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Capítulo Quatorze

Quando tudo fica firme, percebo que estou num plano além da compreensão comum, não existe diferença entre luz e matéria, ambas se entrelaçam num suave tecido que quebra qualquer noção de realidade. O templo, entretanto, permanece intacto, sua imponência cresce como um monólito eterno, um farol sagrado imune ao tempo. Diante de nós, uma ponte cristalina se estende, cintilando a cada passo dado.

O olhar de minha mãe é atraído pela vista majestosa, eu a observo baixar a cabeça com temor assim que entramos no saguão principal. Ele é redondo e lustroso. Inscrições numa espécie de dialeto antigo serpenteiam as paredes, descendo num rio de sabedoria, até convergir numa circunferência menor no coração do salão. Apesar de fechado o recinto, partículas de luz dourada, algumas insignificantes como grãos e outras tão imensas quanto titãs, pairam no ar. Sua trajetória é livre, deslizam conforme seus próprios desejos.

Minhas órbitas ganham brilho por algumas destas, que vagarosamente transpassam o corpo, me dissolvendo em completa paz.

– Agora vá. Sente-se no centro – mamãe orienta, com o tom de voz tão suave quanto possível. Suas mãos unidas na frente do corpo, a cabeça ainda inclinada. – Quando sentir que está segura, é porque pode falar.

– Mas, mãe, não tenho tempo. Preciso acordar e lutar pela minha vida.

– Não se preocupe. O tempo aqui corre de maneira diferente. Se ficar aqui por um ano, não passará mais do que alguns instantes na sua realidade.

Encaro seu rosto mais uma vez. Nunca a tinha visto tão tranquila e tão respeitosa ao mesmo tempo. A doutrina que lhe foi ensinada desde cedo parece ter chegado ao auge. Talvez seu comportamento seja o resultado das boas energias que o templo emana ou pode ser pelo fato de estar morta e com isso, alcançou um novo nível de espiritualidade. Afinal, suas preocupações e deveres foram retirados, ao menos em teoria.

Solto sua mão e caminho devagar. Ao mesmo tempo em que os orbes luminosos trazem alívio, eles também me atemorizam, pois um aviso silencioso murmura em mim, existe vida aqui, e eu não consigo identificar a origem. É como se o próprio templo fosse um ser vivo.

À medida em que meus pés se aproximam do centro, o brilho celestial adormecido das inscrições desperta, expandindo-se no ambiente como um holograma, e fazendo-as liberar um calor reconfortante. Indo contra todas as expectativas, quando me sento no local indicado, brisas suaves. São como toques tão inocentes quanto prazerosos, meticulosamente calculados.

Fecho os olhos e, paradoxalmente, é como se estivesse abrindo-os, ou melhor, como se novos tivessem sido despertados.

De repente, uma força inexplicável é aplicada de cima para baixo, como se um enorme rolo compressor tivesse sido posto na cabeça. É intenso, meus ossos rangem, ouvidos estalam, o coração acelera. Aos poucos, a estrutura do meu corpo aparenta ceder, a coluna ameaça se dobrar como um graveto, me causando um sofrimento inigualável. Tento ficar de pé, mas é impossível. Deitar-me tampouco. Estou presa àquela posição desconfortável, lentamente sendo empurrada para baixo. Os meus gritos escapam, mas parecem não chegar a lugar algum.

Não percebo mais a presença de minha mãe, e com a vista ficando cada vez mais escura, só o que penso é em como superar essa situação. O temor toma conta, tenho a sensação de que meu corpo vai simplesmente desintegrar. Quando me rendo àquela agonia, tudo para.

Tão rápido quanto a luz, a compressão desaparece, meus olhos seguem a origem da sombra que agora me cobre, e para minha surpresa, é um olho gigante. Azul-turquesa, raios ousados indo além da esclera. No centro da íris, uma esfera vermelha pulsante gira desordenada e esse é o elemento que me faz compreender melhor o que está acontecendo. É o olho de Zeda.

Significa que de alguma forma, a sua presença espiritual foi o que causou a dor. Já ouvi histórias parecidas como que supostamente a terra ao qual seus pés tocavam tremia.

