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Capítulo 10

O comboio de carruagens balança muito enquanto segue para o sul. O senhor Musk Arlon lidera, acompanhado pela senhorita Flinner. Não há animais puxando os veículos; ambos emprestam sua magia para isso. As rodas giram sozinhas, seguindo o caminho desejado.

A paisagem aos poucos vai se modificando. O deserto da região central ganha outro formato, com a areia se tornando mais grossa e as dunas sendo substituídas por montanhas. Elas deveriam ser esverdeadas, mas no momento estão vermelhas e cobertas de troncos marrons, árvores mortas.

No caminho, encontramos casas espalhadas e algumas vilas pequenas. Mas não vale a pena parar nelas, então continuamos até a cidade mais próxima. Creio, com meu pouco conhecimento geográfico e péssimo senso de localização, que demoraremos mais dois dias para chegar a uma cidade de verdade.

Estou tão entediada que suspiro a cada dois segundos. Enquanto me largo no topo de uma carruagem com espaço para deitar, encaro o céu escaldante. Será que vai demorar muito para a próxima parada? Preciso me alongar, sinto que meus membros vão atrofiar a qualquer momento.

ㅡ Tárrrsila! ㅡ Escuto uma voz masculina chamar meu nome com mais 'r' do que o normal. Ainda deitada, pondero se respondo ou não ao chamado. Será que fiz algo errado dessa vez? Acho que a questão não é essa, a pergunta é: o que será que descobriram que fiz dessa vez?

ㅡ Táaaarsi! ㅡ Outro grito, desta vez feminino, chama meu nome. O sotaque é o mesmo, mas a animação na voz disfarça o número de erres. Sento, deixando meu corpo visível.

Olho ao redor até encontrar os donos das vozes e aceno quando percebo que desta vez não é nenhuma bronca. Os dois irmãos pulam e fazem acrobacias entre as carruagens, e me animo quando eles chegam mais perto.

ㅡ Ficamos sabendo que você está devendo duas apresentações para o senhor Arlon ㅡ comenta Arken, o mais velho. O encaro ainda sentada, observando ele enrolar seu longo cabelo vermelho em um coque bem apertado, deixando as orelhas pontudas à mostra, com vários brincos enfeitando-as.

ㅡ Sabemos também que você dançará a primeira com o Vult, e a outra? ㅡ Hasey pergunta animada; sua voz é tão engraçada quanto a do irmão. Ela prefere deixar o cabelo solto. O loiro dela contrasta com o ruivo dele, mas as orelhas são idênticas, assim como o formato fino do rosto e os olhos em um tom castanho-claro. ㅡ Não quer fazer com a gente?

Os dois eram os melhores trapezistas daqui, mas nem sempre foram do nosso circo. O senhor Musk Arlon os acolheu após se perderem. O antigo circo deles estava de passagem no continente da Lua na época em que o desastre começou, então eles não conseguiram voltar com os outros para o continente de origem.

ㅡ E o que estão pensando? ㅡ Normalmente, as apresentações deles são em duplas. Fazer um trio e testar acrobacias para a próxima parece complicado demais; não temos tanto tempo para treinar. Mas sem minha poção para encantar a voz, não tenho outra ideia de apresentação para fazer por enquanto.

ㅡ A gente queria montar um espetáculo com apenas dois trapézios e três pessoas ㅡ Arken explica de maneira rasa, e eu volto a me deitar. Apenas imaginar a ideia me deixa tonta. A conta não bate; tem que ser um trapézio para cada, caso contrário terão que lançar alguém para lá e para cá, e eu já imagino quem vai ser a cobaia. ㅡ Claro que vai ter uma dança no meio das acrobacias. Aí a gente fica revezando os trapézios na apresentação. Você pode pousar em uma das torres caso ache que vai cair.

ㅡ Pedimos até para o senhor Fixer combinar nossas próximas roupas. Ele disse que está fazendo um vestido para você, já deu uma olhada? ㅡ Hasey tenta chamar minha atenção. ㅡ Está tão bonito que talvez eu peça emprestado para outra apresentação.

