03 | me faz encantado
Oi, oi, incomunzetes!!! Como vocês estão???
Mais uma vez, muito obrigada por todo o carinho com essa história e pelos comentários 🥺 estou amando demais da conta mesmo!!! Sinto como se fôssemos BFFs
Só lembrando que esse capítulo é narrado pelo Jungkook (o CD é o emoji dele!). Adoroooo as interações desse capítulo, hihihi👀
Boa leitura e, se gostarem, comentem, porque amo saber o que vocês estão achando!!
»»💿««
estou um tanto assustado
perdido, derrubado
tem algo tão poderoso no seu olhar
de repente, me encontro em alto-mar
acho que fui encantado
talvez seja algo tirado de suas fantasias
me faz encantado
mais e mais, quero ter mais dessa magia
💿
Eu tenho um acordo.
Um acordo absurdo, de um namoro de mentira.
E é por causa desse acordo irracional que estou encarando meu celular por muito mais tempo do que gostaria. A essa hora da manhã, eu deveria estar na academia já. No máximo, se estivesse com muita preguiça, aproveitando para encarar pela minha querida janela a cidade iluminada pelo Sol e esperando a musa da criatividade vir sussurrar algum remorso de relacionamentos passados no meu ouvido.
Mas, não, eu me afundo em dúvidas como Indiana Jones o faria em areia movediça. O que é muito patético da minha parte, porque a confusão causada por um cara chamativo não é ameaçadora como múmias revoltadas e incomodadas com um colonizador sem noção, então não consigo ser compreensivo comigo mesmo.
Minhas dúvidas são todas estúpidas, como:
mando mensagem? Jimin não mandou nenhum meme, mas da última vez, ele quem tomou a iniciativa. Ele vai tomar de novo ou eu fiquei com essa responsabilidade?
que tipo de mensagem? Bom dia? Meme? Convite para almoço? Fotinhas de animais fofos? Vídeos de massinha sendo dobrada?
eu deveria tê-lo beijado ontem antes de ir para casa? Jimin passou um tempo olhando na minha cara antes de rir e me dar um tchau. Mas ele sempre fica me olhando e rindo de mim. Mas bem que falou que queria um selinho até o final da noite. Acho que eu devia ter beijado ele.
eu devo beijá-lo durante nosso namoro falso?
eu quero beijá-lo?
credo, por que eu quero tanto beijá-lo?
Sou até bom nesse negócio de namoro. Mas não de namoro falso. Estou em um terreno inexplorado e, mais uma vez, não consigo me comparar ao Indiana Jones porque o que ele tem de usurpador, eu tenho de patético.
O problema é que Jimin é milhares de vezes mais esquisito do que qualquer outra pessoa com quem me relacionei. Ou melhor, é meu primeiro esquisito. Meus ex nasciam de uma ida a um barzinho, uma bebida paga, um interesse demasiado na minha profissão e o preenchimento de todos os pré-requisitos de um namoro: jantar, ter diálogos irrelevantes, beijar, transar e fazer convites para continuar esse ciclo.
Jimin até pagou o jantar, mas ofereceu um acordo com cláusulas frouxas e não beijamos, nem transamos e tenho dúvidas se o próximo convite vai ao menos chegar. Será que só vamos sair se for para gerar boatos entre nossos fãs? Ou a gente vai fingir para nós mesmos que somos um casal, para ter material para músicas e livros?
Se vamos fingir para nós mesmos, não é basicamente o conceito de um namoro de verdade? Qual a diferença? Por que não estou tão revoltado assim com o fingimento? Todo meu papo de "não quero viver um teatro" soa uma ironia de comédia britânica.
Mas não é fingimento se eu, de fato, não o odeio. Posso não amá-lo, mas é mentira dizer que o cara não é interessante.
Devo pedir para o Seokjin vazar algo sobre nosso namoro? Ou tiramos uma foto de casalzinho e jogamos nas redes sociais? Será que é melhor deixar os fãs e a mídia curiosos antes da revelação, como uma grande jogada de marketing? Misericórdia, estou tão confuso. Sobre tudo.
Quando estou confuso, das duas uma: ou ligo para minha mãe, ou para Heeyeon. Ligo para minha mãe para chorar as pitangas da vida pessoal, e para a Heeyeon para a vida profissional. Mas Jimin... é um acordo profissional? Ou entra na categoria de vida pessoal já que tem a ver com namoro?
Minha mãe é incrível conselheira romântica, e sabe de cara quando alguém não presta (todos até o momento, no caso). Mas Heeyeon é muito profissional também, e se não fosse por ela, minha carreira já teria degringolado. Talvez ela me matasse por esse suposto namoro, apesar de nunca se importar de verdade com minha vida amorosa além de reforçar para eu não mandar arquivos de músicas em construção para ninguém (se tem regra, tem histórica) nem expor demais os ambientes que habito no dia a dia nas redes sociais.
Até para sanar minhas dúvidas, estou em dúvida. Nunca fui tão patético. Nunca encarei tanto o celular.
Acho que o encarei tanto que dei tempo para ele tremer com uma mensagem. É só meu tio tentando vender uma moto capenga no grupo da família. Eu o ignoro, como todo mundo vai fazer, e me revolto por ter tomado um susto com algo tão ridículo. Meu coração quer fugir no peito.
Ele treme depois de mais nove minutos de escrutínio. É meu primo reclamando com o pai vendendo a moto dele sem permissão. O celular entra em uma sequência de tremidas, todas nascidas da briga familiar relacionada à moto. Começo a me acostumar com a ideia do celular vibrando a cada segundo e me acalmo.
Analiso melhor a barra de mensagens e, entre elas, o contato "namorado <3" se mistura, quase como se tivesse se esgueirado ali para parecer menos chamativo. Não adianta muito, meu coração está na boca de novo. Abro. É só uma figurinha brega de bom dia, do tipo que minhas tias daqui a pouco vão começar a mandar no grupo da família para interromper a briga da moto.
