vinte e sete | i r m ã o
O despertador avisa que é hora de levantar.
Espreguiço, esfrego meus olhos e me levanto.
Antes de entrar no banheiro, noto que Mike está acordado.
— Ei, belo adormecido... — Cumprimento. — Acordou cedo.
— Ei, Elisa. Pois é... Eu apaguei depois do jantar. Acho que comi demais. — Cerra os dentes.
— Estava bom?
— Muito! Estava com saudades de comida de verdade.
Sorrio.
— Cody fez questão de trazê-la para você.
— Ele é um cara legal, né? — Mike dá um meio sorriso, enquanto dobra seu cobertor. — Me sinto meio culpado por ter batido nele aquele dia.
— Meio?
— Meio. Ah, qual é? Ele quebrou meu nariz!
Dou uma risada.
— Vou tomar uma ducha. Já volto para tomarmos café juntos.
— Ok.
Fecho a porta e tiro meu pijama, entrando debaixo da água quente do chuveiro.
Tomo um banho rápido para despertar e escovo meus dentes. Depois, enrolada na toalha, vou até o quarto e visto meu uniforme.
— Cereal? — Mike oferece, logo que chego à cozinha.
— Valeu.
Aceito a tigela e acrescento leite.
— E então, como foi o jantar? — Ele me pergunta, se sentando.
— Foi... Bom. Tudo dentro dos padrões. — Respondo, com a boca cheia.
— Legal.
— Ei, Mike... Você conhece uma garota chamada Quinn Daves?
— Claro, é a ruiva gostosa que mora há algumas quadras daqui. — Ele responde com naturalidade. — Por quê?
— Curiosidade. — Desconverso. — Ela também estava no jantar.
— Ah, não me surpreende. Ela vive atrás do Tyler, como um cachorrinho.
— Já percebi isso mesmo.
Mike me encara, com um meio sorriso.
— Impressão minha ou você não vai muito com a cara dela?
— Tenho motivos para isso.
— Quais? — Ele come outra colherada de cereal.
— Ela derramou um copo inteiro de cerveja no meu vestido.
— Hum. E o que mais?
— Colocou algo em minha bebida que me fez apagar no meio de uma festa.
— Wow! Pesado! Por que ela fez isso?
Encolho os ombros.
— Sempre achei ela meio louca. — Ele comenta. — Espera... Você está na lista do Tyler, não está?
— Um grande mal entendido.
— Certo...
— É sério!
— Tudo bem, acredito em você. Mas agora a implicância da Quinn contigo fez sentido. Ela morre de ciúmes do Tyler. Vive fazendo loucuras por ele.
— Que patético.
— Também acho.
Sorrio.
— Bem, hora de trabalhar. Nos vemos mais tarde.
— Ok.
Dou uma piscadinha para Mike antes de deixar a casa.
Caminho até a mansão e logo estou na cozinha.
— Bom dia, Eleanor!
— Bom dia, heroína. — Eleanor me recebe com um grande sorriso.
— Ah, para com isso. — Dou uma pequena risada e lavo minhas mãos antes de começar a preparar o café da manhã dos Abrams.
— Gostou do jantar?
— Estava maravilhoso! Você, como sempre, arrasou!
— Ora, é só o meu trabalho. — Ela gesticula, fingindo encabulamento.
— Ah, quanta modéstia. — Respondo em tom de brincadeira.
Eleanor retribui meu sorriso e me passa as coordenadas.
Algum tempo depois, finalizamos.
— Vou servir a mesa. Você pode levar o café da manhã para o seu amigo Tyler, em seus aposentos?
— Engraçadinha. — Sorrio sem humor.
— Obrigada. — Eleanor pisca e vai para o outro cômodo, enquanto eu pego a bandeja e me encaminho para o andar superior.
Bato à porta e logo ouço um: "Pode entrar".
— Com licença. — Abro a porta do quarto e logo meus olhos encontram os de Tyler. — Trouxe seu café da manhã.
— Obrigado, Elisa.
Deixo a bandeja na mesa próxima à sua cama e cumprimento a enfermeira, Rose.
— Bom dia.
— Olá, bom dia.
— Rose, será que você poderia nos dar licença um minuto, por favor? — Tyler pede.
— É claro. Qualquer coisa, é só me chamar.
— Obrigado.
Rose sorri e sai, porta afora.
Olho em volta, como que procurando por outra pessoa.
— Quer falar comigo?
