Capítulo 25
Afasto-me no instante em que os primeiros calafrios percorrem meu corpo. Nada acontece. Então, resolvo beijá-lo novamente, uma vez, depois outra, e mais uma. Sempre de forma breve, mas nada parece funcionar. Será que, para surtir efeito, nossos lábios precisam permanecer juntos por mais tempo?
ㅡ Então você quer mais? Seu safado! ㅡ reclamo, empurrando seu peito, como se ele fosse reagir. Meu coração dispara ao perceber que há alguém ali.
Eu esqueci do transformo e me afasto para enxergá-lo melhor. O pequeno ser desliza pela parte superior da roupa do príncipe, espremendo-se entre a gola e a pele até encontrar apoio na clavícula. Está vestido de preto, com o rosto oculto, exatamente como o príncipe antes de ser capturado.
Mais uma vez, penso: quem teve a ideia de se vestir assim enquanto está sendo procurado por todos os lados? Entendo que o preto ajuda a se esconder, mas é tudo tão exageradamente coberto que acaba chamando atenção. Fica quase irresistível não olhar e querer descobrir o que há por trás da máscara ou do capuz.
O transformo move os olhos castanhos de um lado para o outro, examinando o ambiente como se tentasse decifrar o que está acontecendo. De repente, seu olhar se fixa em mim. Continuo sentada, da maneira mais presunçosa possível, sobre o príncipe.
ㅡ O que está fazendo? ㅡ pergunta o transformo, com a voz trêmula e as mãos encolhidas junto ao corpo.
ㅡ Tem uma tentativa para adivinhar. ㅡ respondo, tão próxima do príncipe que é impossível não perceber a malícia na minha voz.
ㅡ Por favor... não seja tão maculada diante de sua alteza... ㅡ diz o transformo, com uma expressão de repreensão que quase me faz rir.
ㅡ Não sei nem o que isso significa... ㅡ respondo, irônica, enquanto esfrego meu corpo contra o do príncipe para ganhar proximidade.
Contenho ainda mais a vontade de rir ao ver os olhos da criatura se arregalarem cada vez mais enquanto me observa. Ela está tão agitada que acaba escorregando, mas consigo pegá-la antes que caia em algum lugar onde seria impossível encontrá-la.
A criatura parece frágil, tremendo em minha mão, mas a primeira coisa que faço é abaixar o capuz, mesmo sabendo que isso pode assustá-la ainda mais.
ㅡ O que temos aqui...? ㅡ pergunto, aproximando o ser do meu rosto.
Sem o capuz, consigo ver a cor esverdeada de sua pele e os contornos formados por pontinhos brancos que cobrem seu rosto. O cabelo, de um tom mais escuro, lembra capim, e aposto que se camuflaria muito melhor entre os seres mágicos sem a roupa preta, já que muitos deles são naturalmente coloridos. Além disso, não encontrei em lugar algum uma imagem desse ser acompanhando o príncipe.
ㅡ Aproveitando que agora sei que você existe... ㅡ falo, enquanto giro a pequena criatura na minha mão. ㅡ Tenho algumas perguntas para fazer sobre ele.
ㅡ Meu senhor... Por que vive exagerando tanto...? ㅡ Ele parece prestes a chorar, a voz embargada, enquanto olha para o príncipe, que permanece em silêncio, sem responder.
ㅡ Exagerando com o quê? ㅡ questiono, deixando a criatura girar mais uma vez entre meus dedos, observando suas reações.
ㅡ Não... não posso falar... ㅡ Ele se encolhe ainda mais, fechando os olhos com força. ㅡ Ele me proibiu de comentar com qualquer pessoa.
ㅡ Então me diga se consigo ajudar... não quero perder tempo aqui. ㅡ falo baixinho, com a voz grave e impaciente, enquanto desvio o olhar na direção dos abatedores.
Preciso garantir que não estão prestando atenção. De onde estou, só consigo ver seus pés balançando levemente e ouvir alguns murmúrios desconexos sobre recursos, mas nada mais parece fora do lugar.
Por enquanto, tudo parece estar sob controle. Se, por acaso, resolverem olhar para dentro, apenas me verão agarrada ao príncipe. Talvez achem a cena estranha, mas, enrolada no cobertor como estou, posso dizer que estou apenas tentando me aquecer. Mesmo assim, é melhor manter a voz baixa. Não posso correr o risco de chamar atenção.
ㅡ Não posso dizer...
ㅡ Nem isso pode falar? ㅡ pergunto, impaciente, quase bufando as palavras. ㅡ Eu tenho certeza de que posso ajudá-lo...
