sete | i n c ó g n i t a
— Sua torta está pronta. — Eleanor comenta, enquanto mistura algo em um bowl. — Já desenformei ela para você.
— Ah, obrigada, Eleanor.
— Por nada. — Ela sorri, virando-se para mim. — Nossa, o que houve?
— Nada... Por quê?
— Seu rosto está todo vermelho.
Cubro instintivamente minhas bochechas com as mãos.
— Deve ser o tempo. — Desconverso.
— É, deve ser. — Eleanor me fita por alguns segundos, voltando sua atenção para a torta em seguida. — Ficou muito bonita.
— Ficou, não é? — Sorrio, admirando meu trabalho. — Espero que esteja gostosa também.
— Tenho certeza que está.
— Quando sei que posso serví-la?
— Eu te aviso.
— Ah, sim.
Olhando em volta, reparo que a mesa da cozinha está posta para duas pessoas.
— Falta alguém para almoçar?
— Ora, nós duas.
— Nós almoçamos aqui?
— Sim.
— Legal! Pensei que teria que caçar um carrinho de hot dog pela rua.
Eleanor ri.
— Você até pode comer um hot dog se quiser, mas modéstia parte, minha lagosta é bem melhor.
— Eu não tenho dúvidas disso!
— Vou nos servir, então.
— Ahn, Eleanor... O molho de escargots está incluso?
— Preparei um molho de limão e ervas para você. — Ela ergue o bowl nas mãos. — Nada de escargots.
— Você é incrível, sabia?
Ela sorri, ruborizando. Em seguida, monta dois pratos e os coloca na mesa.
— Uau! Nem sei quando foi a última vez que comi uma dessas. — Comento, enquanto admiro a lagosta. — Chique, né?
Eleanor ri.
— Você é uma comédia, menina. Agora, vá. Chegou a hora de servir sua torta.
— Sim, senhora.
Pego a torta e respirando fundo, caminho até a sala de jantar.
— Hum, torta de maçã, minha preferida! — David sorri, enquanto o sirvo. — Foi você quem fez?
— Sim, senhor.
— Parece deliciosa. — Victoria elogia.
— Espero mesmo que esteja. — Sussurro.
Sirvo Cody e por último Isabelle, que me lança um olhar quase condenador.
— Espero que gostem. — Sorrio rápido. — Com licença.
Volto para a cozinha e fico os espionando pela porta.
— Por que você está tão nervosa?
— Você ainda pergunta?! Eles estão comendo a torta que eu fiz. E se estiver ruim? Sou mandada de volta com a mesma velocidade com que fui chamada!
— Elisa, onde está sua auto confiança?
— Dentro do bolso, deste tamanhinho. — Mostro com os dedos.
Eleanor ri, fazendo um gesto negativo com a cabeça.
— Elisa, você pode vir aqui um minuto, por favor? — A voz de Victoria me chama de volta à sala de jantar.
— Ah, meu Deus.
— Vá logo!
Vou com as mãos para trás, já esperando pelo pior.
— Elisa, sua torta de maçã...
"Está horrível. É, sem dúvida, a pior que já comi." — Completo mentalmente a frase de David, apavoradamente pessimista.
— É uma das melhores que já comi!
Solto um suspiro de alívio.
Todos riem de minha reação.
— Ouso dizer que ela só perde para a torta de minha mãe.
— Aceito o segundo lugar com o maior prazer!
David sorri.
— Parabéns, Elisa. Obrigado pela sobremesa e seja bem vinda à nossa casa.
— Muito obrigada, senhor Abrams.
Volto à cozinha, mas desta vez, radiante.
— Eles gostaram, Eleanor! Gostaram mesmo!
Ela sorri.
— Eu tinha certeza disso. Você é boa, menina. Só precisa acreditar mais em si mesma.
Consinto, mordendo meu lábio.
— Aquele lance de "Posso falar com você um minuto?" e "Faça a que o seu coração mandar", foi um teste, não foi?
Eleanor não me responde. Apenas sorri.
— Venha, vamos almoçar.
— Até amanhã, Eleanor.
— Até, Elisa. Vá com Deus.
Jogo minha mochila no ombro e caminho em direção ao portão dos Abrams. O sol já está se pondo, dando lugar às primeiras estrelas no céu.
— Nem minha sobremesa, nem meu jantar. Estou decepcionado, Elisa.
Viro-me e vejo Tyler caminhando em minha direção.
— Eleanor se ofereceu para levar.
Ele encara o chão, sorrindo.
— Está indo para casa?
— Estou.
— Ótimo. Eu te levo, então. — Seus olhos encontram os meus.
— Muito obrigada Tyler, mas não é necessário.
— Elisa, isso não foi um convite.
— Foi uma ordem?
— Um pedido de desculpas.
Encaro seu rosto bonito por alguns segundos.
— Eu fui rude com você por mais de uma vez hoje. Aceite a carona como prova de meu arrependimento.
Ergo uma sobrancelha.
— Qual é a pegadinha?
— Não tem pegadinha. Só quero ser gentil e te levar para casa.
Semicerro meus olhos em sua direção.
— Me dê um voto de confiança, vai.
— Ok. Está bem... Eu aceito sua carona.
