Capítulo 25
Alexandre Rendhal POV
Prometi à minha irmã que ia contactar a Sociedade e os nosso familiares, mas algo está errado. Algo está muito errado.
Assim que me despedi da Natália e do Pietro em Roma, a primeira coisa que fiz foi pegar um avião para a Bélgica, porém, quando cheguei à morada da Sede, o nosso primo Enzo apareceu do nada e obrigou-me a entrar com ele num táxi. Se as coisas já estavam estranhas, a partir desse momento ficaram mais ainda.
Ele veio-me com uma conversa de que a organização da SIAT estava a mudar e que os nossos avós não podiam ser avisados pois estavam incontactáveis.
— O que é que isso significa? — perguntei, porém ele olhou para mim com alguma apreensão e não me chegou a dar uma resposta.
De seguida contou-me que o presidente tinha sido deposto e que estava outro assassino no poder. Não achei que fosse nada de mais. Os presidentes mudam quando não estamos satisfeitos com algo. É normal. Contudo, tudo passou a fazer sentido quando ele me disse que o novo líder era um assassino que tinha sido banido.
Os pontos ligaram-se automaticamente. É ele, que prendeu a minha irmã na mansão e a tentou obrigar a dar a morada dos meus avós.
Quando o carro para, dou por mim a temer pela vida dela, mesmo sabendo que está com o Pietro noutro país. O Enzo está ainda pior que eu, e não fazemos ideia do que devemos fazer.
O táxi deixa-nos no aeroporto, e tomamos a decisão de ir ter com os nossos avós a Espanha, já que eles devem saber melhor que nós o que se está a passar.
A viagem de avião é relativamente curta e utilizamos dinheiro vivo para que seja mais difícil encontrar-nos, apesar de mesmo assim termos passaportes e identificações falsas.
Aterramos em Barcelona e alugamos um carro para podermos ir até à herdade dos meus avós que fica numa província do interior.
Após umas longas horas de viagem e algumas conversas de poucas palavras com o meu primo sobre o que fazer quanto à minha irmã, chegamos por fim à herdade. No entanto, demoramos pouco tempo a perceber que, ao contrário do normal, não há sinal de nenhum dos meus avós.
Damos a volta ao terreno e mesmo assim não encontramos ninguém. De seguida, forçamos a fechadura da porta de entrada e chamamos por eles, mas mesmo assim sem resposta.
O nosso primo começa a praguejar em várias línguas, e eu apenas me concentro no estranho odor a incenso de café. A porta blindada para a cave onde eles guardam o armamento e alguns gadjets está trancada, o que significa que não está lá ninguém. O jardim está vazio, assim como os andares do piso de baixo.
— Que cheiro horrível — murmura o Enzo ao subir comigo as escadas.
— Mas que vem a ser isto?
— Não sei, Alex, não sei mesmo.
— Os meus pais também deviam estar aqui. Estou com um péssimo pressentimento.
Quando chegamos ao andar de cima, um cheiro a podre e a queimado deixa-nos arrepiados. O Enzo é dos melhores assassinos da nossa família no que toca a missões com recurso a fogo, porém também ele está confuso. Se não fossemos assassinos, estaríamos a sentir medo. Contudo fomos tão bem treinados para isto que o nosso ritmo cardíaco continua constante.
Nos quartos das visitas, nada de diferente. Na arrecadação do primeiro andar também nada. Então, de onde vem o cheiro?
— Sabes uma coisa, Alex? Os meus pais também deviam estar aqui.
— Mas que bela merda.
Por fim, a última sala do corredor, que por acaso está fechado. Olho para ele, e ele olha para mim, mas nenhum é capaz de colocar a mão na maçaneta e abri-la.
— Devemos ser os piores assassinos de sempre — comento na brincadeira, porém ele mantém-se sério.
— Vamos aos três — diz, e eu coloco a minha mão por cima da maçaneta ao lado da dele. — Um...
— Dois...
— Parem.
O meu corpo move-se involuntariamente para trás, assim como o do Enzo, e olhamos perplexos para a origem daquela voz.
— Não vão querer ver o que está por trás dessa porta — diz ao vir das escadas de onde viemos com o olhar mais frio do que alguma vez achei possível nela.
