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Once in a lifetime, we're breaking all the rules
To find that our home has long
Been out grown

Uma vez na vida, nós estamos quebrando todas as regras
Para descobrir que nossa casa há muito tempo
Deixou de ser o suficiente
(The Killers - Shot At The Night)


O sol nem nasceu ainda, mas já estou de pé.

A rotina no convento é muito rígida e, na maior parte do tempo, isso é bom. Ocupar a mente é sempre uma saída. Minhas tarefas são as mesmas todos os dias. Levanto, arrumo a cama, tenho cinco minutos para tomar banho, depois, dez minutos para tomar o café da manhã, limpo o galinheiro, recolho os ovos, cuido da horta, almoço. Depois do almoço, temos estudos bíblicos, oramos, participamos de missas ou novenas, dependendo do dia da semana e nos recolhemos. Os dias começam e terminam muito cedo.

Já se passou um mês, mas meus ferimentos nas costas ainda doem um pouco. É preciso cuidado ao tomar banho e dormir, para evitar que sangrem novamente, mas, com exceção desse fato, estou me sentindo melhor.

Mas, se meus problemas físicos estão melhorando aos poucos, não posso dizer o mesmo sobre meus problemas com a Madre. Venho tentando andar na linha nas últimas semanas, porque minha pele não vai suportar mais um castigo como aquele, mas isso não é impeditivo para que ela torne minha vida ainda mais complicada.

Trabalhos extras e menos horas de sono são a parte boa do meu castigo. Durante a primeira semana, ela proibiu qualquer pessoa — especialmente a Irmã Adelaide — de levar qualquer refeição ao meu quarto e só parou quando percebeu que isso estava atrasando a minha recuperação.

Logo que desço para o refeitório, dou de cara com o enorme calendário que fica pendurado na parede e meu coração se aperta ao ver a data.

Vinte e cinco de setembro.

Falta um mês para o meu aniversário de vinte anos. Falta um mês para que eu faça meus votos e me torne freira para sempre e isso está me apavorando.

Fazer os votos é algo muito definitivo para ser feito nessas circunstâncias. Tenho noção que não me resta outra escolha, mas não gosto de pensar nisso e, para evitar mais esse problema, apresso-me em me servir.

A fila para o café da manhã já está bem grande a essa hora, em sua maioria pelas Irmãs, que, pela hierarquia, têm preferência sobre nós, as noviças. É por isso que o início da fila é uma monotonia de hábitos religiosos e silêncio. Minha fila é a que vem logo depois. Aqui, apesar das nossas vestes também serem bastante sem graça — saia preta até a altura das canelas, camisa branca de manga curta e sandálias rasteiras de couro —, ao menos, temos nossos cabelos que dão um pouquinho de tom ao refeitório, mesmo que as regras nos obriguem a mantê-los presos em tranças baixas. Há meninas loiras, castanhas, negras e até algumas ruivas e é uma pena que, assim que fizermos nossos votos, esse pequeno ponto de alegria será extinto. Por fim, vêm as noviças mais jovens. Estas são mais tagarelas e animadas e vivem recebendo repreensões. Muito em breve aprenderão que alegria é um sentimento que não é bem-vindo por aqui.

Além dos nossos cabelos, há também nossas incompletudes para nos diferenciar umas das outras. A grande maioria de nós possui problemas físicos, mas não são exclusividade. Estrabismo, malformações graves de membros, problemas de fala, surdez, doenças respiratórias e cardíacas... A lista é extensa e bem diversa.

Finalmente, chega a minha vez e me sirvo. A comida é igual todas as manhãs: café com leite e pão caseiro com margarina ou geleia de abóbora. Nada extraordinário, mas dá para o gasto. Assim que pego a bandeja, sigo até a minha mesa. A Irmã Adelaide sempre guarda um lugar para mim. Ela começou a fazer isso, depois de perceber que nenhuma outra noviça me queria em sua mesa. Há duas boas razões para isso. A primeira é que eu nunca fui boa em fazer amizades. A segunda é que as outras meninas têm medo de serem punidas ao estarem perto de mim.

