Jungkook, o início de tudo
Jimin
— Oh sim, está tudo bem com você? — Questionei o rapaz do outro lado da linha, um tanto confuso com o motivo da sua ligação.
— Sim, desculpa te ligar a essa hora, é que eu liguei no seu escritório e me disseram que você estava fora da cidade, que era melhor eu ligar diretamente, não quis incomodar. — O rapaz falou rápido, se embolando nas palavras, parecia estar nervoso.
— Tudo bem, não estou ocupado, podemos conversar. — Respondi terminando de fechar a última mala, eu não estava tão livre assim já que tinha que pegar um avião dali há pouco tempo, mas se ele me ligou, deveria ser algo importante.
— Não vou tomar muito do seu tempo de qualquer maneira, apenas vim informar que vamos ter que mudar nosso ponto de encontro. — Disse suspirando, parecendo frustrado. — Eu não vou estar em Busan semana que vem, vou estar em Seul, na casa dos meus pais.
— Oh, você quer que eu vá te encontrar por lá? — Questionei franzindo o cenho, me aproximando do telefone do quarto, onde havia uma agenda e uma caneta do lado, eu poderia anotar ali o endereço que o Jeon me daria.
— Sim, se não for problema. — Murmurou inseguro.
— Sem problemas, poderia me dizer o endereço? — Perguntei e ele logo me passou o necessário, o qual anotei rapidamente.
Desligamos a ligação logo após isso, e eu estava me sentindo realmente estranho, com uma sensação desconhecida tomando o meu peito, uma ansiedade que crescia de forma assustadora e eu nem fazia ideia do porquê aquilo começou, precisei me sentar na cama para me acalmar, pois minhas pernas estavam bambas.
Respirei fundo, sentindo o suor descer por minha temporã, meu lobo também estava agitando e a voz de Jungkook ainda ressoava em meus ouvidos, como se eu estivesse o ouvindo em um looping infinito, esses sintomas se mantiveram fortes por alguns minutos, até passarem misteriosamente, de um segundo para o outro.
Naquela noite eu voltei para casa muito confuso comigo mesmo, mas tentei não me focar muito naquilo, e sim em me preparar para visitar Jungkook no dia seguinte, já que no final de sua ligação acabamos mudando a data do encontro.
Porém mesmo que eu tivesse decidido que iria ignorar aquelas coisas esquisitas que andavam acontecendo comigo por enquanto, mas novas coisas começaram a surgir, como o fato de que eu mal consegui pegar no sono naquela mesma noite pois a todo instante era acordado pelos meus próprios sonhos, que insistiam em me mostrar um rapaz moreno, que vinha até mim e tentava me dizer alguma coisa, mas eu acordava antes disso.
Os olhos intensos daquele homem tomaram minha mente, mesmo que eu tentasse dormir novamente, ele vinha para me despertar, e assim acabei passando a noite quase toda em claro, rolando sobre o colchão e sendo atormentado pela visão bonita do rosto daquele rapaz, eu sentia que já havia o visto muitas vezes, mas não conseguia lhe identificar.
Quando a manhã chegou, eu estava me sentindo um caco, minhas costas e cabeça doíam, meus olhos ardiam e todo o meu corpo parecia pesar mais de uma tonelada, foi difícil sair da cama, mas Youngjae fez questão de me despertar quando me ligou, perguntando como estavam as coisas.
Contei para ele sobre a ligação de Jungkook e a mudança de planos, o Choi disse apenas que iria me levar até lá, mas neguei sua oferta, eu já estava de volta em casa, então poderia pegar o meu próprio carro e seguir até o endereço que me foi dado, nem era tão longe do meu bairro de qualquer forma.
Um trajeto de menos de dez minutos me fez chegar até a área residencial em que os pais de Jungkook viviam, estacionei meu carro em frente a casa e sai, voltando a sentir umas sensações esquisitas, uma queimação sobre meu estômago e alguns arrepios por todo o meu corpo, precisava me sentar antes que passasse mal.
Pensei até mesmo em voltar para o carro e esperar que aquele mal estar passasse, porém algo aconteceu para pegar minha atenção, era um cheiro forte, um odor gostoso, que misturava eucalipto com uma leve essência mais suave, aparentava ser pêssego, eu me vi fascinado e guiado por aquele perfume até a porta da casa, onde não pensei duas vezes antes de tocar a campainha.
