01 | Personalidade forte
Oi, oi, bebês!!! Como vocês estão???
Eu estou alegríssima de finalmente voltar a postar pra vocês, com o lançamento do livro de (Não) Leia-me! (depois olhem no instagram da Editora Violeta 🥺 ) e com o meu aniversárioooo pq a cremosa vai me levar prum brunch fds! (o aniversário é oficialmente segunda, o que é mto triste kkkk)
Enfimmm, o primeiro capítulo é narrado pelo Jungkook (o CD é o emoji dele), e eu amo demais a dinâmica dos jikook dessa fific, espero que gostem também! Só lembrando: no começo de cada cap é uma música do JK ou trecho de história do Jimin; e no final tem o que as pessoas estão falando nas redes sociais!
Boa leitura e, se gostarem, comentem, porque amo saber o que vocês estão achando!!
»»💿««
haja
personalidade forte
pra justificar teu esporte
de ser um grande, incrível e belo cuzão
não, aqui não
vá pela sombra
você, seu amor de cobra
e o abadá de pano de chão
por aqui, sobra
contar pra minha mãe que ela tinha razão
e reclamar do tanto de rima que fiz com "ão"
sua culpa, cuzão
💿
— Sério mesmo, Jeon Jungkook?! — Um grito invade meu quarto. Ergo o olhar apenas para encarar Minhyuk, meu namorado, passar pela porta.
Bem, talvez ele, em breve, não seja mais meu namorado.
Estacionado no tapete sob os pés da cama, apontando-me com um dedo acusatório, ele interpreta meu silêncio como um motivo para continuar:
— Deveria ter acreditado quando contaram que você é um traste mesmo!
É, mais um namoro indo para o ralo.
Eu estou feliz. Ou melhor, eu estava feliz. Meu novo álbum acabou de ser lançado e está repercutindo muito bem, tanto entre meus fãs quanto entre a crítica (desde que o crítico não seja Min Yoongi, claro). Bem o suficiente para eu me permitir tomar um champagne deitado na cama, fazendo uma videoconferência preguiçosa com minha família. Ah, e chamar meu namorado para comemorar também.
Mas ele, obviamente, não está nem um pouco feliz, o que estraga minha felicidade também.
Por algum motivo, achei que ele fosse ser diferente quando o conheci. Agora, atesto que o Jungkook do passado tem a capacidade de análise de uma banana.
— Pedi comida japonesa pra gente comemorar, sua favorita — falo, em um tom manso. Talvez, tentando jogar uma última boia para salvar esse relacionamento. Apoio a taça de champanhe na mesa de cabeceira e me ajeito melhor sentado no colchão. Bato a mão em um espaço ao meu lado.
Minhyuk, por outro lado, continua me olhando com ódio.
— Você acha que pode me ganhar com luxo? — ele pergunta, em um tom de puro deboche. — Com sua pseudo fama, com esse tom todo metidão? Eu tô fora! Você é um bostinha ainda, só porque tá entrando no hype, acha que é o bambambã.
É, ele não quer mais ser meu namorado. Depois disso, nem eu, o dele.
— Tá bom — concordo, com um menear de cabeça, sem ter mais o que falar.
Volto meu olhar a ele, ainda estacionado no meio do meu tapete favorito. Agora, desagrada-me saber que ele está sendo pisoteado por pés tão cretinos. O dedo que ele aponta é bem menos firme. Sua expressão, derretida em incredulidade. Ele pisca algumas vezes antes de balbuciar:
— Só isso?
Aceno positivamente com a cabeça. O que mais ele quer?
Minhyuk continua me olhando estupefato. Pisca mais algumas vezes.
Como ele não parece capaz de dizer nada, deixo meu olhar correr até a porta, tentando mostrar o caminho o qual ele deve seguir com educação. Ele nota.
— Você tá me expulsando da sua casa?