— Bom dia, querida. Como estão os machucados?

Mesmo depois de todo esse tempo, ela ainda me pergunta diariamente sobre a evolução da minha cicatrização. Sorrio, assim que me sento de frente para ela.

— Bom dia, Irmã. Estão quase bons, obrigada por perguntar.

As conversas durante as refeições não são encorajadas, o que é responsável pelo silêncio quase absoluto no ambiente, atrapalhado apenas pelo som dos utensílios sendo usados e de um cochicho ou outro, vindo das mesas das meninas mais jovens.

Não consigo deixar de observar a Irmã Adelaide, enquanto toma seu café da manhã. Seus olhos castanhos e bondosos, rodeados por linhas de expressão profundas. Ela nunca me disse quantos anos tem, também nunca quis perguntar, mas se tivesse que chutar, diria que ela deva possuir mais de setenta anos. Os lábios finos também são envoltos por marcas dos anos que viveu, assim como a pela clara, mas cheia de manchas. Seu cabelo, no entanto, é um mistério para mim. Não faço a menor ideia de sua cor, porque quando vim para cá, ela já usava o hábito, no entanto, acho que já estão quase todos brancos. Sei que ela tem uma doença rara que impede que os sangramentos coagulem. É por isso que ela não ganha facas durante as refeições.

Depois de terminar o café, cada uma segue direto para suas atividades. As meninas mais novas têm aulas durante toda a manhã. Algumas cuidam do almoço, outras da limpeza, outras da lavanderia. As tarefas são bem definidas e divididas.

Perco boa parte da manhã com meus afazeres, sem prestar atenção em mais nada, até ouvir a buzina do caminhão que nos traz carne, todas as terças-feiras. Largo a pequena pá, que estava utilizando para plantar alguns temperos, levanto do chão e limpo a mão suja de terra no avental.

— Aconteceu alguma coisa, Cecília? — pergunta a Camila, uma das noviças que cuida da horta comigo.

Não somos amigas, mas nosso trabalho nos obriga a passarmos boa parte do tempo juntas, o que a torna a noviça mais próxima de mim. Aprendemos com o passar do tempo que, quanto mais conversamos uma com a outra, sobre qualquer assunto, mais rápido passa o nosso dia. Demorei muito tempo para entender o que ela fala, porque a Camila é fanha. No começo, eu tinha vergonha de pedir que ela repetisse as frases quando eu não conseguia compreender e apenas assentia e sorria, torcendo para que, o que quer que ela tivesse dito, não exigisse uma resposta. Ainda bem que hoje isso não acontece mais.

Ela é uma moça linda, alguns anos mais nova do que eu, mas bem alta e longilínea e possui aquela postura distinta que só os completos exibem. Sempre pensei comigo que, se ela ficar de boca fechada, poderia muito bem passar por uma pessoa perfeita. A pele negra de um tom perfeito parece reluzir sob o sol. O único problema é que seu cabelo crespo fica aprisionado na trança, mesmo que fique óbvio que ele não nasceu para isso.

— Preciso ir ao banheiro — minto.

Tento parecer calma durante o trajeto, porque ninguém pode desconfiar que tenho assuntos secretos com meu contrabandista particular, especialmente, porque essa é a primeira vez que falarei com ele, após minha punição. Tecnicamente, não posso sequer chegar perto do caminhão. A única pessoa autorizada a tratar com ele é a Irmã Virgínia, o braço direito da Madre e responsável pela cozinha. E é por isso que tenho que ser discreta.

Atravesso, a passos rápidos, toda a área externa do convento, que consiste nas hortas, no pomar e nos galinheiros. Não há espaço para jardins, flores e qualquer tipo de objeto decorativo por aqui. Até porque, nosso espaço é limitado e precisamos utilizá-lo com o que interessa, é o que diz a Madre.

