Capítulo 21
André
As lâminas dos seus olhos me atravessavam. Havia uma nova nuance na transparência cristalina, um brilho azulado, profundo e envolvente.
Desejo.
Meu corpo tremulava, e minha ereção chegava a fazer doer meus testículos. Acho que nunca desejei alguém com tanto afinco. Talvez por ser um terreno inexplorado, ou pela intensidade dos sentimentos, era uma ânsia louca de devorá-lo, de senti-lo, de me fundir a ele de uma forma nunca antes sonhada.
– Eu sei – ele sussurrou. Eu não tinha reparado em como seus lábios eram bonitos. Talvez porque nunca os tinha visto livres de algum hematoma ou corte. Agora havia uma linha fina e esbranquiçada que cruzava o lábio inferior até o início do queixo. Meu peito apertou, e eu levei meus dentes a eles e mordisquei a carne úmida.
O que era isso? Céus! Meu corpo implorava por mais. Enfiei minha língua em sua boca, e a dele girou em torno da minha numa dança lenta e erótica que me deixava cada vez mais ofegante. Ele respondia, e apertava meu corpo com a ponta dos dedos a ponto de doer, e lamentei que não pudesse fazer o mesmo.
Eu estava com medo de feri-lo ainda mais; não fazia ideia de como e onde tocá-lo e por mais que eu quisesse arrancar suas roupas e fazer qualquer coisa, nem sabia o quê pois nunca tinha feito isso com outro homem; eu recuei um pouco.
Precisávamos conversar sobre isso.
– Jeff, ei cara... Tudo bem? – Perguntei, meio ansioso.
– O que foi isso, André? – Ele tinha a voz trêmula e isso me alentou. Eu não era o único fora de controle ali.
Eu tinha que soltá-lo, mas não conseguia. O desejo ainda pulsava e se refletia no meu pau. Tentando mudar a intenção dos toques, eu o abracei e apoiei minha cabeça em seu ombro. O envolvi e senti seus braços correrem por minhas costas e se firmarem ali. Nossas respirações foram se estabilizando, e novas emoções foram pipocando dentro de mim.
Eu queria protegê-lo.
Contê-lo.
Tê-lo.
Eu queria amá-lo.
Que loucura!
– Precisamos conversar sobre isso, eventualmente – insinuei, porque agora que a adrenalina tinha baixado, não sabia se conseguiria pautar uma conversa com esse tema.
– Podemos, mas não agora.
Me senti aliviado. Dei um beijo em sua testa e o soltei. Notei que ele estava meio pálido e me preocupei.
– Tudo bem?
– Não sei, acho que quando essa eletricidade toda deu uma baixada, fiquei mais consciente dos outros lances do meu corpo. Acho que preciso me sentar.
Eu o ajudei a se esticar no sofá. Não precisava, mas com ajuda ele sentia menos dor, e isso era evidente. Quase todos os principais movimentos do corpo envolvem tensão abdominal, e era onde ele tinha sua principal lesão, ainda em cicatrização.
Pensar em movimentos do corpo me deixou duro de novo, e me xinguei por isso.
– Fale-me de ontem. Você me seguiu? – Ele perguntou.
– Honestamente, eu não queria que você fosse embora. Não de verdade.
– Me desculpe pelas ofensas. Por tudo.
– Você é um filho da puta insuportável. Mas eu estou disposto a tentar de novo.
Ele moveu os lábios e me presenteou com sua expressão mais rara. Um sorriso. Nessa hora, meu telefone vibrou. Olhei a tela, era Hannah. Vi que ele olhou a tela também, e o raro sorriso desapareceu na hora.
– Eu preciso atender. – Me levantei e fui até o escritório, aborrecido por ter que fazer isso, bem num momento como esse.
– Alô.
– Ele apareceu ontem – a voz esganiçada me deu calafrios.
Esfreguei meu rosto com a mão. Em que merda de confusão eu estava enfiado agora. Pensei numa forma de contornar a situação e ganhar tempo. Poderia mandar tudo pra casa do caralho e seguir em frente com essa coisa nova que estava acontecendo, mas eu não era ingênuo a ponto de ignorar que ainda havia um Senhor Problema no meu colo.
– Eu sei.
– Você sabe? Por que não reportou?
– Pelo mesmo motivo que você não me avisou que havia capangas atrás dele. Por que isso?
– É coisa do meu companheiro. Ele quer ter certeza de que as coisas estão sob controle. São um bando de imbecis, não se preocupe. Eles não têm a sua capacidade, e o que eu quero de você vai muito além de muque.
– Seus capangas com muque e sem cérebro quase o mataram. Duvido que você conseguiria qualquer coisa depois disso.
– Onde você estava?
– Eu estava trabalhando. Será que pode me abrir um pouco mais dessa história? Por que o está perseguindo? O que realmente você quer com ele?
– Não estou entendendo sua pergunta. Que diferença faz? Rastreie o cara, encontre uma história e reporte. Foi pra isso que te paguei, não para escrever um romance ou agir como um justiceiro da DC.
Mulher ridícula!
– Eu o encontrei e estou monitorando seus movimentos.
– E onde ele está escondido? – Ela gralhou.
Não respondi. Apenas encerrei a chamada. Quando virei para retornar à sala, Jeff estava apoiado no batente da porta do escritório.
– Você está se movimentando bem mais rápido – ironizei.
– Minha vida depende disso – articulou.
O clima ficou tenso. Eu sabia que ele estava pensando o pior, certamente tinha ouvido parte da conversa, mais precisamente a última parte. Eu não queria me justificar nem me defender, principalmente porque independente do que estava sentindo por ele, havia um trabalho a fazer e muita coisa a desencavar.
– Eu não vou mentir para você, Jeff, e espero que você faça o mesmo. Também não vou te obrigar a falar, e você pode fazê-lo quando sentir que deve. Só não duvide das minhas intenções, ok? Eu não pretendo ficar do lado errado de uma conspiração.
Ele se aproximou. Estava pálido e eu demorei a notar que algo estava errado.
– Você me promete que não vai sair do meu lado um segundo sequer, e que não vai deixar ninguém se aproximar de mim? Eu não posso ficar sozinho à mercê de ninguém, você entendeu?
Ele foi ficando mais pálido, e eu não entendi nada.
– Do que você está falando?
Ele levou o punho fechado aos lábios e tossiu, e quando baixou a mão, pude ver o sangue.
– Acho que estou pronto para ir ao hospital.
E desabou na minha frente.
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