Capítulo 2 - O Vírus
V064 acordou em sobressalto, com o coração acelerado e a respiração ofegante. Ele olhou em volta e percebeu que estava em seu quarto. Uma sensação estranha tomou conta dele, o garoto não entendia a razão de estar com medo.
V se levantou e quase caiu. Parecia que havia algo faltando em sua memória, ele não se lembrava de ter voltado ao quarto na noite de ontem.
Sua cabeça já doía quando se sentou na cama novamente. Porém, o alarme soou e ele teve que se levantar.
O espelho o analisou como ocorria todos os dias:
"Reconhecido : Indivíduo: V064,....
estado : confuso mas, perfeito. "
"Você pode recapitular o meu itinerário de ontem?" V pediu educadamente.
"Nada fora do normal ocorreu." O espelho respondeu em sua voz monótona. "A sua rotina foi a mesma de sempre. 7:00 despertar, 7:30 corrida, 8:10 café da manhã, 9:00 aula 1, 10:00 aula 2, 11:00 aula 3, 12:00 almoço 12:30 lazer na área conjunta de atividades, 13:00 aula 4, 14:00 aula 5, 15:00 aula 6, 16:00 - momento de relaxamento e soneca, 17:00 academia, 18:00 leitura noturna, 19:00 - atividade em grupo, 20:00 jantar, 21: 00 - sessão de cinema : "Como o vírus exterminou a raça humana." e 22:00 - horário de dormir.
"Não havia ninguém comigo?" Ele teve a sensação de que deveria perguntar.
"Claro que não. Se houvesse, eu lhe diria." A voz respondeu sem emoção e dessa maneira, V064 sem nenhuma opção, seguiu a rotina como de costume.
A corrida do dia foi monótona, V sentia falta de algo e aquilo não o agradava. Ele não era louco, era? V064 não costumava ser alguém que questionava as regras mas, essa sensação o incomodava. E ele sempre confiou em seu instinto.
A corrida terminou e ele voltou para o café da manhã. Ele olhou para a cadeira à sua frente. Faltava alguém ali. Mas, V não se lembrava quem, e isso o estava enlouquecendo.
Ele olhou ao redor e notou que não parecia haver nada fora do normal. Porém, seu instinto lhe disse que ele deveria escutar e foi o que fez.
Em meio ao barulho de garfos e dentes mastigando a comida, podia-se ouvir conversas. E ele ouviu dois nomes conhecidos: T026 e o R052. O som desses nomes fez com que V largasse o seu garfo e parasse a sua alimentação. Alguém havia dito esses nomes a ele, mas quem?
Após o almoço, ele foi para a área conjunta de atividades, esperando encontrar uma resposta para a pergunta que estava enlouquecendo a sua mente.
Todos no local vestiam branco, como já era esperado. A sala também era branca. Desde sempre, V imaginou que para se divertir, deveria haver um pouco mais de cor. Mesas também enfeitavam o local, elas possuíam ao seu redor, 4 cadeiras no máximo. Ao redor, tínhamos uma televisão e filmes antigos, afinal, não havia ninguém para produzi-Los hoje em dia. E claro, livros também antigos.
V gostava de ir ali e ler sobre como era o mundo antes do vírus, tudo bonito com verde e colorido e pessoas felizes sorrindo.
"Essa é a vida que vocês terão no futuro. Quando o vírus se for. A vida que estamos construindo para vocês. A vida que muitos não terão a oportunidade de ter pois, elas foram destruídas."
Esse era o discurso que contavam a eles. Agora, V se perguntava se era verdade. Mas, o medo do vírus, o medo da morte, o atormentava. O tremor o atacou novamente. Uma lembrança de algo que ele não se lembrava, algo que seu cérebro não podia processar mas, de alguma forma, o seu corpo sim.
"Ei cara, tudo bem?" Uma garota asiática de cabelos channel o olhava como se ele fosse uma aberração de circo.
V olhou para ela, removido de seu transe. Ele estava tremendo e isso poderia tê-la assustado.
Com um sorriso falso, a resposta veio de forma natural :
" Estou bem, obrigadado. Só me distrai com essa história. Fico emocionado lendo." Ele mentiu com a sua melhor expressão.