Respiro fundo, acho que irritado comigo mesmo. Nunca fui indeciso ou medroso em nenhum relacionamento. Nem em nada, na verdade. Sempre me foi muito fácil ser direto ao ponto, então digito de volta a mensagem:
Jungkook [08:32]
então, como vamos operacionalizar esse namoro?
já tem um plano por aí?
Dá nove horas da manhã, e Jimin não me respondeu. Isso me deixa tão esquisito que me obrigo a me ocupar com algo. Consulto minha agenda: logo antes do almoço, vou ter uma entrevista com um streamer famoso, o Beomgyu, que tem um podcast chamado GyuTalks. Não simpatizo com ele: faz mais piada com (e dos) convidados do que seria decente e não envia as perguntas da entrevista de antemão; tudo para extrair reações e falas que figuras públicas costumam evitar. Mas tem muito alcance e é um dos poucos que gosta de entrevistar artistas indie. E se ele fizer piadas sobre eu estar encalhado (Heeyeon escreveu no mini documento de direcionamento para eu me preparar para o podcast que essa é a mais comum para artistas solteiros), eu falo do Jimin? Só deixo no ar para instigar a curiosidade? Ou finjo que não há nada disso?
Jungkook [09:02]
hj tenho entrevista com um streamer enxerido. falo de você?
Irrita-me ter mandado outra mensagem para Jimin com tanta facilidade. Ao mesmo tempo, alegra-me ter sido direto e assertivo. É assim que sou: tranquilo. Gosto da minha personalidade desse jeito, poupa-me de muitos problemas.
Tomo vergonha na cara e me arrumo para a academia. Talvez puxar ferro e observar os locais se admirando no espelho com poses engraçadas me ajude a espairecer. Saio do apartamento sem o celular, mas com meu kit completo de cantor rato de academia: shake de sabor estranho, roupa esportiva toda preta e o aparelho MP3 com músicas recentes de artistas interessantes devidamente baixadas e atualizadas. Aparelho MP3 parece velharia (e é), mas é porque sempre me foi muito útil poder ouvir música sem cair na armadilha das mil outras coisas que um celular tem.
Mesmo assim, na volta, eu não resisto. A primeira coisa que faço é pegar o celular (deveria ser tomar banho).
Namorado <3 [09:32]
Ei, lindo <3
Quanto à entrevista, você pode jogar algumas poucas informações no ar. Poucas. Não vamos entregar a fofoca de bandeja, certo?
Hoje também tenho uma coletiva de imprensa, então sugiro usarmos alguma peça de roupa ou acessório combinando para incitar boatos.
Sobre os nossos próximos planos, (ou melhor, "operacionalização" do namoro, em suas palavras) conto contigo. O último convite foi meu, vamos revezar para não abusar da criatividade de nenhum.
Estou prestes a escrever um "ok" como resposta, mas percebo algo muito grave.
Jungkook [09:45]
o q a gnt vai usar combinando?
acho q eu n tenho nada q vc usaria
Namorado <3 [09:48]
Também não tenho nada que você usaria, imagino. Você é tão básico.
Jungkook [09:48]
é p eu me ofender com isso?
Namorado <3 [09:49]
Só se quiser, lindo, você é um homem livre.
Logo após, ele me envia um link. Se fosse um vírus, já era, porque clico na mesma hora. Dou de cara com um bracelete liso e prateado, com um fino fio vermelho esmaltado no centro.
Namorado <3 [09:51]
Não é meu tipo, mas consigo fazer magia (magia = colocar diversos outros braceletes coloridos ao redor). Animaria? Posso pedir para comprarem e entregarem na sua casa antes da sua entrevista. Que horas é?
Jungkook [09:51]
é um bracelete bonito
o podcast é às 11:30, mas vou sair de casa 10:30
Namorado <3 [09:52]
Hm, apertado, mas dou um jeito. Não esqueça de me enviar seu endereço.
E combinados. Não se esqueça de pensar no nosso próximo encontro, hein? Não vá chatear seu namorado logo na primeira semana de namoro.
Apenas reajo à mensagem com um emoji de "joia" depois de enviar meu endereço. É uma decisão burra, pois não faço a mínima ideia do que Jimin gosta de fazer.
Deveria ter perguntado.
A ida ao restaurante mexicano, querendo ou não, foi porque eu disse que gostava. Será que se eu pedir para a Heeyeon, ela consegue mapear as preferências do Jimin pela internet? Talvez eu precise fazer isso sozinho, porque não estou pronto para contar a ela a furada em que me meti.
Já que estou pensando tanto, resolvo fazê-lo no banho. Preciso me arrumar e detesto estar grudento de suor. Culpo Jimin por ainda estar nesse estado lamentável.
Em geral, uso o banho para me inspirar com novas músicas. Espero muito que eu não o passe tentando me inspirar sobre onde levar Jimin.
-💿-
Um banho de inspiração desperdiçada, um bracelete bonito e muita inspeção de redes sociais depois, continuo sem saber para onde convidar Jimin. E, pior: agora sei que ele é muito mais famoso do que eu, então todo meu papo de "Jimin querer fama estando comigo" do dia anterior se repete incansavelmente na minha cabeça com uma dose grosseira de vergonha. Devia ter dado uma estudada antes. Mas nunca estudo antes, para nada. Espanta-me Jimin não ter rido mais da minha cara do que riu.
Porra, ele terminou de escrever uma saga de livros best-seller que o autor faleceu (com série televisiva, filmes, adaptação em quadrinhos, parque temático e tudo), tem uma trilogia própria sendo adaptada para uma série da 820 que a primeira temporada bombou tanto que até eu ouvi falar e, pelo visto, lança consistentemente livros que, no mínimo, ficam por semanas entre os mais vendidos. Eu já ouvi falar por aí que é difícil alcançar fama e dinheiro escrevendo (um ex-namorado metido a escritor sempre dizia que "queria ter talento com música, é mais fácil ficar rico, escrever é uma merda" e eu me convenci de que ele achava ruim mesmo escrever, porque nunca o vi escrever nem publicar nada, nem postagem em rede social) e, bem... Jimin não parece ter problemas com dinheiro. O bracelete foi caro.