– Ah... Olá? – tento fazer contato, e fico surpresa por minha voz ecoar.

O olho permanece quieto ali, examinando meu ser sem um único vacilo. Aquela coisa monstruosa emana uma energia poderosa e assustadora. A Singularidade sussurra no meu ouvido, mexe com os sentidos, são sensações mistas entre êxtase e a tranquilidade absoluta.

Quando pisco, vou para um plano diferente. Dessa vez, é uma gruta, um lugar tão úmido e escuro que quase não dá para enxergar. Caminho por aquele espaço, os pés parecem afundar no chão. Escuto balbucios ecoando ao longe, o que me deixa em alerta. Ainda assim, decido seguir a origem do som, à medida em que avanço, o ruído se torna cada vez mais familiar, é um choro infantil.

Aos poucos, a escuridão dá lugar a luz, e finalmente observo a tal criança, encolhida num canto solitário. Chego ainda mais perto.

– Oi?

A menina ergue a cabeça, seus olhos verdes, idênticos aos meus, revelam uma Natalie perturbada.

– Oi – entre soluços e lágrimas, ela responde.

– Você sou eu mesmo, ou... – olho ao redor, confusa. – Onde estamos?

– Nós – aponta o dedo para mim. – Você e eu.

– O que tem nós?

– Estamos presas. Você em mim, eu em você – a cópia para de chorar e se levanta. – Nada do que fizer poderá me afastar.

– Como assim?

Em um instante, o cenário se modifica, as cores preenchem o vazio, árvores frondosas brotam do chão, e a estrela ocupa parte do céu. A nossa estrela. Estou em casa.

Eu me observo treinando o combate corporal contra outras Valkar, foi há muitos anos. São três contra mim, porém, a vantagem é clara. Derrubei uma com um golpe ousado, que perfurou sua defesa. Atingi outra com um chute calculado e no último momento, desviei e ataquei a terceira, deixando-a no chão. Naquele mesmo dia, as Princesas se indignaram com minhas capacidades, e aproveitaram que estávamos treinando para se reunir, no intuito de me dar uma surra. No final da tarde, todas haviam caído e fui para casa jantar tranquilamente.

Em outra cena, a luta que travei contra o líder humano se desenrola em um planeta distante. Eu me movia com destreza, evitando seus ataques desesperados de naturezas diferentes, aproveitando de brechas para me aproximar cada vez mais. No momento certo, desferi o ataque final: um soco tão poderoso e rápido que o atravessei. Ele caiu de joelhos, bastante debilitado, sangrando como um porco no matadouro. Olhei em seus olhos e pronunciei o que pensei ser palavras de misericórdia antes de lançá-lo em um precipício.

– O que mudou? – a minha versão criança interrompe a cena com um toque gentil na mão.

Sua pergunta, embora simples, me faz refletir. Foi assim durante toda a vida: venci batalhas, a maioria delas sem grandes dificuldades, tudo pelo fato de ter nascido com o que muitos consideram uma grande benção: a Singularidade. Normalmente, as pessoas de nossas famílias nascem com o que chamamos de sinais, e depois de alguns poucos anos, entre três ou quatro, se tornam Singulares. A partir daí, começa a instrução e o treinamento para desenvolver as habilidades até que a criança, se for mulher, se torne uma Princesa Plena. Minha progenitora disse que no meu conturbado nascimento, ela pode perceber uma aura diferente em mim, a Singularidade estava emaranhada nas veias.

– Fui imprudente, ou talvez...

– Talvez tenha sido superada. E 'aquela que surgiria para salvar o mundo' não passou de paranoia de nossa ancestral – a outra Natalie acrescenta.

Suas palavras são dolorosas. Significa que tudo que acreditei é mentira? Todo o esforço, dedicação, e o apoio popular (embora menor) serviram apenas para me trazer essa desilusão? Sei que nunca fui o exemplo de Princesa, mas estava lá, fazendo meu papel quando tudo estava desmoronando.

– É, quem sabe – exprimo, desanimada.

