O início da missão
Viktor estava mesmo me beijando? Então essa era a recompensa por abrir a caixa? E eu retribuí o beijo? Estava tão confusa, um turbilhão de pensamentos embolados passavam pela minha cabeça, não sabia o que fazer, até que parei e falei:
— Preciso ir! Está na hora, o sol está se pondo!
Simplesmente saí correndo, deixando para trás um frustrado garoto num carrinho de supermercado. Não sabia se tinha alguém por perto para empurrá-lo para outro local, esqueci desse detalhe, e quando lembrei já estava na metade do caminho.
Corri ainda mais achando que me atrasaria, até ver a placa de madeira com desenho de livro. Havia chegado na biblioteca, entrei ali e vi algumas pessoas reunidas sentadas no chão.
Ali estavam a professora da escola, o dono da oficina que é meu pai, minha mãe, os pais de Kumiko, uns quatro catadores, sendo eles dois homens e duas mulheres, dois outros homens que eu não conhecia, e o próprio Ancião.
O Ancião estava em pé e apesar de seu sorriso calmo, o ambiente parecia tenso pois os convidados estavam nervosos, era perceptível, alguns suavam, outros mexiam as mãos como que num tique ansioso, e a professora sussurrava algo baixinho, quase inaudível, talvez para tranquilizar a si mesma. Eu queria parecer imponente, forte, alguém em quem colocariam confiança, então tentei me manter tranquila.
Talvez não tenha transparecido tanta paz e calmaria como o Ancião, mas foi uma boa tentativa. À luz de lâmpadas incandescentes douradas, numa noite de ventania, aqui que iniciaria tudo, e minhas perguntas finalmente seriam respondidas.
— Boa noite a todos, irei começar contando um pouco de história e algumas informações, pois temos uma nova convidada entre nós, e após esse momento, iniciaremos a busca por mais detalhes através do tablet que se encontra com George Lynch — o Ancião explica.
Gosto de ouvir histórias, o que me deixou animada e atenta a escutar. Ele continua:
— O mundo fora do Depósito é perigoso para nós desde a Grande Guerra Higienista, teve outras pequenas revoltas, mas essa maior foi aquela que criou essa enorme separação, assim hoje existem os Cidadãos, os Rebeldes e os Imperfeitos. Por não sermos Cidadãos, vivemos escondidos em locais que eles ignoram a existência...
— Eu posso sair um pouquinho, por favor? Preciso respirar — a professora interrompeu.
A história é difícil para ela contar, sempre evita, dando um jeito de sair ou de resumir rapidamente e logo inventar uma ocupação esporádica. Nunca entendi esse medo dela, e não imaginava que faria isso numa reunião de emergência dessas. O Ancião olhou para baixo, um pouco entristecido e decepcionado, talvez pela falta de resistência da professora, mas ele disse:
— Dalila, pode ficar no fundo da biblioteca e ler os livros que quiser, depois mando te chamarem quando for necessário. Tudo bem?
Ela rapidamente assentiu com a cabeça e logo foi atrás de algum livro. E a história continuou:
— Os Cidadãos são muito diferentes de nós, e isso é percebido durante a transição de um novo Rebelde, mas faz um tempo que não aparecem Rebeldes aqui, o que me faz pensar que suas normas de segurança ficaram mais impenetráveis, dificultando a fuga. Às vezes escolhemos pessoas para ajudar em operações de resgate quando sabemos que algo ruim está acontecendo, mas essa escolha é com base em idades e características próximas da pessoa a ser resgatada, de modo que não enviamos qualquer um para evitar certos riscos.
Acho que eu estava entendendo o porquê de terem me chamado, parece que achavam uma boa escolha para uma operação de resgate. Só que tinha um porém, era muito perigoso, essa possibilidade me assustava, embora o Ancião estivesse tranquilo.