Talvez ele só seja maluco. Que é uma opção bem factível também.
Provavelmente os dois. Rico e maluco.
Encaro meus próprios pés após entrar no carro que me levará até o estúdio de som do podcast. Isso tudo porque Heeyeon está ali, e sinto que ela vai me desmascarar em tempo récorde.
— Boa tarde, sr. Jeon, só recapitulando...
— Pode me chamar de Jungkook só! Eu não sou um senhor.
— Sei que posso. Não quero. — Ela estala a língua em desaprovação, como de costume. Acabo olhando para ela: com um tablet e pelo menos três celulares diferentes espalhados pelo colo. Veste-se como uma executiva: terninho feminino completo, cinza; joias elegantes, azuis; cabelo profundamente asseado, preto como piche. Pareço um maltrapilho perto de Heeyeon, mas ela diz que não tem problema porque faz parte da minha "construção de imagem". — Acho que é um bom lembrete de que nossa relação é apenas profissional, sr. Jeon.
— Mas não pretendo te chamar de sra. Ahn.
— O certo seria srta. Ahn — corrige e dá um sorrisinho triunfante na minha direção. Ao me perscrutar, levanta uma das sobrancelhas, mas se mantém quieta. — Recapitulando... Após o podcast, você está livre, é seu dia de sorte. Mas não se acostuma, amanhã tem uma sessão de fotos de manhã, para um comercial de reciclagem e, de noite, a gravação dos clipes especiais ao vivo do seu novo álbum, não se esqueça.
— Por que reciclagem mesmo?
— Seu álbum, esqueceu o nome dele?
— Ah, "nada novo". Faz sentido. Legal fazer parte de uma coisa minimamente positiva do capitalismo.
— É tudo balela, sr. Jeon. A empresa é a maior produtora de plástico do mundo. Se ela quisesse resolver algo de verdade, daria um jeito de envasar os produtos em outro material. Mas empresas não querem resolver, querem lucrar e querem parecer simpáticas durante o processo.
— Agora me sinto um representante do colapso do meio ambiente. Por que fechou essa sessão de fotos se tem essa opinião?
— Pagava bem e é compatível com sua imagem. Infelizmente, você é só mais uma engrenagem do sistema. Todos nós somos.
Encaro Heeyeon por um tempo. Às vezes é difícil dizer se ela está séria ou brincando. Na verdade, sempre é difícil. Ela parece tão conhecedora sobre tudo que me sinto pequeno ao lado; ao mesmo tempo, sinto-me muito tranquilo e seguro de deixar que gerencie toda minha vida. Até agora, as únicas coisas que deram errado foram quando a desobedeci. Tipo a vez que mostrei todo meu álbum "borboletas" para o meu ex-ex-namorado: ele deu um jeito de gravar pelo celular, escondido, e eu, idiota como sou, fui tomar um banho com meu computador de trabalho desbloqueado, então ele também se enviou os arquivos finais, com qualidade de primeira. Saí do banho sem namorado e com arquivos inéditos meus desde qualidade péssima até perfeita em todo canto da internet. E com uma montanha de mensagens e ligações perdidas da Heeyeon.
Ficamos alguns minutos em silêncio. Eu olhando para fora da janela, ela anotando coisas em algum de seus cinquenta mil dispositivos. Ela consulta o relógio de pulso.
— Estou impressionada com você, sr. Jeon — fala, com a voz muito mansa. Não dá para levar a mansidão a sério quando ela não se cansa de me provocar com o "sr. Jeon". — Faz dez minutos que estamos em silêncio e você ainda não me contou o que está escondendo. Devo me preocupar com meu contrato de trabalho?
— Você é uma bruxa.
— Você é mais fácil de ler do que os livros da minha sobrinha de três anos.
— Mentiu.
— Vamos, sr. Jeon, diga logo. Você não é de tanta cerimônia.
A observação dela me incomoda. De fato, não sou de cerimônias. Então, digo logo, como se arrancasse um band-aid:
— Tô namorando.
— Claro que está. E o que tem de diferente dessa vez?
— Por que teria algo de diferente?
— Você sabe muito bem por quê. Não está agindo como sempre.
— Você não sabe tudo sobre mim!
— Posso não saber de tudo, e nem quero saber, mas sei de muito.
— Arg! — dou um grunhido patético. Heeyeon levanta a sobrancelha para mim. — É... É um namoro de mentira.
Minha agente se engasga com um riso. Arregalo os olhos, porque nunca a vi rir. Se nem mesmo Heeyeon (que trata até as piadinhas e memes propostos pela minha assessoria de rede com seriedade) não consegue prender o riso quanto ao namoro de mentira, não há dúvidas: sou uma piada.
— Não ri!
— Não há nenhuma cláusula no meu contrato de trabalho me impedindo de rir, sr. Jeon. Você é contra a felicidade de mulheres? Machista.
— Você é muito difícil.
— Você é muito difícil, sr. Jeon do namoro de mentira. Por favor, me explique como isso foi acontecer. Quem é o rapaz?
— Um tal de Park Jimin...
Heeyeon arregala os olhos e tapa a boca com a mão. É a primeira vez que a vejo em choque. De fato, esse é um dia muito estranho. Jimin deixa a mim >>e<< a Heeyeon estranhos.
— Um tal de Park Jimin? Tem certeza que não é um sósia? Talvez seja catfishing! O que eu te falei sobre checar os antecedentes de seus namoricos?! Se bem que não é um nome tão incomum... Estou me precipitando, podem existir vários Park Jimins no mundo.
— Aparentemente é o Park Jimin que você está pensando mesmo. Escritor. Colorido. E é o de verdade mesmo, fui apresentado a ele na festa do Seokjin.
Heeyeon fica em silêncio, piscando os olhos devagar. Acho que está digerindo a verdade. Talvez fosse mais fácil para ela lidar com um cliente suscetível catfishing. Ela então murmura:
— Pior que vi alguns comentários sobre vocês dois nas redes sociais, mas achei que fossem as teorias sem nexo de sempre... Você sabe: fãs. Na última teoria, acharam que você fosse bibelô daquele tiozão apresentador de TV.