Tyler abre um enorme sorriso, deixando a mostra seus dentes perfeitamente alinhados e brancos.
— Onde você mora?
— Brooklyn.
— Ok. Vamos.
Sigo Tyler até seu carro, um belo Porsche preto. O mesmo Porsche que buzinou incansavelmente às minhas costas dias atrás.
Ele abre a porta do carro fazendo uma leve reverência, e eu o agradeço com um pequeno sorriso.
Seguimos o trajeto em silêncio, até que Tyler decide quebrá-lo.
— Você é daqui mesmo, de Nova York?
— Não, sou de Richmond. Virgínia.
— Logo vi.
— Como?
— Você tem uma essência diferente das pessoas daqui. E isso é encantador.
Desvio rapidamente meus olhos dos seus. Essa conversa não tem chances de terminar bem.
— Vá por aqui. — Aponto à minha direita. — É mais rápido.
— Está com pressa?
— Não. Só quero facilitar para você.
— Você poderia facilitar de outra forma.
Ergo uma sobrancelha e o encaro.
Tyler sorri, evitando meu olhar.
— E agora, por onde vou?
— Depois daquele semáforo, vire à esquerda, conte três ruas e dobre à direita.
Tyler segue minhas instruções.
— Chegamos. É logo depois daquela árvore.
— Ok.
Tyler estaciona.
— Está entregue. — Ele sorri.
— Obrigada, Tyler.
— Desculpas aceitas?
— Desculpas aceitas.
— Ótimo.
Abro a porta e quando estou prestes à sair do carro, sua mão me detém.
— Até amanhã, Elisa.
Olho sua mão segurando meu pulso.
— Até amanhã, Tyler.
Desço e paro à porta da casa de Alex, observando-o ir.
— Qual é a sua, Tyler Abrams?
Uma buzina tira-me de meus pensamentos.
— Oi, gata. — Alex pisca, ainda em cima de sua moto. — Você vem sempre aqui?
— Só quando você está.
Ele sorri.
— Chegou agora?
— À menos de um minuto.
— E como foi seu primeiro dia na casa dos magnatas? — Alex estaciona sua moto.
— Melhor do que seu domingo sem minha presença na lanchonete depois de dois anos.
— Isso, com certeza.
Passo meu braço por sua cintura.
— Você falou com a Kim?
— Hoje não. — Alex me abraça pelos ombros. — Mas combinei com ela ontem de sairmos sábado para comemorar seu novo emprego.
— Ótimo.
Alex abre a porta e coloca seu capacete sobre o sofá.
— Está com fome?
— Não, já jantei.
— E qual foi seu jantar? Caviar?
— Lagosta. — Pisco.
— Caralho! Está chique, heim?!
Meneio a cabeça, sorrindo.
Alex tira a camisa e a joga em um canto.
— Te contei que Bill está procurando outra garota para ocupar seu lugar?
— Não.
— Ele está. E você não tem noção das candidatas que apareceram por lá ontem!
Reviro os olhos.
— Você não toma jeito mesmo, não é?
— Quem sabe um dia.
Dou uma risada, fazendo um gesto negativo com a cabeça.
— Não quero saber de você com gracinhas com minha substituta, ouviu?
— De forma alguma. Talvez role uma transa casual com a novata, mas só. Nada mais do que isso.
— Ah, estou bem mais tranquila agora.
Alex ri.
— Ei, onde o senhor estava a essa hora, em plena segunda feira?
— Se eu te contar, você não vai acreditar.
— Só me diz que não era na casa da peituda.
— Não era na casa da peituda.
— Ah, que alívio.
— Estava na casa da amiga dela.
Abro a boca, enojada.
— Ah, cara. Eu te abracei! Parece que posso sentir o perfume barato dela em mim agora!
— Ei! Barato não, ela usa Givenchy. — Ele termina a frase com um biquinho.
Reviro os olhos.
— Alex, amigo, assim fica difícil te defender!
— O que eu posso fazer? Elas me seduzem.
Rio pelo nariz.
— Mudando de assunto, vou precisar de sua ajuda amanhã.
— Ok. Para quê?
— Me mudar.
— Mas já?
— Victoria me ofereceu a casa. Não posso demorar, vai que ela muda de ideia.
— Não, é claro. É só que... Vou sentir falta de não te ver mais todos os dias. Estava gostando de te ter como inquilina.
— Ah, que fofo! — Abraço-o pela cintura. — Você não faz ideia da falta que eu senti de você hoje. A cozinha sem Alex Martínez não tem a mesma graça.
— E a lanchonete sem Elisa Hattaway fica muito desanimada. — Alex beija o topo de minha cabeça. — Ah, e só para constar, você está me abraçando.
— Ah, merda. — Solto-o.
— Eu tomei banho depois da transa, palhaça!
— Mas o cheiro da ruiva de farmácia está impregnado na sua pele. Vá tomar outro banho!
— Eu vou, depois de você.
— Insinuou que estou fedendo?
— Para bom entendedor...
— Idiota.
Vou para o chuveiro e, enquanto a água quente cai sobre meu corpo, o rosto de Tyler surge em minha mente.
— Tyler Abrams, você é uma incógnita.
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