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Capítulo Cinco

– Somos da resistência – o homem à nossa frente anuncia com um tom de voz calmo, embora esteja paralisado. Todos os outros de seu grupo apontam suas armas para nós, visto que um dos seus está sendo ameaçado por mim.

Lukas levanta as mãos, eu não. Os soldados que nos perseguiram estão mortos, matamos dois, e eles o restante. Ainda assim, mantenho o metal escuro da minha querida faca apoiado no pescoço do suposto rebelde de bigode grosso.

– Heather – Lukas chama meu nome de um jeito desesperado, me obrigando a olhar para seu rosto. – Eles são da resistência, acabaram de nos ajudar, abaixa a faca.

Lanço um olhar para os inimigos abatidos ao nosso redor, apenas para confirmar que realmente os mataram. Afasto lentamente o objeto cortante do pescoço do rebelde e guardo no coldre.

– Vocês são Zedar, correto? – o humano supostamente aliado abre um sorriso confiante. – Eu vi quando vocês dois se materializaram – confessa, ajustando o chapéu de balde com uma camuflagem bordada com as cores da floresta.

Para alcançar seu pescoço, quase tive que ficar na ponta do pé, não sei se pelo fato dele ser muito alto ou eu ser muito baixa. Talvez as duas coisas.

– Vocês estão bem? – falo, direcionando o olhar para o meu bando.

Eles confirmam com a cabeça, uma das crianças corre e abraça Lukas, como de praxe.

– Temos que sair daqui, chefe, eles vão mandar reforços – um dos caras do grupo rebelde se manifesta. Ele conversa com o homem à nossa frente, que é o que ameacei agora há pouco. São seis ao todo.

– Façam uma varredura no perímetro, estamos de saída – ordena. Os subordinados imediatamente deixam a casa. – Vocês vem conosco? – o homem me encara por um instante e, percebendo que não se apresentou, estende o braço. – Meu nome é Scott, é um prazer, Heather e...?

– Lukas – o garoto responde, dando um passo à frente, cumprimentando o soldado antes de mim. – Vocês têm algum esconderijo ou uma base de operações?

– Temos um velho posto de gasolina e uma serralheria caindo aos pedaços. E cada um aqui tem suas próprias casas, afinal, somos cidadãos. Podem ficar na minha, consertei a hidromassagem. E eu garanto, nada menos que o paraíso! – brinca, cutucando a costela de Lukas, que dá de ombros com um sorriso alegre.

– Nós não vamos – interrompo a diversão dos dois com minha voz rouca.

Lukas faz uma careta, ele me encara com ceticismo.

– O que tá dizendo? – balança a cabeça, ainda incrédulo. – É a nossa melhor opção, a melhor opção pra eles – aponta com as duas mãos para o nosso pessoal.

Analiso as pessoas atrás de mim e suas crianças. Eles estão felizes, claramente animados por termos sido ajudados por esses que dizem ser da resistência.

"Não confie em ninguém, faça as pessoas confiarem em você" , escuto, na minha mente, a voz do que agora considero a minha principal inspiração, Rachel. Ela me disse isso quando estávamos na base da floresta. Aquela garota tem a minha idade, mas é muito mais madura, experiente. Sabe se virar sozinha como ninguém. Não nego em pensar que queria muito que N1 estivesse aqui para tomar as decisões no meu lugar. Cada vez que tenho que decidir algo, sei que se errar, podemos morrer.

– Heather – Abigail, uma das mães, me convoca. Sua voz me arranca dos meus pensamentos. – Sabemos o quanto se esforçou pra ajudar a gente, mas... Precisamos de um lugar seguro – junta as mãos na frente da saia longa.

Sua declaração me faz machucar as mãos com um forte aperto nos punhos. Mas antes que possa pensar em dizer algo, Scott o faz.

– Vamos lá, garota, temos alguns da sua raça conosco. Temos lutado diretamente contra os soldados do ditador. Precisamos de mais guerrilheiros.

Mesmo com receio, aceito por falta de opção. Enquanto caminhamos pelas ruas, faço questão de ir na frente do meu bando e atrás dos nossos novos aliados. Talvez valha a pena forçá-los a me dizer a verdade com a manipulação mental, porém, sinto que estou esgotada, pois tive que usar minhas ondas de destruição mental mais algumas vezes. Quando juntamos isso como uma péssima alimentação, a fraqueza prevalece. Além disso, quero conhecer essas pessoas que ele diz ser Zedar como nós, se é que elas existem.