E foi então que fui recebido pelo próprio dono daquele cheiro bom, um homem alto, de cabelos escuros e um rosto bonito, carregando uma expressão amável e uma áurea doce, seus olhos se focaram nos meus por alguns segundo, quase pude sentir sua energia fluir me atravessar e agraciar meu corpo, a sensação me arrebatou.
O rapaz não falou nada, ele apenas me encarava da mesma forma que eu o admirava, me sentia averiguado e estudado por seus olhos intensos, minhas mãos ficaram trêmulas, eu estava ansioso e meu lobo interior se manteve estranhamente quieto, ele parecia tão hipnotizado quanto eu estava por aquele belo ômega.
Mas não era apenas por conta da beleza dele, eu senti algo diferente, confuso e ao mesmo tempo muito bom, uma sensação de êxtase, como se tivesse caminhado por horas a fio, num dia muito quente de verão, e finalmente estivesse bebendo um copo de água fria abaixo da sombra de uma árvore frondosa.
Como se finalmente tivesse acabado de encontrar algo que esperei por toda a vida.
— Oi, você é Park Jimin? — A voz dele me cortou daquele transe e me trouxe novamente ao silêncio constrangedor que aquilo deveria estar sendo.
— Ah... S-sim... — Murmurei me perdendo nas palavras. — Sou eu.
— Prazer, sou Jeon Jungkook. — Ele se apresentou, estendendo sua mão... Ela parecia trêmula.
— Oi... — Cumprimentei o moreno, apertando sua mão, a minha destra estava tão suada quanto a sua, pelo visto não era apenas eu que me sentia nervoso.
— Ah... Você quer entrar? — Jungkook indagou, parecia um tanto desconcertado, ele também havia sentido um certo arrepio ao tocar minha mão? Porque eu havia sentindo.
— C-claro. — Parecia que eu tinha desaprendido a falar, nenhuma palavra saia sem que eu gaguejasse ou num volume baixo demais para ser bem compreendido.
Jungkook me deu espaço para passar e entrou na casa logo após, fechando a porta, sua mãe apareceu e me cumprimentou também, logo se retirando, nos olhamos sem graça quando ficamos sozinhos novamente, o clima tinha ficado esquisito mais uma vez, porém ele tentou disfarçar, me guiando até a sala de estar.
— Minha neném, a Minhee, ainda está dormindo, então... — Jungkook disse, falando carinhosamente sobre sua filha.
— Ah ok, eu entendo. — Falou assentindo.
— Você quer se sentar? Quer um café? — Perguntou se aproximando do sofá da sala.
— Não, tudo bem. — Disse, mas em seguida me corrigi: — Quer dizer, sentar eu quero, mas o café não.
— Oh, ok. — Ele sussurrou, se sentando ao meu lado, sem olhar diretamente para mim.
— Hm... — Murmurei, buscando algum assunto em mente. — Quantos anos sua filhinha tem?
— Nove anos. — Respondeu, abrindo um sorriso.
— Por que você decidiu fazer a inseminação? — Questionei o que poderia dar um bom inicio a aquela conversa.
— Bem, há anos atrás eu estava vivendo um casamento fracassado, eu e Yugyeom éramos melhores amigos que decidiram namorar, depois de um tempo o casamento apenas parecia o caminho normal por onde tínhamos que ir e assim foi. — Deu de ombros. — Mas os anos passaram, e as coisas começaram a desandar.
— Muitas brigas? — Indaguei arqueando umas das sobrancelhas.
— Muito de tudo, a gente discutia por qualquer coisa, até assuntos bobos viraram motivos para a gente discordar um com o outro, e quando fomos ver, a gente já estava dormindo em camas separadas e mal nos falávamos, eu não queria mais fingir que poderíamos continuar juntos como maridos.
— Se divorciaram? — Perguntei e vi seu olhar abaixar, se direcionando ao chão.
— A gente conversou, eu expus tudo o que estava sentindo e ele também, decidimos nos separar amigavelmente, e ele decidiu sair de casa e deixá-la para mim. — Comentou, mas algo me dizia que não era o final da história ainda.
— Não entraram com o processo de divórcio? — Questionei e Jungkook riu sem humor.
— Não, porque um mês depois a gente voltou. — Respondeu, suspirando cansado. — Eu comecei a demonstrar sintomas de uma gravidez um pouco depois dele sair de casa, e eu sabia que ele e eu tínhamos passado o meu cio juntos, tudo indicava que eu poderia estar esperando um bebê, então liguei desesperado para ele.
— A suspeita de uma gravidez os aproximou novamente, presumo. — Expressei o que parecia mais óbvio.
