Jimin

Eu estava um tanto estressado naqueles dias em questão, havíamos chegado em ‎Ilsan há cinco dias, e tínhamos combinado com o ômega que visitaremos que iríamos nos encontrar no mesmo dia em que desembarquei, entretanto Kim Namjoon nos ligou dizendo que não poderia nos encontrar porque havia surgido um imprevisto.

Até aí tudo bem, marcamos para o dia seguinte, já que era super compreensível que surgisse algum problema, entretanto quando o outro dia chegou, Namjoon voltou a me ligar, faltando uns dez minutos antes da hora que eu pretendia sair do hotel, avisando que teria que cancelar mais uma vez.

Também achei normal, afinal problemas acontecem quando a gente menos espera, ainda mais quando temos crianças pequenas em casa, simplesmente respondi o Kim dizendo que poderíamos marcar para a tarde do dia seguinte, quem sabe ter um almoço ou algo do tipo, e ele achou a ideia ótima.

Porém novamente Namjoon cancelou, e aí eu comecei a desconfiar de que tantos cancelamentos poderiam haver um motivo ainda maior, talvez ele simplesmente não queria aquele encontro e estava inventando desculpas para adiar isso, por constrangimento dizer a verdade.

Sendo assim, liguei uma última vez para ele, avisando que estaria tudo bem se ele quisesse cancelar a minha visita, então o Kim riu ao telefone, dizendo que entendia que ele ter mudado a data tantas vezes começava a parecer ser apenas uma desculpa, mas que agora era certeza de que nenhum imprevisto iria acontecer.

E no dia seguinte eu saí do hotel esperando receber uma ligação ou mensagem cancelando tudo a qualquer momento, mas isso não aconteceu até eu finalmente chegar no endereço que me foi dado, e talvez tenha achado que tinha errado o lugar quando o GPS do carro que aluguei me levou até a frente de uma casa enorme, ou melhor, uma mansão.

Estranhei não o fato de ser uma família rica, e sim o bairro em que estava, pois era conhecido como "lugar das celebridades" por um bom motivo, era fácil encontrar cantores, atores e modelos por aquelas ruas, então me deixou bem curioso a chance de uma das pessoas que recebeu a doação ser alguém famoso.

Mas saindo das minhas indagações mentais sobre quem era a tal celebridade que morava naquela casa, cheguei ao interfone para avisar sobre minha chegada, sendo respondido apenas pelas portas do gigantesco portão branco que se abriram para que eu entrasse.

E assim fui em frente, dirigindo pelo jardim que fazia cenário para a frente da casa, até estacionar em frente às escadas que levavam para uma varanda que cercava toda a residência, desci do carro um tanto embasbacado com a beleza e riqueza do local, parecia até um ambiente saído diretamente de um filme.

Logo um homem de roupas finas veio me receber, avisando que o senhor Kim estaria me esperando em seu escritório e que era para eu o seguir até lá, não vou negar que me senti intimidado pela seriedade e glamour daquele local, mas tentei não demostrar minha inquietação.

Assim que passamos por um longo corredor e paramos em frente a uma porta robusta de madeira prensada, o funcionário que me guiava me pediu para esperar enquanto ele entrava pela porta e falava alguma coisa com seu patrão, saindo logo em seguida e me avisando que eu poderia entrar.

O escritório em si era outra parte da casa que merecia atenção, um ambiente que carregava toda a profissionalidade que deveria ser tratada ali dentro, mas ainda sim mantinha o clima descontraído por ainda ser um ambiente caseiro, com certeza era bem mais organizado do que o meu escritório pessoal, que tinha tintas e pincéis para todos os lados, principalmente pelo chão.

Sempre fui fã de organização, mas não quando se trava do meu cantinho criativo, ali eu não me importava com a bagunça que ficava após um longo dia de trabalho, fazia parte do cenário cada uma daquelas coisas fora de um lugar específico, acho que eu me encontrava melhor naquele meu refúgio se ele estivesse desorganizado para a visão de muitos.

— Pode se sentar, senhor Park. — Um homem de cabelos loiros que estava sentado a mesa se pronunciou, indicando a poltrona a frente da mesa dele. — Sou Kim Namjoon, que bom que enfim pude conhecê-lo.

— Eu digo o mesmo. — Falei após trocarmos um rápido aperto de mãos.

— Peço desculpas, mas estou finalizando uma ligação com um cliente, você se incomodaria em esperar um pouquinho? — Ele questionou e eu apenas respondi que estava tudo bem, eu esperaria ali.

Namjoon voltou a pegar o telefone em sua mesa e virou de costas para mim graças a sua cadeira giratória, se colocando a falar com alguém.