Em contrapartida, meu parceiro insiste em continuar invisível, tanto para treinar, quanto para sua própria diversão, já o conheço bem. Na verdade, consigo até mesmo ter uma noção do que deve estar fazendo, ele provavelmente está na frente dos soldados fazendo caretas e coisas que não faria se estivesse visível. Às vezes dá para escutar uma risadinha escapar no ar, o que me deixa ainda mais aborrecida. Temos que levar a sério o que está acontecendo.

– Por que tá tão nervosa? – a voz de Lukas questiona, falando baixo.

Lanço um olhar para o lado, e não vejo nada além das paredes dos edifícios, ele ainda permanece oculto.

– Você não aprendeu nada nesses últimos meses? – fixo os olhos na altura que imagino estar seu rosto, balançando a cabeça negativamente. – Até onde sei, podemos estar caminhando pra morte e você aí brincando feito um idiota!

Um dos caras me encara por cima do ombro, e mesmo que tanto eu como ele saibamos que tem alguém invisível do meu lado, a cena continua esquisita. As minhas bochechas ameaçam mudar de cor enquanto o guerrilheiro dá uma risada nasal e comenta algo com o mais próximo.

– Sabe que podemos acabar com eles, não sabe? – o moreno sibila mais uma vez. No exato momento em que vou abrir a boca para responder, ele continua. – Não se preocupe, ainda somos só nós, a gente não vai deixar esses caras nos prejudicarem. – sinto a sua respiração chegar mais intensamente ao meu ouvido. – Acionei a trava da arma deles. Não vão conseguir atirar, e até descobrirem que o problema é esse, já vamos ter deitado eles na porrada – a sua risada é a única coisa que sai num tom audível para todos.

Inevitavelmente, o meu sorriso também escapa e dou um empurrão às cegas nele. Olho para minha parceira de batalha, a faca, e confiro se ela está numa posição na qual o saque será rápido. Os soldados da rebelião à nossa frente discutem rotas e pontos que não faço a menor ideia, Scott é quem os acalma, evidenciando, através do seu mapa, o que devem fazer. Tenho que admitir que esse homem é um bom líder, ele é grande e a sua barba, em conjunto com os músculos e ombros largos dão um ar intimidador, embora quando fale pareça ser exatamente o oposto. Pelo que entendi, estamos numa espécie de terra de ninguém, uma zona morta entre duas cidades, por isso está desabitada e quase nunca encontramos recursos.

Depois de algumas horas vagando pelo ermo, chegamos no que Scott diz ser a fronteira, subimos até o terraço num pequeno prédio e do topo, temos um vislumbre do que nunca tivemos nesses tempos: lá embaixo, existe um grande portão que, em conjunto com os muros de tijolos recém-colocados impede a passagem das pessoas. Depois dele, consigo ver que carros circulam para lá e para cá, pedestres caminham. Vejo até mesmo uma coluna cinza tortuosa deixando a chaminé de um dos prédios ao longe, tudo parece industrialmente vivo, bem diferente do que esperava.

– Vamos parar aqui – Scott anuncia, guardando os binóculos. – Ao anoitecer passaremos pela nossa rota na fronteira.

– Disse que o caminho que iríamos era seguro – contesto.

– E é. Mas não estávamos esperando essa quantidade de soldados aqui– aponta para trás com o polegar. – Muito estranho.

– Como vamos saber que não está tentando nos matar?

– Pelo amor de Deus, garota! – o armário ambulante esfrega as têmporas e se senta de frente para mim, apoiando a arma na pequena parede atrás dele. – Nós mataríamos os caras que tentaram matar vocês para depois matar vocês? Qual seria a lógica nisso?

Fico sem saber o que responder, e confesso que me sinto meio burra após ouvir sua afirmação, embora ainda esteja desconfiada. Os olhos dele parecem querer uma resposta, mas não dou. Ao invés disso, fujo do seu olhar cruzando os braços e focando nos demais soldados, que resolvem descansar. Eles se acomodam no chão mesmo, junto aos humanos que são dos nossos. Lukas também se rende, e resolve tentar se enturmar com os novatos, vejo que alguns deles oferecem algo de comer para os nossos, o que me dá água na boca, mas, como tenho feito, suprimo este desejo. Não são todos que conseguem conviver com a fome como eu.

– Sei o que está fazendo: está tentando proteger os seus – Scott pigarreia. – Admiro isso – suas palavras fazem meu olhar voltar para ele, mas com relutância. – Estou aqui, lutando nessa batalha para proteger os meus também.