— Natália? És mesmo tu? — questiona o Enzo ainda com a boca aberta e o corpo em posição de defesa.
— Vamos embora; não há nada nesta casa para nós — diz e prepara-se para descer as escadas, porém para ao ouvir-me:
— O pai do Pietro controla a Sociedade.
— Não importa; já nada importa — murmura com alguma dor. — O Pietro foi capturado e os nossos avós foram assassinados.
Aquelas palavras ditas de forma dura e sem eufemismos deixam-me sem forças e caio de joelhos no chão. Por trás de mim, o Enzo encosta-se a uma parede e cobre o rosto com as mãos.
— Nós somos assassinos, e os assassinos não ficam de luto. — Ao dizer isto mais parece um robô sem nenhuns sentimentos. Não pode ser a irmã que sempre conheci. — Vamos embora.
— Como? Quem? Porquê? — murmura o Enzo, já com os olhos vermelhos e as mãos descoordenadas.
— Enviaram assassinos para os matar. Foi o novo líder da Sociedade que encomendou a operação. Só assim poderia certificar-se de que não haveriam opositores ao seu mandato.
— Mas vão sempre haver opositores — protesto, apesar de saber que já nada pode mudar o que aconteceu, e sento-me encostado à parede e agarrado aos joelhos. — Matar os nossos avós não muda nada. Nada!
— Ao fazer isto ele, enviou uma mensagem a todos os assassinos: rebelar-se contra ele é sinónimo de morte, independentemente de quem for — responde-me a minha irmã.
Levamos uns minutos a recompor-nos, enquanto ela continua parada ao lado do corrimão das escadas.
— E como é que chegaste a Espanha, se o Pietro foi capturado? — pergunto.
— Fugi e peguei o primeiro avião para Espanha com algum dinheiro que ele me deu para as férias na Tunísia. Assim que cheguei aqui cometi o erro de abrir essa porta. Portanto não o façam também.
— O que está por trás da porta? — questiona o Enzo, e lanço-lhe um olhar de desprezo que faz com que ele compreenda. — Aquele porco é o homem mais nojento que já existiu. Lixo! Porco! Nojento!
— O Pietro está bem? — pergunto à Natália.
— Não sei do Pietro. Nem de ti sabia, nem dos nossos pais. Estamos sozinhos, Alexandre. Não há forma de contactar a nossa família.
— E agora? — quase grita o Enzo. — Vamos morrer também?
— Vocês são livres. Já não somos assassinos — responde, ainda séria e sem expressão. — Eu ainda tenho que cumprir uma promessa.
— Que promessa? — Apresso-me a perguntar.
— Destruir a Sociedade. Não importa os riscos, não importa as mortes que causar. Até eu mesma posso morrer, mas enquanto isso não acontecer vou dedicar-me a cumprir o que prometi.
— Natália, — digo — podes contar comigo para isso.
— E comigo — intervém o Enzo. — Se a nossa família já não faz parte da SIAT, então não lhes devo nada.
— Diz-me uma coisa, Natália, por que vieste para Espanha? Podias ter ido para Itália, ou para a Sede da SIAT. Mas porquê Espanha?
— Há algo aqui que preciso para a missão — diz. — Ou melhor, que precisamos.
— O armamento da cave? — pergunto, porém o Enzo começa a rir que nem um louco e interrompe a resposta dela.
— É isso! — exclama ao levantar-se em direção à Natália. — As armas dos avós! Vamos poder destruir-lhes os cérebros sem um pingo de dó. Que emoção! Assim que vir as estranhas deles a deslizar pelas paredes vou sentir-me realizado.
Apesar de já saber que o meu primo é meio maluco, está a exagerar um pouco. No entanto, talvez concorde com o que ele está a sentir.
Vamos destrui-lo. Ele enviou assassinos e fez com que o alvo fossem os nossos avós, e nós vamos vingar-nos. Desta vez, nós vamos ser os assassinos e ele o alvo. Vamos destruir tudo o que lutou para conquistar. Vamos transformar a Sede em pedaços miudinhos. E ficará tal e qual o corpo dele quando lhe atirarmos com uma granada em cima.
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