— Hm, estava mais tentando te guiar. Você acabou de terminar comigo, xingar tudo que eu sou e que gosto e tá me encarando faz uns bons segundos. Achei que seria de bom tom.
— "De bom tom" — ele repete, sarcástico. A cada frase, os sentimentos bons que eu nutria tornam-se ruins. Minhyuk, em questão de cinco minutos, envelhece como leite em meu coração. — Por isso que eu não acredito em você, sabe? Nunca liga, nunca mostra nada e, do nada, tcharam: várias músicas completas me ofendendo como se você sentisse alguma coisa.
Caralho. Por que eu decidi namorar aquele cara?
— Acabou? — pergunto, com o tom de voz ainda baixo.
Levanto-me da cama e caminho até próximo da porta do meu quarto, fazendo questão de manter distância dele. Ele entende o recado, então, contrariado, atravessa a porta em direção à sala.
Acompanho-o até a porta da frente, onde peço de volta as chaves que dei a ele. Ele me entrega de um jeito contrariado que me dá vontade de rir de escárnio. Agora, ele quer ter direito a pedaços de mim. Agora, depois de rejeitar tudo que sou.
— Não vai falar nada? — ele insiste, com a porta que dá ao corredor do prédio já aberta, pronta para que ele a atravesse e nunca mais olhe para a minha cara.
— Antes mesmo da gente se beijar pela primeira vez, eu falei. Falei muito. Falei como eu sou, avisei como o meu trabalho impactou meus antigos relacionamentos, perguntei se queria mesmo assim. Você quis.
— Você fala como se eu tivesse assinado um contrato com você. As coisas mudam.
— Sim. Mudam. Agora, não quero te ver nunca mais. Uma coisa era você ter subestimado sua capacidade de aceitar como meu trabalho funciona, outra é vir aqui me xingar como se eu tivesse mantido um segredo.
— Você nunca me mostrou as músicas antes de lançar, era um segredo, sim.
— E você sabe que um ex meu já vazou um álbum meu e atrapalhou toda a divulgação.
— Eu sou diferente!
— Minhyuk... Sinceramente, a cada nova frase sua, tenho mais certeza de que você não é. Você é igual a todos. Por isso, não quero mais conversar, já tive essa mesma conversa com vários outros. Sei como ela vai terminar.
— Você é um metido do caralho! Só você mesmo importa no seu mundinho. Não pode me deixar sem respostas por pura preguiça! Eu nunca tive essa conversa. Briga comigo! Briga por mim!
— Eu já te dei respostas o suficiente. E, além disso, minha mãe me ensinou direitinho que quem não me respeita, não merece minha satisfação. — Sim. Nessas situações, sempre parafraseio minha mãe. Achava vergonhoso quando adolescente; hoje ela é minha maior padroeira no livramento de imbecis.
— Você não tem coração — ele fala, assumindo um tom melancólico e traído, como se tentasse me convencer de que ele é mesmo uma vítima. — Como pode escrever músicas de amor?
— Por favor, saia do meu apartamento. Se não, vou chamar o porteiro.
— Vou te processar, nojento! Por ter me usado pras suas músicas e me largado.
Rio.
— Boa sorte com isso!
— Tenho provas de que sou eu nas músicas!
— Tipo o detalhe de que você gosta de usar abadá como pano de chão? Realmente, você deve ser a única pessoa do mundo inteirinho que faz isso, seu advogado vai adorar todas essas evidências.
— Falso do caralho! — acusa pela última vez, como se fosse detentor da opinião mais importante do mundo. Eu aceno com educação antes de fechar a porta.
Não sou falso, isso não sou.
Mas sou morno.
Na contramão da maioria das pessoas, minhas emoções são brandas. Nunca tive uma reação digna de novela. Não me lembro de ter ficado irritado, nem ser tomado por uma fúria explosiva. Nunca quebrei nada por descontrole emocional. Nunca chorei logo depois que algo ruim aconteceu.