– A culpa é minha – a outra Natalie aperta com força meu pulso, uma pressão que realmente me machuca.

Largo um gemido, à medida que tento me afastar dela, faço força para me libertar. Entretanto, de alguma forma, essa criança é mais forte.

– Sou mesmo inútil – diz para si, olhando para o horizonte.

A simples pronúncia da frase faz com que o ambiente vibre, e num instante, uma onda invisível me atinge com muita violência, me mandando para longe. Tento me recompor rápido, entretanto a dor é intensa. Foi como ser atingida de frente por um bloco duro. A dor na cabeça é a que prevalece.

Aquela versão de mim fez isso?

Ao notar a movimentação da criança, o instinto me deixa em posição. Ela corre em disparada pelos flancos do perímetro, graças a Singularidade, posso acompanhá-la com o olhar.

– A sociedade estava correta, eu nunca deveria ter nascido mesmo, sou um erro.

Mesmo à distância, sua voz se infiltra em meu ser como uma lâmina que transcende o espaço. Então, mais uma vez sou atingida por algo que não posso ver, e nem sentir. No segundo seguinte, meu rosto se contorce sob um golpe destruidor, vindo direto da mão da minha cópia.

– Sou inútil! – Sua sentença explosiva agita o ar.

A cada repetição, mais ondas de dor possuem meu corpo de formas distintas, até ser jogada em terra com uma força esmagadora. Com grande esforço, me arrasto para fora dos escombros, tossindo e já sangrando. Os ferimentos não se curam. Algo está errado. Natalie surge diante de mim. Seus olhos projetam desprezo.

– Princesa de merda.



O som ininterrupto das máquinas industriais funcionando é o que corta o ruído de nossas respirações abafadas. A única que parece completamente destoante é Freya, no outro lado do galpão. Seus músculos estão claramente sendo forçados ao extremo, mas isso não configura como uma razão para fazê-la sofrer, considerando a sua expressão serena.

A maior fonte de preocupação para mim é meu irmão, ele não tem demonstrado afeto, tampouco falado quando temos alguma oportunidade. Joe não é assim, e entendo que o que estamos passando é de grande influência, afinal, não é como se estivéssemos em uma colônia de férias. E é por esse motivo que acredito que deveríamos nos apoiar.

Ontem à noite, quando, em uma rara ocasião, nos foi permitido descansar de verdade, me deitei em seu colo, na tentativa de trazer de volta as mesmas sensações que tinha em nossa infância. Embora eu fosse a mais responsável, Joe sempre foi o sensível, então nas poucas vezes que me meti em problemas e apanhei dos meus pais, ele me oferecia consolo na forma de afeto. Noite passada, pela primeira vez na vida, Joe protestou. Foi um breve empurrão e algo inédito: a face virada. Então, se levantou e foi deitar em outro lugar, no meio dos desconhecidos, que mais pareciam cadáveres jogados no chão do nosso barracão, que são instalações bem próximas ao edifício no qual trabalhamos durante o dia.

John, notando o meu sofrimento, resolveu se aproximar. Mesmo no alto da madrugada, pude perceber suas feridas abertas no rosto, os cabelos desgrenhados, tão embaraçados quanto raízes retorcidas de árvores mortas.

– Noite difícil? – cochichou, tendo como o som de fundo a tosse excruciante de um detento.

– Acho que não tanto quanto o dia. Espero receber o pagamento em dobro no fim do mês. – De alguma forma, fui bem-humorada em uma situação bastante delicada, e eu não soube dizer como foi possível.

O garoto deu uma única risada, baixa e seca. Foi aí que vi a oportunidade de tentar nos alinhar, para quem sabe escapar um dia, mesmo começando a acreditar na estupidez da ideia.

– Quando vamos ser livres de novo, John? – abracei os joelhos, os músculos protestaram.

– É uma pergunta complicada. Querem nos manter vivos, fortes o suficiente para trabalhar, mas não para criar um motim.

– É. – Tentei não me mexer muito, pois cada movimento custava a pouca energia que tinha. E além disso, estava morta de fome e incrustada de feridas não tratadas.

