Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capítulo Seis

Observo tudo que posso com as duas esferas do tamanho de feijões, a visão de rato é péssima, tudo é acinzentado, mas ao menos a minha preocupação de ser morta pelos humanos nesse buraco apertado é quase nula. Ser morta por uma cobra, entretanto, é alta. Avanço silenciosamente pelo túnel fedorento, obrigando as patinhas a dar tudo de si. Quando chego até o final, levanto o nariz, na tentativa de pegar do ar o cheiro que denuncia se tem pessoas aqui ou não. Leva apenas um instante, são muitos soldados que, além do odor que detecto, conversam ao longe.

Volto pelo mesmo lugar de onde vim. Saio pelo pequeno buraco que cavamos discretamente em uma das paredes de nossa cela. Foram espertos em fazê-la reforçada, o que dificulta até mesmo para nós derrubarmos essa prisão. Volto à minha forma original, deixando a de rato. John me encara com ceticismo, sabe que nosso plano pode não dar certo. Mas todos discordamos dele.

Somos quatro ao todo, John, meu irmão Joe, e Freya. Nos separamos após o ataque dos outros humanos ao planeta. Por um tempo, sobrevivemos, fugimos do novo governo que tem abrangência global, evitamos bagunças. Mesmo assim, em algum momento, fomos pegos. Lutamos, e ainda assim, não fomos páreos.

– O andar está lotado de soldados – explico.

– Você os viu? – Joe pergunta, eu nego. – Pode ser que sejam mais prisioneiros então.

– Não acho que sejam – sento devagar no piso esbranquiçado, apoiando as costas doloridas na parede.

– É porque não são. Estamos sozinhos aqui – John arrasta a voz.

– Por que manteriam só nós quatro aqui? O que temos de tão especial que os outros Zedar não têm?

– Talvez seja por minha causa – Freya levanta o olhar, tentando procurar uma posição melhor para continuar deitada no chão sujo.

– Ah, faça-me o favor! Você é só um experimento pra eles! Não sei nem porque não te mataram ainda – John retruca, colocando uma mão na testa. – Acho que querem tirar informação da gente.

– Como por exemplo...? – Joe ajeita os cachos do cabelo.

Um sinal sonoro ecoa e num instante, um click anuncia que estamos livres, junto ao grade da cela que abre automaticamente.

Nós nos encaramos. Joe dá um pulo e corre até o limite da cela, espiando o corredor. Todos nos erguemos atrás dele.

– Só pode ser uma armadilha!

– Não importa! Temos que tentar! – meu irmão diz, fazendo um gesto para o seguirmos.

Avançamos por todas as seções, e estranhamente, não há um guarda sequer. Como foi na época em que fomos parar em um dos laboratórios e lutamos contra um humano que se transformou em um verme gigante.

– Esperem! – John pede. Ele olha para trás, conferindo o óbvio. Em seguida, se volta para uma das paredes ao nosso lado e desfere um soco forte nela, o que gera um baque seco estrondoso, mas nada acontece com a estrutura em si.

– Mais alguma ideia, gênio? Achou que eles iam nos colocar numa choupana ou o quê?

– Tínhamos que ter certeza – responde, carrancudo. – Furamos a cela.

– Foi no máximo dez centímetros até o cano, é diferente. E levou muito tempo.

– Que seja, vamos.

Abrimos a última porta à nossa frente, e nos deparamos com uma figura super alta de costas no centro do salão retangular. Ela se volta para nós, revelando um sujeito familiar. A cicatriz acima dos óculos escuros redondos e a falta de cabelos na cabeça é o que denuncia que, de fato, estamos diante do ditador humano. O rosto por trás de toda humanidade extraterrena. Freya solta um gemido, recuando um passo. Quando olho para a mulher, seus olhos assustados estão pregados no inimigo, ela o conhece mesmo, como nos havia dito.

Todos entramos em guarda.

– Saudações – o humano anuncia, abrindo espaço para os dentes em seus lábios deformados. – Com exceção de Freya, receio que não nos conhecemos. Sou Dralexan Arkbolt, também conhecido como o guia da raça humana superior – o homem ajeita o sobretudo preto que cobre o uniforme militar acinzentado, com alguns tons de verde escuro.

Os humanos não são conhecidos por terem força física aumentada ou mesmo uma grande variedade de poderes. É claro que muitos deles são praticamente iguais a nós no quesito evolutivo, porém não a grande maioria, como o nosso povo. E sei que o ditador não é tão poderoso assim. Natalie o derrotou numa batalha, então se nos unirmos, poderemos matá-lo aqui e agora. Assim, colocaremos um fim na guerra. Olho para meus companheiros e confirmo com a cabeça, eles pensam o mesmo. Estamos prontos.

John avança na direção do inimigo, confeccionando para si uma lança elétrica. Porém, antes que o garoto possa se aproximar, o ditador estende uma mão, e apenas isso basta para paralisar nosso aliado, uma força invisível segura todos os seus músculos.

– Peço que não tentem nada, estou aqui para negociar.

– Como se a gente fosse fazer isso, seu cretino! – rosno, tomando a forma de urso, ao mesmo tempo em que Joe forma suas esferas de energia e lança no humano.

Dralexan caminha lentamente em nossa direção, mesmo com as bolas energéticas o atingindo, nada acontece. Corro com toda minha fúria e uso as enormes garras para tentar causar dano. Porém, apenas um gesto de sua parte é suficiente para me derrubar no piso. A gravidade me empurra com uma força anormal, e embora tente me erguer, não tenho forças suficientes. Minha transformação se desfaz sem que eu permita.

– Parem! É inútil! – Freya exclama.

Quando viro o meu rosto colado no chão para ela, a mulher está de joelhos, com a cabeça baixa, mas diferente de nós, não é porque foi forçada. Seu corpo encolhido me diz que é medo. O ditador para diante da bruxa.

– Muito bem – ele tem que se inclinar para tocar o topo da cabeça dela, devido a sua altura absurda. – Quer dizer que você me traiu, Freya?

– N... Eu... Eu fui hipnotizada para servi-los, meu senhor – a mulher, mesmo com os cabelos cobrindo o rosto, encontra a mão do homem, e beija-a.

O que ela está dizendo? Está nos traindo? Ou está apenas cedendo ao tremor?

– Imagino que sim – se inclina ainda mais para sussurrar algo no ouvido de nossa aliada. Após a cena, o ditador volta a caminhar, os braços de Dralexan vão para as costas, dando-lhe um aspecto mais autoritário. – Não confundam as coisas, nenhum de vocês pode me derrotar. Agora, nem mesmo a princesa – continua.

– Isso é uma baita mentira! – resmungo. – Nós sabemos que ela acabou com a sua raça no passado.

– De fato – ele volta o rosto para mim, me liberando de sua influência. – Mas isso é a evolução. Por isso a raça humana é e sempre será a mais desenvolvida – a voz grave ecoa com um tom orgulhoso.

– Vocês nunca serão melhores que nós, nunca! – John grunhe entre os dentes.

Com um único movimento de mãos, todos somos levitados e colocados lado a lado, e de joelhos, com os pulsos travados na frente do corpo pela telecinesia .O ditador dispara o olhar em nossos rostos, um de cada vez.

– Algum de vocês realmente conhece a história por trás da guerra entre nossas raças?

– Sabemos que os humanos são monstros, que nos atacaram sem motivo! – Joe esbraveja.

Ele abre uma das mãos com esforço e tenta criar suas esferas, mas nada acontece.

O ditador sorri, percebendo a atitude do meu irmão. Em seguida, uma forma circular idêntica ao que Joe produz surge flutuando na mão do inimigo. Com um único gesto, a bola de energia some.

– Estão errados – faz uma pausa, ajeitando os óculos. – A história da humanidade extraterrena é bem diferente do que imaginam. O que vou contar, não é por ter estudado ou porque me contaram. Foi porque eu estava lá – afirma. Nossos olhares de surpresa parecem deixá-lo ainda mais contente. Significa que ele é imortal? – Pouco mais de mil e quatrocentos anos atrás, parte da humanidade já tinha saído da Terra, graças ao auxílio dos Reptilianos e dos Greys, que, depois de tanto tempo vivendo em nossa sociedade terrestre, nos ajudando a construir pirâmides e cidades à frente do nosso tempo, decidiram nos ensinar a colonizar o espaço.

– E por que os exterminaram?

– Trezentos anos mais tarde, a humanidade não só aprendeu as tecnologias deles, como também desenvolvemos as nossas próprias. Nossas habilidades intelectuais, a capacidade de criar e aprimorar, acabaram gerando atrito entre as raças, atritos que levaram a mortes. Eles queriam que entregássemos todo o novo conhecimento adquirido e suas tecnologias. Nós recusamos, e tentamos negociar, entregamos matéria prima e especiarias. Oferecemos até mesmo mão de obra voluntária. O acordo nunca aconteceu e sofremos um enorme embargo comercial. Como resultado, fomos cercados em um único sistema solar de dois planetas gêmeos.