— Senhor Jeon, onde estávamos? — Disse o Kim ao retornar a ligação.

Franzi o cenho ao ouvir aquele sobrenome, me dando uma sensação de déjàvu estranha, mas ignorei até mesmo meu lobo interno parecendo ficar eufórico sem nenhum motivo aparente, talvez fosse apenas a minha ansiedade atacando novamente, não precisava ficar encucado com isso.

E enquanto Namjoon continuava a conversar com aquela pessoa, eu me perguntava qual era o trabalho do Kim e por qual motivo ele teria um "cliente", sendo assim comecei a girar meus olhos pelo cômodo, buscando algo que me respondesse.

Não demorou muito para que eu avistasse em uma das paredes um diploma emoldurado, que afirmava que Namjoon se trava de um advogado, especializado nos direitos de família, como divórcios, heranças, adoções e tantos outros, isso acabou me explicando porque ele tinha tantos imprevistos naquela semana.

— Me desculpe, tenho um cliente que está com muitos problemas, deve imaginar como alguns divórcios são complicados. — Namjoon disse após desligar a ligação e girar a cadeira de volta para mim, deixando o telefone sobre a mesa novamente.

— Bem, eu sou solteiro, mas posso imaginar sim. — Respondi brevemente.

— Pois é, e esse caso se tornou um pouco mais complicado porque eles tem muitos bens na disputa de divisão, ficaram num bate e volta de relação por muito tempo, até aconteceu uma inseminação artificial no tempo em que eles estiveram afastados, é uma longa história. — Explicou, me fazendo rir soprado ao ver inseminação aparecendo mais uma vez nos meus dias.

— É engraçado que por mais de dez anos eu nem ficava relembrando que havia feito uma doação, mas agora parece que o assunto inseminação aparece para todos os lados. — Comentei e Namjoon franziu o cenho, parecendo pensar sobre aquilo logo após.

— Um assunto parece que está sendo mais comentado quando a gente dá a atenção que antes não dava a ele, mas isso sempre esteve lá, só não era alvo dos nossos olhos ainda. — Comentou, me fazendo assentir a suas palavras.

— É um bom ponto. — Dei de ombros. — Os motivos de ter cancelado a minha vista era por causa desse caso?

— Apenas ontem, ele mora em outro estado, então acaba complicando nossos encontros, precisei fazer uma rápida viagem até lá, estamos entrando no final do processo. — Respondeu, mas por algum motivo eu sentia que teve mais coisas envolvidas com esse cliente sim, só não sei porque, talvez um pressentimento desde que essa tal pessoa foi citada.

— Por que ele procurou um advogado em outro estado? — Questionei, não querendo ser rude com a pergunta que esbanjava o meu lado curioso.

— Sou conhecido pelo meu trabalho, Jimin, muitas pessoas procuram por mim mesmo que morem em outros estados, até mesmo outros países, já que tenho clientes japoneses. — Falou sorrindo de lado, parecendo bem orgulhoso em comentar sobre a sua carreira, e sem soar egocêntrico.

— Isso é ótimo! — Exclamei cordialmente.

— Mas então, Jimin... — Murmurou logo após, adquirindo uma expressão séria. — Me responda uma coisa. — Se inclinou sobre a mesa, aproximando-se mais de mim. — Você é um alfa solteiro, sem filhos, um artista renomado, tem tudo que o dinheiro pode comprar e decide vir atrás de conhecer a pessoa que escolheu você como doador de esperma numa clínica de fertilização há anos atrás. — Franziu o cenho, me encarando seriamente. — O que você quer comigo?

— Apenas queria os conhecer, nada mais do que isso. — Respondi rapidamente, mas ele não me pareceu convencido.

— Não acho que seja apenas isso. — Se inclinou novamente para trás, contra o encosto de sua cadeira, sem tirar os olhos de mim.

— Como assim? — Indaguei confuso.

— Está atrás de algum propósito, não está? — Perguntou semicerrando o olhar.

— E não estamos todos? — Retruquei balançando meus ombros.

— Verdade, mas qual o seu propósito? Conhecer filhos que não são realmente seus apesar de terem seu DNA e depois ir embora como se nada tivesse acontecido? — Questionou ainda mantendo um tom bem calmo de voz.

— Eu fui movido pela curiosidade no início, sabe? — Perguntei retoricamente. — Mas todas as famílias que conheci não serão apenas um ponto na minha linha do tempo, afinal acabei ganhando muitos novos amigos nessas viagens, todos acabaram sendo um aprendizado de vida também.

— E se eu não quiser ser um amigo seu? — Indagou inclinando sua cabeça para o lado, sem deixar de me analisar minuciosamente com o olhar.

