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Capítulo 2 - 4 dias de Resistência

Desmond

A figura de Desmond refletia completamente seu novo status social. Seus cabelos, agora curtos e diferentes dos cachos volumosos de sua época de juiz, complementavam a barba meticulosamente feita e o rosto quadrado e liso, realçando seus olhos claros que capturavam a luz do sol. Seu olhar, repleto de determinação, brilhava enquanto segurava o objeto em suas mãos.

Com um suspiro profundo, Desmond contemplava uma coroa improvisada, originária da galeria de artes na mansão de verão dos Milanidas — um tesouro que seus seguidores haviam adquirido para ele. A coroa, que outrora simbolizava a revolta de Char Milanidas, agora repousava em suas mãos, com seu propósito original rejuvenescido. A mesma coroa que povoava seus sonhos, agora legitimamente pertencia ao topo de sua cabeça.

Desmond ergueu o olhar para os imponentes galhos da Árvore Prateada. Sentando-se em uma de suas raízes, observou a luz do Pilar Brilhante refletir-se nas folhas prateadas; seu coração estava tranquilo, quase não percebia as numerosas vozes ao seu redor. Um destacamento de seis soldados da legião fora designado como sua guarda pessoal, todos plebeus que se reportavam diretamente a Myles. Eles formavam um cordão de segurança, assegurando a Desmond um momento de reflexão isolado, impedindo que a multidão pudesse perturbar o Rei.

O Rei. O líder com seus seguidores. Após suas ações no dia da Revolução, duas semanas atrás, ele emergiu como o líder da Última Gota e o juiz mais reputado na cidade. Desafiou a liderança da Legião de Anizotte de Gaius Tempest, alcançando uma trégua com ele. Os rumores eram conhecidos por todos: Desmond El Brante havia salvado a cidade da destruição pela fúria Arkniana. Ele era um herói e, como tal, seria aclamado. Uma série de eventos fortuitos o conduziu a este momento, segurando aquela coroa.

Desmond sorriu, agora todos tinham conhecimento de sua existência, e nada mais negaria a sua liberdade. Seu nome estava gravado na história.

Recolocando a coroa em sua cabeça, voltou seu olhar para o povo que limpava a praça da Árvore Prateada, palco de um passado sangrento.

— É uma bela cena, não é? Ver esses plebeus trabalhando contentes, morrendo de dores nas articulações, mas com sorrisos genuínos nos rostos. — A voz ao lado do rei era familiar, uma presença conhecida desde sua infância.

— Eles não são mais plebeus. — Desmond o corrigiu — Agora, todos são iguais em Anizotte.

— Nós dois sabemos que isso não é completamente verdade. — Desmond virou-se para ver seu avô, Gregor Brante, ostentando um sorriso astuto. — Afinal, você é um rei, não é qualquer pessoa. Esses soldados te protegendo também não estão no mesmo patamar que você.

— Eu sou apenas um juiz.

— No entanto, a verdade é inegável — Gregor se aproximou, caminhando com passos firmes sobre as imensas raízes. Ele tocou suavemente a coroa na cabeça de Desmond e sorriu. — Você superou. Superou o incompetente Stephan, superou o indeciso Robert. Você transcendeu todos os obstáculos e assumiu o controle como um verdadeiro nobre. Estou orgulhoso de você.

— É apenas temporário — Desmond desviou o olhar. — Quando estivermos seguros de que o Império respeitará nossa independência, renunciarei ao cargo e transferirei a autoridade para os ministros do Auditório.

— Você pode dizer isso a eles, mas não me convence. — Gregor pressionou o dedo indicador contra o peito de Desmond. — Seu coração anseia por mais. Mais reconhecimento, mais autoridade. Mais poder...

— Majestade. — Augustin surgiu, desviando a atenção de Desmond. — A última missão diplomática acaba de ser enviada a Eliria. Mensageiros de Sulmina e Enerie também acabaram de retornar.

— Excelente trabalho, Augustin. Agora, voltarei às minhas obrigações.