— Se você pensar que não somos namorados de verdade, a teoria é sem nexo mesmo. — Dou de ombros, ela me manda um olhar cortante. — Você conhece Park Jimin?
— É meu escritor favorito.
— Não sabia que você curtia fantasia, não combina com você.
— É? E o que combina comigo, sr. Jeon? A Bíblia?
— Não, só... Livros sérios, talvez.
— Os livros de Park Jimin são sérios — ela diz, mais séria do que eu imagino que os livros que ela lê são. Acho que toquei em um tópico sensível, ela é fã mesmo daquele louco. — Impecáveis. Antes de terminar de mentira com ele, consiga um autógrafo para mim.
— Pelo visto só eu não sabia que o Jimin é todo-poderoso.
— Sim, mas sua ignorância não me espanta.
— Obrigado pela gentileza, sra. Ahn.
— Srta. Ahn.
— Quando vai casar e virar sra. Ahn?
— Quando a outra srta. Ahn me pedir em casamento. Eu quem pedi em namoro.
— Justo. Bom que não precisa mudar documento por causa de sobrenome.
— Já preocupado com a papelada do seu casamento de mentira com Park Jimin? — Ela ri, de novo. Percebo que o namoro de mentira é seu novo assunto favorito.
— Uma coisa de cada vez. Mas já que você é muito fã dele, pra onde eu levo ele no próximo encontro?
— Não faço ideia, Park Jimin às vezes parece um delírio coletivo.
— Ele é mesmo. Completamente pirado.
— Pois é — concorda com seriedade. Cruza os braços e franze o cenho. — Sabe-se muito pouco da vida pessoal e dos gostos dele, ele é evasivo em todas as entrevistas.
— Por que ainda entrevistam ele então?
— Porque é muito engraçado. E o mistério faz parte do charme.
— Incrível o poder de Park Jimin, você nem mesmo está contestando essa história de namoro de mentira.
— E adianta eu contestar? Pelo menos dessa vez estou menos preocupada com a possibilidade de vazamento das suas músicas. Park Jimin é um caos, mas um caos bem profissional.
— Ele não se mete em escândalos?
— Se mete em vários. Mas todos os escândalos mostram mais a hipocrisia dos outros do que incoerência dele.
— Uau, você é fã mesmo. Qual é a cor do pano que você tá passando para ele?
— Colorido, para combinar com a figura — responde. A voz continua séria, mas consigo ver um sorrisinho se esboçar no rosto. É fato: Jimin é especial. — Quando vão assumir o relacionamento?
— Não sei ainda, ele propôs que a gente gerasse alguns boatos. A gente tá usando esse bracelete de casal.
Ela segura meu pulso e observa a pulseira mais de perto. Aperta os olhos e analisa criteriosamente o objeto antes de simplesmente soltar um:
— Genial. Tava na hora mesmo de você participar de uma fofoca boa o suficiente para aumentar seu crescimento orgânico. Bendito seja Park Jimin.
O carro estaciona na frente de um prédio todo cheio de afetação, cheio de vidro, de e para todos os lados. Parece moderno demais para mim. A maioria das coisas parece.
— Vai lá, sr. Jeon. Aproveita a cara de pau desse Beomgyu para deixar no ar seu namoro com a galinha dos ovos de ouro.
-💿-
Foi irritante, mas sobrevivi.
Entrevistas sempre me irritam. Também sempre sobrevivo a elas.
Só não posso negar que o cabo de guerra entre entrevistador e entrevistado me deixa exausto. Não gosto de deixar manipularem minhas respostas, o que requer uma ginástica mental na qual sou bastante ruim. Pelo menos o fato do tal Beomgyu ser novinho pesou positivamente: hoje, falei exatamente o que queria e precisava. Se fosse algum repórter da revista Saidaí, eu teria me dado muito mal.
No carro, Heeyeon me passa o tablet.
— O que é isso?
— Cafeterias bem avaliadas. Lembrei que Park Jimin é sempre visto tomando um café.
— Quer mesmo que meu relacionamento dê certo, hein.
— Algum de nós tem que querer, sr. Jeon. — A voz dela continua impassível. Sem uma risadinha de nada. Em seguida, estende o celular para mim: é uma foto do Jimin no que parece ser uma reunião super séria. Ele é o único pontinho colorido entre o preto, cinza e branco de uma plantação de engravatados. Está sentado atrás de uma mesa longa e cinza, na frente de um microfone também cinza. Dá para ver várias câmeras capturando imagens dele. Faz sentido, já que tudo, menos ele, é entediante. Tudo menos ele é cinza. — Ele já apareceu usando a pulseira de casal, veja. Um gênio em todos os aspectos.
Aceno a cabeça em concordância, fingindo ter reparado antes, mas me distraí com o arco-íris ambulante que é Park Jimin. Logo busco seus pulsos: ao contrário do que comentou, usava o bracelete solitário no braço esquerdo, o que é bem chamativo (não por ter muita coisa, mas por ser o único pedaço do corpo dele que tem menos coisa). No direito, está a prometida cacofonia de várias pulseiras coloridas.
Desvio o olhar e começo a olhar as opções de cafeteria. Quando percebo que estou racionalizando demais (fala sério, preocupar-me se tem variedade suficiente de preparação de café? Não, estou fora), volto ao começo da lista, escolho a primeira opção e mando o link do local para Jimin.
Gosto de ser um homem simples e pretendo permanecer assim.
Jungkook [13:06]
meu convite
Namorado <3 [13:08]
Lindo, você é tão seco.
Encontramo-nos lá às 14:00?
Jungkook [13:08]
hj?
e sua coletiva de imprensa?
Namorado <3 [13:09]
Deve terminar perto de 14:00, estamos fazendo uma pausa.