ㅡ Vestidos não combinam com as apresentações que vocês querem fazer; a saia vai atrapalhar minha visão quando eu estiver de cabeça para baixo ㅡ comento, prevendo o desastre. ㅡ Se eu achar que vou cair, provavelmente já estarei caindo; não tem isso de pousar em uma das torres.

Eu não sou tão louca assim. Se minha especialidade fosse o trapézio, eu até toparia sem hesitar e nem pedir nada em troca. Mas não temos tempo para treinar direito, e tenho certeza de que isso não dará certo. O clímax dessa apresentação será eu espatifando no chão.

ㅡ Qual é, Tárrrsila... ㅡ Arken senta na carruagem, sendo seguido pela irmã. ㅡ Por favor... não te conheci tão covarde assim; achei que fosse a garota que topasse tudo.

ㅡ Eu não recusei, recusei? ㅡ pergunto. Minhas orelhas balançam animadas, e um sorriso desperta em meu rosto. ㅡ Eu apenas não aceitei.

ㅡ Ela quer alguma coisa... ㅡ Hasey murmura para o irmão.

ㅡ É claro que quero alguma coisa. Se eu serei a cobaia de vocês, vocês precisam ser as minhas também... pelo menos por três experimentos cada ㅡ proponho, e me divirto com a reação assustada deles.

ㅡ Você vai envenenar a gente três vezes? ㅡ Hasey nega com a cabeça enquanto fala.

ㅡ Minha intenção nunca é criar veneno! ㅡ argumento rapidamente, embora isso seja algo recorrente quando tento fazer algo.

É tão frustrante quanto parece. Eu não tenho magia e a única coisa que me resta são as poções. O fato de elas sempre se tornarem veneno não me agrada nem um pouco. Se fosse para fazer algo tóxico, eu seguiria a própria receita do grimório para fazer veneno.

A poção de Cacoete é a única fórmula do grimório definida como veneno de verdade. O mais engraçado é que é a única receita fácil de fazer; os ingredientes são até simples de encontrar. O problema é apenas a precisão nas proporções da dosagem de cada componente.

Ela deixa o usuário dependente; para sobreviver, precisa tomar novas doses de veneno diariamente. A única cura definitiva do veneno é uma rosa vermelha de pontas alaranjadas que pode curar tudo.

Eu pensei em fazer algumas vezes para entregar ao Markson ou ao Triket, mas se descobrissem que o segredo seria ficar tomando constantemente a mesma poção, daria trabalho demais ficar fazendo ela para esses imprestáveis. Então, a receita está guardada e não tenho interesse em fazer agora.

ㅡ Uma vez! - argumenta Arken, e finalmente sento novamente. ㅡ Seremos sua cobaia apenas uma única vez!

ㅡ Uma vez cada? - Os encaro antes de aceitar, e eles concordam com a cabeça. ㅡ Mas se na hora da apresentação eu cair lá de cima, vocês vão ser minhas cobaias por um mês!

ㅡ Você vai cair lá de cima de propósito com essa proposta! ㅡ Hasey se desespera, encarando o irmão com os olhos arregalados.

ㅡ Corro muito mais riscos que vocês aqui... é pegar ou largar ㅡ disse em um tom sério, cruzando os braços. Talvez tenha exagerado na proposta; eles não pareciam querer aceitar. ㅡ Eu só estou falando isso porque também desconfio que vocês querem me largar lá de cima. É apenas uma garantia para mim... Acham mesmo que vou me arriscar cair de mais de quinze metros de altura enquanto tento dar uma cambalhota no ar?

Eles se entreolham e suspiram em seguida. Então, abro um pequeno sorriso quando eles concordam com a proposta.

ㅡ Mas só se você se machucar... ㅡ comentou Arken, sem querer ceder totalmente. ㅡ Ainda tenho a impressão de que arrumaria uma forma de cair sem se ferir, apenas para que a gente se torne sua cobaia por um mês.

ㅡ Está bem ㅡ concordei, animada. ㅡ Assim que pararmos, vamos arrumar um tempo para começar a treinar.

ㅡ Enquanto isso... ㅡ apontou Hasey. ㅡ A gente pode começar a planejar a apresentação.

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