— Veja só, Augustin El Borne, um homem de pouca firmeza — Gregor murmurou com desdém. — Ignorou muitas questões por anos, permitiu que Egmont crescesse em força, mas não teve coragem suficiente para apoiá-lo até o fim. Ele me repugna.

— O senhor está bem? Parece preocupado. — Augustin observou, notando o olhar distante de Desmond.

— Sim, estou apenas um pouco cansado. — Desmond fechou os olhos brevemente, levantou-se, em seguida, abriu um sorriso e acenou para as pessoas que o observavam.

— Observe como ele parece um cachorro feliz em sua submissão. Não hesite em eliminá-lo quando não for mais necessário. — Gregor prosseguiu. — É preciso escolher aliados fortes para as batalhas futuras. Não haverá espaço para homens temerosos como ele em seu domínio. Eu sei que você não é um covarde.

Desmond endureceu sua expressão e encarou Augustin com determinação. Uma máscara.

— Vamos.

Durante a breve caminhada até a Prefeitura, Gregor Brante não parava de falar. Seus comentários iam desde como os plebeus eram imundos, até a incompetência de sua guarda pessoal e o trabalho mal feito de Augustin. Desmond sabia que não deveria dar ouvidos, sabia que isto era o fruto do estresse, a preocupação em ser rápido o suficiente. Não tinha tempo a perder, tinha que assertar o seu domínio e sua liberdade em toda Magra antes que o Império pudesse enviar seus exércitos.

Sabia que a trégua acertada por Gaius não duraria muito, então tudo o que fizesse nestes primeiros meses seria de extrema essência pelo futuro de Anizotte.

Repassou a lista de afazeres em sua mente, e depois, comentou com Augustin enquanto adentravam a Prefeitura. Enquanto discutiam os pormenores dos planos, Desmond adentrou no gabinete do Prefeito, de onde agora trabalhava. Não queria tomar o lugar de Augustin, mas ambos sabiam que Desmond não poderia continuar no cubículo de onde trabalhava, agora que tantas pessoas viriam falar com ele todos os dias.

— Não seja tão humilde, deveria pedir por um escritório maior. — Gregor cruzou os braços e reclamou.

— E se eu transformar o terraço da Casa Milanidas em meu novo escritório? — Desmond comentou em voz baixa.

— Como é? — Augustin perguntou.

— Não é nada.

— Majestade. — Myles se ajoelhou assim que Desmond entrara no escritório.

— Este sim é um bom servo — Gregor comentou — É rápido e prestativo, corajoso também.

— Não precisa de tudo isto — Desmond o ignorou e partiu para a cadeira de couro — Agora você... Deveria aprender com ele.

— Acha mesmo que eu me poria de joelhos para um humano?

Tarquinius Milanidas estava ali no canto da sala, com o rosto fechado de nojo. O antigo Arquiduque fora trazido contra sua vontade para Anizotte e forçado por Desmond e pela legião a trabalhar em seu Ministério de Relações Domésticas; um dos vários órgãos que Desmond e seus assessores criaram para cuidar habilmente do governo de Magra.

— Claro que não, mas agradeceria se pudesse me cumprimentar.

— Não venha com falsa modéstia. — Tarquinius mordeu os lábios, nervoso.

— Sou um homem verdadeiro. — Desmond estendeu a mão.

— Isso, faça-o entender que você é quem manda! — Gregor elogiou.

Milanidas relutantemente assentiu e o cumprimentou, depois virou o rosto e voltou a se pôr no canto.

Momentos de conversa fiada se seguiram. Os seguidores de Augustin, nobres do Manto que foram os primeiros a jurar lealdade à Desmond quando este apaziguou a rebelião, vieram assim que chamados pelo antigo Prefeito. Eles conversavam sobre a organização da nobreza restante em Anizotte, havia ansiedade nos sussurros enquanto lançavam olhares para Desmond e Tarquinius.

Alida também se fez presente, a mulher agora era a líder interina da Última Gota e a representante do povo plebeu após a morte de Egmont e o desaparecimento de Adam; ela veio acompanhada de Nikolas Egmont que a seguia por todo canto, e outros homens que faziam parte do Auditório Menor e da Liga dos Industrialistas. Nikolas era um garoto bastante reservado, nunca olhava em direção a Desmond, e também não conversava muito com os outros industrialistas. Havia algo em seu olhar... uma raiva. Desmond arfou, imaginou se ele sabia que fora por sua culpa que seu pai havia morrido...