— Exatamente, Yugyeom e eu estávamos muito animados com a possibilidade de nos tornarmos pais, e isso meio que reacendeu a atração que sentíamos um pelo outro. — Explicou sem me encarar, colocando sua atenção num fio de linha que estava soltando em seu agasalho. — Mas eu fui no médico e descobri que não estava grávido, e eu fiquei tão decepcionado com a notícia que percebi pela primeira vez que eu queria muito ser pai.
— Então vocês continuaram tentando? — Perguntei curioso, conversando com ele eu sentia toda aquela tensão inicial se dissipando, o papo estava fluindo normalmente.
— Sim, por várias vezes, cheguei a engravidar, mas infelizmente eu perdi, e quando dei por mim as nossas discussões reiniciaram, percebi que não adiantava fingir um conto de fadas, a gente não se entendia mais. — Comentou, parecendo entristecido ao falar desse assunto. — Eu continuava querendo ter um filho, mas eu não sabia mais se Yugyeom era o cara certo, a gente não se dava mais bem como antes.
— Se divorciaram dessa vez? — Questionei e recebi como primeira resposta uma expressão constrangida do moreno.
— De corpos sim, mas a gente não entrou com requerimento do processo de divórcio de cara, acho que esse foi o meu erro, porque eu dei esperanças a ele, e dei esperanças a mim também, uma pequena parte de mim ainda achava que a gente poderia superar aquela crise e voltar a ser o casal de antigamente. — Riu soprado ao fim de sua frase, como se achasse graça dos pensamentos que tinha na época.
— Eu entendo, quando passamos assim tantos anos com uma pessoa, é difícil aceitar que o relacionamento está acabando, as vezes pensamentos que ainda há como lutar para manter aquilo, por causa de toda a história que construíram juntos. — Comentei mostrando que lhe compreendia.
— Sim, e a marca só piorava as coisas, porque eu ainda me sentia ligado a ele. — Falou e abaixou um pouco da gola de sua blusa, para mostrar o lugar que antes estava a marca de seu ex marido, quase não era possível mais vê-la, porém se olhasse com concentração, dava para notar o formato da mesma sobre sua pele cicatrizada. — Mas hoje já são três anos separados, a marca se desfez.
— Quando decidiu optar por ser um pai independente? — Perguntei, já que até agora ele não tinha falado sobre a inseminação diretamente.
— Um tempinho depois da nossa separação, eu peguei metade do meu salário do mês e peguei um pouco das minhas economias, meu melhor amigo Taehyung me ajudou com as burocracias e indicou a clínica que ele também tinha feito uma inseminação. — Citou o nome do amigo, me surpreendendo, mas talvez não tanto assim, eu estava começando a ligar alguns pontos. — Acabei escolhendo o mesmo doador que ele, porque a gente achou que seria legal se nossos filhos fossem biologicamente irmãos.
— Sim, eu conheci o Taehyung, ele não comentou sobre o fato de saber que eu também era seu doador, mas falou que te indicou. — Falei e Jungkook sorriu... Que sorriso bonito...
— Eu e ele sempre fomos os melhores amigos, desde o colégio a gente dizia que ia desbravar o mundo juntos, as coisas acabaram indo por outros caminhos, mas eu ainda o considero o meu irmão de outra mãe. — Proferiu de forma nostálgica. — Ele até me convenceu a fazer essa tatuagem quando fui o visitar um tempo atrás. — Disse levantando a manga da blusa, mostrando sua tattoo, uma grande rosa, cheia de detalhes e com as iniciais JM. — É em homenagem a minha filha, Jeon Minhee.
— Isso é estranho... — Murmurei quando percebi que já tinha visto aquele mesmo desenho antes, quando conheci Yoongi e também pelo fato d'eu ter uma tatuagem parecidíssima.
— A tatuagem? — Ele perguntou franzindo o cenho.
— Não, o fato d'eu ter uma igual. — Me virei de costas para ele e abaixei um pouco a gola da minha camiseta, mostrando meu ombro e um pouco da parte superior direita das minhas costas. — Olhe aqui. — Falei, ele poderia ver metade da tatuagem dessa forma. — O seu tatuador, o Yoongi, ele também me escolheu como seu doador na clínica.
— Cara, isso é muita coincidência. — Seus olhos se arregalaram. — Não só a sua tatuagem, mas o fato do Tae e eu termos ido até o estúdio de tatuagem de um cara que também teve você como doador de esperma.
— É loucura. — Ri juntamente dele. — Mas então, você não tinha terminado de falar, está divorciado do Yugyeom?
