar um ambiente claustrofóbico, mas essa claraboia fez um ótimo serviço. Ter extintor de incêndio também me alegra, sou bastante paranoico com segurança.

Jungkook apenas riu. Deu um gole longo na própria taça, exibindo de propósito o pomo de adão suado subindo e descendo. Quando a apoiou de volta na mesa, puxou a cadeira ainda mais pra perto de mim e pressionou as pernas contra as minhas. Apesar das camadas de tecido, eu ainda sentia a pele dele ferver. Ele apoiou a mão na minha coxa e retribuí o gesto. Quente como uma supernova.

Entramos em um consenso de uma silenciosa troca de olhares. Ele me devorava e desejei estar vestido com menos camadas de roupa. Para ser devorado mesmo, de pronto e por completo.

Demorei-me em todos os detalhes que admirara ainda no palco e que, enfim, eu podia apreciar de perto. O sobretudo de pelos se fora, mas a camisa de seda continuava. Ou quase. Um único botão segurava os dois lados com displicência. A pele dourada embaixo arrepiava-se e os mamilos enrijecidos marcavam o tecido delicado. Sentado, era possível delimitar o formato de sua coxa por baixo do jeans largo. E tinha um cinto, um cinto com uma bela fivela prateada que chamava atenção para os pelos ralos que caminhavam até seu esconderijo no cós da calça.

— Quer me beijar? — Jungkook perguntou, em um tom tão baixo frente à música ensurdecedora que me obrigava a chegar mais perto.

— Quero. — Sobre a mesa, deslizei minha mão para tocar a dele. Apertei sua coxa com mais força. — Vai me negar por vingança, lindo?

Soltou uma risadinha e balançou a cabeça em negativa. Eu atribuía à iluminação noturna, mas seus olhos resplandeceram como se abrigassem milhões de galáxias. Uma coisa era inegável: eu achara um belíssimo falso namorado.

— Não sou que nem você — sussurrou, mas daquela vez foi fácil de ouvir: inclinara-se até o pé de meu ouvido. — E você, vai me negar de novo?

Deslizei minha mão na sua, subindo pelo braço até a nuca, e enrosquei-a em seus fios. Aproximei-me até nossos lábios soprarem suspiros um no outro e os olhares se conectarem. Significava que não o negaria, mas Jungkook ainda me fitava com descrença e curiosidade. Não conhecia tanto de mim para saber, entretanto aquela noite me mostrara que eu também não conhecia tanto dele quanto supunha.

Apesar da ideia de provocá-lo mais uma vez parecer doce, o fato de Jungkook já esperar pela atitude tirava a graça. Uma pena.

Pior: eu queria mesmo beijá-lo.

Então, fechei os olhos e levantei o queixo.

Aguardava um beijo apressado, meu karma por brincar tanto com a comida. Não só era como as pessoas me beijavam, mas como eu as obrigava a me beijar.

Porém, o que senti foi uma boca firme, encorpada e calma; com gosto de gin e vermute. Uma mão se acomodando vagarosamente em minha cintura. Outra em meu queixo, sedosa como a camisa. Deslizou a língua entre meus lábios como se já soubesse o caminho decorado e fizesse o passeio sem pressa, apenas para aproveitar a paisagem.

De tão ritmado, não precisei interrompê-lo para respirar. Nem Jungkook o fez. Um beijo tão bom e despretensioso que não me senti impelido a assumir nada, e Jungkook aproveitou o espaço não para acelerar ou se assomar em mim; mas sim para continuar como antes, como uma degustação.

Fui trazido de volta ao som alto e às luzes do salão quando Jungkook interrompeu o beijo com um último bem no canto da minha boca. Prendeu meu olhar ao seu de novo. E sorriu. Sorri de volta, mas pode ter sido impressão. Distrai-me com as galáxias de antes; elas continuavam ali, naqueles olhos.

Com calma, me afastei e peguei meu drink. Só então notei as fatias de laranja e anis-estrelados borbulhando. O cheiro deveria ser bom, mas só sentia o suor e a colônia de Jungkook. O sabor do álcool era pungente, mas parecia incapaz de sobrepujar o da boca alheia, ainda ali.

Jungkook me dera um beijo mais delicioso do que qualquer obra-prima da mixologia.

De fato, o acordo saía ainda melhor do que pedido. E minha curiosidade voltava a assombrar.

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luzinha assistiu o JK
@jungkookamoreterno

MEU DEUS, PRA QUEM O JK TAVA OLHANDO NAQUELE SHOW? SE FOSSE COMIGO SERIA MEU ESPÍRITO DIGITANDO ESSE TWEET


lari TEM PAPAI NOVO
@larijkism

em resposta a @jungkookamoreterno

amg vc não viu? tem foto do JK BEIJANDO PARK JIMIN nesse mesmo dia da gravação TT


lari TEM PAPAI NOVO
@larijkism

em resposta a @jungkookamoreterno e @larijkism

juro, queria tanto ser beijade assim TT a vida é mto cruel e eu sou mto solteire fhjdakslhfalkhfjkas


luzinha assistiu o JK e tem PAPAI NOVO
@jungkookamoreterno

em resposta a @larijkism

AI MEU DEUS DO CÉU, TEVE BEIJO JIKOOK NA MINHA CARA E NEM VI AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA É HOJE QUE DESCUBRO TUDO SOBRE PARK JIMIN

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Jungkook também sabe jogar esses joguinhos! [às vezes] [depende do dia] [do posicionamento da lua] [mas consegue], genteeeeeeeeee, eu amo esse beijo deles, juroooooo!

Ah, não esquece de deixar seu votinho! 💜

Qual foi sua parte favorita? Acho que, nesse caso, não consigo fugir do beijo deles aaaaaaaaaaaaaaaaa capítulo 4 e eles já estão assim, né? Logo eu, escritora de slow burn.

Ahhhh! Lembrando que a rede social na qual sou mais ativa é o instagram (sou a callmeikus lá também) e, além do dia a dia escrevendo fanfics! Às vezes falho porque sou uma proletariada numa jornada de 44h semanais e muitas horas extras, mas eu tento!

Beijinhos de luz, amo vocês, e até sexta dia 05/07 às 19:00!

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