Capítulo único
Caos. Era essa a palavra.
Em meio aos destroços do que um dia fora chamado de escola, encontrava-se uma mulher. Essa, possuía grandes amêndoas no lugar dos olhos, um cabelo castanho muito espesso e dentes incisivos centrais maiores do que os demais. Seu rosto, embora jovem, carregava uma expressão vaga, que poderia vir a indicar tristeza, já que os olhos da mesma brilhavam em lágrimas.
O que ela estava fazendo? Correndo; corria como se sua vida dependesse dessa tarefa. E, bom, talvez essa hipótese fosse verídica. A moça podia facilmente estar sendo perseguida por algum inimigo. Em tempos de guerra isso não era raro de se acontecer. Mas, por outro lado, ela podia estar simplesmente procurando por algum sinal de vida humana. Seria duvidoso acreditar que ela era a única espécime de sua raça, levando em conta que o Planeta Terra é conhecido como o lar dos mesmos.
— HERMIONE! HERMIONE! — uma voz rouca e provavelmente masculina esbravejou. A qual se mostrou familiar à mulher, já que toda a cor de suas íris foram cobertas com uma avalanche de preto, vindo de suas pupilas. Se foi uma surpresa boa ou ruim, foi impossível distinguir. Podia-se, por um lado, concluir que sua vontade era de se reunir com o autor do som, já que mais rápido do nunca, ela apressou os passos na direção que, provavelmente, era a do homem.
Afinal, o que significava "Hermione"? Seria um nome? O nome dela? Era difícil saber.
Após um curto período de tempo, talvez 40 ou 50 segundos, dois pontos pretos ao longe, cujo as silhuetas eram semelhantes a de uma pessoa, se mostraram visíveis. O dono da misteriosa voz estaria entre eles? Seriam eles conhecidos dela? Bom, isso só o tempo seria capaz de dizer.
— RON? HARRY? — berrou a moça, agora que os três se encontravam à aproximadamente uns 20 metros de distância. Seria Ron e Harry os nomes das pessoas que no momento podia-se afirmar que eram homens?
— HERMIONE, SOMOS NÓS! — ouviu-se o que aparentemente era a voz pertencente ao segundo moço, que até então não tinha se pronunciado.
É, estava parecendo que os três misteriosos não eram assim tão estranhos um para o outro.
Os olhos da única exemplar do sexo feminino ali presente — os quais já haviam cessado o lacrimejar —, se encheram novamente de grandes gotas, suas escleras encontravam-se fartas de lágrimas. A grande dúvida era sobre a razão do choro. Consideravelmente, havia uma cornucópia de opções, poderia ser por: tristeza, medo, alívio, surpresa e até de alegria.
Agora, o trio estava mais próximo do que jamais estivera. A aproximação parecia, apesar dos pesares, reconfortá-los de uma maneira positiva. Quase como se um grande peso, antes sobre as costas dos mesmos, tivesse sido retirado.
Não demorou muito para se juntarem em um abraço um tanto desajeitado e afobado, o que parecia ser irrelevante no momento para os presentes. Estavam aliviados.
— Conseguimos, Mione, o bem prevaleceu, ele se foi! — comentou um deles, em tom de empolgação. A voz dele recordava aquela primeira, que chamou pela menina, a qual agora tinha-se certeza de que se chamava Hermione.
— Eu disse que conseguiríamos, Harry! Como você está? — exclamou uma voz estridente, que ainda não tinha sido ouvida. Esta pertencia a tal Hermione, que se virou para o outro garoto e continuou: — E você, Ron? Está tudo bem?
Já era possível distinguir quem era quem. O mais baixo — que aparentemente respondia por Harry — tinha as íris coloridas com um tom de verde-lima, que assemelhavam-se a esmeraldas. Seus lábios eram harmoniosos, porém rosados, e os cabelos eram castanho-escuros. Arriscava-se dizer que o ato de pentear não era uma tarefa fácil, já que seus fios eram pontudos e bagunçados. Usava óculos redondos, pretos e, por causa das circunstâncias, empoeirados. Uma característica que também não poderia passar despercebida, era a sua massa muscular, ou melhor, a falta dela.
O mais alto — que só poderia ser o Ron —, apesar de também ser magricela, era completamente o oposto do outro. Seus cabelos eram rotulados como Strawberry Blonde 9.43 — tom de ruivo natural —, possuía sardas mais ou menos da mesma coloração dos fios, um nariz longo e arrebitado e, por fim, lábios finíssimos. Seus olhos, que destacavam-se em meio à cabeleira ruiva, eram azul-capri. Fazer contato visual com ele era quase como se transportar para as águas da Grotta Azzurra — Gruta Azul, em Português —, na Itália. Isso acontecia justamente porquê a iluminação do sol, passando através de uma cavidade sob a água, fez com que a caverna se iluminasse nesse tom, dando origem a criação da cor.