Logo um representante da Igreja do Perdão também chegou, um rapaz novo de batina branca chamado Jamie, que entrou cumprimentando a todos e se ajoelhando para Desmond. Ele era enérgico, seu cabelo encaracolado denunciava a juventude, mas ele tinha uma habilidade incomum de falar com todos; era também um grande fã de Desmond, trazendo todos os antigos seguidores da Nova Fé pelo caminho que Nathan e Jeanne abriram.

O governo provisório de Desmond se reuniu um a um no grande escritório da Prefeitura. Todos ainda receosos a cumprimentar o Arquiduque. Poucos realmente se ajoelhando e tratando Desmond como Majestade, mesmo ele sendo o líder direto da Legião. Balançou a cabeça, não podia pensar assim... era um rei só de nome, em seu juramento, deixou bem claro que abdicaria do trono provisório quando a segurança de Magra e das cidades livres pudessem ser duradouras e...

— Eles não te respeitam, garoto. Você é o Rei. Faça jus ao seu título — Gregor sussurrou, observando a conversa fiada que os diferentes núcleos levavam entre si.

Desmond se apoiou na mesa do Prefeito à sua frente, tentando se livrar dos pensamentos impróprios. Gregor não era real, sua mente estressada lhe pregava peças. Não era real.

Ele não era um rei de verdade.

— Podemos começar? — Desmond pigarreou, entrelaçando os dedos. Demorou alguns instantes até que todos fizessem silêncio para ouvi-lo — Diga, Myles. Como está a situação na Legião de Magra?

— Ter o antigo Arquiduque o apoiando diminuiu bastante a relutância do resto do exército. Nossa vitória contra Dorius e contra as milícias dos Nobres da Espada assegurou nossa posição. — Myles dizia com os braços abertos, mostrando sua alegria.

Desmond arqueou as sobrancelhas, tentando ler o rapaz. Myles era como um barril de pólvora prestes a explodir. Ambos tiveram conexões com a falida Inteligência Secreta, e uma mão direta na rebelião da Última Gota. Se não fosse por ele, Desmond estaria morto, e não teria nem de perto o poder que tem hoje.

Tinha que se assegurar e tornar ele seu maior aliado, senão...

— Não pense besteira, olhe para ele. — Gregor olhou torto para Desmond — O homem te escolheu no dia da revolta e jogou todos contra Sophia. Suas ambições combinam.

— Tem razão. — Desmond respondeu tanto para Myles quanto para o fantasma do avô. — Mantenha a atenção nos nobres capturados e termine a integração da milícia na Legião, vamos precisar deles bem treinados nas Armas de Pólvora.

— Sim! — Myles assentiu e voltou à sua posição.

— Agora... Alida. — Desmond estendeu a mão acima de sua mesa e chamou a atenção da jornalista — Recebeu o retorno de seus contatos em Eliria? Precisamos acertar o quanto antes o suprimento de pólvora... Logo o Império irá cortar toda e qualquer importação para Magra, temos de estar preparados.

— Falei com ela. — Alida não veio ao meio como Myles, apenas falou de seu lugar — E ela me retornou, disse que gostaria de conversar com você pessoalmente.

— Pessoalmente...

— Majestade, se me permite — Augustin levantou a mão — Deveria mesmo ir conversar com os Boltez. Uma aliança com os plebeus e o Manto de Eliria e, quem sabe, com Astinia, será essencial.

Desmond fechou os olhos, meditando sobre o assunto. Havia até desistido de comparecer ao casamento de Tommas em Eliria... seria como unir o útil ao agradável.

— Mande uma mensagem, diga que irei em dois meses a partir de hoje.

— Sim, senhor. — Alida apenas assentiu, sem tirar os olhos de Desmond.

A tensão entre os dois era algo que ambos resolveram enterrar. A ferida de bala no ombro de Desmond que rendeu uma morte menor á ela ainda doía. Já foram amigos, já foram inimigos, agora apenas aliados.

— Deveria matá-la. Além de plebeia, é uma mancha em sua reputação. — Gregor o alertou.

— Como estão os preparativos para o festival, Inquisidor Jamie? — Desmond cortou Gregor, perguntando ao jovem padre.

— Sim, Majestade. Está excelente. A mensagem do Profeta atraiu uma quantidade nunca antes vista de pessoas. A Matriarca terá suas mãos cheias até o próximo mês.

— Sabe... Onde o Profeta se encontra neste momento? — Era tão estranho para ele, se referir ao irmão desta forma.

Talvez um dos fatos mais impressionantes do Dia da Revolta, não foi Desmond ascender como rei, e sim Nathan, seu irmão frágil e bêbado, se tornar um Profeta. Algo que não havia acontecido no Império desde a fundação da Igreja.

O rapaz saíra em uma peregrinação pouco antes de Desmond retornar de Serpenverda, deixando para a Matriarca Jeanne a responsabilidade de espalhar sua palavra para todos que viessem. Desmond se preocuparia mais com seu bem estar se não soubesse que o irmão é agora, talvez, a figura mais importante de todo o Império.

— Sim, Senhor, no momento, Profeta Nathan está a caminho de Astinia. Ele irá circular o continente inteiro, então deverá voltar a Anizotte em pouco menos de cinco anos.

— Entendo... — Padre Jamie o olhava com curiosidade e apreço, pensando na razão de tais perguntas. — Vamos trabalhar para que, quando meu irmão Nathan voltar, Magra seja o símbolo de paz e liberdade que propomos que seja.

— É bom ser assertivo, relembrar a todos aqui que o Profeta é seu irmão. Boa escolha de palavras. — Gregor o elogiou.

Discussões mais acaloradas tomaram lugar: os juízes que ainda trabalhavam em Anizotte, preocupados com a possibilidade de uma nova revolta; olhares aflitos em direção a ascensão desenfreada de Myles, a tomada da milícia particular. Tudo em nome da defesa de um reino tão recente quanto frágil. Embora tantas preocupações discutidas naquela sala, o dia passou rápido após isto. Com a reunião terminando, pouco a pouco, a sala foi ficando cada vez mais vazia.

— É engraçado ver vocês tentando governar. — O Arquiduque Milanidas comentou, sarcasticamente. Ficara de braços cruzados a reunião inteira, representando em seu canto a força rendida dos nobres da Espada. — Humanos não tem talento para isto.

— E você tem? — Desmond o olhou de canto de olho, enquanto arrumava papeis com diferentes ordens para serem distribuídas através da governança.

— Não tem força, não tem garra. Se diz rei, mas não tem glória.

— Não aceito conselhos de Arknianos falidos. — Desmond grunhiu — É impressionante como vocês não são nada do que tentaram nos doutrinar todas estas gerações. Assim como nos humanos, existem Arknianos honrados como Gaius Tempest, mas também existem fracassados como você.

Desmond caminhou, ficando a um palmo de distância do rosto do Arquiduque. Esse título já não lhe representava mais: seus cabelos negros ressecados, sua pele caramelo estava oleosa. Suas vestimentas quase o faziam parecer como um nobre do Manto qualquer. Tarquinius Milanidas não era mais o glorioso Arquiduque, havia sido rendido, seu castelo tomado por Desmond, e passava seus dias em um calabouço.

Mesmo assim, Desmond não podia mata-lo. Tinha que usá-lo como moeda de troca, no futuro. Tinha que aturá-lo ali, para que pudesse convencer o restante da nobreza a ficar... Não queria ter que usar a força para isto.

— Fraco. — Gregor disse.

— Fraco. — Tarquinius disse, quase ao mesmo tempo. — Este seu "reino" vai cair, seu povo será massacrado diante de seus olhos, e você irá sofrer a maior tortura que um humano pode sofrer, antes de ser morto lentamente.

Desmond não pôde evitar de suar. Mesmo assim não desviou os olhos. Sabia que ele tinha razão, se esta rebelião não se segurasse, se afirmasse na história, o Império viria para um massacre. Tinha que ser forte... Tinha que ser um Rei.

— Augustin! — Desmond rugiu, chamando o antigo prefeito, que agora era seu conselheiro.

— Sim! — Augustin respondeu rápido.

— Mande trazer do calabouço Flochgraben e sua patotinha, chame também El Peletier urgentemente.

— Desmond, eu não sei se—

— É uma ordem, Augustin.

Um silêncio, um pigarro, e depois, Augustin foi obedecê-lo. Tarquinius sorriu sarcasticamente.

━◈━◈
José

— Mais uma! Mais uma! — José gritou embriagado.

O Nobre da Espada, José El Peletier, era apenas uma sombra do que já fora. Seu rosto vermelho e inchado, trocando os passos e falando alto, completamente longe do decoro da nobreza. Seus cabelos cresceram além da conta, e sua barba e bigode por fazer não o deixava nada apresentável. Outros diriam que ele era uma vergonha para sua família.

Tudo porque, enquanto outros nobres da Espada foram presos ou fugiram, ele segurou o lugar, sua riqueza e esforços para encontrar seu amor que havia se perdido durante a rebelião. Quase três semanas se passaram, no entanto, e ainda nenhuma notícia de Gloria Brante.

Ele havia perdido as esperanças.

— José. — Ele sentiu uma mão feminina em seu ombro

— Glória! — Ele gritou, se virando já de braços abertos.

— Não, sai! — Lanna pulou para trás, esbarrando em uma mesa úmida de bebida, sujando seu vestido fino — Vamos, vamos embora daqui imbecil! Esse lugar me dá nojo.

— Senhorita, não fale assim. — O taberneiro gritou com um copo de vidro levantado.

— Eu falo como eu quiser.

— Ela não... — José interferiu, mas teve que levar a mão à boca para impedir-se de golfar. — Ela não falou por mal, não é, querida irmã?

— Falei sim, senhor. — Ela cruzou os braços, tentando ao máximo não encostar em qualquer sujeira do lugar. — Malditos plebeus, nojentos.

— O que disse?! — Não só o taberneiro, mas como outros homens bêbados ao redor do bar se levantaram de seus lugares, irritados. — Acho melhor cuidar do que fala, moça. Não temos mais obrigação nenhuma de te respeitar... — Um deles falou, lambendo a própria mão de forma asquerosa.

Lanna se arrepiou, dando passos para trás, mas segurando a mão de José.

— Anda! Seu fedido.

Eles se retiraram de lá rapidamente, enquanto Lanna mordia os lábios, furiosa.

— Por que eu tenho que te buscar? Que ódio! Que humilhação.

— Meus guardas estão na legião. — José falou enquanto apoiava a cabeça na parede de alguma casa.

— Pois chame-os de volta. Onde já se viu?! Não temos segurança.

— Ora, fique tranquila! — José abriu os braços e sorriu de forma ridícula — O rei é nosso amigo, o Rei!

— Rei... Ele é só um plebeu que deu sorte. — Lanna arfou.

— Não é—

José iria contestá-la, mas sua força não fora o suficiente para conter o extenso vômito que pintou o meio-fio, bem acima de algumas manchas de sangue que restavam da grande revolta.

— Pelos Gêmeos, José.

— Senhor El Peletier... — José pôde ouvir a voz de Augustin o chamando.

Grunhiu. O homem era como um cão de guarda, sempre à postos para chama-lo a qualquer momento que Desmond pedia. Mesmo assim, seu coração encheu-se de esperança... talvez tivessem encontrado Glória, nunca se sabe.

— Rei Desmond te convoca para—

— Para que tanta cerimônia, você sabe que ele não é um Rei de verdade! — Lanna interrompeu.

— Estou aqui para chamar apenas o senhor José. — Augustin retrucou, cansado.

— Estou indo — José assentiu, limpando sua boca. — Espero que seja boas notícias.

E assim ele foi, esperando rever o amor de sua vida de volta, ou ter qualquer notícia sobre o que aconteceu com ela. Mesmo contra todos os conselhos de seus velhos pais, de sua irmã Lanna ou até de seus amigos nobres; os poucos que juraram lealdade à nova Anizotte.

Todos eram contra o seu amor por uma plebeia, ainda mais uma que fugiu antes de se estabelecer como Senhora El Peletier. Todos eram contra o que ele queria, até mesmo a própria Glória.

Em seu percurso até a Prefeitura, tentou se decidir no porquê de ela ter ido embora. Meditou nisto por semanas: será que ela foi com medo de ser usada para atingir seu irmão? Talvez ela estivesse nervosa com o ódio crescente e decidiu fugir com medo. Mas por que o deixar para trás? Por que... por que não o incluir em sua fuga?

A embriaguez ainda não havia passado por completo, e José sentiu lágrimas encherem seus olhos e sua boca enrolar.

— Por favor, cale essa boca, você está gritando! — Lanna puxou sua orelha.

— Gritando? — José levou a mão à boca, mal reparou que estava externando todos os seus pensamentos de forma tão ridícula.

— Ninguém sabe o porquê, não precisa ficar se expondo de tal forma.

— José! — Desmond apareceu à sua frente quando chegaram ao pátio da Prefeitura, onde diversos juízes iam e vinham com papeis e soldados.

As coisas por ali estavam caóticas desde a coroação.

— Des! — José gritou mais alto do que queria, e partiu para um abraço.

Desmond o abraçou por um breve momento, e depois se afastou.

— Andou bebendo de novo, meu amigo?

— Você achou sua irmã? Achou? Tem certeza que ela não morreu por acidente ou coisa assim? — José parecia desesperado.

— Se acalme, homem. — Desmond olhou de volta a Augustin — Traga... traga algo para tirar o gosto de bebida da sua boca, sim.

Augustin assentiu e trouxe-lhe um copo de água. José sentou-se em um banco do pátio e Desmond sentou-se ao seu lado, rapidamente, o esquadrão legionário que o protegia circundou o banco, formando uma guarda pessoal.

— Bem, já o trouxe até aqui, então eu vou para casa. — Lanna cruzou os braços e deu as costas, deixando os homens conversando.

— Espere! — Augustin colocou a mão em seu ombro, fazendo a garota girar imediatamente. — Perdão, senhorita... É que bem, o Rei quer conversar com a senhorita, também.

Lanna arfou, indignada.

— Conversar... aqui? No meio dessa gente toda?

— Não, claro que não. — Desmond respondeu com um sorriso, olhando diretamente em seus olhos. — Venha, vamos à minha sala.

━◈━◈
Lanna

— Espera. Deixe-me ver se entendi. — Lanna encostou a cabeça em uma das prateleiras e fechou os olhos. — Você quer... se casar comigo?

— Exatamente. — Desmond sorriu daquela mesma forma que havia sorrido no refeitório. — Será muito importante, uma forma de estabilizar a situação com os nobres da Espada de Anizotte. Seu irmão será o líder desta nova facção, e vocês irão trabalhar por um futuro melhor para o nosso povo. O que acha, José? E, é claro, assim que acharmos Glória, seu casamento será restaurado.

José sorriu de orelha a orelha e olhou de Desmond à Lanna com muito ânimo. Com certeza ainda estava embriagado. A garota não conseguia acreditar no que estavam a metendo. Queria deixar a politicagem para os homens, queria viver uma vida tranquila e de luxo, já tinha tido a sorte de nascer nobre da Espada... mas agora, aquele maldito plebeu estava estragando tudo.

Lanna cerrou os punhos, pronta para dizer não com toda a força que conseguiria reunir naquele momento. Não podia mais se deixar levar pelo irmão, tinha que assumir o controle de sua vida e fugir daquele lugar enlouquecido; haviam todos ficado malucos? Desmond nasceu plebeu, e mesmo assim todos o chamam de Rei? Não podia aceitar. Ela era bonita, refinada e jovem, e há tempos ficou sabendo da temporada de bailes que haveria em Eterna e Silter, poderia arrumar um parceiro fácil! Tinha que ir, não aceitaria se casar com um plebeu que está brincando de ser Rei.

Um homem de armadura colocou a mão em seu ombro de repente. Seu toque era duro, severo, como uma ameaça, mas seu olhar... Lanna não conseguia decifrar o que se passava na mente daquele jovem militar. Sua armadura era negra, com o símbolo de Magra no peito; seu cabelo bem cortado, castanho claro, e um rosto quadrado num corpo esculpido. Lanna tremeu levemente.

— Não se preocupe, senhorita. — Ele disse. — Não precisa agir como uma esposa, de verdade.

— Myles tem razão, senhorita Lanna. — Desmond se aproximou.

— Myles, é... — Lanna sussurrou, registrando. — Me diga, Desmond.

— Sim.

— Onde viveremos?

O homem pareceu olhar para o lado, como se sua atenção se desviasse por alguns instantes. Só então ele voltou o seu olhar para a menina

— Sim... tem razão... farei os preparativos para mudar meu escritório. Iremos para a casa Milanidas.

Os olhos da garota brilharam. Talvez esta não tenha sido uma má ideia.

━◈━◈
Desmond

Com a proposta de casamento e o pedido para mudar para a Casa Milanidas, Gregor pareceu sumir por um tempo. Ele foi embora com um sorriso no rosto, Desmond imaginou o porquê. Lanna ainda parecia desanimada, então, com a chegada do crepúsculo, Desmond a puxou de sua sala e a trouxe para a entrada da Prefeitura.

Juntaria o útil ao agradável.

Seus soldados se colocaram à frente dele, enquanto Desmond abria os braços, chamando a atenção dos plebeus que movimentavam o mercado, retirando suas barracas e tendas, fechando mais um dia; vários ali eram refugiados de outras cidades de Magra; vários que vieram à capital em busca de uma vida melhor e encontraram apenas mais desespero. Todos viam em Desmond uma esperança de mudança, um futuro próspero. Mais importante: viam nele algo que Egmont, Adam e Sophia não conseguiram entregar.

Aos poucos, os trabalhadores perceberam a presença de Desmond nos portões da Prefeitura e fizeram um sinal de reverência. Assim que o rapaz levantou a mão, todos que se reuniam para ouvi-lo falar se calaram, esperando um discurso.

— Povo de Anizotte, queridos habitantes! — Ele levantou a voz para falar. A luz do pôr do Sol refletia levemente em sua coroa prateada — Veja como nossa cidade é impressionante, quem poderia dizer que há menos de um mês, tamanho massacre acontecera nesta mesma praça. Eu saúdo nossa habilidade em mudar, restaurar, mostrar para nós mesmos que somos um povo livre, que não podemos ficar parados diante o futuro!

Desmond caminhou, descendo lentamente os degraus da Prefeitura, ficando frente a frente de um plebeu.

— Somos nós que escrevemos nossa própria história, nosso próprio Destino. Os Gêmeos nos perdoarão por nossos erros, a mim e ao meu irmão nos foi dito isto. Sabe o que significa? Temos que tentar. Temos que mudar o mundo, movimentar as engrenagens congeladas da história, juntos! Eu serei seu líder nesta empreitada, e aqui, diante de todos, anuncio algo muito importante em minha vida. — Desmond falou, voltando os degraus e alcançando a mão de Lanna, que estava parada ali. — Meu coração escolheu nossa futura rainha esta tarde.

Ele levantou a mão de Lanna, entrelaçando seus dedos nos dela. A garota quase deu um passo para trás, encarando os olhos de toda uma população que brilhavam ao vê-la. Muitos já começavam a bater palmas, gritar e saudá-la, chamando-a de Rainha. Ela respirou fundo e sorriu, segurando com ainda mais força a mão de Desmond.

— Esta é Lanna El Peletier! Vejam nela uma líder, assim como veem em mim! Em poucas semanas, no dia do festival, será nosso casamento!

Desmond sorriu, recebendo a salva de palma das quase uma centena de pessoas que se reuniram de ultima hora só para ouvi-lo falar. Clamavam pelo rei. Chamavam por ele, gritando seu nome.

— Veja, meu neto. É assim que um verdadeiro Rei é tratado. — Gregor sussurrou em seu ouvido.

Desmond concordou com seu avô

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