Para minha sorte, para ir ao banheiro, preciso passar pela entrada da cozinha e sinalizo discretamente para o homem, assim que o vejo. Ele já está mais do que acostumado com o meu código, afinal, ele já trouxe muitas coisas escondidas para mim, em troca de um pouco de pomada caseira para dor muscular. Ele alega que nenhuma outra é milagrosa como a nossa. Se soubesse que é só cera de abelha com óleo essencial, ficaria decepcionado.

Atravesso a entrada modesta, mas intimidadora do prédio. Como tudo por aqui, a construção é simples, funcional, cinza e sem graça. Sem cores, sem decoração, sem vida, nem nada que chame a atenção. Salões amplos e bem iluminados por janelas enormes, pisos de cerâmica bem varridos, escadas largas sem qualquer glamour, corredores longos salpicados com portas simples de madeira escura.

O local mais requintado daqui é a capela, que possui algumas pinturas religiosas, com santos e anjos, e algumas peças de madeira no altar.

Vou até o banheiro e mato algum tempo ali, para que ninguém desconfie e, então, sigo para os fundos do convento, atrás de um muro que costumava ser a capela há alguns anos. Além de ser um lugar ermo, é possível escutar se alguém está se aproximando e se esconder.

Preciso esperar alguns minutos, até ele aparecer.

— Bom dia, mocinha.

Já estou mais do que habituada a ver o senhor franzino e de aparência enferma. Honestamente, não sei como ele ainda consegue trabalhar, ainda mais, descarregando caixas pesadas, mas, para minha felicidade, toda semana ele está aqui.

É estranho pensar que não faço a menor ideia de qual seja o nome desse senhor, que já me proporcionou os melhores momentos aqui nesse lugar. A única coisa que sei sobre ele, é que possui uma doença degenerativa grave, que lhe causa muitas dores.

— Eu só vim para avisar que nosso acordo acabou — declara, sem jeito.

— Por quê?

— Eu já fiquei sabendo de tudo. Que o livro que eu trouxe era proibido, que você foi castigada e que, se alguém souber que quem te deu o livro fui eu... — Ele suspira e engole em seco. — Eu não quero ser torturado até a morte, entendeu?

— Mas eu não contei nada — argumento. — Nem vou contar. Enquanto a Madre não souber de nada, o senhor é inocente.

Ele cruza os braços e apoia o ombro no muro deteriorado. Não sei porque só essa parte dele permaneceu de pé.

— Eu prefiro não arriscar.

— O senhor não entende — insisto, meu pulso acelerando a cada sílaba. — Aqueles livros são a minha única fonte de distração desse lugar. Eu já estou condenada a passar a eternidade aqui.

— Eu acho que você ainda não entendeu a gravidade da situação, mocinha. Eu não vou mais trazer nada para você.

Desta vez, ele não espera por uma resposta minha. Apenas vira as costas e vai embora.

Tenho que esperar alguns minutos, para poder voltar para os meus afazeres. No meio do caminho sou interceptada por uma mão no meu braço e sinto minha alma abandonar o corpo, até me dar conta que quem está aqui é a Irmã Adelaide.

— Você está louca? — pergunta-me, furiosa. — Quer ser castigada novamente?

— Não... É que... — gaguejo. Meu cérebro trabalhando em uma velocidade muito inferior a que eu gostaria.

Embora ela seja a única pessoa que não vai me denunciar por me pegar fazendo algo contra as regras, não gostaria que ela me visse nessa situação. Especialmente, porque seus olhos estão faiscando de raiva.

— Sabe o que eu acho, Cecília? Que você é muito ingrata. Você não faz ideia de quantas pessoas dariam tudo para ter um teto sobre suas cabeças e comida em seus pratos todos os dias e você, ao invés de agradecer pela graça, cospe no próprio prato e nos ofende, todo santo dia.