– Há quanto tempo estão juntos? – quebro o silêncio da minha boca.

– Na resistência, desde quando começou a invasão. Com esses caras, pelo menos quinze anos. Éramos do exército australiano – ele olha para baixo por um instante. – E você? O que fazia no seu planeta?

– Eu era piloto de caça, mas quando viram o potencial dos meus poderes, fui transferida para o que vocês chamam de tropas terrestres, que executam múltiplas funções.

– Infantaria, você quer dizer – estica a perna, alongando-a. – Você ainda sabe pilotar?

– Faz pelo menos uns vinte anos, se somar os dezessete aqui na Terra, que não piloto uma aeronave, mas acho que se treinar um pouco, sim.

– Legal – sorri, acenando com a cabeça. – Nós temos um caça, e não é um qualquer, é um que esses... Humanos de fora da Terra trouxeram. Você pode usá-lo, se Adam permitir.

– Adam? Achei que fosse o líder – levanto uma sobrancelha.

– Do meu pelotão – faz uma pausa. – Estima-se que a resistência, como um todo, tem pelo menos cinco milhões de membros espalhados pelo globo, então é óbvio que temos superiores.

– CINCO MILHÕES? – a minha voz se exalta um pouco mais que deveria, o que chama a atenção de todos. Eu levanto a mão, pedindo desculpas, enquanto um dos soldados vai verificar como está lá embaixo, devido ao meu grito.

– Acho que você tá bem desatualizada, onde esteve todo esse tempo? – o sorriso surge despretensioso. Como num estalo, ele próprio entende nossa situação, olhando para minhas roupas rasgadas e encardidas, e para meu estado desnutrido. Seu sorriso vai embora da mesma forma que chegou. Scott arranha a garganta, fingindo engasgar antes de continuar – Você foi muito bem – ele abre um compartimento no seu colete bege a prova de balas e tira de lá o que parece ser uma barra de cereal, jogando-a para mim. Pego no alto. – Coma alguma coisa, Delta Dois, daqui a pouco vamos nos mobilizar, e dar o fora daqui.

– Delta Dois? – repito, abrindo a embalagem depressa. Mesmo que ainda tente demonstrar que não estou morta de fome, como tudo de uma só vez.

– Você devia ter algum codinome quando era da aviação, foi o primeiro que me veio à cabeça. Prefere Pequena Delta? Aviãozinho?

– Que tal Heather? – sugestiono, de boca cheia, mas com um sorriso pequeno.

– Agora será Aviãozinho – ri.

– Chefe, temos um problema – um dos homens interrompe. Ele está vigiando a fronteira com os binóculos e nos chama com um gesto.

Quando nos aproximamos, o que vemos sair em direção às áreas desertas é, no mínimo, desolador. Um carro blindado levanta poeira com a aceleração, enquanto drones lançados no ar escapam do interior do veículo através de uma uma abertura no teto. São como abelhas saindo das colmeias.

Engulo o restante do meu alimento numa única investida, gostaria de saborear mais do açúcar que o envolvia.

– Eles sabem que têm rebeldes desse lado, estão preparando uma ofensiva. Por isso estão em maior número!


Assisto a garota colocar a flecha e puxar a corda do arco, do mesmo jeito que ensinei. Ela está indo bem, porém, demora muito para fazer as coisas. Suspiro, repensando se deveria ou não ter aceitado treinar Summer.

– Posso atirar?

– O alvo está centralizado?

– Acho que sim – ela torce o nariz.

– Acha? – dou um único e custoso passo, a dor da perfuração que sofri no estômago é uma das poucas que permanecem, mesmo que agora muito mais amenas. – Você não pode achar nada, tem que ter certeza.

– Você não acabou de falar sobre a habilidade de improviso? Se eu errar é só consertar improvisando, é só um coelho – Summer mantém os olhos fixos no animalzinho a alguns metros de nós.

– Isso será válido quando tiver o mínimo de noção do que está fazendo!

– O coelho! – a garota corre atrás com seu arco e flecha, ao perceber que o animal se espantou com a minha voz.

Mesmo com dificuldade de me locomover, corro como posso pelo meio das árvores, sou mais rápida que qualquer humano normal, estando ferida ou não. Diferente de Summer, que avança em linha reta atrás do ágil animal, opto por flanqueá-lo para executar o ataque. Pego impulso desajeitado com o pé num tronco para alcançar um galho, e através dele, consigo sobrepujar o caminho bloqueado por árvores antigas. A fincada no estômago vem, mas estou decidida a continuar. Acelero o máximo possível e uso uma rocha para que eu possa saltar e flutuar no ar por alguns segundos, com o meu arco em mãos.

