Capítulo 46
André
Quando acordei, já era meio da manhã, e Jeff não estava ao meu lado. Ouvi o som do chuveiro e logo concluí que ele estava no banho. Levantei, peguei as roupas espalhadas e levei para a lavanderia, exceto as dele, que não estavam entre as demais.
Jeff devia estar se preparando para voltar para o interior. A ideia me aborreceu, porque eu realmente queria passar mais tempo com ele. Na madrugada, quando ele veio com aquela conversa sobre sentimentos, fiquei bem chateado. Uma porque estava curtindo o torpor do sexo, me deliciando com as sensações produzidas em meu corpo quando finalmente pude estar dentro dele.
Sim, foi muito foda! Não me lembrava de uma transa tão satisfatória, nem de ter sentido tanto prazer com o sexo. Meter nele foi gostoso para caralho, e fazer aquilo com os sentimentos que me assolavam naquele instante transformou a experiência em algo intenso. Quando gozei fora de seu corpo e o cobri com a minha porra, foi como uma oferta a uma divindade.
Todavia, ele voltou a se esconder. Eu até entendia suas neuras, sua história era bem pesada, mas se ele não se abrisse, eu não poderia fazer muito.
Se ele não se abrisse, não haveria futuro para nós.
Eu poderia me contentar com o momento, viver o presente, curtir o que tinha, mas eu queria mais.
Por que eu queria mais?
Porque, em se tratando de mim, não havia meio-termo. Eu gostava dele. Não só gostava. Eu estava apaixonado, de verdade. Era desgastante tentar provar isso o tempo todo.
Eu poderia dizer a ele. Poderia mandar a real, falar que o amava, mas se ele não acreditasse, seria devastador. Eu estaria jogando meus sentimentos aos porcos.
Pois bem, eu era orgulhoso para caralho; e determinado; e obstinado; eu não fazia nada pela metade, quando queria algo, perseguia o caminho todo.
Eu não me contentaria com menos. Não aceitaria migalhas.
Enfim... Jeff estava demorando, então fiz o que me achei no direito de fazer. A casa era minha, o banheiro era meu, e eu acordei confuso, mas meu corpo não estava confuso.
Invadi seu banho.
≈
Quase uma hora mais tarde, depois de uma foda fantástica mesmo sem penetração, Jeff se trocava e eu o observava, ainda com a toalha na cintura. O momento foi bem interessante, a esfera doméstica que nos envolvia me fez pensar como seria tê-lo comigo sob o mesmo teto, permanentemente. Não que tivéssemos um histórico positivo nesse sentido, afinal, tive que aturá-lo no meu sofá por quase um mês, e vivemos experiências que detestaríamos repetir.
Mesmo assim, a ideia ficou passeando pela minha mente, como uma cenoura pendurada.
— Sabe uma coisa que te ajudaria muito no caso com a Larah? — perguntei, enquanto contemplava a massa magra e coberta de tatuagens à minha frente. Jeff não havia vestido a camiseta ainda, e eu não me cansava de comê-lo com os olhos.
— O quê?
— Uma moradia fixa e uma união estável.
Jeff parou de se mover, sua camiseta ficou pendurada no pescoço enquanto ele me olhava com uma ruga entre os olhos.
— O que quer dizer?
— Que se você já estivesse morando numa casa adequada e tivesse um... Cônjuge, seria bem mais fácil convencer o juiz de que você é uma pessoa mudada, responsável e que quer proporcionar o melhor para Larah.
— É mesmo, gênio? E como eu faria isso nesse exato momento da vida?
— Você poderia vir morar comigo.
Cara, isso foi tão na lata que nem percebi o que havia dito. Notei que foi chocante devido à cara do Jeff, a boca aberta e a mão na barra da camiseta que estava a meio caminho de cobrir seu corpo.
— Você é louco? — ele ralhou.
Por essa eu não esperava. Porra, seria tão ruim assim?
— Não precisa surtar! Só sugeri por causa do caso da Larah. É uma ideia conveniente, você há de concordar.
— Conveniente? O que tem de conveniente em brincar de casinha com você só para pegar minha filha de volta, e depois o quê, largo tudo e tento convencer o juiz e minha filha de que era só um lance de mentirinha?
Abri minha boca para retrucar que não se tratava de uma brincadeira, mas engoli as palavras. Há lugares na alma de uma pessoa que você só pode acessar se for convidado. No caso do Jeff, ele tinha trancado a porra da porta do bom-senso e jogado a chave no mar do esquecimento.
— Eu só estava tentando ajudar você.
— Me ajudar? Qual é, André? Acha que sou incapaz de resolver meus problemas sozinho?