— Não podemos cativar a todos não é mesmo? — Falei, mesmo que soasse como uma resposta na defensiva, e não muito argumentativa.

— O fato do meu marido ser alguém de muita fama não tem nada a ver com o seu interesse em nos conhecer, certo? — Indagou e me surpreendi, pois nem sabia quem o marido dele era, mas desconfiava que poderia se tratar de alguém rico e/ou famoso pelo endereço da residência

— Olha, eu nem tinha conhecimento desse fato, senhor Kim. — Disse, e agora foi a vez dele de ficar surpreso.

— Você me deixa confuso, senhor Park. — Riu soprado antes de concluir. — Mas por alguma razão eu fui com a sua cara, e meu marido também, mesmo que tenha ficado bem desconfiado no início, tanto que eu tive que fazer uma boa investigação sobre você.

— Pelo visto pesquisaram sobre mim. — Arqueei uma das sobrancelhas, ele já tinha deixado claro que sabia bastante sobre quem eu era, mesmo que eu soubesse pouco sobre eles

— Sou um advogado, saber todos os detalhes sobre algo para que possa contestá-los acaba se tornando um instinto. — Proferiu simplesmente.

— Imagino que sim, e acho que passei uma má impressão pela situação atípica. — Falei e ele assentiu.

— Admito que sim. — Suspirou. — As pessoas não têm conhecimento sobre a inseminação que fiz, e como meu marido tem uma imagem pública, qualquer circunstância inusitada que possa ser pretexto para causar escândalos deve ser bem estudada antes de tudo sair de nosso controle.

— Também tenho uma imagem pública, e mesmo que não seja em grandes escalas, ainda sim prefiro manter minha vida privada longe de especulações e capas de revistas. — Expressei, ele já deveria saber que eu também tinha minha porcentagenzinha de fama afinal.

— Gostaria de poder dizer o mesmo do meu marido, mas ele não tem mais como escapar das capas. — Falou enquanto abria uma das gavetas de sua mesa e tirava lá de dentro uma revista, a qual ele jogou sobre a mesa, bem em minha frente, me fazendo ver quem era a pessoa que estava na capa dela...

— Jackson Wang? — Exclamei surpreso, me levantando repentinamente, encarando boquiaberto a revista. — Você é casado com Jackson Wang? — Questionei nem notando que havia elevado meu tom de voz, apenas percebi que estava me excedendo quando senti uma tontura e caí de volta sobre a cadeira. — Ai minha nossa, acho que minha pressão caiu.

— Você está bem? — Namjoon perguntou preocupado, se levantando e dando a volta na mesa para ver como eu estava.

— Preciso de água. — Murmurei levando a mão até a cabeça, ainda sentindo uma leve zonzeira, talvez não devesse levantar assim tão rápido.

— Ok, eu vou pegar. — Avisou andando em passos rápidos até a porta. — Só, não desmaia, tá bom?

— Tudo bem. — Murmurei baixo, o vendo se retirar.

Acho que antes d'eu ter um ataque de fanboy, é importante que conte quem é esse tal Jackson que acabou de me fazer passar por papel bem constrangedor na frente de Namjoon, mas eu não poderia imaginar que iria acabar parando na casa do meu ídolo

Jackson é rapper solo que debutou mais ou menos na época em que eu comecei a faculdade, sendo assim as suas músicas acabaram sendo trilha sonora de boa parte da minha trajetória universitária, e também uma fiel companheira em meu fones enquanto eu criava minhas obras.

Eu deveria ter todos os álbuns que ele lançou, sem contar que fui em quase todos os shows que houve em minha cidade, com certeza eu poderia me adequar como um fã de carteirinha, porém apesar de saber que ele era casado, eu não sabia o nome de seu marido, mesmo que Wang já tenha dito centenas de vezes sobre seu casamento e seu filho.

Meu Deus, eu era o pai do filho do meu ídolo!

Quer dizer, não realmente, mas deu pra entender o raciocínio... Eu estava mesmo precisando de um copo de água naquele momento.

— Namjoon, ouvi meu nome, você me chamou? — Uma voz masculina se fez presente na sala minutos depois, enquanto eu ainda estava pensativo sobre tudo aquilo, mas ao reconhecer aquele tom de voz, rapidamente me virei em direção a porta, vendo que realmente se tratava de Jackson. — Oh, olá! Você deve ser o senhor Park.

— S-sou eu... — Murmurei mais gaguejando do que conseguindo proferir as palavras completamente, mas ele pode entender.

— Admito que pensei que se tratava de uma cara mais velho, estava imaginando cabelos grisalhos e uma barba branca. — Brincou rindo enquanto se aproximava estendendo sua mão. — Mas você é bem jovem.

— Temos a mesma idade na verdade. — Falei após trocar um rápido aperto de mão com ele.

Eu estava todo me tremendo, corado possivelmente, meu nervosismo era aparente, ele facilmente deve ter notado... Que vergonha! Não sei nem como disfarçar direito.

— Sabe a minha idade? — Jackson perguntou franzindo o cenho.

— Ah... B-bem... — Balbuciei meio sem saber se deveria relevar que era um fã ou não, mas por fim preferi falar a verdade.— Sou fã do seu trabalho.

— Obrigado. — Agradeceu sorrindo de lado. — Se meu marido não tivesse feito todas as pesquisas e confirmado que você é mesmo nosso doador lá na clínica, eu estaria achando que inventou essa história apenas para me conhecer, mas então você também teria que saber que fizemos uma inseminação artificial, e aí eu me preocuparia bastante com sua presença.

— Eu não sabia que você era o marido do Namjoon até uns minutos atrás quando ele me contou, não se preocupe, não sou algum tipo de fanático que está procurando uma maneira absurda de chegar até você. — Respondi sincero.

— Acredite, o Jimin não sabia. — Namjoon disse enquanto entrava novamente na sala, trazendo um copo com água, estendendo o mesmo até mim. — Aqui a sua água.

— Valeu. — Agradeci segurando o copo, e bebendo aquela água praticamente num gole só.

— Não pensei que estamos exagerando em nossa proteção, você pode imaginar que quando nos tornamos famosos, muitos aproveitadores acabam aparecendo. — Jackson completou, e eu assenti.

— Sim, eu entendo, a segurança e averiguação se tornam ainda mais essenciais. — Falei enquanto deixava o copo vazio em cima da mesa.

— Eu queria muito contar aos meus fãs e a mídia que meu marido e eu optamos pela inseminação artificial, pois nossas chances de uma gravidez natural eram pequenas, afinal é um assunto tão pouco comentado e eu queria falar sobre nossa experiência, porém meu agente não permitiu, disse que poderia causar boatos calunioso e por aí vai. — Jackson contou, se sentando na cadeira que antes eu estava.

— Bem, acho que sua vida íntima não diz respeito a ninguém, mas se desejar realmente se abrir, seria legal ter uma pessoa tão influente abordando um assunto importante, que não precisa ser um tabu, como alguns ainda veem. — Proferi e ambos me olharam com curiosidade.

Era certo que ainda existia muito preconceito em nossa sociedade quando um ômega ou um beta escolhia ter um filho sozinho por meio da inseminação, causava burburinhos negativos, e esse mesmo burburinho aparecia também quando um alfa se revelava infértil, como se esse fato o tornasse "menos alfa" aos olhos preconceituosos de algumas pessoas, a mente de muitos continuava arcaica, fechada e parada no tempo, mesmo com toda a evolução dos anos.

— Ele tem razão. — Wang murmurou, olhando para seu marido. — Vou pensar mais sobre isso.

— Então Jimin, já que você é um fã do Jack, quer conhecer nosso estúdio? — Namjoon questionou rindo soprado ao me ver arregalar os olhos após sua proposta.

— Eu posso? — Indaguei tentando controlar minha animação, sabendo que se fossemos um desenho animado, os meus olhos estariam cheios de estrelinhas.

— Claro, me segue. — Disse Jackson, se levantando da cadeira e indo até a porta da escritório, comigo em seu encalço.

Wang me apresentou seu estúdio particular nos fundos da casa espaçosa, lugar esse em que ele havia gravado praticamente todo o seu último álbum, um dos meus preferidos, só para constar, e talvez eu estivesse parecendo uma criança num parque de diversão enquanto ele me mostrava tudo, mas tentei me controlar.

Namjoon acabou recebendo outra ligação daquele seu cliente, e teve que se retirar, dizendo que faria uma reunião via chamada de vídeo com o rapaz, pois precisavam resolver tudo que estava pendente, e Jackson continuou me contando sobre sua família, mostrando o quanto era um pai coruja.

Acabei não podendo conhecer Sungjong, o filho do casal, pois o mesmo estava na escola naquele momento e depois da aula seguiria para seu curso de inglês, e eu não iria poder esperar tanto, já que havia prometido a Youngjae que voltaria logo, pois precisávamos fechar a conta do hotel, já tínhamos passado mais dias do que havíamos planejamos naquela cidade.

O próximo ponto de parada seria Gwacheon, e eu estava ansioso para conhecer o lugar.

~♥~

Jimin está cada vez mais perto de conhecer o JK hihi 

Até o próximo ^^