Num rápido movimento, e ainda sem chão para tocar os pés, miro, usando a ponta da flecha e a mão como base. Tensiono a corda do arco com força. Direciono para aquela coisinha branca borrada em movimento atrás da linha das árvores. Suponho ser o coelho, não dá para ter certeza, já que estou sem meus óculos. Após prever a trajetória dele, atiro. A flecha corta o ar com precisão junto a um zumpt, e vai direto no pescoço do pequeno mamífero, abatendo-o de uma só vez. Eu aterriso no chão com suavidade, evitando colocar todo o peso em uma só perna, pois ainda tenho o resquício do ferimento de bala. O bicho exala seus últimos grunhidos sufocantes e morre.

– Podia ter deixado, eu tava quase pegando ele – Summer se aproxima, guardando a última flecha na aljava improvisada que confeccionamos.

– Não, você definitivamente não estava! E se vai ficar questionando meus métodos, é melhor aprender sozinha!

– Eu não questionei, só quis tirar uma dúvida – desvia o olhar para a esquerda, depois para o chão, tentando manter a postura.

– Guarde suas dúvidas idiotas para você! – toco seu peito com o dedo indicador, empurrando-a para trás. – Não estou aberta a sugestões.

A garota fecha os dois punhos e solta um "urrhh".

– Por que tem que ser tão orgulhosa? Só tô tentando aprender! E agora tô vendo que deveria aprender umas coisas sobre conversação! – Summer junta as sobrancelhas, expondo toda a insatisfação guardada.

Guardo o arco e flecha nas costas e cruzo os braços.

– É mesmo? E como acha que isso vai me ajudar numa batalha?

– É simples – ela fala com seriedade. Seu rosto sensível agora exibe uma dedicada expressão confiante. – Posso estar conversando normalmente, te cobrindo de sutis elogios ou me fazendo de vítima, garantindo que você não me considere uma ameaça. Sua guarda vai estar baixa em algum momento, e quando menos esperar... – Seu punho emerge na direção do meu rosto com o máximo de agilidade que consegue.

Não sei se ela vai de fato me acertar ou só demonstrar como seria, mas não importa. Seguro seu pulso a milímetros do meu nariz e o dobro para uma direção dolorosa, imobilizado-a. Termino preparando as pernas para que eu consiga dar uma rasteira. Faço tudo num segundo, e Summer desaba com meu golpe, batendo as costas no chão com um baque.

– Resposta errada – encaro o rosto da jovem fazendeira, que agora exprime a fúria. – Está vendo? Por isso, quando os humanos vieram aqui, você não conseguiu ajudar seus amigos, porque não estava preparada o suficiente – mesmo estando aborrecida, ironicamente, mantenho o tom de voz calmo. – Você foi fraca e é por isso que eles estão mortos.

Dou as costas antes de qualquer resposta, caminhando até o coelho abatido, deixando de lado aquela irritante garota mimada.

Tudo que escuto são seus passos sobre as folhas secas aumentando atrás de mim muito rápido, junto a respiração descontrolada. Eu me viro, apenas para quase ser golpeada no rosto. A ira, que estava até então adormecendo, acende dentro de mim como um vulcão. Summer me agarra pelo tronco e tenta me empurrar contra uma árvore. Em contrapartida, eu firmo bem a minha base e paro sua investida dando uma única cotovelada com o mínimo de força no meio das suas costas, o que faz nós duas irmos para o chão aos tropeços. Ela geme com o golpe e se afasta arrastando.

Sou mais rápida para me recompor, e ao vê-la se levantar, mais uma vez, lanço-a na terra com uma rasteira. Abaixo na sua frente e seguro seu pescoço com uma mão, enquanto com a outra, ameaço. A garota se debate, sempre tentando me golpear. Acabo com suas gracinhas travando seu corpo com as minhas pernas.

– Escuta aqui, sua cria de estrume de vaca! – vocifero. – Faça isso de novo e eu te mato! Agradeça por eu não ter te batido forte, porque se quisesse, poderia quebrar sua coluna com aquele golpe! – fortaleço meus dedos em volta do seu pescoço. – Acha que sabe alguma coisa sobre batalhas? Sobre táticas e sobrevivência? Você não sabe de nada! NADA!

As lágrimas escapam de seu rosto, junto aos dentes trincados de raiva, as veias do pescoço saltadas.