Ele me envia uma foto dele mesmo com uma cara de tédio. A lente da câmera está bem próxima do nariz pequeno que fica parecendo grande pelo ângulo. O rosto redondo fica ainda mais rechonchudo. Heeyeon espia sobre meu ombro (ouço um micro-engasgo, acho que por ter atestado que o Jimin é ele mesmo, não um sósia) e sinto meu rosto queimar. Talvez eu tenha achado Park Jimin fofo. Mas não é culpa minha se Jimin é tão bonito quanto é maluco.
Namorado <3 [13:09]
Coincidentemente, a cafeteria que sugeriu é a cinco minutos a pé de onde estou. Então não devo me atrasar para chegar.
E não vou mentir, aceitaria de bom grado um cafezinho para renovar minha vontade de encarar o resto do dia pós-coletiva de imprensa. O pessoal aqui é insuportavelmente chato.
— Parabéns, srta. Ahn, Park Jimin parece ter gostado mesmo da ideia da cafeteria. Você é uma fã exemplar.
— Favor, não esquecer meu autógrafo. — Ela se inclina para terminar de ler a conversa que lhe mostro. Não tenho segredos com minha agente, até porque não há alguém mais discreta que ela no mundo. — Quer que já te leve à cafeteria?
— Podemos voltar para minha casa mesmo, vou trocar de roupa e descansar um pouco antes de ir, a cafeteria não é muito longe de lá.
— Quer que eu reserve o carro?
— Não, vou de aplicativo, como sempre faço nesses casos, srta. Ahn. Sei que você vai com a cara do Jimin, mas cuidar da minha vida pessoal tá fora do contrato.
— A não ser que prejudique a vida profissional.
— A não ser que prejudique a vida profissional — concordo, como um mantra. Meus namorados costumam prejudicar. Talvez Jimin seja o primeiro que tem o potencial de me favorecer.
Estacionamos na frente de meu prédio. Saio do carro e logo ele some pela avenida. Tudo sobre isso é comum e banal. E tudo o que se segue depois também o é: sou liberado na portaria, pego o elevador, entro em casa. Como uma fruta antes de me enfiar no banho. Toda vez que eu volto para casa é assim. Mas não é.
Talvez eu esteja meio bravo, mas não sou tão acostumado com a sensação para identificá-la. É um negócio na garganta, um formigar no peito. Seja bravo ou outra coisa, sei que incomoda, ainda mais porque sei que foi causado pelo simples ato de pensar em Jimin.
E pensar em Jimin deixa tudo fora do comum; não porque as coisas saíram do lugar, porque eu saí do lugar. Por causa de um cara esquisito com quem quase não conversei ainda. E aí, fico ainda mais incomodado.
No fim, não descanso. Essa coisa dentro de mim incomoda tanto, tanto que me impele a me arrumar logo e ir. Tentou até me impelir a vestir algo mais arrumado, e a única coisa que me salvou de tal destino foi não possuir nenhuma roupa mais arrumada (as roupas de clipes, shows e premiações são orquestradas sempre pela Heeyeon com ajuda da namorada dela, Hyojin, que convenientemente é maquiadora e estilista).
Quando noto, estou na cafeteria. Cedo demais. De novo.
Ao contrário da vez do restaurante mexicano, não acho que Jimin vá conseguir chegar ridiculamente adiantado também, e sinto uma espécie de alívio. O alívio eu conheço: vem acompanhado de um suspiro, na maior parte das vezes. É a sensação que sinto quando a saxofonista, atrasada, consegue chegar na casa de shows no último minuto.
Ocupo-me bebendo um copo de água e encarando meu relógio de pulso. Faço questão de manter o olhar meio distante, com uma espécie de medo de alguém me reconhecer. Não há nada no mundo que me deixe menos Jeon Jungkook do que todas essas sensações se empilhando em mim — mesmo com ajuda da estilista e com a insistência da minha agente que eu distancie o profissional do pessoal para meu próprio bem estar, meu eu artista solo é só eu. Não tenho uma atitude específico, nem um conceito muito diferente como o que eu tinha durante minha passagem por bandas e grupos.
Em algum momento, a porta da cafeteria tilinta. É Jimin. Ele vistoria todo o local do teto ao rodapé, deixando um sorriso manso crescer entre os lábios grossos. Parece aproveitar até mesmo o sino cortando a música ambiente. Quando pousa o olhar em mim, sinto como se um tapete tivesse sido puxado de baixo dos meus pés. Talvez seja ele se destacar tanto da cafeteria: uma explosão de cores entre os cremes e marrons amadeirados.
Antes de chegar até mim, é abordado por uma garçonete. Ele responde algo que parece banal, mas acho que a moça tem a mesma sensação de tapete roubado que eu, pois fica bons segundos só piscando, de boca aberta. Depois, abre o caminho para minha mesa.
Não sei se o que Jimin tem é fama, carisma ou alguma habilidade mágica aprendida com seus personagens de fantasia. Mas ele tem algo.
— Boa tarde, lindo — diz, acomodando-se na minha frente. Suas pernas roçam as minhas por baixo da mesa. O tom de voz soa paradoxalmente doce e provocante. — Lamento a demora, gosto de estar adiantado nos lugares.
— Acabei de chegar também.
— Duvido muito! — Seu tom agora é gentil e atrevido. A coisa mais estranha de todas.
Estou pronto para soar ofendido com a acusação, mas a mão dele tocando a minha em cima da mesa me faz perder o foco. Meu olhar pousa nas nossas pulseiras combinando. Acho que há umas vinte camadas de carpete debaixo de meus pés, e todas estão sendo puxadas. Uma por uma.
— Já escolheu o que te apetece, lindo?
— Ainda não.
— Que bonito, você me esperar. — O sorriso dele abre. E ele sorri com todo o rosto; dá para ver mesmo atrás do enorme óculos os olhos se espremendo. Com uma confiança digna de homem hétero no bar favorito, ele pisca para a garçonete e pede o cardápio.
Ele me deixa escolher primeiro, e eu deixo que ele me deixe. Costumo estar no papel de Jimin: falo, ofereço, tomo a frente. Mas pareço uma brisa; e ele, um tufão. Talvez não seja apenas uma questão de preferência, mas sim de poder, uma hierarquia de poder.