— No papel ainda não. — Sua expressão murchou. — Bem, pra começar a explicar a bagunça que se tornou minha vida, tenho que começar pelo fato do Yugyeom ter descoberto minha gravidez quando eu já estava com uns sete meses, de barrigão, e ele achou que o filho era dele.
— Ele tinha motivos para achar isso? — Indaguei e o ômega se limitou a rir forçado mais uma vez.
— Sim, a gente tinha tido uma recaída, digamos assim. — Respondeu exasperado, fazendo movimentos exagerados com as mãos como se quisesse explicar assim. — Sete meses antes da gente se reencontrar, ele tinha ido na casa que eu ainda morava na época, para buscar umas coisas dele que tinham ficado lá, mas o que acontece é que a gente acabou se deixando levar e passamos aquela noite juntos, e na manhã seguinte combinamos de esquecer.
— Mas você contou a verdade para ele, né? — Minha pergunta o fez desviar o olhar.
— Ai, eu me sinto tão envergonhado em falar disso. — Grunhiu levando as mãos até o rosto e cobrindo sua face.
— Tudo bem, Jungkook. — Falei numa tentativa de o acalmar. — Não precisa me contar se não quiser.
— Você vai me achar uma pessoa terrível. — Resmungou tendo sua voz abafada por suas mãos.
— Claro que não. — Sorri, tentando lhe passar confiança, claro que eu não lhe julgaria.
— Eu não afirmei e nem neguei que o bebê era dele, Yugyeom somente chegou afirmando que estava muito feliz em saber que eu estava grávido, e me perguntou logo se eu desejava tentar nosso relacionamento de novo. — Explicou após abaixar suas mãos. — Ele chegou num momento em que eu me sentia muito sensível, estava vendo o meu dinheiro acabar, com medo de não conseguir manter o meu emprego, medo de não dar conta de todas as responsabilidades, não queria depender dos meus pais, eu me via desesperado pela primeira vez desde que engravidei.
— E estar com ele de novo te traria mais segurança. — Conclui e Jungkook acenou positivamente.
— Sim, por isso eu aceitei. — Disse em seguida. — Mas dois meses depois a minha filha nasceu, e eu contei sobre a inseminação para o Yugyeom, ele não acreditou de primeira, mas eu mostrei todos os documentos e ele ficou muito triste e decepcionado por eu ter demorado para contar, e eu estava ainda mais decepcionado comigo mesmo.
— Jungkook, eu não sou ninguém para te julgar, afinal você é humano, nós não somos perfeitos e cometemos erros, você se viu desesperado e se apegou a única âncora que encontrava na época. — Expressei ganhando um sorriso do ômega, ele pareceu relaxar bastante depois da minha resposta compassível.
— Eu pedi muitos perdões a ele, e a gente tentou dar mais uma chance a nós dois, a Minhee nasceu, e quando me dei conta, mais seis anos tinham passado. — Suspirou. — As coisas entre a gente estavam esquisitas, nem agíamos como amigos, éramos mais dois colegas de quarto que só conversavam sobre contas e afins, não éramos mais um casal, percebemos que apenas mantínhamos aquela relação por medo da Minhee não saber lidar com a separação dos pais.
— Sinto muito. — Murmurei, não sabendo muito o que falar.
— Nós choramos juntos naquele sofá da antiga casa enquanto enfim tivemos a conversa final, não havia mais esperanças naquela relação e não poderíamos mais iludir um ao outro, era muitos anos mentindo um para o outro. — Seus lábios se curvaram num sorriso leve, sem mostrar os dentes. — Não vou dizer somos os melhores amigos hoje em dia, mas também não somos brigados, apenas nos falamos quando necessário, a Minhee o vê como pai também, então nós o visitamos periodicamente.
— Foi melhor assim, finalmente colocar um ponto final.
— Sim, foi. — Assentiu várias vezes. — Eu fui embora daquela casa no dia seguinte, aluguei um pequeno apartamento que meu salário poderia cobrir e deixei minhas economias para comprar tudo que ela precisa.
— E como anda o processo de divórcio? — Indaguei curioso sobre aquilo.
— Está enrolado há dois anos, tem toda uma divisão de bens que vai demorar bastante para finalizar, meu advogado me disse que alguns processos de divórcio durante até cinco anos. — Ri divertido após sua frase, ao constar mais uma ligação entre mim e Jungkook, meu instinto me dizia que eu sabia muito bem quem era o seu advogado.