Senti vontade de enviá-lo para o meio dos Cidadãos, mesmo sabendo qual seria seu destino se fosse visto. Ele não poderia me convencer a participar de uma operação, eu jamais aceitaria, prefiro minha vida monótona e segura aqui no Depósito, do que correr risco de morte.
O Ancião chamou um dos homens que eram desconhecidos a mim, e pediu que fosse trazer a professora de volta para que fosse decidido alguns detalhes da operação. Assim tive certeza que era o momento de impor minha vontade, eu sou útil na oficina, tenho trabalhos a fazer, eles que escolham um substituto no meu lugar.
Meu pai entregou a tela de vidro ao Ancião, que clicou no botão, aparecendo novamente numa luz azul aquelas palavras estranhas em outra língua.
..._ _ _...
— Isso é código morse, novata. Um código usando conjuntos de pontos e traços representando letras do alfabeto para se comunicar, usamos ele pois foi extinto e geralmente os Cidadãos tem dificuldades de decifrá-lo. Esse código que vemos tem as letras S. O. S., que significam "socorro". Rebeldes descobrem o código morse ao buscarem informações em locais escondidos, então temos aqui uma Rebelde bem preparada — explicou o Ancião.
Ele apertou o botão novamente e apareceu uma garota azul de cabelos crespos que parecia ter chorado pois estava com marca de lágrimas no rosto. Ao apertar pela terceira vez, a garota começou a falar:
— Sou Celine 17, do Distrito 987, divisão de cuidados vitais. Não sei quem verá essa mensagem, mas peço sua ajuda, preciso sair daqui antes que eu vá para o número 18, é mais difícil fugir a partir do número 18. Não tenho tempo para explicações, basta dizer que descobri coisas terríveis, e se apertar novamente, encontrará a localização de onde estou. Enviei também um disfarce e outros itens importantes no baú...
A garota olha para trás, amedrontada, e grita para outra pessoa que não aparece:
— Preciso ir agora, meu tempo acabou! Como desliga isso aqui?
Então a transmissão foi encerrada abruptamente. Estendi a mão para o vazio, como se pudesse puxá-la pelo braço e tirá-la dali, onde sofria tanto, então de forma instantânea eu mudei de ideia sobre não fazer nada e continuar meu trabalho de sempre na oficina, sei que é estranho isso, mas ela precisava da minha ajuda.
Celine 17 era uma garota parecida comigo que estava em perigo, e por mais que eu não tivesse muitas informações, nem soubesse nada sobre ela, decidi salvá-la do que quer que fosse a ameaça que estava passando. Vê-la ali na minha frente deu a impressão de que poderia tocá-la, mesmo que a cor azul não transparecesse realidade.
Minha mãe começou a chorar e me abraçou dizendo:
— Filha, deve ter outra pessoa aqui no Depósito que possa te substituir nisso, não precisa ir. Tem que ter outra da mesma altura e que caiba naquele vestido! Ancião, diga que tem outra!
— Infelizmente não tem outra, Kumiko é muito baixa, Amelie tem síndrome de down, não pode ser um menino, e outras são crianças, bebês ou mulheres. Precisamos de uma adolescente da idade e tamanho próximo de Celine _ lamentou o Ancião.
A professora tremia, mas ela conseguiu dizer baixinho:
— Ayana pode recusar a missão, podemos fingir que nunca encontramos esse baú.
A mãe de Kumiko olhou para mim, encarando atentamente, parecendo estar observando um detalhe importante, e então ela deu um tapa no rosto do Ancião e disse em alta voz:
— Seu idiota! Quer enviar a garota para a eliminação? Olhe, ela não tem um braço! Não pode ir e você sabe disso! O que você tem contra Ayana para fazer isso? Só porque é o Ancião, não significa que faz o que quer, podemos muito bem expulsá-lo daqui!
Suspirei. Ah, estava impaciente. Não queria tanta confusão, a decisão final era minha. Por que estavam se intrometendo em algo que só diz respeito a mim? Desnecessário isso.