– Está dizendo que vocês foram vítimas? Vocês são do bem? – John.

– Bem e mal – o ditador faz uma pausa reflexiva. – São apenas palavras, medidas que usamos como referência para mensurar o que não podemos compreender. Todas as sociedades trabalham com parâmetros rasos, limites que não deveriam ser levados de forma tão religiosa. Para vocês, eu sou mal. Para os descendentes dos escravos que sobreviveram ao massacre dos Greys e Reptilianos, e que hoje têm um lugar para chamar de seu, uma família, um emprego, dignidade. Para essas pessoas, sou o bem. Para a sua raça, vocês são heróis. Ironicamente, são bons por matar. O plano de assumir o lugar de bebês humanos. Vocês fizeram isso, e ao executá-lo, mataram milhares de inocentes, os fetos os quais vocês roubaram o lugar. A raça de Zeda cometeu genocídio, e foram considerados pessoas boas, honradas.

Abaixo a cabeça. Sinceramente, nunca tinha pensado dessa forma.

– Onde quer chegar com isso?

– Só quero dizer que são palavras insignificantes. Não existe bem e mal – arranha a garganta. – Bem, depois do embargo, o nosso até então líder se mostrou fraco, e cedeu parte do nosso território. Perdemos um planeta inteiro para os Reptilianos. Negaram os direitos que foram assinados num pacto de preservação de espécies inteligentes. Fomos considerados animais. Escravizaram nosso povo, obrigaram os humanos do planeta dominado por eles a trabalhar até a morte. Não havia misericórdia. Mataram nossas crianças e mulheres. A humanidade foi completamente ignorada e estava à beira de ser consumida. Eu estava nesse planeta dominado por eles – a voz sai arrastada, ela fraqueja por um momento. O ditador abaixa os ombros rígidos e esfrega o rosto. Observo a saliva descer pesada pela garganta. – Por um milagre, os Reptilianos e Greys foram infectados por um vírus desconhecido, que era letal apenas para eles. Enquanto desenvolviam a cura, conseguimos um tempo. Tempo para que eu assumisse a liderança da rebelião, e para que pudesse, aos poucos, preparar o nosso exército, ao passo em que nossos chanceleres fingiam uma diplomacia. Quando chegou a hora, atacamos com tudo e pegamos de volta nossa casa. Em quinze anos de ofensivas os Reptilianos desapareceram. Depois de mais dezoito, os Greys.

Confesso que não sabia de metade dessa história, embora eu acredite que parte dela pode ter sido distorcida a favor deles, assim como os Estados Unidos o fazem em seus filmes de guerra, sempre se retratando como heróis, protetores da paz e da liberdade.

Fecho os punhos, e me concentro para tentar me transformar em qualquer coisa. Sinto a sensação vindo, a queimação no peito. Fecho os olhos, e no momento em que penso que vou assumir outra forma, meu poder desaparece. Trinco os dentes, tem alguma coisa muito errada com esse cara. Como ele consegue afetar nossos poderes assim? A única que vi fazer isso foi a princesa. Natalie usou a velocidade de Melissa contra ela mesma, e a derrotou, além de frequentemente anular nossa força.

– Nosso lema passou a ser: domine para não ser dominado – os cantos da boca, até então duros, transformaram-se num sorriso bizarro. – Duas centenas de anos após esses acontecimentos, a humanidade teve o primeiro contato com a raça de vocês. Estávamos bem, fortes, confiantes que venceríamos com facilidade, até que ela surgiu.

– A princesa? – Freya finalmente quebra o silêncio.

– Não. Há mil anos, essa...Garotinha, nem sequer pensava em nascer. Estou falando da única. – O homem faz uma pausa e estuda nossas expressões. Talvez esteja esperando que entendêssemos. – A silhueta cuja a terra não pode receber tamanha graciosidade. Os olhos, possuídos pelas estrelas. A boca selada pelo infinito.

Noto que seu tom de voz fica mais arranhado, quase como se tivesse tentado suprimir a raiva no peito, embora esteja recitando uma espécie de epopeia.

– Quem? – pergunto.

– Aquela... Encarnação de todas as maldições! A guerreira do nome proibido! – bufa.

– Então... Você conheceu a rainha-mãe? – John parece perplexo.