Mas sou, em contrapartida, terrível e angustiantemente sentimental. Então, tudo o que não demonstro na hora, engole-me depois de muita ruminação. E, em sequência, vira música.
E, com aquele término ridículo, caminho até meu quarto para pegar a taça de champanhe quase no final, levando-a para a sala junto ao meu caderno cativo e surrado. Tomo um pequeno gole efervescente da bebida e apoio o cristal com cuidado na mesa de centro, mal fazendo som com o ato.
Minhas ações são todas mornas.
Um milésimo de segundo antes de eu me sentar no sofá, o interfone toca. É a tal comida japonesa. Desço para buscar um pouco mais animado, porque é impossível comida não alegrar, e não é como se Minhyuk também fosse o único amante de comida japonesa no mundo para ele estragar a experiência para mim.
Agora, encontro-me eu, minha taça, a embalagem plástica da comida japonesa e meu caderno surrado observando a bela vista da cidade oferecida pela janela. Uma mistura de brilho incessante de vida noturna com um toque tímido de estrelas tentando se exibir. A única coisa pela qual sou apegado de fato naquele apartamento.
Enfim, estou acomodado no sofá. O shoyu mistura-se de um jeito estranho com o sabor do champanhe na minha boca. Ignoro isso ao afundar nas almofadas e abrir o caderninho feio e de capa mole que tem o formato cativo de lápis, por sempre estar enfiado entre as páginas.
Depois de uma noite tão bosta, só me resta escrever.
-💿-
— Parabéns pelo novo álbum! Sério, é um marco e tanto um artista indie chegar aos mais escutados do país. — A voz do outro lado da linha está cheia de simpatia e sinceridade.
Ou, ao menos, é o que acredito. Faz pouco tempo que descobri que meu julgamento sobre as pessoas é tão confiável quanto notícias políticas compartilhadas em grupo de família.
— Irônico, um álbum sobre um relacionamento tão ridículo ir tão bem nas críticas — resmungo. Terrivelmente sentimental, lembram? Agora, que já se passaram três dias desde um dos términos mais patéticos da vida, eu o mastigo como o chiclete mais detestável da face da Terra.
— Fique feliz. Te deu dinheiro e ainda vai te dar mais. Certeza que você já escreveu três músicas só por ter terminado, não? — responde, com um característico deboche e despreocupação. Não me ofende. Não me agrada. Não nada. E nem posso dizer que é mentira. Diante do meu silêncio, ele completa: — Mas e aí? Você vai pra festa que estou organizando? O Sr. Maylor Twift indie poderia fazer o favor de responder a caixa de e-mails a fim de evitar ligações desse tipo?
— Festa de que mesmo?
— Festa de gente bonita.
— É uma pergunta séria...
— E você deveria mesmo ponderar, Jeon Jungkook? Sabe bem que seu maior entrave para crescer nesse meio é o networking... — Ouvir aquela palavra é o suficiente para fazer meus olhos revirarem. — Deveria ser grato por eu ainda lembrar dessa sua bunda pálida de tanto se esconder da luz...
— Eu pego Sol todos os dias — pontuo.
— Cara. — Ele gargalha, alto. — Você é péssimo em mudar de assunto. Não tem vergonha, não? Aqui, tenho uma reunião agora. Faça o favor de responder o e-mail com o seu sim, certo? É importante saber quantas bocas eu tenho que alimentar.
— E a festa é de quê?
— Só diga sim. Nem precisa ler os detalhes da festa no e-mail. Tchau.
Ele desliga, e eu suspiro. Não deixo a falta de emoções virar um sentimento galopante e descontrolado. Ao contrário; uso a ausência temporária de desagrado e de vontade de ficar em casa pelo resto da minha vida para buscar o tal e-mail pelo celular.
O convite é bem claro e, ao mesmo tempo, não. Uma arte bonita enfeita os dizeres:
Festa particular para ✨estrelas✨, tanto as em ascensão quanto as que já brilham lá no céu.
Organizador: Kim Seokjin.