A briga continuava. O pai de Kumiko segurava a esposa, o Ancião havia se encolhido em um canto encostado numa estante de livros, a professora sentada no chão sussurrava baixinho e mexia o tronco para frente e para trás, o meu pai conversava algo com minha mãe enquanto ela fingia ignorá-lo de braços cruzados, os quatro catadores apenas pegaram uns livros com imagens e ficavam observando, e os dois homens desconhecidos simplesmente desapareceram.
Toda essa bagunça estava me dando dor de cabeça, e pra acabar logo com isso de uma vez por todas, gritei:
— Eu aceito essa missão!
Saí da biblioteca, deixando todos olhando estupefatos para a porta.
Uma decisão imprudente? Talvez.
Vi os gêmeos Rafael e Daniel, junto com Elijah, que estava segurando o ombro de Amelie e sendo conduzido por ela.
Lembrei do que a mãe de Kumiko havia dito, e pensei que precisava dar um jeito no que era só um detalhe irrelevante para mim, mas poderia ser algo perigoso no mundo dos Cidadãos. Falei aos gêmeos:
— Preciso de um novo braço, mas tem que ser um que pareça real.
Eles se encaram confusos, depois olham para mim, e Daniel pergunta:
— Você está bem? Magoou Viktor, saiu da reunião sozinha, e agora pede um novo braço. Sabemos que todos saem das reuniões juntos, exceto o Ancião, é claro.
— Não posso dar detalhes, mas vou numa missão de resgate. Só isso que precisam saber — respondi a eles.
Amelie me abraça e diz:
— Ayana, promete pra mim que vai voltar logo? Eu vou sentir muitas saudades.
Abro um sorriso, é muito bom ter uma amiga como Amelie, por mais que ela seja irritante em alguns momentos. Ao menos os momentos fofos e carinhosos são mais abundantes do que as birras e implicâncias, o que compensa bastante na nossa amizade. Respondo:
— Talvez demore um pouco, Amelie. Mas saiba que eu vou voltar, tudo ficará bem, e ainda trarei uma nova amiga para o Depósito. Enquanto eu estiver fora, cuide das crianças menores por mim, elas precisam de ajuda.
Ela abraça ainda mais forte, dizendo:
— Eu prometo que vou cuidar muito bem delas, e é uma promessa de amuleto, que jamais deve ser quebrada.
Amelie pega uma presilha de cabelo amarela, coloca em minha mão e diz:
— Não esquece de mim, e esse é o amuleto que você vai carregar. Se eu quebrar a promessa, você vai saber, porque ele desaparece quando isso acontece.
Olhei para o cinto que costumo carregar com ferramentas penduradas, encontrei um prego. Perfeito, o prego serviria como amuleto:
— Amelie, se o prego sumir é porque não estou bem e não tem como mais retornar para casa, então a promessa foi quebrada. Mas se o prego continuar com você, significa que vou voltar.
Ela assente com a cabeça, dizendo:
— Sim, sim, Ayana vai voltar.
Elijah interrompe o momento entre amigas e afirma:
— Ayana, você precisa falar com Viktor imediatamente. Estamos preocupados, ele disse umas coisas estranhas, então o amarramos na cama para não escapar rastejando ou algo do tipo.
Ok, mal tinha resolvido esse impasse na reunião e já havia surgido outro problema para solucionar, mas não deveria ser tão difícil assim.
Era apenas o início da minha missão.
Oiii, meus robozinhos incríveis!
Sim, voltei com Imperfeitos! Que surpresa agradável, né?
E olha que demorou bem menos do que eu esperava
Agora a missão de resgate começou e já iniciou complicada
Como será a conversa de Ayana com Viktor? Estão curiosos?
Que perigos aguardam Ayana no Distrito 987 quando for resgatar Celine?
Como ela mesma disse, é apenas o início, tem muito mais pela frente
Beijinhos metálicos para meus robozinhos incríveis, aproveitem a leitura,
Jojo!
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