Ela cospe as palavras, sem qualquer traço de sua costumeira delicadeza, a veia em seu pescoço pulsando. Acho que nunca a vi tão zangada antes. Não comigo.

— Dentro de um mês você fará seus votos — continua, com os dentes trincados. — Se, para você, isso não significa nada, vá embora, fuja, vá viver longe daqui, porque eu não vou admitir que trate algo tão importante da forma como vem tratando tudo por aqui nos últimos treze anos.

Eu já estou acostumada a ouvir esse tipo de baboseira das outras mulheres que vivem aqui e não dou a mínima para suas opiniões ridículas, mas com ela é diferente. Suas acusações me incomodam.

— Às vezes, acho que deveria fugir mesmo desse inferno — resmungo, revoltada. — Procurar algum lugar onde eu seja aceita. O Bosque da Isonomia seria uma boa opção...

Essa é uma das lenda mais famosas. Ouço rumores sobre esse tal Bosque da Isonomia desde criança. Um lugar onde todos os incompletos são tratados com igualdade e possuem todos os direitos que não temos aqui fora, como casar, ter filhos e escolher seu próprio destino. Eu sei que isso parece bom demais, mas cogitar a existência de um refúgio para nós, um local em que as pessoas me entendam e concordem comigo, serve como uma espécie de consolo. No mar de injustiças e descontentamento que é a minha vida, esse fio de esperança brilha como um farol em meio a uma tempestade.

— Esse lugar não existe! — interrompe-me, enfática demais. — Você já é bem grandinha para acreditar nesse tipo de besteira, Cecília. Assuma suas responsabilidades e cresça. Já passou da hora de aceitar seu destino e ser grata por tudo o que tem.

— A senhora quer que eu me conforme em viver uma vida que não escolhi para mim? — revido, a indignação preenchendo cada espaço vazio no meu corpo, cada célula. — Quer que eu seja feliz aqui?

— Todas as meninas que moram aqui conseguiram. Você não é diferente delas. Você não é tão especial assim, Cecília.

Um golpe forte atinge o meu peito. Uma pancada dura e dolorosa. É a decepção na sua forma mais crua e bárbara.

Perco a capacidade de falar, agir ou pensar. Fico apenas olhando para a senhora à minha frente, sem conseguir me mexer, porque dói. Ouvir suas palavras dói mais do que todas as chibatadas que já levei.

Tento recolher o que sobrou da minha dignidade, antes de voltar para as minhas tarefas, mas não creio que tenha restado muita coisa.

— Volte para o seu serviço agora, porque, da próxima vez que eu a ver desobedecendo qualquer regra, eu mesma levarei até a Madre, estamos entendidas?

Encaro o chão, constrangida demais para manter qualquer contato visual com ela. Meu corpo queima de vergonha e arde de tristeza. Nunca pensei que fosse ouvir palavras tão duras da única pessoa que gosta de mim.

— Estamos entendidas? — repete, desta vez, pausadamente.

— Sim, senhora, Irmã — digo, com o fio de voz que ainda remanesceu.

Engulo o nó que se formou na minha garganta e volto para a horta, completamente destruída, porque, desde sempre, aprendi a conviver com a raiva e o rancor, mas essa tristeza cortante é novidade para mim.

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Segundo capítulo e já podemos perceber que a Cecília é movida na força do ódio 100%.

Pausa para enaltecer essa obra de arte chamada música que meus amores do The Killers fizeram e esse clipe que é a coisa mais fofa do mundo eveeeeeeeer! Sou panfletadora oficial deles, então preparem para muito The Killers pela frente kkkkkk

Quem me segue no insta (se ainda não me segue, bora lá para informações, spoilers do bem, memes, dicas de escrita e outras coisitas @autora.laisdospassos) sabe que todas as postagens vão acontecer nas terças, então já anota aí na agendinha <3

Beijinho e até semana que vem :)

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