Vestimenta: Qualquer coisa que não seja feia (mal vestidos serão impedidos de entrar).
Data: 09/06 às 19:00.
Endereço: você já deveria saber (mas está na minha assinatura se não souber).
Favor, responder seu e-mail com um "presença confirmada na melhor festa do mundo!". Se a resposta não seguir essas exatas instruções, ficará sem drinks.
Atenciosamente,
Kim Seokjin,
o jornalista mais profissional e lindo da região
Respondo apenas um "confirmo minha presença". Não pretendo beber, então se faltarem meus drinks, melhor. Ao contrário do senso comum de que tímidos gostam de beber em eventos sociais para se soltarem, temo pode ser catastrófico estar muito bêbado no meio de pessoas que deveriam gostar profissionalmente de mim.
E é exatamente por esse motivo que detesto essa palavra odiosa: "networking". Não é que eu seja tímido de fato, mas o fato de possíveis relacionamentos meus interferirem tão diretamente na minha carreira não me agrada.
Sorrir de mentira, concordar falsamente, viver de teatro. Nada disso me agrada. Por isso sou cantor, não ator. Quero poder viver na zona de conforto da minha sinceridade e dos meus princípios. Então, é muito prudente e conveniente oferecer minha existência a lugares que não tenham relação direta com meu trabalho. Esses lugares são minha inspiração e minha vivência.
Enfim. O convite está aceito.
Minha agente vai ficar feliz em saber que eu aceitei o convite para a festa. Eu, por outro lado, encaro-me derrotado no espelho do banheiro, mais que arrependido da decisão.
Porém, o e-mail já estava mandado. E seria muito, muito feio mesmo, eu não aparecer ou avisar que não iria. Capaz de eu perder o único profissional da mídia que me apoiava de fato, a ponto de eu me sentir intimidade, sabe-se lá por quê.
Então, entro no banho com a ciência de ter selado meu destino da forma mais desconfortável possível. Com a ciência de que não ficarei em paz comigo mesmo até essa maldita festa.
-💿-
— Viu?! — é a primeira coisa que Seokjin exclama ao me ver. Ele acabou de aparecer de trás de uma bela e alta porta de madeira maciça. Não sabia que jornalistas ganhavam tanto para comprar casas com portas assim. Ou, talvez, fosse um endividado excêntrico. Ou um herdeiro.
Pisco os olhos algumas vezes na tentativa de espantar meu desconforto em estar ali e, enfim, responder meu anfitrião:
— O quê?
— Que você não morreu vindo até aqui, bobão!
Nem respondo. Ele revira os olhos, puxa-me pelo cotovelo até entrar na bela casa de dois andares e pesca um drink bonito de cima de uma das mesas estrategicamente posicionadas. Mesmo sem intenções de beber, aceito quando me é oferecida (há uma decoração de frutas e tento me convencer de que é uma bebida inofensiva, mesmo não havendo lógica alguma). Óbvio que não menciono que desobedeci os critérios para o envio do e-mail.
— Aqui, tenho muitos convidados para receber, então não posso ser sua babá, bunda pálida — Seokjin diz, após já ter embrenhado o suficiente na casa. Agora, estamos em uma sala. Essas salas de rico, em que os móveis nem encostam nas paredes. Várias pessoas bem vestidas transitam de um lado para outro, com drinks idênticos ao meu em mãos. — Mas, como sou bonzinho, vou te dar uma ajuda.
Sem me deixar pronunciar qualquer coisa, ele me empurra na direção de um jovem de óculos sentado em uma poltrona. Senta-me em outra bem em frente, chamando atenção do cara, que levanta o olhar antes preso em um livro até a mim.
— Ei, Jimin, esse é o Jungkook — Seokjin fala. — Tá ficando famosinho esses dias porque tem umas músicas bregas e maravilhosas. Mas não só ele é uma toupeira que não fala com os outros, como tá todo jururu porque o muso do último álbum deu um pé na bunda dele. Aqui, tenho que atender a porta de novo. Jungkook, seja decente e peça para o Jimin se apresentar.