– Tá vendo aquele esquisito ali? – ele apontou o queixo.

Eu segui com olhar, e com o auxílio da pouca luz lunar entrando, vi um cara em pé, completamente estático no meio de tanta gente amontoada naquele lugar mofado. Seu corpo não mexia um centímetro, era como um robô que foi desligado e esquecido.

– O que tem ele?

– Há dois dias, estava consciente. Me implorando para nos organizarmos e fugir. E olhe agora, obediente como um cão.

Não tive muito tempo, nem disposição para pensar sobre, meu corpo estava tão mole e enfraquecido que por um segundo pensei ter desmaiado. Até que a voz de John me trouxe de volta.

– Tem alguma coisa aqui que tira nossa sanidade. Eu me pergunto se é só o trabalho – seu olhar pesado estaciona no meu. Ele então os desvia e meneia a cabeça. – Mesmo com aquela bagunça, às vezes escuto um som estranho, como se fosse um chiado bizarro.

– E acha que isso tem a ver com a obediência cega dos demais? Pode ser só o medo de apanhar. Tenho obedecido sem questionar para não ser castigada, mas estou consciente.

– Tenho meus motivos para acreditar que não é bem assim – pigarreia, levando a mão machucada à boca.

– Por que diz isso?

John suspirou fundo. Sua postura pareceu encolher por um breve instante.

– Porque estou começando a acreditar que talvez os humanos tenham razão sobre nosso papel na sociedade.

Aquela informação tirou a pouca vontade de dormir que tinha. Não tínhamos sido arrastados para máquinas ou qualquer coisa que pudesse fazer alguma lavagem cerebral, como foi com as crianças com placas nas costas. Então o que poderia ser?

O som do disparo de arma de choque me traz de volta à realidade, um dos Zedar zumbis, que é como chamo os cem por cento obedientes, acaba de ser punido. Não sei o que fez, mas ele pouco parece se importar ou reagir. Apenas se ajeita, e continua o trabalho. Pelo canto do olho, observo alguns que ainda parecem ter algum tipo de sanidade, um pequeno resquício do que foi suas mentes um dia. O que sobra da consciência dessas pessoas são os olhares, eles fazem um pedido discreto e desesperado de socorro.

Olho novamente para meu irmão, focado em apertar parafusos, assim como os demais. Seus olhos parecem estar em outra realidade, não tem a mesma chama de antes. Por um breve instante, fazemos contato visual. É rápido, porém efetivo.

Freya foi colocada para executar outra função, ela está longe de mim, erguendo metal pesado e amassando-o com uma ferramenta específica. Não tive tempo de falar mais a respeito do meu plano para escaparmos. Durante a noite, é impossível, já que a mulher se dedica a sibilar canções em romeno antigo, de sua terra natal. Tentei várias vezes, mas sou ignorada nesses momentos.

De toda forma, não sei se ela toparia, considerando que teríamos de trazer sua natureza louca de volta de algum jeito. Apesar de que, para ser sincera, não vejo grandes diferenças entre a Freya antiga e a nova. Suas falas e ações continuam insanas. O que me intriga de verdade é a sua falta de tato com o que estamos vivendo. Desde o começo.

Continuo trabalhando enquanto penso a respeito de tudo. É estranho porque, conforme o tempo vai passando, por mais que eu queira, não tenho a mesma determinação de escapar. De alguma forma, operando por horas sem parar nessa fábrica improvisada neste edifício, passando fome, sendo castigada e abusada, ainda assim, sinto certo conforto estando aqui. Não entendo como é possível. Talvez tenha sido meu corpo que decidiu se render e aceitar esse fardo. Ou...

Olho para uma pequena fresta nas janelas cobertas, a única fonte de conexão com o mundo exterior. Através dela, tenho a impressão de ver uma coisa se mexer lá fora, cintilar de forma sutil, quase ilusória. Meu coração se contrai. Para não apanhar, foco o olhar de volta à esteira. Entretanto, quando esvazio a mente de tudo, enquanto aperto os parafusos, algo alerta os sentidos. É tênue, quase imperceptível, efêmero, mas está lá.

Um chiado?

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