Passo o cardápio para ele, que o encara por uns dois segundos antes de baixá-lo. Chama a moça de novo e aponta para mim. Peço primeiro e ele depois. Quando a moça se afasta, tomo coragem para perguntar:
— Gostou da cafeteria? Fiquei sem saber para onde te convidar... Você não me deu nenhuma informação sobre você mesmo!
— Foi uma escolha de ótimo gosto — responde, e o jeito que seu olhar se demora em cada detalhe ao redor, exalando uma satisfação preguiçosa, faz-me acreditar em suas palavras. — Mas claro que dei! Logo no primeiro dia, na minha apresentação pessoal eu disse que amo caminhar.
— Mas caminhada não é bem um convite... Como que te chamo para ir caminhar?
— Olha, entendo que a adoção de tecnologias pode ser complicado — começa, em um tom professoral. — Mas nesse caso é só abrir o aplicativo de mensagens e escrever "vamos caminhar juntos"?
— Mas onde? Caminhar meio que dá pra fazer em qualquer lugar. Imagina se te chamo pra caminhar num shopping e você odeia?
— De fato, vou dar esse crédito. Mas não sou muito exigente, até ruas sem calçada me alegram. — Pausa, e sobe os óculos pelo nariz com o semblante pensativo. — Talvez ir a um museu seja uma boa ideia.
— Você gosta de visitar museus? — pergunto, incrédulo.
— Claro, por que seria estranho? — ele devolve e os olhos pequenos por trás das lentes grossas brilham.
Merda. Mais uma vez, sirvo de objeto de estudo desse maluco com quem topei fingir um namoro.
— Por que você gosta? — rebato mais uma vez. Ele dá um sorrisinho tranquilo, como se estivesse tirando o doce de uma criança. Sinto que nunca conseguirei fazê-lo vestir uma expressão de desagrado. Mérito dele, por ser tão inabalável.
— Amo aprender. Em geral, aprender coisas novas é o que gera ideias para minhas histórias. Para mim, ser escritor é enxergar tudo como se fosse uma grande história a ser escrita. Estudar não te ajuda na música?
— Não sei nem matemática básica, mas parece que tô indo bem como cantor. — Dou de ombros. — Acho que é dispensável então.
— Matemática e música estão bastante correlacionadas, não?
— Até que sim, é um dos raros papos que dá pra ter com meu irmão, mas nunca deixo ele se empolgar demais com o assunto; Junghyun é cabeção demais.
— Seu irmão, é? O que ele faz?
— É o gênio da família, dá aula de matemática em universidade. Acho até que já tá terminando o doutorado.
— Há várias formas de genialidade, apesar de eu não gostar desse termo. — Ele tomba a cabeça de um lado para o outro, como se fosse um assunto de extrema importância. Quando a moça vem entregar nossos pedidos, ele sorri largamente e a desestabiliza. Desde o restaurante mexicano, pergunto-me se é proposital. Acho que sim. Quando acho que a conversa tinha terminado, ele dá um gole satisfeito no café e pergunta: — O legado do seu irmão te pressiona?
Ocupo-me com meu milkshake para poder pensar sobre o assunto. A resposta vem fácil, mas Jimin tira muito mais informação de mim do que eu dele. Preciso dar um jeito de revidar, mas ele é claramente experiente nessa arte; e eu, nem ao menos um aprendiz.
— Não, não. Meus pais são bem tranquilos. E é ótimo algum de nós dois ser estudioso de verdade, minha mãe é pedagoga e fica alegre de ensinar pra gente, mas nunca gostei muito de estudar. — Dou de ombros. De novo. Mas é verdade. — Você tem irmãos?
— Sim, uma irmã. — O tom é manso, como se entregasse uma informação banal, mas se a grande mordida que ele dá no sanduíche tem a mesma função que meu gole no milkshake, talvez tenha algo aí. Ou pode ser só conspiração da minha cabeça, porque a comida está lá para ele comer.
— Vocês se dão bem?
— Nem bem, nem mal.
— Pensei que nosso acordo fosse dar material um para o outro.
— Ah, lindo, mesmo minha forma de responder é um material. Observe bem, sim? — Escorrega os óculos para cima do nariz de novo, dessa vez o empinando. Tem um ar triunfal. Inclusive, complementa: — O material sou eu, não uma ficha de personagem minuciosa; se fosse, eu te entregaria um documento autobiográfico, e não minha presença. Nunca contarei uma mentira a você, lindo, mas nunca prometi que tirar verdades de mim seria fácil.
— Mas eu respondo tudo que você quer!
— A culpa não é minha se você é um homem simples.
Quase retruco, mas sou mesmo um homem simples. Na verdade, minha falta de simplicidade nos últimos dias me incomoda, então fico um tanto quanto feliz com a frase dele. Como meu sanduíche.
— Você parece ter muito carinho pela sua mãe, apesar de não ser o estudioso da família... — comenta ele.
— Não vou ficar te respondendo se você não me responde.
— Hm... — Tomba a cabeça de um lado para o outro. Já aprendi que é mau sinal. — Pelo pouco que te conheci, pensei que se orgulhasse de ser uma pessoa direta ao ponto.
— Por que acha isso?
— Porque prestei atenção, lindo. Só isso.
Terminamos de comer antes de eu conseguir arrancar algo de Jimin. Ao menos, ele também não consegue arrancar mais nada de mim. Pago a conta dessa vez, porque o convite foi meu; Jimin empurra os óculos para cima do nariz e fica me olhando passar o cartão como se conseguisse ler toda mísera intenção por trás.
Do lado de fora da cafeteria, olhamos um para o outro: ele com o sorriso atrevido de sempre, como se aguardasse para ver os meus próximos passos. Devo estar com uma expressão confusa. E não quero estar confuso, não quando sei que Jimin observa tudo com tanta curiosidade. Quero fazer algo que não soe óbvio para ele.