E, como o furação que é, Seokjin nos deixa junto a um silêncio. Entre nós, claro. O resto da sala parece cheio de assunto, além de entretida com a atenção que Seokjin chamou.
Com certo receio, porque minha insegurança de vir para essa festa teve vários dias para ser incubada, ergo meu olhar para o tal Jimin. Então, vejo que o silêncio não vai durar muito, pois há uma gargalhada prestes a estourar de seus lábios.
— Pode rir — comento, adiantando-me. Com a permissão, ele enfim gargalha. Alto. Muito alto mesmo.
A gargalhada muito alta e longa de Jimin me permitem analisá-lo sem pressa. Confesso não ser muito de análises, mas ele destoa. Em vez de roupas elegantes como outros convidados, veste uma boina rosa-choque sobre os cabelos laranja claros, um paletó com estampa xadrez em tons de roxo e uma blusa social azul clara por baixo. Tudo é emoldurado por um lenço laranja no pescoço. A calça alfaiataria é preta, mas com estampas de flores roxas. O sapato, por fim, é uma plataforma tão cheia de cores que cansa minha vista e mingua minha vontade de descrevê-la. A única coisa neutra é a armação dos óculos, grossa e transparente.
Confesso que, apesar da incoerência de cores, texturas e padronagens, não é ofensivo olhá-lo. E meio combina. A gargalhada, as roupas, a expressão.
— Prazer, Jungkook — ele diz, com lágrimas nos olhos e respiração entrecortada. — Juro que não estou rindo de você! É só do Seokjin mesmo, ele é uma figura.
Não é mentira. Porém, também não sei se Jimin se safa do rótulo de "figura". E, ao ser unido a um garoto tão estranho por um cara tão estranho, pondero qual é a imagem que Seokjin tem de mim.
Talvez eu também seja uma figura.
— Acredito em você — concordo, sem mais o que falar.
— Então... Não vai pedir para eu me apresentar para você? — Jimin pergunta, empurrando os óculos para cima do nariz pequeno e amplificando os olhos já arregalados de curiosidade.
— Ah, sim. Oi, Jimin. Meu nome é Jungkook, e Seokjin fez um bom resumo. Conta um pouco mais sobre você. — Eu soo robótico e sei disso.
— Como você quer? O que Seokjin falaria de mim, o que eu falaria de mim, ou o que a mídia falaria de mim?
Pisco os olhos, espantado com a quantidade de opções. É curioso.
— Acho que o que Seokjin falaria. É mais justo, já que é o que você sabe de mim.
— Hm... Então você é um justiceiro? — Ele me encara. Muito. Ele me encara como se estivesse escaneando toda minha existência.
Que cara estranho.
— Não realmente — respondo, calmo. Porém, percebo logo certo grau de indignação dentro de mim. Então, complemento: — Diga então o que você falaria de si.
— Hm. — Ele se inclina para trás de novo, apoiando as costas na poltrona e coçando o queixo. Um sorriso travesso brinca nos lábios fartos. Que cara estranho. — Eu sou Jimin, um cara fofo. Gosto muito, muito mesmo de caminhar.
— Acabou? — Não quero que a pergunta saia dos meus lábios, mas ela sai. Então, Jimin gargalha de novo, bem alto.
— Sim. Não gostou? Caminhada é bem importante sobre mim.
— Não é questão de gostar, é que foi breve — justifico, com uma urgência que, sendo sincero, incomoda-me. Jimin sorri ainda mais. — Deveria ter escolhido o que Seokjin diria mesmo, ele é mais prolixo.
— Seokjin me descreveria como um escritor excêntrico — responde, em um tom manso e alegre de quem consegue o que quer. — Excêntrico e um pouco assustador. Mas diria que escrevo bem. Sou tão assustador que, no fim, é o que dá o quê de genial nas minhas histórias.