Só então entendo que o ditador está falando de Zeda, a pessoa que redefiniu nossa sociedade como um todo. Por isso nos chamamos Zedar, ou a raça de Zeda.

Dralexan hesita por um segundo, soltando o ar preso no peito.

– Vimos toda a nossa frente de batalha ser destroçada. Ela acabou com a guerra sozinha. Foi nesse instante que jurei caçar e destruir todos vocês e descobrir os segredos por trás da força absurda daquela mulher.

– Você nunca vai conseguir, é algo natural. A Singularidade não é uma quinquilharia que vocês constroem. Você nunca será Singular – sorrio, com sarcasmo.

– E você? Algum dia chegará lá?

Abro a boca e projeto as palavras nela, mas a voz não sai. E não é devido ao seu poder agindo, é porque não é uma pergunta que sei responder.

– A Singularidade não é exclusividade dos Zedar, o universo não escolhe raças, ele escolhe mentes.

– Está sugerindo que é Singular? – Joe pergunta.

– Me tornei Singular – a sua resposta explica perfeitamente o motivo de estarmos tão fracos perante sua presença. Detesto admitir, mas acho que está dizendo a verdade.

– Então por que você não sai por aí, mata todos nós e põe um fim a essa guerra?

– Bem que eu gostaria. Mas seria um trabalho impossível de se fazer tendo apenas um soldado. Antes de qualquer coisa, preciso eliminar a princesa. E é aí que vocês entram – Dralexan faz um gesto com as mãos e um teclado surge na nossa frente.

Gravações de nós convivendo com Natalie em Cairns aparecem, várias delas em diferentes momentos. Ver alguns de nossos amigos faz o peito doer. Provavelmente, a maioria está morta. Desvio o olhar, na vã tentativa de tirar a sensação ruim que embriaga minha mente.

– A princesa virá – ele continua. – Coloquei algumas informações que sugerem que todos os membros sobreviventes da base de Cairns estão aqui. Ela vem invadindo e destruindo base após base. Então para contê-la, vamos atraí-la para mim. Quando surgir aqui, será derrotada.

– Você não tem a menor chance! – tento intimidá-lo com um grito.

O ditador mais uma vez sorri.

– É o que veremos.

Olho para meus companheiros, eles compartilham do mesmo sentimento, uma espécie de otimismo duvidoso, com exceção da bruxa, que permanece amuada.

– Solte-nos! Desgraçado!

Antes que ele possa dizer qualquer coisa, a sirene ressoa, o que o faz parar e olhar em direção ao aparelho no pulso. Segundos depois, um holograma surge no braço. A pessoa fala, mas nós não escutamos nada. O ditador responde e o soldado que falava desaparece.

– Estão vendo? É ela.




Depois de matar pouco mais de meia centena de soldados, os meus poderes curativos agem, devolvendo toda a integridade que me foi tirada. Com tanto sangue seco, vou ter que arrancar a própria pele, porque não acho que vá sair com facilidade. Caminho em direção às construções peculiares, que destoam completamente do resto da cidade de onde vim, que neste momento está tomada pela guerra civil. O design futurista, com bordas rígidas, lembra muito a clássica arquitetura humana exterior. E bem, eles estão aqui, só não sei como construíram essa base tão rápido. O anel gigante que circula todos os prédios, girando em torno do seu eixo sem parar faz um som quase imperceptível, porém constante. A gravidade não o afeta, já que ele paira no ar sem qualquer apoio ou propulsão.

Quando estou a alguns passos das edificações, as sensações remexem dentro de mim, me avisando que estou em perigo. Salto para trás, alto o suficiente para executar uma acrobacia no ar, no instante em que um projétil explosivo atinge o solo bem onde eu estava, fazendo a terra tremer brevemente, enquanto a fumaça sobe. Uma chuva de balas toma a estrada estreita que estou, a única que dá acesso ao lugar. Com meus sentidos elevados ao máximo, me esquivo da maioria dos tiros vindos das salvaguardas, distribuídas pela muralha que cerca os prédios lá dentro. Os poucos que não me esforço para evitar, são expulsos do meu corpo em alguns segundos. Giro cento e oitenta graus para segurar um projétil do tamanho de um bastão de baseball com a mão. Eu o arremesso de volta e ele explode com o impacto, criando uma sinfonia de gritos aterrorizados.

Dez minutos. É o tempo que levo para derrubar todos os soldados ali presentes e acabar com todos os mecanismos de defesa automatizados. Tenho que atrair o máximo de atenção das pessoas lá dentro, para que elas venham para fora, e assim, possa matá-las aqui e finalmente resgatar a minha outra metade, meu Ben.

– Oi? Alguém? – pergunto alto, olhando em volta do mar de humanos caídos, mortos. Centenas.

Caminho pelo pátio, observando as viaturas militares estacionadas e assobio, impressionada. Mesmo sendo carros blindados da Terra, parecem muito bem construídos, robustos. Além disso, eles receberam peças de origem extraterrena que os deixa mais imponentes. Quando chego diante do portão de aço, direciono o olhar para a câmera que me filma.

– É só isso? Ou estão com medo de vir aqui fora pra morrerem? – balanço a cabeça, sorrindo.

Estou coberta de sangue, é nojento, mas não tenho escolha. Retiro apenas o que atrapalha minha visão. Não que isso vá influenciar no resultado final. Ninguém vai conseguir me parar.

O portão do prédio se abre para os lados vagarosamente, revelando duas silhuetas: uma alta e outra menor, talvez do meu tamanho. Quando o sol revela a figura maior, fico surpresa, é o líder humano e atrás dele, é o que parece ser um andróide, que não ousa avançar mais que dois ou três passos fora da edificação.

– Grande líder! – abaixo a cabeça exageradamente e finjo saudá-lo. – Eu quero dizer grande mesmo. Você cresceu! Quase duas vezes o meu tamanho – meço com a mão acima da cabeça. – Andou tomando o quê?

– Saudações, princesa – o seu sorriso é quase tão confiante quanto o meu. – Achou mesmo que não descobriríamos seu paradeiro?

– Humpt. Isso não importa. Apenas poupe sua humilhação e se renda.

– Rendição? – o homem ajeita os óculos escuros. – Você finalmente receberá o que merece. Hoje, a humanidade vencerá, de uma vez por todas – diz, orgulhoso.

– Eu sou a pessoa mais procurada da humanidade. Vocês criaram esquadrões para me caçar, subornaram povos, e aniquilaram planetas, só pra me tentar me parar. Mesmo assim, nunca conseguiram me ferir. Então por que acha que hoje vai ser diferente?

– Porque agora estou no mesmo nível que você. Não, no mesmo nível que ela – o ditador desce os poucos degraus e vem andando na minha direção.

– Claro. E eu sou uma borboleta vampira que se transforma na lua cheia – mostro todo meu escárnio. Noto que o robô com proporções femininas atrás dele dá uma leve risada. – O seu brinquedo ri?

– O seu senso de humor é admirável – a andróide responde. – E brinquedo é a sua vovozinha, eu tenho cidadania.

Eu não me aguento, e rio também. Simplesmente hilário ser retrucada assim.

– North! – o líder repreende, lançando-lhe um olhar. – Foque na tarefa.

Então é ela, a inteligência artificial que nos dedurou, e trouxe o exército de fora para cá. Não sabia que tinha um corpo. Olhando daqui, parece bastante funcional, não vejo engrenagens nas juntas, e seus movimentos são tão naturais quanto de qualquer ser vivo. Se ela estivesse usando alguma roupa, eu poderia sugerir que é apenas um humano com implantes no corpo.

– Como desejar, meu senhor – North faz uma mesura, e seus olhos luzidios artificialmente tomam um tom azulado celeste.

– Pode vir. Vou te mostrar que está errado, de novo – aviso, lançando uma única sobrancelha para o alto enquanto falo.

– Criança, você não entende mesmo. Nós, humanos estamos em constante evolução.

Exibo um sorriso debochado. Eu poderia fechar meus olhos, para adotar o foco total, mas sei que não será necessário. Confesso que, de fato, esse homem é forte, mesmo não sendo Singular. Mas ainda assim, posso detê-lo e acabar com essa guerra. Com o símbolo da ideologia anulado, dominaremos a Terra e voltaremos para casa.

Rapidamente, avanço contra o ditador, empregando socos e chutes variados. Para minha surpresa, não o atinjo. Significa que de fato, ele ficou melhor, como Jack havia dito, porém, está fraco de qualquer forma. É no momento em que recebo o contra-ataque que uma luz de alerta se acende na minha cabeça. Desvio por um triz de um cruzado. Trepk sahi-tw olrbevl! Tem alguma coisa errada! Quando finalmente concluo que devo ser cautelosa, recebo uma joelhada no estômago, tão forte que me tira o fôlego.