— Vamos dar uma caminhada? — sugiro. As calçadas desse bairro são bem decentes.
— Óbvio! Amo caminhar.
Jimin sorri e se acomoda contra um dos meus braços. Pela primeira vez, noto que ele é mais baixo que eu. Não significa muito, na verdade, muito menos quando o carisma dele é do tamanho de três elefantes.
Talvez esse seja o motivo do meu espanto: ele se impõe tanto que eu esperava uns centímetros a mais.
Andamos em uma direção qualquer. Não conheço a região — não conheço quase nada da capital, para ser sincero. Jimin não parece se importar com a falta de destino, está distraído olhando tudo ao redor com sua calma característica.
Parece que ele vive. E vive sentindo tudo.
Começo a reparar. O Sol está manso, mas seu dourado aquece a pele numa proporção perfeita para o discreto frio de outono. As calçadas são arborizadas, e os pássaros cantam. Mais à frente, há uma praça com algumas pessoas, talvez em horário de almoço.
— Acho que aquela construção é um museu — Jimin comenta e aponta um prédio com cara de antigo.
— Vamos — digo e entrelaço nossas mãos.
Para essa decisão em específico, tenho conhecimento o suficiente, então é melhor aproveitar. Sou Jeon Jungkook: o cantor indie dos mil namoros e dos mil fracassos. Jimin parece surpreso por um segundo, e isso faz meu peito vibrar de um jeito gostoso. Ele aperta os dedos ao redor da minha mão.
Chamamos atenção de algumas pessoas durante o caminho e dentro do museu. Não sei se é porque alguém nos reconhece ou porque Jimin é chamativo por si só. Pela primeira vez, ele parece não notar todos os mil detalhes de tudo e todos ao redor, está imerso demais em cada uma das pinturas expostas.
Em algum momento, Jimin nota que presto mais atenção nele do que em qualquer outra coisa. Estamos na frente de um gigantesco quadro abstrato, há vários minutos. Que só ele admirava, claro, porque estou distraído.
— Essa pintura não te provoca nenhuma emoção? — pergunta e empurra os óculos. Desde que notei o hábito, não paro de notar.
Dou uma segunda chance ao quadro e passo um tempo o encarando. Tem pinceladas e tem cor. Tem várias coisas, mas não entendo nada. Sem entender, não consigo sentir. Nego com a cabeça, mas reforço em palavras:
— Não.
Jimin conecta o olhar ao meu. Ele também tem pinceladas e tem cor. Ele também tem várias coisas. Também não entendo nada. Mas ele puxa outro tapete debaixo dos meus pés. Ao contrário da pintura, ele me provoca algo, apesar de eu não saber o quê.
Ele não diz nada, apenas voltamos a andar pelo museu de mãos dadas. Nada me chama atenção, mas não é tedioso. Nada do museu me chama a atenção, mas algo no museu chama.
Ao final da exposição, Jimin parece satisfeito. Diferente, também. Como se todas as partículas de caos que o compõe estivessem em momentânea estabilidade.
— O que você faria num começo de noite como este, lindo? — pergunta. Quase não ouço, um tanto distraído com a forma das luzes alaranjadas da rua refletirem nos óculos.
— Hm, acho que chamaria meu namorado para comer comida japonesa lá em casa.
— Aceito, namorado!
Não retruco, apesar de pensar em fazê-lo. Ele, no fim, é meu namorado. Jimin continua investigando minhas reações, desde o momento que concordei até chegarmos na minha casa. Achei que me irritaria fácil com ele fazendo isso o tempo todo, mas não acho que estou irritado.
Eu peço a comida de sempre — apesar de fazê-lo a mando de Jimin —, e meu novo e excêntrico namorado vistoria meu apartamento inteiro antes de sentar ao meu lado no sofá. Dessa vez, ele não começa nenhuma conversa, e nem eu o faço. Ficamos os dois olhando pela minha janela. Anoto algumas coisas no meu caderno, e ele puxa o próprio para fazer o mesmo.
Durante o jantar, também não trocamos nenhuma palavra, mas Jimin parece gostar. Novamente, não consigo achar nada que ele desgoste; deve ser um talento. Quando terminamos de comer, ele recolhe e ajeita tudo, como se a casa fosse dele.
— Quero tomar banho — diz.
— Aqui?
Ele assente com a cabeça. O olhar me testa. Pego um conjunto de roupas meu, entrego a ele e aponto o banheiro. Ele sorri, sempre parecendo vencedor em qualquer que seja essa disputa, e sai de cena. Tudo com ele parece um intrincado teatro, todo dividido em atos.
Pego um conjunto de lençol, edredom e travesseiro extras e os acomodo no sofá. Sento ao lado, esperando Jimin. Entendo muito bem o que ele quis dizer ao querer tomar banho aqui. Fico atento aos sons, de um jeito meio exagerado. Um deles se sobressai ainda mais. É o registro do chuveiro sendo fechado.
Logo Jimin sai do banheiro. Cabelos ruivos molhados, escuros. Um calor que emana, que dá para sentir até pela visão. E, antes de eu conseguir interpretar o sentimento incômodo de vê-lo coberto por um conjunto preto e branco, ele reclama:
— Não vai ter o clichê de dividir a única cama? Gosto tanto...
— Eu... — Respiro fundo, para não gaguejar. — Achei que ia ficar mais confortável pra você ficou com a cama sozinho. Até porque nem somos tão íntimos assim...
Ele me averigua e se aproxima devagar, testando reações. Senta de lado no meu colo, de uma forma até que casta dada a situação. Não é para provocar nada demais em mim, mas o peso dele junto da sensação da pele desprendendo calor e do cheiro de sabonete é o último tapete sendo puxado.
As mãos pequenas sobem pelo meu pescoço até meu rosto. Queimam, talvez consequência do banho. Ele me olha por entre os cílios curtos, as pálpebras marcantes. Acho que os óculos serviam como uma barreira de proteção, como os do Ciclope do X-Men. Sem eles, o olhar de Jimin me ofusca.