ㅡ Você? Não pode fazer nada... ㅡ Ele me encara, com a mesma expressão de julgamento que todos têm quando olham para mim e ofereço algo do tipo. ㅡ Ele não aceitaria sua ajuda... odiou quando aconteceu da última vez...
Ele não diz mais nada. Está com medo ou é um ótimo fingidor. Eu é que deveria estar apavorada ao ouvir que não há nada que eu possa fazer. E o que ele quer dizer com o príncipe ter odiado minha ajuda da outra vez? Não me lembro de ter oferecido ajuda. O problema é dele se odiou aquilo.
Encaro a criatura, pensando rapidamente como posso fazer confessar o que sabe. Porque, claramente, ele está escondendo algo. Se ele pelo menos respirasse direito e se acalmasse, talvez entendesse que só quero ajudar...
Queria ser boa acalmando os outros, boa com a escolha das palavras certas e gestos, mas sou a pior nessas situações. Não gosto de abraços e nada do gênero meloso me agrada. A única coisa que consigo fazer com maestria é assustá-lo de verdade, até que me fale o que quero. Se ele está com medo, posso assustá-lo ainda mais.
E, mesmo que de repente me sinta mal por isso, sei que vai valer a pena. Então, não me importo muito.
ㅡ Veja bem, não perguntei se ele aceitaria ou não minha ajuda... ㅡ falo, apertando-o, usando meus dedos como se fosse uma pinça. ㅡ Perguntei se posso ou não ajudá-lo.
Quando ele não responde, aperto ainda mais. Observo o ser perdido e nervoso, enquanto tenta respirar.
ㅡ Não... não... não pode ajudar... ele me castigaria se eu dissesse como.
ㅡ Eu também sei castigar... e posso fazer pior.
ㅡ Sinto muito...
Paro de apertar, quando vejo que está prestes a chorar. O transformo solta o ar com um suspiro de alívio, tentando recuperar a postura após ser espremido.
ㅡ Não posso responder mais nada...
ㅡ Não está sendo egoísta falando dessa forma? Acho que você não gosta do príncipe de verdade... ㅡ Observo o desespero nos olhos do transformo enquanto faço a acusação.
ㅡ Não é isso... Eu só... só sigo ordens... Ele realmente não aceitaria sua ajuda... ㅡ Ele hesita, como se as palavras o prendessem.
ㅡ Eu já disse que a questão não é essa... ㅡ respondo, revirando os olhos, a paciência se esgotando. Me afasto um pouco, tentando controlar a irritação, a respiração.
ㅡ É que não posso responder suas perguntas... ㅡ Ele olha para o príncipe, depois volta os olhos para mim, como se estivesse indeciso sobre o que dizer.
Eu não o entendo, mas não faz diferença agora. Sua fala é tão contraditória que fica óbvio que eu posso ajudá-lo, mesmo que ele não queira. Só que, pensando bem, e por ser uma boa garota, vou ser boazinha e tentar obedecer à vontade do meio morto na minha frente.
Afinal, deve haver uma forma de sair daqui sem ser envenenada.
ㅡ Faça o seguinte: fique gigante e quebre a carroça... ㅡ Coloco o ser no chão, afastando-me um pouco do príncipe, mas ainda permaneço sentada em seu colo. Espero que a criatura faça o que eu disse, mas ela apenas me encara, ainda mais confusa. ㅡ Vamos, se apresse, mas não faça bagunça. Precisamos sair escondidos daqui...
ㅡ Eu não posso...
ㅡ Como assim não pode? Fique só um pouco maior e use magia para fazer uma fenda... Eu vi quando a carroça foi construída, não há nenhuma magia de proteção nela.
ㅡ Não posso...
Reviro os olhos novamente, sem entender o motivo de tanto resguardo.
ㅡ Eu não vou deixar o príncipe aqui. Vamos fugir todos juntos, se essa for sua preocupação. ㅡ falo, mas não parece que seja esse o problema.
ㅡ Não posso...
ㅡ Por quê?
Ele não responde. Deveria tê-lo apertado um pouco mais...
Realmente, não tinha a intenção de deixar o príncipe sozinho na carroça. Abandoná-lo seria um desperdício, embora ainda não soubesse exatamente como faria para fugir com ele e escondê-lo na mata. Contudo, a reação do transformo não fazia sentido. Ele realmente não queria ajudar o príncipe, ou o que eu estava pedindo era algo que ele simplesmente acreditava ser impossível?
Continuo o observando, a vontade de apertá-lo até que desembuche algo não some, mas se ele chorar pode alertar os abatedores... E se for algo mais simples? Se meu pedido for mais simples?
ㅡ Abra as algemas dele, então... ㅡ digo, estendendo as mãos do príncipe em direção ao transformo.
Abrir algemas não é uma magia complicada. Na verdade, parece quase inconsequente ter uma magia simples que consiga abrir quase qualquer coisa com tanta facilidade. Mas não é sempre assim? As algemas do mundo humano também não são difíceis de abrir... basta ter a chave, ou quem sabe, um jeitinho. E se eu contar que a maioria das chaves são iguais... bem, aí teríamos um empate.
A questão é que quando se está preso, não era para ser possível abrir a algema mágica, mas eu não estou sozinha e ainda bem que não estou, só que a criatura a minha frente não sabe.
O transformo hesita, olhando para as algemas, e depois para o príncipe, como se a tarefa fosse mais complexa do que aparentava. Bem... para ele, talvez fosse, pelo mesmo motivo que é para mim. E agora que eu entendo, não consigo ficar mais estressada, não quando compartilhamos do mesmo problema.
ㅡ Não pode nem fazer isso? ㅡ pergunto, soltando todo o ar e relaxando o ombro. ㅡ Por que não diz logo que não tem magia?
ㅡ O que... ㅡ ele murmurou, sem saber como reagir. ㅡ Como?
ㅡ Não se preocupe... você não deixou de ser interessante por causa disso. ㅡ Não menti. Fiquei curiosa em saber como essa criatura consegue aumentar e diminuir de tamanho, mesmo sem magia própria.
Existem tantas formas de fazer isso que até me perco nas possibilidades, mas as que eu conheço são todas caras e eu não tenho dinheiro. Se ele me ensinar alguma coisa, ficarei feliz... Mas não era hora para isso. Precisamos sair daqui primeiro.
ㅡ É um palpite... Acho que são essas algemas que estão impedindo que ele se recupere.
ㅡ Não tem nada a ver com elas... as algemas antimagia não afetam maldições... ㅡ ele responde, os olhos distantes.
ㅡ Então é isso? Ele está amaldiçoado! ㅡ afirmo, surpresa por ele ter deixado escapar uma informação como essa. O transformo balança a cabeça em negação.
ㅡ Não, não, não... não podia falar isso. ㅡ Ele diz, levando a mão à boca e tampando-a rapidamente.
ㅡ Por que não? ㅡ pergunto, um pouco mais impaciente, vendo-o se encolher novamente, como se estivesse com medo de sua própria revelação.
ㅡ Não posso dizer. ㅡ Ele repete, a voz trêmula, claramente desconfortável.
Logo quando achei que estávamos saindo de algum lugar, o transformo começa a esconder as coisas novamente.
Deixo a conversa sem futuro de lado e encaro o príncipe, ainda sem saber exatamente o que fazer. Na verdade, até sei. Sei o que precisa ser feito para despertá-lo, minha intuição diz que basta um beijo mais demorado para ele acordar, mas e depois?
O que acontece quando ele acorda? Depois de tudo, acho difícil que ele queira algo comigo; ele nunca demonstrou gostar da minha presença. E se ele fugir e me deixar aqui? Sou perfeitamente capaz de matá-lo na próxima vez que nos encontrarmos.
Por isso, é melhor pensar direito no que fazer. Não posso ser precipitada nem deixar a afobação tomar conta. Preciso estar preparada, porque, se ele decidir que sou descartável, não haverá segunda chance para mim. E, sinceramente, também não haverá para ele.
O problema todo é o veneno que essa maldição transmite para mim. Eu só estava preparada para aqueles beijos curtinhos, mas aparentemente, assim como aqueles beijos não me afetam, não afetam ele também. E isso complica tudo.
Então, teria que ser mais demorado... Só que não posso dar ao luxo de perder o controle das pernas, muito menos da consciência, não enquanto ainda precisamos fugir daqui e com o plano tão incompleto em minha mente.
A corraça continua se movendo quando olho ao redor, os segundos passando. Preciso fazer essa escolha antes de chegarmos ao destino, mas a ideia de não conseguir fazer nada quando os abatedores entrarem aqui é aterrorizante.
Não consigo confiar que o príncipe, por algum milagre, simplesmente conseguiria algo sozinho. Não consigo confiar em ninguém dessa maneira. Não mais.
Respirar fundo não melhora os ânimos de ninguém. O príncipe não vai acordar sem que eu tome a decisão de despertá-lo, mas, se o fizer, corro o risco de ser a próxima a cair inconsciente.
Se ao menos eu tivesse uma garantia de que ele me ajudaria, talvez essa hesitação não fosse tão insuportável. Mas a verdade é que nem sei se ele consegue ajudar a si mesmo quando acordar.
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