A garota pareceu acreditar e logo deu de ombros e foi se sentar em uma mesa. V notou que havia um lugar vago e resolveu ocupa-lo. Inimizades não eram permitidas ali. Por isso, a chance dele ser expulso era nula.
Todos olharam para ele com uma expressão surpresa. Talvez o grupinho já se reunisse ali, o único momento possível já que, apenas duplas eram permitidas nas atividades fora das aulas.
Mesmo assim, logo a surpresa foi substituída por sorrisos maliciosos e um sussurro veio da garota de channel: "Ei novato, você conhece o caso de T026 e o R052? Sabemos que é fofoca mas, você sabe, não há nada novo para se divertir aqui, além disso."
V arregalou os olhos, realmente a informação estava correndo por ai, ele esperava que pudesse ajudá-lo.
"Ouvi falar alguma coisa." Ele sussurrou, fingindo montar um com um quebra cabeça fácil demais, que estava na mesa. "O que vocês sabem sobre?"
"Bem, disseram que eles estavam juntos, afinal nossos corpos não podem ser corrompidos." Sussurraram com malícia.
V juntou as mãos e pós os cotovelos acima da mesa, olhando o quebra cabeça enquanto pensava. Aquilo fazia sentido mas, as memórias dos indivíduos não poderiam ter sido apagadas? Com certeza foi o que fizeram com a dele.
" Hmm. " Ele pensou mais um pouco e uma informação veio a sua mente. "Ouvi dizer que eles estavam doentes."
"Sim. Mas, que doença não pode ser curada? Talvez o vírus?" Um ruivo disse e a sua expressão de curiosidade se torno de terror.
V agarrou a mesa, apreensivo. Ele nunca imaginou que algo do tipo seria possível. O vírus poderia ter chego até eles? Mas, aquele lugar não era a prova do vírus? O medo tomou conta dele porém, ninguém naquela mesa teve tempo de processar nada. O sinal tocou indicando o início das aulas e eles não tinham permissão de se manifestar.
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As aulas foram angustiantes. A dúvida afogava V064 em um estado de medo intenso. Ele pensou em falar com algum professor mas, algo o impediu. Um instinto de sobrevivência que lhe dizia que aquela não era a melhor opção.
Enfim, ele chegou ao quarto e para a sua surpresa, a coisa mais estranha aconteceu. Alguém falou com ele, alguém que não estava ali, naquele quarto. Afinal, sua visão era ótima e não se podia ver ninguém ali.
"Finalmente você entrou. Mas que rotina chata, ein. Como você aguenta? Estou esperando a um tempão."
V pensou que estava enlouquecendo. Que voz era aquela? O medo tomou conta dele novamente. Seria o vírus? Ele estava infectado? Ele desapareceria como T026 e o R052?
V064 tremeu, a porta foi fechada e ele se sentou no chão, tomado pelo pânico, sem auxílio algum. Até a a presença da voz retornar, de uma maneira calma e suave, mesmo sendo uma voz masculina grave, ela trouxe conforto e confiança a V.
"Ei, V064. Respire fundo, ok? Inspire e expire, inspire e expire." V fez o que lhe foi pedido e começou a se acalmar. "Muito bem, você é bom."
Quando V finalmente estava respirando normalmente, a voz curiosa perguntou :
"Eu sei que a minha presença te causa dúvidas mas, minha curiosidade está me assombrando. Fui eu que te fiz ter um ataque de pânico?"
E sem entender o porquê devia uma reposta a um estranho, mesmo que o mesmo tivesse o ajudado, V respondeu, confiando de uma maneira inexplicável nele:
" Eu estava pensando no vírus, se eu fui infectado com o vírus. "
A voz silenciou por alguns segundos.
"Bem, talvez não tenha outra maneira de dizer isso." V ficou tenso ao ouvir aquela frase,seu corpo se arrepiou quando o homem misterioso continuou. " Dizem que costumo ser muito direto mas, não vejo outra maneira de te contar isso." Ele deu um suspiro longo antes de continuar :" O vírus não existe, V. Ele foi erradicado há mais de 50 anos."
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