— Seu advogado se chama Kim Namjoon? — Perguntei para ter certeza, afinal Namjoon poderia ter me contado sobre outro cliente, o fato dos casos serem semelhantes poderiam ser apenas coincidência.
— Como sabe? — Jungkook questionou arregalando seus olhos mais uma vez, acabei sorrindo involuntariamente por conta disso, suas iris pareciam duas bolinhas de gude, era extremamente adorável.
— Não creio! — Exclamei rindo. — Ele também foi um dos ômegas que me escolheu como doador.
— Namjoon também fez uma inseminação? Que surpresa, eu não sabia disso. — Retrucou ainda chocado com a informação. — Como o marido dele é um cara famoso, imaginei que isso sairia em toda capa de revista.
— Eles preferiam manter isso em sigilo, para não levantar burburinhos. — Comentei, me recordando nesse instante que eu não deveria estar falando desse assunto, pois Namjoon e Jackson ainda mantinham segredo.
— Ah sim, eu entendo.
Nós continuamos a conversar por um certo tempo, até Jungkook me chamar para almoçar com ele quando a fome bateu, e assim eu fui, ainda sentindo algumas coisas estranhas acontecendo em meu interior, meu alfa agora parecia eufórico e ao mesmo tempo nervoso, já entendia que a presença de Jeon estava aumentando os sintomas, mas não sabia exatamente a causa disso.
Com o tempo comecei a notar que Jungkook também aparentava sentir alguma coisa, talvez a mesma agonia que eu sentia algumas vezes, ele continuava a conversar comigo normalmente, mas eu percebia que o ômega tentava manter distância de mim, como se o simples fato de estarmos perto fosse lhe dar um choque elétrico.
— Vou ser sincero com você, eu estava com vergonha de lhe receber em minha casa, lá em Busan. — Jeon falou depois de alguns minutos em silêncio, tirando minha atenção do prato de comida em minha frente.
— Por quê? — Questionei confuso, e ele se mexeu desconfortável na cadeira ao lado, estávamos em volta da mesa da cozinha nesse momento, desfrutando da maravilhosa comida que a mãe de Jungkook fazia.
— Vai parecer besteira, mas depois que eu pesquisei sobre você e vi que era uma pessoa importante, me senti meio constrangido com o meu apartamento pequenininho e simples, e também eu moro sozinho, receber um alfa desconhecido me parecia perigoso. — Maneou com a cabeça e eu assenti, compreendendo.
— Que isso, Jungkook, eu compreendo completamente, você está certo. — Falei antes de dar mais um gole no meu suco. — E também pode ficar relaxado que não sou nenhum arrogante que se deixa levar por bens materiais.
— Me desculpe, eu meio que me precavi porque não sabia como você seria. — Murmurou, vi suas bochechas ganharem um tom rosado. — Tinha perguntado pro Tae como você era, mas o meu amigo acha que todo mundo que já elogiou os livros dele são pessoas incríveis, então a opinião dele não conta nesses casos.
— Não precisa se desculpar, eu entendo, no meu meio realmente é fácil encontrar gente de nariz em pé que vai virar a cara para quem não está no mesmo ciclo social que eles, conheço tantos assim. — Ri soprado, relembrando de algumas pessoas em questão com quem eu já tive que saber lidar.
— Posso imaginar. — Comentou, voltando a atenção para seu prato, mexendo na comida.
— Jungkook, me desculpa a pergunta e me perdoe se estou sendo muito invasivo, mas como você está se sustentando, você ainda trabalha? — Perguntei, temendo que ele me achasse intrometido demais.
— Oh, no momento estou vendendo cupcakes para o filho de uma amiga da minha mãe, ele é dono de algumas panificadoras famosas pela Coréia. — Respondeu e o olhei surpreso, pelo visto havia mais conexões entre nós do que eu imaginava.
— Espera... — Elevei a mão, em sinal de "espera", enquanto engolia em seco a porção de comida que tinha acabado de colocar na boca. — Você é quem faz cupcakes para o Seokjin?
— Nossa, sim... — Murmurou arqueando as sobrancelhas. — Como sabe?
— Ele também fez uma inseminação, sou o doador dele, nos conhecemos uns dias atrás, e ele até me contou sobre você, me deu os bolinhos para provar, devo ter comido uns dez.
— Cara, essas coincidências são incríveis, até parece que o destino tentou um jeito de te trazer até mim, ou de me ligar às pessoas que fizeram a inseminação com a sua doação. — Ele proferiu, me deixando pensativo sobre aquilo tudo.
