Capítulo 24
Estou decidida a sair daqui, mas, por um breve momento, enquanto a carruagem balança à medida que avança, encaro Dérium desacordado à minha frente e sinto o peso de tudo o que perdi. Agora, tudo parece ainda mais distante. O que eu realmente quero? Vale a pena lutar para sair daqui?
Quando olho ao redor, percebo que não tenho nada, nem ninguém... Apenas um príncipe meio morto e algumas informações incompletas.
Perdi tudo.
Não tenho absolutamente nada. E, pior, de novo. Não é a primeira vez que me sinto assim. Isso me faz lembrar de quando acordei sem memória alguma, da sensação de vazio que senti. Ou do desespero de me deparar com o mundo mágico e descobrir tantas novidades de uma vez, brotando uma atrás das outras. Foi assustador ter que lidar com tudo isso sozinha.
É como se eu tivesse que recomeçar do zero pela segunda vez, depois de já ter me acostumado a ter tudo. E, quando penso que tive tudo, sei o que devo fazer. Preciso ir para o Sul, para a Corte de Pinos! Não tenho muitas informações, mas ao que parece, eles tem. Sabem quem eu sou, ou pelo menos acham que sabem.
Não posso pensar em recomeçar sem saber o que aconteceu, sem saber se isso pode se repetir, apenas porque não me interessei ou pensei em fugir. Preciso parar de ser essa medrosa que finge não se importar com quem é. Então é isso: vou continuar meu caminho, seguir para lá, descobrir quem eu sou e depois verei para onde quero ir.
Só que há um problema nisso tudo: a amargura que sinto ao perceber que estou na mesma presença dos abatedores. No momento, são os seres que mais detesto no mundo. Não aguento mais. Não aguento mais fingir que está tudo bem. E se eles ganharem alguma recompensa entregando a mim e ao príncipe para Pinos? Nem isso posso permitir.
Quero acabar com eles.
Nem que seja aos poucos. Primeiro, fugir. Aproveitar o desespero deles por terem perdido a carga preciosa (por terem me perdido). E depois, encontrar um jeito de fazê-los se arrependerem. Com ou sem o príncipe, eu vou fazer isso.
Vou destruir todos eles e, depois, penso no que fazer para descobrir o que a Corte quer comigo, porque, seja o que for, não é coisa boa e eu não sei se eu posso simplesmente aparecer por lá.
Dou um chute no príncipe, tomada pela raiva por ele simplesmente ter apagado. É leve, poderia ser mais forte, mas me contenho. Preciso me controlar e começar a pensar em como escapar. Me aproximo, encaro-o de perto e dou alguns empurrões, apenas para ter certeza de que não vai despertar com isso.
Bem que ele podia abrir os olhos e finalmente me explicar o que está acontecendo e por que parece tão doente.
Mas, não... Continua ali, imóvel, mergulhado nesse mistério, enquanto eu fico aqui, tentando desvendar tudo sozinha. É engraçado pensar que, até nisso, estou sozinha... Eu poderia puxar a Triket para fora, mas, neste momento, prefiro ficar assim.
É, estou sozinha com um príncipe desacordado! Se não fosse todo o contexto terrível que nos cerca, imagina as inúmeras coisas que poderia fazer com ele? É triste pensar que não tenho nenhuma faca para testar algumas delas, mas, só em imaginar as possibilidades, já consigo me animar um pouco.
Olhando assim, com esses cabelos longos e prateados que se espalham por toda a carruagem, ele quase parece uma princesa adormecida em um sonho profundo. Fico me perguntando que nome daria a ele. Rapunzel? Auroro? Seriam ótimos apelidos para quando acordar. Só não sei se ele vai gostar, mas fico mais feliz com a possibilidade de irritá-lo e esquecer dos verdadeiros problemas.
Me sento em seu colo, as pernas envolvendo sua cintura. Este seria o momento perfeito para ele abrir os olhos, especialmente com nossos corpos tão próximos. Sei que não sou a pessoa mais confiável, mas poderia tentar ajudá-lo. Acho que é isso que fazemos para evitar que o barco afunde quando estamos todos nele.
— Não vai abrir os olhos? — pergunto, embora saiba a resposta. Se tudo fosse uma piada, ele abriria os olhos e me daria um susto. Fico parada por alguns segundos, encarando-o, esperando que isso aconteça.
Passo os dedos em sua bochecha, afastando os fios de cabelo que cobrem seu rosto. Está tão gelado que, se não conseguisse sentir sua respiração, pensaria que estava morto. Ainda assim, sinto uma pontada de inveja ao perceber que sua pele é tão macia que me dá vontade de passar a mão por toda ela, explorando cada pedaço.
— Então, é isso que é ser rico? — Até seu cabelo tem aquele aspecto de hidratado, como se ele conseguisse usar produtos no meio do nada... Não sei em relação aos outros príncipes, mas esse aqui é a definição de luxo em pessoa. Deve ser trabalhoso e caro manter essa aparência.
Aproximo meu rosto do seu, o suficiente para quase um beijo, mas paro por um momento, observando seus lábios e lembrando da sensação inebriante que eles me causaram. Agora, precisa ser diferente; tenho que estar em condições de fugir, por isso, mesmo que eu quisesse, não posso me deixar levar.
Quanto será que ele precisa para acordar? Espero que não muito. Espero que o suficiente não me afete demais. Espero que ele acorde.
Se um beijo resolvesse tudo, como nos contos de fada, talvez eu me rendesse um pouco e deixasse de odiar tanto este mundo. Então, na esperança de que realmente resolva, junto nossos lábios.
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