— Você já se certificou de que estamos apenas nós dois aqui, então...
Sorrio.
— Ok. Pode falar.
— Obrigado.
— Pelo o quê?
— Por passar a noite comigo no hospital e ouvir meu desabafo.
— Disponha.
É a vez de Tyler sorrir.
— Tenho uma boa notícia.
— Estou ouvindo.
— Seu nome está oficialmente fora da lista.
— Jura?
— Juro. É o mínimo que eu poderia fazer por você.
— Obrigada, Tyler.
— Tudo bem.
— Você descobriu quem colocou meu nome nela?
— A pessoa mais óbvia possível.
— Quinn?
Tyler aponta.
— Eu sabia! — Penso em mil xingamentos, mas não pronuncio nenhum em voz alta. — Ela é meio louca, não?
— Por mim? Tenho quase certeza que sim.
Reviro os olhos.
— Você é tão patético.
Ele ri.
— Mas... E então, você e Dan...
— Nós estamos nos conhecendo.
— Legal. Dan merece uma garota como você.
Sorrio fraco.
— Você e Quinn também parecem estar... Bem.
Tyler estala a língua.
— Quinn e eu não estamos. Foi meu pai quem a convidou ontem.
— Você não me deve satisfações, Tyler.
— Eu sei disso.
Consinto e fito meus pés.
Ele se levanta e para, bem próximo a mim.
— Eu realmente gostaria que tivesse sido diferente, Elisa.
Encaro seus olhos azuis. Sinto-me queimar.
— Sobre o que você está falando?
— Nada. — Ele fecha os olhos por um segundo e logo se afasta. — Deve ser o efeito do analgésico.
Dou uma pequena risada.
— Nem sempre as coisas são como queremos.
Tyler consente.
— E você... — Pigarreio. — Como está?
— Me recuperando. Logo estarei cem por cento.
— Que bom.
— É.
Suspiro.
— Bom... Preciso voltar ao trabalho, então...
— É claro. Obrigado pelo café. — Ele aponta.
— Por nada. Até mais.
— Até.
Dou um último sorriso antes de deixar seu quarto.
Nas escadas, encontro com Isabelle.
— Bom dia, Elisa.
— Bom dia.
— Estava no quarto do meu irmão?
— Sim, fui levar o café da manhã para ele.
— Hum. — Ela ergue uma sobrancelha.
— Ei... Não me olhe dessa forma.
— Qual forma?
— Como se estivesse me julgando. — Franzo o cenho.
— Não estou te julgando. — Isabelle ergue as mãos.
— Sei. Ah, depois passe ali na cozinha para conversarmos. Vou te contar alguns segredos do Alex.
— Passarei, com certeza!
Sorrio em despedida e volto para a companhia de Eleanor.
— Elisa, posso perguntar uma coisa?
— Claro.
— Por que sempre que você vai ao quarto de Tyler, volta toda vermelha?
Paraliso.
Sinto meu rosto queimar de vergonha.
Eleanor ri de minha reação.
— Nem precisa responder.
— Não é nada disso que você está pensando!
— Ah, é sim. — Ela sorri e diminui o tom de voz. — Mas tudo bem, sou boa em guardar segredos.
Fecho os olhos e acabo rindo.
— Não vou discutir.
— Não mesmo. Sabe que vou vencer.
Eleanor pisca e vai para a dispensa, me deixando com um sorriso incrédulo nos lábios.
Após uma tarde e início de noite de muito trabalho e conversas divertidíssimas com Eleanor e Isabelle, deixo a mansão sem pressa.
No caminho, sou surpreendida.
Dan me espera na porta de casa com um enorme sorriso estampado nos lábios e as mãos postadas nas costas.
— Oi. — Ele sorri.
— Oi. O que está fazendo aqui?
— Esperando você.
Ele respira fundo, antes de me oferecer o belo buquê de rosas vermelhas que traz na mão.
— Dan! — Admiro as flores. — Nossa! São lindas!
— Quase tanto quanto você.
Sorrio.
— Obrigada. Eu amei. — Posto minha mão em sua nuca e beijo seus lábios.
Segundos depois, a descarga de minha casa é acionada.
Dan me encara, confuso.
— Você ouviu isso? Parece... Que veio da sua casa.
Suspiro, baixando os ombros.
— Eu preciso te contar uma coisa.
Ele me fita em silêncio.
— Mas você precisa prometer que não vai contar para ninguém. Principalmente para o Tyler.
— Eu não estou entendendo nada.
— Apenas prometa.
— Tudo bem. Eu prometo.
Pego sua mão e o puxo para dentro de minha casa.
Ele entra e olha em volta, ainda mais confuso.
— Mike... — Chamo. — Tudo bem, pode sair.
Alguns segundos de espera depois, ele aparece na sala.
— Foi mal, Elisa. Eu esqueci de não fazer barulho. — Mike cerra os lábios.
— Baizen? — Dan o encara, extremamente surpreso. — O que ele faz aqui?
— Mike é o motivo por eu nunca te convidar para entrar.
— Opa. E aí, cara? — Mike cumprimenta, sem graça.
— Você... E o Baizen? — Dan pergunta, em um misto de confusão e decepção.
— Não! Você está entendendo tudo errado! Calma, senta aqui. — Aponto o sofá, pousando o buquê sobre o braço do mesmo. — Você também.
Os dois se sentam em silêncio.
— Encontrei Mike dormindo dentro de um carro há algumas ruas daqui. — Nesse momento, Mike me olha, sabendo da parte omitida da história. Ignoro-o e continuo a falar. — Descobri que ele precisava de um lugar para ficar e... Bem, decidi ajudar.
— Então, você está abrigando o Baizen aqui na sua casa?
— Sim.
— Há quanto tempo?
— Alguns dias. Alguns bons dias.
Dan reflete por alguns segundos.
— Não era nenhum amigo seu que estava aqui aquele dia, não é? Era ele.
Concordo com a cabeça.
— Por que não me contou?
— Fiquei com medo. Se os Abrams descobrem que Mike está aqui, eu estou ferrada. Posso até perder o meu emprego.
— Você está arriscando seu emprego por ele?
Troco um olhar com Mike.
— É, estou.
Mike sorri para mim e logo em seguida brinca com uma almofada entre as mãos.
— Elisa...
Meus olhos encontram os de Dan.
— Você é realmente uma mulher incrível.
Sorrio.
— Seu segredo está bem guardado comigo.
— Obrigada.
— E você, — Dan se vira para Mike — conte comigo também.
— Valeu, cara.
Me jogo no sofá, entre os dois.
— Ai, tirei um peso enorme dos meus ombros.
Dan beija o topo de minha cabeça.
— Ah, minhas flores. — Pego-as e me levanto, exibindo-as para Mike, que ri de minha atitude.
— Você não deveria ter feito isso. Ela vai ficar insuportável agora. — Ele afirma para Dan.
— Eu ouvi isso. — Aviso, da cozinha.
— E eu não me importo.
— Babaca. — Sorrio, enquanto encho um vaso com água.
— Obrigada por guardar segredo.
— Não precisa me agradecer. — Dan me beija. — Amanhã vou trazer um colchão para ele. Dormir no sofá acaba com a coluna.
— Realmente.
— Eu poderia levá-lo para minha casa...
— É melhor não. Seus pais podem não gostar e até entregá-lo. A situação de Mike não é das melhores e ele também não quer ficar com a mãe, então... Vamos deixar ele quietinho aqui por enquanto.
— Tudo bem. Você que manda!
Sorrio.
— Nos vemos amanhã?
— É claro.
Dan me beija, em despedida.
— Até amanhã.
— Amei as flores.
Ele pisca, antes de se virar e ir.
Volto para dentro e suspiro, aliviada.
— Foi mais fácil do que imaginei.
— Nem me fale. — Me jogo novamente no sofá, ao lado de Mike.
— Ei... Elisa.
— Sim? — Encho a mão de pipoca que ele estourou a pouco e começo a comer.
— Notei que você não fala muito com seus pais...
— Ah, realmente... Somos mais de mensagens. — Indico o celular. — Odeio falar por telefone.
— Por isso você, às vezes, dorme com o celular em cima da barriga?
— Anda me observando enquanto durmo?
— Não exatamente.
Sorrio torto.
— Mas sim, falo com eles até adormecer, quase todas as noites.
— Que legal. Faz tempo que você não os vê?
— Alguns meses.
— Sente saudades?
— Muita.
Mike consente em silêncio.
Observo-o pelo canto do olho por alguns segundos e depois passo meu braço por seus ombros.
— Sabe... Ontem comentei com minha mãe que estou tendo uma ideia de como é ter um irmão mais novo.
Mike me encara.
— É bom.
Ele sorri.
Um sorriso genuíno.
Minha noite acaba de ser fechada com chave de ouro.
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