— E a mídia?
— Park Jimin, escritor best-seller desde os dezessete anos, que surfa no pink money — narra em uma voz que não é a dele. Formal, de tédio.
— Bem, imagino que você não goste muito da mídia.
— Tem quem goste? — retruca. — A mídia boazinha não ganha projeção, então as ácidas são as que prosperam e agigantam-se a ponto de atrapalhar nossa vida.
— Hm... Não sei. Acabei de chegar no mainstream — explico. Mas, ao explicar meu raciocínio, duvido das minhas palavras. Jimin é mainstream? De fato, o "best-seller" indica que sim. Mas o fato de ser LGBTQIAP+ me deixa em dúvida. Lembro de quantos ouvintes perdi ao contar em uma entrevista que minhas músicas são todas para homens.
— E agora, como você me descreveria? — pergunta e me arranca para fora dos pensamentos. Parece, como sempre, muito alegre.
Mordo os lábios, mergulhando em pensamentos de novo. Dessa vez, em busca de uma resposta.
— Acho que bem perto da opinião de Seokjin. Você é bem excêntrico mesmo. E um pouco assustador. Você me olha como se estivesse tentando enxergar algo em específico. Tô com o dente sujo?
Jimin não responde, mas deixa um sorriso satisfeito tomar os lábios grossos. Depois, levanta-se da poltrona, apenas o suficiente para pegar um caderno no qual ele, aparentemente, sentava. Faz anotações em silêncio por longos minutos, pausando apenas para me fitar com uma expressão arteira de quem espera algo acontecer.
Mas nada acontece. Afinal, sou morno.
— Você também anota coisas repentinamente? — Jimin pergunta ao terminar e, de novo, acomodar o caderno embaixo de si.
— Não desse jeito, do nada. Mas também tenho um caderno desses. Ah, não sento em cima dele, claro.
— Ah, adoro sentar em cima. Fica quentinho — argumenta com a maior seriedade do mundo.
— Ah... Legal.
Gargalha alto de novo, como se a piada interna dele com ele mesmo fosse a mais interessante do mundo. Porém, não me explica mais nada. Eu também não pergunto.
Percebo, porém, uma certa vontade de perguntar rodear meu peito.
Então, para acalmá-la, coloco o drink todo para dentro. Logo um garçom, solícito, substitui a taça por outra cheia. Jimin me olha com uma expressão indecifrável. Logo percebo que não ajo como de costume. Definitivamente, minha estratégia para ficar quieto não é beber.
— Hm, Jungkook, parece então que temos mais similaridades do que parece — Jimin comenta, displicente.
— É?
— Sim. Gostamos de cadernos surrados, de pessoas que são do mesmo gênero e temos um tino especial para terminar relacionamentos de forma trágica.
— Nunca disse que meu término foi trágico.
— Se você está "jururu", não foi um término feliz. Se não foi feliz, foi trágico. Gosto de pensar que há tragédias de todos os tamanhos. Não é porque seu término não foi com móveis voando ou choros copiosos que não seja uma tragédia. Talvez seja uma mini-tragédia.
— Hm — respondo, apenas. Prendo minha vontade de falar que não, não sou um cara nem de mini-tragédias. Mas não falo. Não quero, de forma alguma, envolver-me demais com pessoas famosas. Jimin é famoso, não? Em mão oposta do meu racional, termino mais um drink. Jimin, então, inclina-se e beberica o dele também. Em seguida, diz:
— E aí?
— O quê?
— Não vai me perguntar sobre os meus términos trágicos?
— É pra eu perguntar sobre seus términos trágicos?
— O que você tem a perder?
Perder...
Nada.
Eu não tenho nada a perder.
— Então, como foram seus términos trágicos? — pergunto, convencido pela lógica simplista. Negar-me a fazer a pergunta teria o efeito oposto; significaria que tenho algo a perder. E não quero ter algo a perder.