– Força se constrói com sangue! Se não puder sangrar sem morrer, desista! – faço questão de me abaixar para berrar bem de perto, com meu nariz colado no seu.

– Eu não sou forte! – grita de volta. Seus olhos inundados pelo líquido salgado me devoram. – Sei que foi por isso que todos meus amigos morreram! – esfrega as mãos no rosto entre choramingos, mordendo o lábio inferior. – E é por isso que tem que me ensinar a ser boa como você! – ela soluça numa mistura perfeita de ódio e tristeza. Agora entendo que sua ira não é pelo meu método rigoroso, e sim pelo que houve com seus vizinhos.

Pelo que o pai da garota disse, pelo menos dois deles eram Zedar, que assim como nós, tiveram uma vida normal até alcançar mais ou menos quinze ou dezesseis anos. Depois vieram os poderes e tudo mudou. Eles lutaram bravamente até o fim.

Coço o couro cabeludo algumas vezes até decidir sair de cima da garota e finalmente pegar a minha caça. Examino o animal ensaguentado e percebo que ele tem duas flechas no corpo, não uma. Não foi a minha que o matou, só encurtei o que já estava certo. Ergo as sobrancelhas, desacreditada. Talvez essa menina não seja tão débil quanto parece.

– O treino acabou. Vamos acampar nas montanhas hoje – desvio meu olhar para a fazendeira que acaba de se erguer. – Temos que pegar água e assar isso antes do anoitecer.

Fazemos uma breve ronda pela região antes de decidirmos progredir. Embora ainda estejamos na propriedade de Tobias, os humanos podem aparecer a qualquer momento e temos de estar preparados. Eles vêm pelo menos uma vez a cada mês, levam tudo que podem, alegando que o novo governo global da humanidade irá compensá-los, e que o que estão levando são suprimentos para abastecer suas tropas. Até onde entendi, o pai da garota e os soldados mantêm uma relação estável, graças a colaboração dele em entregar o que lhe é solicitado. Em uma das conversas que o líder do pelotão e Tobias tiveram, foi revelado que essa região está com escassez de soldados, pois estão todos concentrados ao ataque a resistência em Sydney, que aparentemente é a mais forte desse país. Ele também confessou que existe resistência nas redondezas, o que para mim foi altamente animador, embora eu ainda não saiba como encontrá-los.

Enquanto descemos o desfiladeiro, olho para cima, observando alguns filetes de luz adornados por pedaços de folhas adentrar a mata aos poucos, o que de certa forma deixa o ar um pouco mais seco. Penso que o melhor que posso fazer depois de presenciar o choro da menina, junto a sua confissão é ficar calada, não porque me importo com o sofrimento da minha nova aluna e sim para evitar que ela tenha a brilhante ideia de me fazer confidente, ou qualquer coisa do tipo.

À medida que avançamos o som de pequenos peixes pulando no lago fica mais evidente. Mesmo que tudo aparenta estar calmo, não baixo minha guarda. De tempos em tempos paramos para verificar se estamos sendo seguidas. Summer reclama o tempo inteiro da minha paranóia, e agora, sobre a dor de cabeça que surge, junto a um galo, por conta das rasteiras que levou, mas eu não ligo.

Quando finalmente chegamos, somos presenteadas por uma bela vista do lago que ocupa o centro das terras. O sol do começo de tarde me obriga a colocar uma das mãos acima da testa, enquanto tenho o vislumbre do horizonte que mistura as cores escuras do dossel das árvores e o céu azul, que também reflete nas águas . O toque da brisa veranil irrompe, convidando meus cabelos soltos para uma dança desajeitada no ar. Inspiro profundamente, apenas para ter a oportunidade de relaxar, nem que seja por um segundo. Meu corpo vem me pedindo isso há algum tempo.

Summer vai na frente, ela sobe nas estacas da estrutura do que um dia foi um pequeno cais, e pula de um pedaço intacto para o outro com êxito. A menina fica tão feliz de seu feito que balança o braço no ar para chamar a minha atenção, o que mais uma vez me faz questionar as razões de eu estar aqui. Estamos em território inimigo, no meio de uma guerra pela sobrevivência de nossa raça, além do fato de que deu tudo errado. Éramos para termos nos lembrado a respeito de quem somos de verdade quando ainda tínhamos quatro anos terrestres, e nossos corpos cresceriam exponencialmente mais rápido que o natural, ou seja, estamos muito atrasados. E o que estou fazendo? Acampando com uma fazendeira. Ao mesmo tempo, sei que não ia adiantar sair sozinha por aí para lutar, preciso reunir informações e encontrar os rebeldes antes.

– Você não vem? – pergunta.

– Podemos pegar água aqui – aponto com o queixo para a linha suave da borda do lago. – Não precisamos subir aí.

A garota joga o arco, depois a aljava com as flechas. Por fim, ela deixa para trás a blusa regata. Em seguida, me encara por cima do ombro.

– Não acha que seria bom tomar um banho? Estamos fedorentas – Summer faz uma cara de nojo.

Com as narinas se movimentando, faço uma breve conferência, ela tem razão. Olho para as minhas próprias roupas, a calça moletom está tão suja quanto a blusa bege, ambas as peças pintadas com terra, musgos e caule de folhas. Então, acho que será bom entrar usando-as mesmo, por dois motivos. Um deles é para lavar.

Quando levanto o olhar, a garota acaba de retirar o short e pula no lago sem receio. Caminho devagar até o curso das águas, deixando-as na altura das minhas canelas. Dou uma boa olhada ao redor, atrás das árvores, sobre as pedras, visualizo o delta do lago como um todo. Estreito os olhos, alerta, enquanto me permito prestar atenção aos sons. Tudo de relevante que ouço é o som de esquilos, uma capivara, e do canto dos pássaros.

– Rachel – Summer quebra o meu estado de concentração. – Não vai vir? Tem medo de lagos? Acho que faz sentido, você quase morreu aqui – a fazendeira se diverte com o que disse.

– Ha-ha-ha, Eu não tenho medo de lagos – faço uma careta, fingindo achar graça.

Suspiro.

Deixo apenas a caça no chão e finalmente, entro, caminhando sem muita animação. Quando chego numa altura satisfatória, mergulho. Após algum tempo embaixo d'água, emerjo. É muito refrescante, considerando o calor que está fazendo.

– É a primeira vez que vejo alguém nadar de roupa num lago – Summer nada para o meu lado. – Por que não ficou só de calcinha?

– Não preciso – ao notar que um sorrisinho curioso surge em seu rosto, desvio o olhar, mantendo a austeridade.

– Sabe o que eu acho? – ela diz, olhando para cima, como se buscasse em sua mente a resposta. – Acho que você teve um momento constrangedor quando tirou as roupas pra entrar na água.

– Cale a boca!

– Eu sabia! – Summer ri, balançando a cabeça. – Me conta, por favor! Pela sua cara, eu aposto que foi com algum garoto. Ele é bonito?

– Não sei do que está falando – minto, respirando fundo, focando em lavar meu corpo. – Você fala demais, é desagradável.

– Ou será que só sou desagradável por que te faço sentir coisas? – sugere, me fazendo olhar em suas pupilas claras. – Eu já entendi você, Rachel, tá sempre escondendo seus sentimentos pra parecer mais forte. E você faz isso com o que sabe fazer de melhor: ser agressiva.

– Se não parar de falar, vou te mostrar o que é ser agressiva de verdade – lanço um olhar de canto de olho.

Que irritante! Por que ela quer tanto saber da minha vida?

– Ui, tudo bem – Summer solta uma risadinha e dá algumas braçadas em direção ao velho cais. – Só tô dizendo que me contar uma experiência embaraçosa com um garoto não vai te tornar fraca, pra mim não – completa, exaltando um pouco a voz para ser ouvida.

Enquanto ela se afasta, fico pensando sobre como essa garota conseguiu adivinhar que algo do tipo aconteceu. Lembro que foi a primeira vez que me senti indefesa.

Foi uma confusão, só o que me vem à cabeça é o momento em que estava completamente nua, amarrando os cabelos para entrar numa fonte termal natural que encontrei quando estávamos num planeta humano distante daqui. No exato instante em que dei um passo, Ben emergiu das mesmas águas que estava prestes a entrar. Nossos olhares se cruzaram de uma maneira tão constrangedora que nunca vou esquecer.

A pior parte é que, se pensar no ângulo de visão que ele estava, definitivamente aquele merdinha teve um vislumbre completo de qual é o segredo que as mulheres tanto escondem no meio das pernas. Tudo que o garoto disse após esse catastrófico evento foi que eu tinha belos joelhos, eu fingi que nem ouvi. Nunca falamos sobre esse dia, nem antes de vir para a Terra e nem agora. E nunca vamos falar, se é que ele está vivo.

– Rachel! Tem alguém vindo! – Summer berra. – São eles! Se esconde!

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