— Realmente. — Assenti brevemente. — Você me disse que trabalhava na época que fez a inseminação, então saiu do emprego?
— Sim, oito meses atrás eu perdi meu emprego, estou tendo que me virar como dá enquanto nenhum dos meus currículos recebe uma resposta.
— Qual sua formação, Jungkook? — Questionei, talvez eu pudesse ajudá-lo de alguma forma.
— Sou formado em administração, mas já fui fotógrafo em horas vagas, foi mais um passatempo. — Respondeu e assim uma lâmpada se acendeu na minha cabeça.
— Se você quiser eu tenho um vaga disponível. — Afirmei e ele me encarou interessado. — Meu antigo administrador de finanças está se aposentado, vou precisar de uma nova pessoa para me ajudar a gerenciar minhas contas pessoais e também a venda dos meus trabalhos.
— Oh Jimin, é muita gentileza sua, mas eu não tenho vontade de me mudar de Busan. — Respondeu sem animação.
— É um cargo que você pode exercer a distância, precisamos unicamente da internet para nos conectarmos. — Expliquei, já que eu praticamente só falava com meu atual administrador por videoconferência. — Olha, vou te dar o meu e-mail, se você desejar mandar um currículo, é só enviar pra cá. — Disse, pegando meu celular e enviando para Jungkook uma mensagem com meu e-mail. — Se tiver alguma dúvida ou pergunta sobre o cargo, pode me mandar também.
— Você está sendo muito gentil. — Falou, sua expressão agora estava alegre.
— Eu prometi a mim mesmo que se alguma das pessoa que me escolheram como o doador, estivesse precisando de qualquer ajuda, eu faria alguma coisa, não porque acho que é um dever, apenas porque me senti bem em ajudar. — Sorri para ele, seus olhos estavam brilhando.
— Obrigado, Jimin. — Ele sorriu quase emocionado e colocou sua destra sobre a minha mão, a segurando com firmeza.
Meu olhar desceu até nossas mãos juntas, e toda aquela euforia que senti antes retornou com tudo, meu coração pulsou mais rápido, as batidas quase poderiam ser ouvidas que tão forte que o músculo batia contra meu peito, meu corpo ganhou mais calor e minha derme febril começou a suar.
Eu podia sentir o cheiro de Jungkook tomando meu olfato e minha respiração acelerou, como se quisesse aspirar mais aquele perfume gostoso, e foi nesse instante que meus olhos mudaram seu ponto de vista, subindo novamente até me focar no rosto de Jungkook, ele também já me encarava nesse segundo, e aparentava estar tão afetado quanto eu.
Suas pupilas dilatadas me fitavam com intensidade, aquele olhar bonito parecia capaz de me engolir e de me afogar, seus lábios avermelhados se entreabriram, puxando oxigênio também pela cavidade bucal, Jeon estava começando a ficar com a respiração descompensada, assim como eu, e foi então que percebi que me aquilo não era comum, não era uma simples atração física.
— Dá onde eu conheço você? — Questionei num fio de voz, sussurrando. — Sinto que já conhecia seu rosto antes mesmo de bater na sua porta hoje de manhã.
— Não sei, talvez a gente já tenha se esbarrado antes, ou você me viu na televisão, fiz uma entrevista sobre inseminação artificial para um telejornal. — Respondeu, sua voz também estava num tom bem baixo.
— Sim, eu vi a entrevista, na casa do Hoseok, um dos rapazes que também fez a inseminação e me escolheu como doador. — Afirmei, me recordando do quanto fiquei encantado ao ver o rosto de Jungkook pela tevê.
Lembrar de Hoseok também me fez relembrar da conversa que eu tinha tido com ele após assistir Jungkook dando uma entrevista, Hoseok havia me falado sobre almas gêmeas, sobre o fato de só ter visto alguém olhando para outro alguém daquela mesma maneira que eu tinha olhado para Jungkook, quando se tratou do encontro de duas almas gêmeas.
Almas gêmeas...
De repente aquele estalo em minha mente me fez perceber o óbvio, em algum momento nesses dez anos desde que estive naquela clínica em Seul, aqueles outros seis rapazes também estiveram, e tantos detalhes culminaram para que eu conhecesse cada um deles e por fim conhecesse quem estava na minha frente naquele exato momento...
— Isso é muita coincidência. — Jungkook comentou, me tirando daquela linha de raciocínio.
— Não é coincidência, Jungkook.
~♥~
eita, agora vai!
até >u<
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