Ele se acomoda de novo na poltrona, feliz, e dá mais um gole no drink, terminando-o. Sinto que tudo corre como ele quer.
— Sou assustador, lembra? Apavoro meus pretendentes ao "olhá-los como se procurasse algo em específico" — ele me cita.
— E o que você procura?
— Um parágrafo, talvez. Um detalhe que fique escondido nas entrelinhas — diz, todo sorridente e misterioso, como se fosse uma máquina de frases reflexivas, dignas de epígrafe. Não sei se gosto. — Não me fale que não faz nada do tipo? Como nascem suas músicas?
— Inspiradas das coisas ao meu redor.
— É exatamente isso! — exclama, todo feliz. Alterado com a bebida, talvez. Não sei quantas ele tomou antes da minha chegada, mas sei que, mesmo com apenas duas, o destilado é forte o suficiente para me deixar alegre. — Eu olho tudo com essa vontade, sabe? De enxergar, não sei, nuances. Mas isso apavora as pessoas.
— Você escreve personagens parecidos com seus ex?
— Jamais! Cada personagem é uma mistura de muitas coisas. Eu pego um pouquinho de cada. E, como são vários pouquinhos, eu tenho que olhar muito, muitas coisas. E você? É uma relação direta?
— Sim. 100% direta. Todas minhas músicas foram feitas para uma pessoa em específico. Aí, quando o álbum sai, o namorado ouve e surta.
— Por quê? Você fala que eles têm mau odor? — pergunta. Mais uma vez, usa um tom muito sério, destoante das besteiras que pronuncia.
— Não. — Dou uma risada. — Mas nunca namorei ninguém fedido. Quem sabe quando acontecer? Acho que é porque eu não floreio sobre o relacionamento. Não falo que é lindo e maravilhoso.
— E existem relacionamentos lindos e maravilhosos?
— Também queria saber. Pra mim são altos e baixos. Se nem existir sozinho é lindo e maravilhoso, como vai ser com duas pessoas compartilhando as coisas que não são lindas e maravilhosas uma da outra?
— Concordo muito com sua colocação! — Seu tom de voz só vai ficando mais agudo quanto mais empolgado ele fica. As bochechas enrubescem e ele parece quase sem ar.
Quando noto, estou quase sem ar também. De tão empolgado e enfático com minha argumentação. Olho, então, assustado. Da taça nas minhas mãos para o cara que parece ter levado vômito de unicórnio na minha frente.
Talvez eu tenha algo a perder: minha contenção.
Diante do meu silêncio, Jimin parece confortável em ficar em silêncio também. Encara o teto e as paredes da casa com um ar curioso e brincalhão. Toma mais um gole da bebida e, depois, quase mata um garçom do coração no processo de surrupiar alguns salgadinhos chiques. Eu, por outro lado, fico espantado como até salgadinhos para ricos são diferentes.
— Jungkook! — exclama, do nada. Muito do nada. E só sabe exclamar; nunca murmura, ou ao menos apenas "diz". Quase grita, fazendo-me saltar na poltrona. Então, ele ri de mim.
— O quê?
— Tenho uma proposta perfeita!
— Hm?
— E se a gente se apaixonar um pelo outro? — Seus olhos estão arregalados de empolgação. É óbvio, pela expressão que carrega, que ele jura ser uma boa ideia.
— Não sei se é o tipo de coisa que dá para controlar desse jeito...
— Não, não precisa ser de verdade! É pra ter material sem encheção de saco: eu te conheço para ter mais detalhes para meus livros. Você me conhece para ter um repertório completo para suas músicas.
— Mas onde a gente precisa ser apaixonado nessa história? — Não, não quero viver um teatro. Não quero fingir.
— Te falta a malícia do capitalismo, lindo! Se a gente explicitar estar se inspirando um no outro, como casal, a gente aumenta nossa base de fãs. Inclusive, deve surgir fanbase até para nós como um casal: jikook soa bem, não soa?