Certo. Me feriu, mas engoli o sentimento e me envolvi numa capa de autopreservação. Não falei mais nada e vi quando ele guardou suas coisas e estava pronto a ir embora.
Nem parecia que eu o tinha feito gozar esplendorosamente na minha boca há menos de dez minutos.
— Tudo bem. Onde eu estava com a cabeça, não é mesmo? Você tem se virado muito bem até agora... Enfim, vou me trocar para te levar — concluí.
— Não precisa, André! É sério! Me deixa na estação de trem e eu me viro.
— Só por curiosidade, como você faz depois que desembarca? Tem algum transporte que vai para lá?
— É lógico que tem! Tá louco? Como acha que ia e vinha de lá antes de você aparecer achando que o mundo gira em torno do seu umbigo? Lá é longe, mas não é o fim do mundo!
Para mim era, mas não ia mencionar. O fim do mundo mesmo era ele achar que precisava me tratar assim depois de tudo, mas eu não era um molenga, não ia me deixar abalar por isso.
— Não fico confortável te deixando voltar sozinho, sabendo que posso ser útil...
— Tenho o quê? Treze anos? Não fode, André!
Nessa hora me dei conta do meu comportamento. Eu estava sufocando o cara. Me senti mal comigo mesmo e puto com todo o resto.
Independente disso, notei uma energia ruim nele. Não sabia o que havia rolado na sua cabeça fodida durante a noite, mas fiquei apreensivo com o que ele estaria pensando agora, e com o que poderia fazer quando saísse dali. Tive a impressão de que ele queria fugir de mim, e não para fazer coisa boa. Talvez por isso, meus instintos investigativos estivessem em alerta.
— Certo. Tem razão. Não vou te levar até a estação. Pega um Uber, ou vá a pé, que se foda! Vou fazer minhas coisas.
Fui para o meu quarto e comecei a me trocar. Alguns minutos depois, ouvi o clique da porta.
Ele tinha ido embora.
Sem se despedir.
Porra!
Que filho da puta!
Bom, eu já tinha decidido não forçar a barra. Talvez fosse bom que tudo ficasse claro logo de uma vez. Eu estava cansado desse lance com ele. Já estava até a tampa com os melindres dele e se ele queria fazer assim, foda-se! Por mais que doesse em mim, não ia mais insistir.
Eu tinha minha dignidade, e meu sentimento não era um tapete esfarrapado para ele limpar o pé.
Orgulho era uma merda.
Passei o resto da manhã trabalhando. Tinha pego um novo caso de suposto adultério num casamento milionário e estava realizando pesquisas relacionadas. Eventualmente, lembrava-me do Jeff, e isso me aborrecia porque minha mente não se conectava com nada. Perto da hora do almoço, recebi uma ligação.
Pensei ser o Jeff, mas ele não devia ter chegado em casa ainda. Era um número desconhecido; atendi, mas a ligação caiu. Isso aconteceu umas três vezes na hora seguinte, fiquei meio cismado e, embora ainda puto com o Jeff, tentei ligar para ele.
Ele não atendeu.
Continuei meu trabalho, buscando não dar importância para o ocorrido, até que meu interfone tocou.
Mais uma vez, pensei ser o Jeff.
Cara, eu não tirava o homem da cabeça!
Atendi, e o porteiro me informou que dois policiais queriam falar comigo. Fiquei em alerta máximo. Policiais à sua porta só significavam uma coisa. Já fui um deles, então sabia muito bem o que esperar.
Tinha dado merda. Alguma coisa havia dado muito errado.
Desci até a portaria com o coração suspenso numa bolha. Ficava tentando me convencer de que não era nada de mais, ou que era qualquer assunto relacionado a outros casos em que trabalhei, até sustentei a ilusão de que talvez fosse um mal-entendido.
Mas eu sentia. Sentia que ouviria algo ruim.
Cheguei à portaria e convidei os policiais para o saguão de entrada do prédio. Eram da Polícia Civil, o que tinha um lado positivo e outro negativo. O positivo era que, se fossem militares, poderia ter acabado de ocorrer algo bem ruim, como uma prisão, um acidente ou até óbito. O lado negativo era que a Civil investigava, então o assunto estava relacionado a algo em andamento, um possível inquérito policial, e as ramificações disso eram imprevisíveis.
— Senhor André Britto? — O policial mais velho, um homem forte e negro, que usava barba e tinha um olhar astuto, foi o primeiro a falar. Ao lado dele, havia um rapaz mais novo, devia ter uns vinte e poucos anos, loiro e sardento.
— Eu mesmo.
— Bem, sou o agente Toledo, esse ao meu lado é o agente Silva. Desculpe tomar o seu tempo, mas precisamos lhe fazer algumas perguntas relacionadas a Jefferson Prado.
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