Antes que possa me recuperar, levo outro golpe, que me arremessa longe. Atinjo algo sólido, que quase não se dobra com o impacto do meu corpo rígido. Quando consigo sair, vejo que fui lançada contra um dos tanques estacionados. A dor que sinto não parece diminuir na velocidade que deveria. Por quê?

Pelo canto do olho, vejo uma silhueta se mover tão rápido que não consigo acompanhar, e mesmo com a Singularidade a meu favor, pressinto o perigo iminente. O ditador se aproxima, tento encaixar um chute ensaiado em suas pernas, porém, ele não só se esquiva, como devolve um soco perfeito de cima para baixo, que me faz cair de joelhos. Faço o possível para me erguer, todavia sou jogada no chão novamente. O que está acontecendo? Fui finalmente sobrepujada? Dessa vez, algo se manifesta dentro de mim, é um sentimento que nunca experimentei em uma batalha utilizando minha capacidade plena: o medo.

– Está confusa? – ouço a sua voz ressoar. Mesmo sem ver seu rosto, posso sentir a satisfação exalando. – Vou te dizer o que foi o que aconteceu – os seus dedos invadem meus cabelos e me erguem no ar por ele. Observo a pupila de seus olhos, elas têm um brilho forte e real, o brilho de uma evolução biológica. – Eu encontrei o DNA da sua ancestral, e combinei com o meu. Agora, sou melhor do que qualquer ser vivo. Tenho poderes ilimitados – grita a última palavra.

Concentro toda a minha força na palma da mão e, com os dentes tricando com o ódio efervescente, desfiro o golpe. Quando estou a um passo de antigi-lo, a minha esperança desaparece, e não é só pela Singularidade que converte sensações dentro do meu ser. É também pelo vislumbre que tenho, da minha mão sendo parada pela mão do ditador sem qualquer consequência a ele. A energia do meu golpe se dissipa na forma de rajadas de ventos, que rapidamente se espalham para todos os lados.

– Eu sou tudo – ele me lança para o ar a meia altura. As dores distribuídas pelo corpo me impedem de agir, é novo para mim. Sinto como se estivesse paralisada, fraca.

E quando estou a alguns centímetros do chão, vejo a perna do ditador se estender. Recebo um único chute, tão violento que o baque gerado é mais alto do que qualquer golpe meu, meu estômago se dobra para dar espaço ao impacto. Rapidamente, me afasto daquela construção, do ditador, da estrada que vim, pairando no ar. Tento parar a inércia, mas é impossível. As costas queimam com a velocidade absurda que adquiro, e o corpo é comprimido pela pressão. Bato em borrões, atravessando-os, presumo ser prédios, casas, carros, rochas, árvores. Tudo. A falta de ar se torna um problema real. Apago. Quando volto, os ouvidos chiando confirmam que ainda estou no ar. Não sei quanto tempo se passa, as oscilações entre apagar e voltar são presentes, assim como o fato de eu atingir coisas. Meu corpo se recupera de algumas, e outras não. Após um último baque, finalmente sinto a velocidade diminuir, mais e mais, até que o que sobrou do meu corpo encoste no chão que cede. Mesmo assim, ainda sou arrastada por vários metros, levantando poeira como numa tempestade, e destruindo tudo que toco, arrancando os fiapos de roupa e esfolando a pouca pele que ainda tenho.

Consigo abrir apenas um dos olhos, o outro nem sei se está no meu rosto. Não consigo respirar. Ergo a mão e vejo apenas metade dela, o restante está pendurado por um pedaço de carne e ossos quebrados. Sangue, tripas, veias, tudo é visível por onde quer que olhe, menos a pele. Tento me erguer, porém o abdômen não permite, tudo que vejo é algo metálico atravessado no meu estômago. Todo o meu corpo arde, lateja, grita de dor, porém a pior de todas é no coração. Fui derrotada de uma forma tão ridícula. Fui humilhada por minha própria arrogância. Ao passo em que tusso sangue, e me afogo nele, a visão fica turva e a pouca força que me resta desaparece. Giro no chão, tentando conter as dores intensas, torcendo para que se curem logo, mas não se curam. O oxigênio não entra nas narinas, parece que algo está impedindo a passagem. Como um último ato de esforço, tento voltar o nariz para o lugar com o fragmento que chamo de mão, se é que tenho nariz agora. Após forçar, escuto um estalo seco e doloroso, e tudo escurece. 

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro