Capítulo 7 - Tormento
Yvaine ainda se lembra da dor de ter a mão cortada sem nenhuma anestesia. A partir do momento em que ela se tornou, "imperfeita", ela já não servia mais como médica.
A infecção se alastraria pelo corpo por isso, a sua mão, já infectada, foi o alvo. Os olhares frios dos outros médicos demonstraram algo que ela já sabia. Para eles e para a sociedade atual, qualquer deficiência, mesmo que você tenha a adquirido, te tornava um excluído.
Yvaine já sabia disso. Ela percebeu pelo modo com que tratavam os pacientes. Porém, agora ela entendia realmente quem a agência Conner era de verdade.
A mulher de cabelos loiros estava em meio aos destroços, ela procurava alguém incansavelmente. O lugar onde ela estava era sujo e coberto de uma fumaça tóxica para quem nunca havia sido vacinado.
Yvaine tossiu, levando a mão à boca, como ela havia sido educada. Seus cabelos estavam sujos, e as suas roupas também. A calça jeans não impedia a dor de estar ajoelhada em meio a pedras mas, ela precisava continuar. Se não fosse ela, não seria mais ninguém.
Ela continuou procurando, com o coração angustiado e palpitante. A esperança estava ali mas, o medo também a acompanhava. Até que ela achou alguém. O sorriso apareceu em sua face e o seu coração se aqueceu.
"Finalmente, finalmente." Ela pensou, aliviada. "Eu o encontrei, querido."
Porém o sorriso se desfez quando Yvaine notou que os cabelos do indivíduo eram loiros e não escuros, o rosto não era o mesmo. Então, não era ele. Não era o seu Thomas.
Yvaine se afastou, ela deveria continuar procurando. Mas, as lágrimas já começaram e escorrer pelos seus olhos. Ela continuou procurando, até as suas mãos estarem machucadas, até o sangue dela começar a enfeitar as pedras. Porém, mesmo assim. Apesar de todo o seu esforço, a médica não o encontrou.
Yvaine finalmente, se levantou. Ela entendeu que não havia mais esperança para encontrar o seu Thomas. Agora, os soluços vieram em peso e as lágrimas o acompanharam. Ela caiu no chão sujo, de joelhos e se permitiu sentir aquela dor.
Por um tempo, o único ser vivo que havia naquele lugar frio e de pouca luz, era uma médica tomada pela tristeza. E o único som a ser ouvido, era o seu lamento.
------
Quando Yvaine voltou para o submundo, ela encontrou R e a garota nova, N. Nesse momento, a doutora já havia se recompôsto. Ainda haviam olheiras em seus olhos e um rosto inchado indicava que havia chorado. Mas, os cabelos estavam arrumados e o suas roupas brancas, estavam agora, limpas. Ela não poderia demonstrar fraqueza. Nesse momento seu lado médico entrava em ação e deixava o pessoal de lado.
Já fazia 10 dias que a nova integrante chegou. Mas, apenas hoje que ela a estava conhecendo. Yvaine, se alegrou ao ver alguém salvo daqueles seres horríveis.
Ela caminhou pelo local
A tenda era um dos poucos lugares em que ela podia atender ali no submundo. Era esterelizada e possuía já os mantimentos necessários para qualquer atendimento simples.
Yvaine se alegrou ao ver o sorriso das pessoas ao vê-la. Ela se orgulhava de pode ajudar essa pessoas. Talvez uma das poucas médicas que se importava. E por conta disso, algo dizia a ela que a sua infecção poderia ter sido algo forjado.
A doutora montou a tenda e dentro dela havia uma jovem com queimaduras e um olhar triste e decepcionado. Com certeza, o mundo dela havia desmoronado. Yvaine sorriu, tentando trazer conforto à jovem mas, aquelas cicatrizes demorariam para cicatrizar. As que mais precisavam de tempo, eram as da mente e a do coração.
"Olá, N. Sou a doutora Yvaine, muito prazer." Ela estendeu a mão mecânica que foi apertada e observada com curiosidade.
"Prazer, doutora." A garota sorriu. As queimaduras já haviam melhorado mas, infelizmente a cicatriz que cobria do olho até o fim da bochecha direita, permaneceria.
Yvaine deu essa notícia sem sorrir. E sentiu pena quando N desviou o olhar para baixo e apertou as mãos, frustrada. Ninguém poderia entender a dor daquela garota, como ela.
"Você também foi descartada por eles?" N apontou para mão mecânica, tentando encontrar uma identificação com alguém.
"Sim, eu fui." Yvaine respondeu, apertando os seus dedos mecânicos. "Mas, descobrir a verdade é melhor do que viver em um sonho para sempre. A realidade nos torna fortes." Ela sorriu, mostrando os medicamentos para N.
"Doutora. Doutora." alguem chamou por ela. Yvaine a observou, assustada. Um homem a chamava em um tom urgente.
"O que aconteceu? Alguém se machocou?" Ela se levantou, preocupada.
"Não." O homem negou. "Há agentes aqui. Se você não for até eles agora, eles entrarão."
"Não se preocupe. Darei a eles, o que eles querem." Ela disse, determinada.
"Avise a R o meu caso, tudo bem?" Ela olhou para N e a jovem, confirmou, assustada.
"Você vai ficar bem?" N olhou para ela, preocupada.
"Sim. Não se preocupe." Ela deu um sorriso fingido. Ela realmente não sabia se ficaria bem mas, não podia demonstrar.
Yvaine foi em direção à saída e como o esperado, uma voz conhecida, a de ME, falou em seu comunicador.
"Ei. Não tenha medo. Se lembre do do plano. Nós o revisamos milhares de vezes. Mas, infelizmente não poderemos nos comunicar a partir de agora. Você sabe o que fazer. Isso foi inesperado mas, eu havia previsto. É isso, Trabalharemos com o que temos. Boa sorte. "
" Direto como sempre, ME. Obrigada." A doutora respondeu com um sorriso. E removendo os comunicadores, os jogou no chão e pisou em ambos, os destruindo.
Os auxiliares a esperavam, nenhum ser humano sem inteligência, correria o risco de pisar no submundo. Com medo de serem infectados pela imperfeição ou de serem mortos. Bem, a segunda opção fazia mais de sentido.
Os auxiliares já apontavam armas para Yvaine e a mulher apenas sorriu, levantando os braços em rendição. "Se acalmem, eu não vou relutar. Vamos lá, não precisam de armas."
Os robôs a ignoraram e não abaixaram as armas e indicaram que ela entrasse na grande combe.
Yvaine respirou fundo ao se sentar e os seus algozes, abaixaram as armas. Ela observou o cenário pela janela enquanto se afastavam do submundo e iam em direção ao instituto de perfeição e vida nova, das indústrias Conner.
Só de pensar naquele lugar, ela sentia uma ânsia em seu estômago. Os horrores que presenciou naquele local a assombravam até hoje. O choro de crianças ainda trazia pesadelos que a faziam acordar no meio da noite.
Na primeira vez que foi até aquele instituto, Yvaine planejava vingança. Agora, cada pedaço do seu ser se preenchia ainda mais de ódio e repulsa. Ela estava pronta para destruir aquele local nojento.
------
O túnel indicada que eles haviam chegado, a tontura tomou conta dela ao entrar no subsolo totalmente branco. Quando estacionaram, ela foi a primeira a descer.
Yvaine os seguiu até o local de pesquisas. O enjoo retornou ao pensar naquelas pobres crianças sofrendo e naquelas pessoas que não sabiam de nada. A única coisa que a deixava aliviada, era que esse terror começaria a deixar de existir.
Porém, ela não foi recebida por choros. Naquele instante, seu lado egoísta apeteceu, preferindo que esse com estivesse presente ao invés daquilo que lhe causou tanta dor.
A sua frente estava o seu Thomas, os olhos escuros e os cabelos negros. Porém, seu sorriso não era gentil. Aquele não era ele. Era apenas uma forma de atormenta-la.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro