trinta e seis | c o m e m o r a ç ã o
Kim e sua família acabam de receber alta do hospital, após exatos cinco dias do trágico episódio. Em comemoração a sua volta para casa, Bill decidiu fechar a lanchonete e nos oferecer uma noite de hambúrgueres grátis.
Em contrapartida, o clima na mansão não é dos melhores. Os Abrams ainda estão muito abalados com o reaparecimento da mãe "morta". Isabelle e Cody chegaram a visitá-la no hotel, mas Tyler continua inflexível. Ele não gosta nem que toquem em seu nome.
Quanto a nós dois, bem... Eu não o vi nos últimos dias. Tyler tem passado mais tempo na rua do que em casa.
— Elisa, você pode terminar a massa para mim, por favor? Eu vou preparar a sobremesa.
— Claro, Eleanor. — Respondo, enquanto mexo o molho de quatro queijos.
— Elisa, — Tyler surpreendentemente surge na cozinha, — será que posso falar com você, um minuto?
— Hã, certo... — Troco um breve olhar com Eleanor. — Eu posso só terminar de fazer o macarrão?
Ele sorri.
— É claro. Estarei te esperando na biblioteca.
— Ok.
— Eleanor, o assado está cheirando maravilhosamente bem.
— Ah, — ela é notoriamente pega de surpresa — obrigada, Tyler.
Ele consente e gira nos calcanhares, deixando o cômodo.
Eleanor me encara.
— Tyler nunca elogiou nada desde que comecei a trabalhar aqui. Isso já tem dez anos!
— Uau! Então seu assado está realmente perfumado.
— Ou ele está finalmente se tornando um rapaz mais gentil.
Meneio a cabeça, concordando.
— Lembra quando eu te disse que acreditava que existisse algo de muito bom dentro dele?
— E que só precisava ser trazido à tona.
— Acho que ele finalmente encontrou quem fizesse isso.
Congelo.
Eleanor sorri.
— Seu molho está perfeito, já pode adicioná-lo à massa. E depois, ir até a biblioteca... "Conversar".
— Você anda tão engraçadinha.
— Acho que é o clima.
Dou uma risada, enquanto despejo o molho sobre a massa de macarrão fresca. Em seguida, polvilho queijo parmesão ralado rusticamente e o coloco no forno para gratinar.
— Eu cuido do resto. Pode ir.
— Não é nada do que você está pensando, ouviu?
— E quem disse que eu estou pensando em algo? — Ela sorri, de forma maliciosa.
— Esse seu sorrisinho sem vergonha.
Eleanor ri e me bate levemente com um pano de prato.
— Vá logo.
Ajeito meu avental, enquanto caminho até a biblioteca. Bato à porta e aguardo.
— Entre.
Adentro o cômodo e olho brevemente em volta. Estamos sozinhos.
— Oi.
— Feche a porta, por favor.
Faço o que Tyler pede e o encaro.
— E então?
Ele tamborila os dedos na mesa de madeira maciça, antes de falar.
— Eu estive meio ausente nesses últimos dias.
Concordo com a cabeça.
— Estava precisando ficar um pouco sozinho... Colocar os pensamentos em ordem.
— Entendo.
— Mas eu não quero que você pense que sou um ingrato. Você me fez muito bem aquela noite, Elisa. Muito bem mesmo.
Consinto em silêncio.
— Eu não te agradeci como deveria.
— E nem precisa.
— Certo. — Ele sorri fraco. — Sabe... Eu estive com Dan ontem. E nós conversamos... Sobre você.
— Sobre mim?
— Dan é meu melhor amigo.
— Eu sei.
— E vocês tiveram um relacionamento.
Meneio a cabeça.
— Eu precisava ser sincero com ele sobre meus sentimentos em relação a você.
— O... O quê? — Gaguejo. — Seus sentimentos... Por mim?
Tyler se aproxima, deixando seu corpo realmente muito próximo ao meu.
— Eu gosto de você, Elisa Hattaway. Gosto mesmo. Cansei de lutar contra isso.
Encaro seus olhos azuis.
Eles me parecem completamente sinceros.
— Qual é a pegadinha da vez?
Ele suspira.
— Não há pegadinha.
— Não?
— Não.
— Certo.
Seu delicioso perfume parece me cercar.
Tyler sorri.
— Não vai dizer nada?
— O que eu deveria dizer?
— Não sei. Talvez... Que gosta de mim também?
— Eu não gosto de você.
Ele novamente sorri.
— Não acredito em você.
— Deveria.
— Tudo bem. — Ele se afasta um passo.
É minha vez de sorrir.
— Você desiste muito fácil.
— Olhe só... Ela está flertando.
Dou uma pequena risada.
— Talvez eu esteja.
— Então, olhe nos meus olhos e seja totalmente sincera: — Tyler segura meu queixo. — Você gosta de mim, Elisa?
— Mais do que eu deveria. — Minha voz sai quase em um sussurro.
Tyler enrosca seus dedos em meus cabelos, suavemente.
— Então, ordene. — Ele fala muito próximo de meu ouvido.
Fecho meus olhos e respiro fundo.
— Me beije, Tyler Abrams.
Ele sorri, antes de obedecer.
Nossas bocas se encaixam perfeitamente, nossas línguas se movem em total sintonia. Nosso beijo é intenso, desejoso, quase selvagem.
Em um movimento ágil, ele afasta alguns livros da mesa e me coloca sentada sobre ela.
— Se alguém me pega aqui, sou demitida por justa causa.
— Elisa, relaxe. Eu sou o patrão.
Sorrio.
Ele retribui e me beija com vontade.
Seguimos em uma pegação frenética, até Eleanor bater à porta.
— Victoria está vindo. — Ela avisa em voz baixa, do lado de fora.
Encaro Tyler de olhos arregalados.
— O que a gente faz?
Ele não me responde. Apenas caminha até a porta e a tranca.
— A gente continua.
Dou um sorriso e balanço a cabeça, em negação.
— Maluco.
— Talvez eu seja.
Nos beijamos novamente, até eu me lembrar do convite de Bill.
— Ei. — Interrompo o beijo. — Quer ir comigo a um lugar hoje a noite?
— Que lugar?
— Uma lanchonete no Brooklyn.
Ele faz um bico.
— Que decepcionante, Elisa. Esperava um convite mais sugestivo.
Bato em seu ombro.
— É em comemoração à alta da Kim.
— Não podemos perder, então.
— Legal! Pensei em chamar seus irmãos também... Será que seu pai autoriza?
— Ah, com certeza. Ele está tentando se redimir com Izzy desde que... Enfim. Ele vai deixar.
Sorrio, selando seus lábios.
— Preciso voltar ao trabalho.
— Não precisa, não.
— Preciso, sim. — Dou uma risada. — Até mais tarde.
Desço da mesa e, antes de sair, lanço um olhar para Tyler.
— Fique bem bonito.
— Eu já nasci bonito, querida.
Reviro os olhos e sorrio.
Ele pisca em resposta.
Fecho a porta e me encosto nela.
— O que foi que acabou de acontecer?
Solto um riso baixo e incrédulo e volto para a companhia de Eleanor.
O relógio marca oito horas.
Minutos depois, ouço batidas em minha porta.
— Que pontualidade. — Mike comenta, enquanto abotoa sua camisa. — Como vamos fazer?
— Ainda estou pensando.
Abro a porta e o vejo.
Tyler está arrebatadoramente bonito em uma camiseta branca coberta por uma jaqueta de couro preta e jeans escuro.
— O que achou? — Ele abre os braços, se exibindo.
Faço um bico.
— Esperava mais.
Ele sorri, mexendo no cabelo.
Logo Cody e Isabelle o alcançam.
— Dessa vez seu pai sabe, certo? — Pergunto.
— Dessa vez, sim. — Ela sorri.
Uma voz conhecida me chama a atenção.
Olho para o gramado e vejo Theo vindo em nossa direção, falando ao celular.
— Ele meio que se convidou para ir com a gente. — Tyler cerra os dentes. — Tudo bem?
— Tudo. Porque eu também vou levar alguém.
Vou até o quarto e puxo Mike pelo braço.
— Oi. — Ele sorri, sem jeito, encarando os quatro.
Tyler corre os olhos de mim para Mike.
— Eu te explico depois, irmão. — Cody apoia a mão em seu ombro.
— Olá, Elisa.
— Theo. — Sorrio.
— Você está maravilhosa, como sempre.
— Obrigada.
— Então... Vamos? — Tyler estende seu braço para mim.
Olho-o por alguns segundos.
— Pegue logo meu braço, Elisa.
Faço o que ele pede, extremamente envergonhada, enquanto Isabelle assiste a tudo com um semblante satisfeito.
— Finalmente, irmão.
Tyler sorri torto.
Seguimos até a garagem. Isabelle, Theo e Mike entram no carro de Cody e Tyler me guia até o seu.
— Não vem ninguém com a gente?
— Minha companhia não é suficiente para você?
— É claro que sim.
Tyler sorri e dá partida.
— Esse carro é mais simpático. — Analiso seu interior, todo em couro preto.
— Você achou?
— Achei. O outro era mais...
— Requintado?
— Esnobe.
Ele ri.
— Qual foi o fim dele, afinal?
— Um desmanche em Philadelphia.
— Coitadinho.
— Nem me fale. Meu coração se parte toda vez que toco nesse assunto. — Tyler dramatiza.
Acabo sorrindo.
Seguimos o restante do caminho ouvindo música e conversando sobre o Brooklyn
Quase chegando na lanchonete, ele para.
— O que houve?
— Nada. Só quero ficar um pouco com você. A sós.
Fito seu rosto bonito.
— O que deu em você, afinal?
— Cansei de lutar contra minha felicidade. — Ele afasta meu cabelo para trás dos ombros.
— Pensei que você já tivesse tudo o que te faz feliz.
— Eu tenho dinheiro, Elisa. Isso não me impede de ser um fodido, carente de afeto.
— Certo... Quem é você e o que fez com o Tyler durão e insensível?
— Ah, deixei ele trancado no sótão.
Dou uma risada.
— Trágico. Eu gostava daquele Tyler.
Ele me encara, sorrindo torto.
— Eu posso resgatá-lo, se você quiser.
— Não, tudo bem. Eu gosto dessa versão 2.0 também.
Tyler sorri.
— Você foi a primeira mulher que se importou comigo, de verdade. Que me acolheu e não me julgou. Que me viu chorar, totalmente desarmado. Você foi a primeira que me confrontou, que me rejeitou. Você me deixou louco sem nem mesmo me tocar, Elisa.
Sorrio e acaricio seu rosto. Ele beija meus lábios, puxando-me para mais perto. Só paramos quando meu celular toca.
— Alex. — Ergo o aparelho, antes de atender. — Já estamos chegando, Alexander. Não! A gente não estava se pegando! Eu não... Ah, vá se ferrar!
— A gente não estava se pegando? — Tyler sorri torto, logo que desligo.
— Cala a boca.
Ele ri, me fitando pelo canto do olho e volta a dirigir. Chegamos na lanchonete em poucos minutos.
— Bill's Burger? — Ele encara a fachada.
— O melhor hambúrguer do Brooklyn. Vem.
Puxo Tyler pela mão até a porta.
Logo Bill vem nos recepcionar.
— Lisa!
— Ei, Bill. Quanto tempo! Como tem passado?
— Bem. E você? Já se adaptou à Manhattan?
— Com certeza, já. — Alex sorri torto.
Finjo não entender sua afirmação e vou até Kim.
— Pequena Kim, que bom te ver fora daquele hospital.
— É bom estar de volta.
Nos abraçamos.
— O que foi que eu perdi? — Ela sussurra, próximo ao meu ouvido.
— Eu ainda estou tentando entender.
Nos soltamos e sorrimos uma para a outra.
— Bem, agora que já estão todos aqui... — Alex ergue o copo de refrigerante, abraçando Kim pelos ombros. — À volta triunfante de nossa pequena guerreira e sua família.
Todos erguem seus copos e comemoram. Eu ergo a mão, por estar sem nenhuma bebida.
Em seguida, Bill nos traz uma rodada de seu melhor hambúrguer.
— Bill, como eu pude viver todos esses anos sem conhecer essa maravilha? — Theo dá uma generosa mordida em seu hambúrguer.
— Que bom que gostou, filho. Quando vier ao Brooklyn novamente, lembre de passar por aqui.
— Será parada obrigatória.
Bill sorri, orgulhoso.
— Ei, está sujo aqui. — Kim pega um guardanapo e limpa o canto da boca de Theo, suja de catchup.
— Obrigado, Kimberly.
— Por nada, Theodore.
Alex me fita pelo canto do olho. Retribuo com um sorriso torto.
— Agora é uma boa hora para você me explicar o que Mike fazia dentro da casa da Elisa, meu irmão.
Cody me olha e engole em seco.
— Mike está morando comigo. — Disparo. — Ele estava dormindo dentro de um carro desde que a bomba sobre seu pai estourou. Eu soube disso e o acolhi.
— Bem que eu suspeitei.
— Sério? — Nós três questionamos ao mesmo tempo.
— Vocês são bem ruins em esconder algo errado. — Ele toma um gole de seu refrigerante. — Mas está tudo bem, meu pai é igualmente ruim em descobrir coisas erradas.
— Você não vai me escorraçar de lá?
— A casa é da Elisa. Enquanto ela quiser hospedar você, ela hospedará.
Mike consente.
— Valeu.
— Elisa, eu não sei o que você fez com meu irmão, mas... Continue. Está funcionando.
— Engraçadinha. — Tyler semicerra os olhos, enquanto Isabelle e eu rimos.
— Ei, Izzy... Quer ir comigo ali fora?
— Claro.
Alex se levanta e estende a mão à ela, que aceita, com um sorriso tímido.
— As coisas não estão indo um pouco rápido demais? — Tyler os observa.
— Você que o diga, não é Ty? — Isabelle pisca e sai com Alex.
Olho para ele e cerro os dentes.
— Te pegaram.
— Eles não sabem a quanto tempo eu venho tentando conquistar você. — Ele pisca.
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