Sua mão direita se delonga no meu queixo, e ele tomba a cabeça para um lado. Minhas mãos estão na cintura dele, mas não sei quando elas se acomodaram ali.
— O que acha de conquistarmos um pouquinho mais de intimidade? — murmura. A voz é doce e rouca. Mesmo nesse instante, ele é paradoxal.
Jimin deixa um beijo longo na minha bochecha. O cheiro é do meu próprio sabonete, que quase não tem fragrância. Então por que me desperta tanto? Acabo o respondendo apenas com um leve balançar de cabeça, concordando.
— Quer me beijar? — sussurra e me oferece um pouco mais do toque de sua boca, dessa vez mais próxima da minha.
— Quero.
Suspiro. Nunca me vi pedindo algo desse jeito, com um tom que beira implorar. Sem charme, sem gracejo, sem outras palavras para diluir toda essa vontade. É que algo em Jimin deixa claro que, se eu não pedir, ele não vai dar. Então peço. E quero.
Ele dá um sorriso satisfeito e se ajeita no meu colo. Dessa vez, está de frente para mim, e a pressão de seu corpo é impossível de ignorar.
Tudo é impossível de ignorar: os fios laranja ainda úmidos, o jeito que ele sobe as mãos devagar pelos meus braços, o nariz pequeno roçando a lateral do meu rosto. Seu cheiro, seu calor. A imaginação sobre seu gosto. Tudo.
Suas mãos enfim terminam de subir até minha face. De novo, estou nas mãos dele, figurada e literalmente. Ele aproxima a boca da minha; fecho os olhos, esperando. Meus lábios entreabertos não me deixam esconder o quanto quero.
A boca dele roça na minha. De um jeito leve, torturante. Continua daquela forma, e ele respira devagar, para o hálito terminar de tirar minha sanidade. Morde meu lábio inferior, mas a boca quase não me toca. Então, ri e se afasta.
Confuso, abro os olhos. Ele dá uma risada sacana e captura uma mecha do meu cabelo entre os dedos antes de justificar:
— Ah, lindo, você não está com cara de quem quer o suficiente. Quem sabe na próxima?
Nunca quis tanto um beijo. E, agora, eu o quero ainda mais. Não é difícil notar que é exatamente essa a reação que Jimin cultivou diligentemente em mim. Maldito.
— Você é insuportável, sabia? — retruco.
— Claro. — Ele sorri ainda mais, e acomoda ainda melhor o corpo contra o meu. Sei que é proposital. — Quem mandou aceitar um namoro de mentira com um cara dono de um péssimo histórico de relacionamentos?
— Você aceitou as mesmas condições!
— Ah, mas eu confio muito na minha habilidade de ser o mais chato! — A voz é sincera. Parece orgulhosa, ainda por cima. Ele se levanta do meu colo e senta ao lado. — Agora vá tomar seu banho. E eu quem durmo no sofá, certo? Não vou desalojar meu anfitrião.
— E o clichê da única cama?
— Ah, lindo... — Ele suspira, como se fosse uma pobre criatura que não entendia uma cláusula muito importante do acordo. — Você só pode levar a sério minhas investidas para te levar na cama a partir do terceiro encontro, lembra? Esse é o segundo.
— Não precisamos transar pra dividir a cama. É bem espaçosa, de casal.
— Claro que não precisamos... Mas não sei se eu resistiria à oportunidade de provocá-lo.
— É... Pelo visto, é um talento seu.
— Deu para notar?
Reviro os olhos enquanto me levanto para ir ao banheiro. Tento parecer inabalado, mas estou muito abalado. Quando vou me afastar, Jimin se levanta depressa, segura minha bochecha e me dá um selinho. Antes de eu conseguir processar o que aconteceu, ele está sentado no sofá de novo, lendo um ebook com desinteresse.
Vou até o banheiro porque sei que é o que devo fazer; mas, de novo, Jimin me deixa com essa sensação horrorosa de incompletude. Ela me corrói, do mesmo jeito que esquecer uma linha perfeita para fechar o verso de uma música faz. O toque da boca é leve demais para eu considerar um beijo. É leve demais para eu considerar algo. Para me provocar algo.
Mas me provoca. E, agora que não há mais tapete para ser puxado, noto que todo esse mundo-meu (esse mundo-eu) está virado de cabeça para baixo.
💿
vivi está lendo espectro proibido
@fantasyvivi
MEU DEUS QUANTA FOTO DO JIMIN DE MÃOS DADAS COM O JUNGKOOK!!! FAMÍLIA, ACHO QUE VEM AÍ!!!
ethan AMA nada novo
@ethanluvsjk
em resposta a @fantasyvivi
JÁ SHIPPO! IMAGINA O JUNGKOOK FAZENDO TRILHA SONORA PRAS SÉRIES BASEADAS NOS LIVROS DO JIMIN? ALÔ @820_official OLHA ISSO AQUI
820
@820_official
em resposta a @fantasyvivi e @ethanluvsjk
Poderia vir aí mesmo, hein! @jeonjk97 e @jimineumesmo, dão uma forcinha aqui?
ethan AMA nada novo
@ethanluvsjk
em resposta a @820_official
FHASDKDFHSAKLFHSAKLFSDAHKL FUI RESPONDIDO!!! e se o shipp se chamar JIKOOK???? É TÃO GOSTOSINHO DE FALAR TT
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Eeeeeeeeeeeita como o JK tá doido doidinho chafurdando na rede do Jimin
Ah, não esquece de deixar seu votinho! 💜
Qual foi sua parte favorita? Pra mim é difícillll, apesar de amar o quase-beijo, gosto demais do JK tendo o tapete sendo puxado e chocado com o Jimin no museu hehe
Ahhhh! Lembrando que a rede social na qual sou mais ativa é o instagram (sou a callmeikus lá também) e, além do dia a dia escrevendo fanfics! Às vezes falho porque sou uma proletariada numa jornada de 44h semanais e muitas horas extras, mas eu tento!
Beijinhos de luz, amo vocês, e até sexta dia 07/06 às 19:00!
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