— Graças a Merlin! Estamos até que bem, e você, Mione? — respondeu Ron, levando as mãos e fechando-as sobre as laterais do rosto da amiga. Sua visão se mostrou impedida — havia fechado os olhos. E ainda com o rosto da mulher sob sua posse, balançou a cabeça positivamente e sorriu, sorriu como se só então a ficha de que ela era real e não uma miragem tivesse caído. Se aproximou mais um pouco e em um gesto rápido alcançou a boca da mesma, selando seus lábios com um belo beijo.
O jogo havia virado. Os que mais cedo eram vistos como estranhos, pareciam mais do que familiarizados uns com os outros. Convizinhava-se, com base na ação do ruivo, que os dois pudessem até ter outro tipo de relação que não fosse amizade, mas, sim, um nível acima disso.
O outro amigo, aquele míope, permanecia estático, não se atrevia a mexer um músculo se quer. Não obstante, seu rosto expressava divertimento, junto de um sorriso travesso, que brincava em seus lábios.
— Santo Merlin! Certas coisas nunca mudam, não é? Sempre serei a vela — disse Harry, com uma malícia indescritível na voz. Fazendo com que os dois se assustassem, logo cessando com os beijos.
— Seu idiota — murmurou a garota, com um falso tom de irritação. O que acabou mudando o sentido da frase, tornando-a cômica.
—Também te amo Mione! — ironizou o moreno, arrancando gargalhadas de todos.
— Seremos sempre os três, afinal... — começou o ruivo, incentivando os outros dois a completarem.
— ... um por todos... — completou Harry.
—... e todos por um — terminou Hermione, olhando para o grande, vasto e nublado céu.
— Hermione? Acho que você esqueceu do início da frase — falou uma mulher ruiva com os mesmos traços de Ron, porém seus orbes eram castanhos, assim como os de Hermione.
Não sabia-se como ela havia aparecido ali e muito menos onde os homens de anteriormente haviam ido, porquê ali não estavam mais.
A castanha acordou em um pulo e, desesperada, levou seu olhar a todos os cantos, examinando o lugar em que se encontrava. Ainda estava na escola de Hogwarts, entretanto essa não estava destruída, contava até com uma delicada decoração dos mais diversos tipos de flores, como: rosas, peônias, lavandas, madressilvas, álissos, e os mais belos lírios.
O sorriso de Hermione desmanchou-se lentamente, dando lugar a mesma expressão vaga do início.
Ela provavelmente não compreendia. Onde estavam seus melhores amigos?
— Ginny... f-foi t-t-tudo uma... ilusão? — A falta de ar se mostrou presente, a cor fugiu-lhe o rosto, a tremedeira nos membros superiores iniciara. Suas duas amêndoas, que antes brilhavam esperançosas, agora pareciam ter sido apagadas — a escuridão tomara conta delas. Sem contar que fitava a outra firmemente, como se fosse alguma espécie de heroína.
Uma expressão de pena tomou conta do rosto da que aparentava se chamar Ginny. Foram incontáveis as vez que abrira a boca com intenção de dizer algo, mas a fechara e retornara seu olhar para o chão. Com medo de que talvez, qualquer passo em falso que desse, corresse o risco de perder a amiga para sempre.
A falta de resposta não passou despercebida por Hermione. Essa levantou-se, decidida à ir embora, porém notou que não estava sentada em uma pedra e sim em uma lápide, com os seguintes dizeres cravados em prata:
In Memoriam: Ronald Billius Weasley
01/ 03/ 1980 - 02/ 05/ 1998
Do lado dessa, ainda tinha outra.
In Memoriam: Harry James Potter
31/ 07/ 1980 - 02 / 05 / 1998
Ela parecia ter sido vítima de um enorme choque de realidade, talvez tivesse finalmente se recordado de tudo o que realmente aconteceu. Quase como um dèjà vú.
Deduzia-se que seus amigos estavam mortos. Assim como muitas pessoas, morreram na batalha, lutando.
Em um gesto inesperado, a garota — morena — quebrou o vaso de um dos vários buquês que eles haviam recebido, procurou o pedaço mais afiado e levou-o em direção à sua coxa direita. E então, em um movimento agil, perfurou a própria pele, e mesmo se contraindo de dor, não gritou.
Foi isso o que aconteceu: ela se suicidara bem ali, em frente aos túmulos onde descansavam, merecidamente, os homens de sua vida.
A veia que ela rompera era nada mais e nada menos do que a artéria femoral; responsável por irrigar o membro inferior, é a segunda maior artéria do corpo humano, perdendo apenas para a aorta.
Sagaz. Porém cruel.
A ruiva, entretanto, parecia não ter percebido, afinal foi por isso que Hermione evitara gritar — não queria que a amiga presenciasse sua decadência.
— Mione... — Alguém de fora da cena poderia arriscar facilmente falar que Ginny tivera seu alma sugada por centenas de dementadores. Sua face transcendia terror.
Caos. Era essa a palavra.
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