— Você é doido?
— Não, só escritor. Enredos de namoro falso são muito populares, sabe?
Jimin está radiante.
Total e completamente radiante.
— E sabe a melhor parte? — continua. — Desse jeito, eu resolvo nosso maior problema: sem términos trágicos! Você não ficaria bravo se eu ficasse "te olhando como se estivesse procurando algo em específico", ficaria?
— Não. — Até porque eu não fico bravo. Com nada. — Mas assim, como você pode confiar? Você nem me conhece.
— Como assim?! — Jimin parece muito, muito ofendido. — Nós estamos há... uma hora conversando! Se isso não é se conhecer, não sei o que é. Somos profundamente amigos!
— Seus padrões de amizade são muito estranhos.
— Então você é o tipo de cara que gosta de levar as coisas mais devagar? — Ele suspira. — Credo, não acredito que vou ter que conquistar você para poder fingir ser namoradinho de mentira. Que complicação!
Apesar de suas palavras, ele se inclina na poltrona e rouba meu celular, apoiado no braço da minha. Frustrado, percebe que tem senha e sequestra meu dedo para desbloqueá-lo.
— Pronto, você tem meu número; e eu, o seu. — Ele devolve o aparelho. Percebo que, no aplicativo de mensagens, ele se enviou uma mensagem com os dizeres "oi, namorado <3". — Isso para mim é coisa de melhores amigos já. Diria até coisa de namorados mas... Enfim. Te convido para comer qualquer dia desses. Qual tipo de comida você gosta?
— Mexicana.
Ele me olha com um interesse enorme e abana a cabeça, feliz, antes de tirar o caderno do traseiro mais uma vez. Assisto-o me transformar em palavra, em inspiração. No caderno que saiu de seu traseiro.
Penso em reclamar, porém, percebo que meus dedos formigam. Demais.
Desajeitado, levanto para ir ao banheiro, sob o olhar cheio de insinuações e entendimento de Jimin.
Entre quatro paredes e acompanhado de um rolo de papel higiênico, anoto furiosamente no meu celular devido à ausência do meu caderninho. A atmosfera engraçada e curiosa surgida da mania tão despropositada de sentar no próprio caderno precisa ser registrada antes de se dissipar.
Pela primeira vez, tenho medo de não conseguir lembrar da exata sensação.
Talvez, pela primeira vez, escrevo de forma emocional.
E, ao contemplar uma música inteira na minha frente, escrita em pixels, muito longe da minha zona de conforto, percebo já ter rendido à proposta inesperada.
💿
❧luzinha vai assistir o JK☙
@jungkookamoreterno
não acredito que meus pais terminarammmm T-T é muito difícil ser filha de divórcio!
gigi tem personalidade forte
@gigiliteraldemais
em resposta a @jungkookamoreterno
que pais?! te orienta, vai tarde esse traste. é hora de apoiar o Jungkook! sdds de quando o fandom não tinha peso morto que nem vc
❧luzinha vai assistir o JK☙
@jungkookamoreterno
em resposta a @gigiliteraldemais
enfiou o senso de humor no cu, mal amada do caralho
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Eeeeeeeeeeeita, JK, não gosta de se envolver com gente famosa, é? 👀 aiai como é tsundere o bebê!
Ah, não esquece de deixar seu votinho! 💜
E aí, o que acharam do primeiro capítulo??? Atingiu as expectativas? Me contem, tô muito curiosa! 🥺
Qual foi sua parte favorita? A minha é o Jimin tirando sarro dele, meu divo hsuahasuhaus
Ahhhh! Lembrando que a rede social na qual sou mais ativa é o instagram (sou a callmeikus lá também) e, além do dia a dia escrevendo fanfics! Às vezes falho porque sou uma proletariada numa jornada de 44h semanais e muitas horas extras, mas eu tento!
Beijinhos de luz, amo vocês, e até sexta dia 05/04 às 19:00!
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